quarta-feira, 7 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17441: Os nossos seres, saberes e lazeres (216): São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (5) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 20 de Fevereiro de 2017:

Queridos amigos,
Se é este o desfrute que o Vale das Furnas oferece em pleno Inverno, bem se poderá dizer que São Miguel, a despeito dos imprevistos atmosféricos, oferece amenidade quanto basta. As Furnas, asseguro-vos, têm todos os ingredientes para estar calmamente aqui uma semana, entre banhos, passeios fumegantes e caminhadas nos jardins. É bem verdade o que viajantes de outras eras adjetivaram - paraíso terreal, natureza pródiga, jardins que desafiam a imaginação. E coisa curiosa, quem por ali vive e quem por ali passa sente a plenitude da distensão, como se todos agradecessem o dom de viver ou passear num lugar mágico, entre o céu e a terra.

Um abraço do
Mário


São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (5)

Beja Santos

O viandante parte para as caldeiras munido de obra adequada, O Vale das Furnas, coletânea de cronistas e viajantes que por aqui andaram entre os séculos XVI e XIX, organização por José Manuel Motta de Sousa, Edições Almedina, 2008, há para aqui um texto de um sacerdote do século XVII descrições cheias de vida, um exemplo: “Baixando já do alto e empinado monte para o inferior do vale descoberto, viram que do pé da rocha em que estavam nasciam mananciais, cinco fontes de claras, doces e abundantes águas: tão abundantes que a pouco espaço de suas correntes, se formava de cada uma delas uma ribeira, e que todas as cinco ribeiras estavam cobertas de saborosas ervas, agriões, acelgas e rabaças (…) as quais todas cinco, nascidas das cinco fontes dentro do mesmo vale se juntavam todas caminhando para o mar em uma só”.
Pois neste vale das furnas houve eremitas solitários e contemplativos, aqui vinham doentes buscar saúde sem terem medo das fumaças com estrondo nem dos fedores sulfúreos. Todos os que escreveram sobre as furnas falam em paraíso surreal, e Francisco Afonso Chaves e Melo, viveu nos séculos XVII e XVIII, refere mesmo: “Para a parte do Poente é verdadeiramente um rascunho do paraíso terreal, regado com sete ribeiras de salutíferas águas, entre as quais há uma de água quente e muito medicinal. Para a parte porém do nascente é uma verdadeira representação do Inferno, porque tem umas caldeiras de polme, água e enxofre tão horrendas, que não há outra coisa com que se comparem. O calor é tão ativo que se lançarem dentro qualquer animal, no espaço de meio quarto de hora o consumirá totalmente, não deixando dele outro sinal mais que os ossos. Nestas caldeiras há muito enxofre e caparrosa; do enxofre se tira muito, da caparrosa não, por se não saber fabricar”. É este espetáculo que alguns supunham ser a emanação do Inferno que aqui traz o viandante.




Para além do pavor suscitado, houve também quem desde muito cedo procurou aproveitar as águas quentes e frias destas nascentes, para efeitos medicinais. As águas passaram a ser orientadas para edifícios dos banhos. Felix Valois da Silva, meirinho de juízo, padeceu durante anos de uma moléstia escrofulosa, esteve na Madeira e em 1790 chega ao Vale atraído pelo renome das suas águas e cura-se com 90 banhos. Deixou um curiosíssimo documento e em dado passo observa: “O enxofre faz a base das partes constituintes da sua água, ela é diurética, desobstruente, corroborante e saponácea, o seu sabor é tolerável, o seu sedimento junto à margem é um cinzento achumbado; e em distância de tiro de espingarda depõe um musgo verde, aveludado com laivos amarelos: seus maravilhosos benefícios se experimentam contra o reumatismo, toda a qualidade de moléstia nervosa, principalmente moléstia de pele. Junto a ela tomou o autor desta 25 banhos a fim de lhe laxar as fibras e de pôr o sangue em maior movimento, e com o efeito dela alcançou as suas primeiras melhoras”. E mais adiante comenta: “A transpiração no uso dos banhos quer-se moderada, e não como muitos usam e eu observei que estavam horas esquecidas no abafo, e até nele adormeciam, pensando talvez que a copiosa transpiração os aliviava mais depressa; por este modo irritavam demasiadamente as funções principais do corpo, debilitam-se depois até desfalecer, de modo que, em lugar de lhe acharem proveito, sentem maior dano”.



O viandante passeia-se e faz o confronto entre caldeiras e meio circundante. Gosta de ouvir os estrondos que vêm o fundo da terra, o tal borbulhar fervente que ele respira em longos haustos, imagina-se a fazer tratamento. Entretanto vai lendo “O Vale das Furnas”, ao tempo em que Félix Valois da Silva de curava das escrófulas, o doutor William Gourlay, médico inglês exercia a sua profissão na Madeira, por aqui andou e salientou as vantagens dos banhos de vapor. Não resisto a esta pequena transcrição: “Em distância de quase 10 léguas ao nordeste de Ponta Delgada há uma pequena aldeia chamada As Furnas, situada num espaçoso vale cercado de altas montanhas. São estas compostas de pedra-pomes e cobertas de ervas, e de várias árvores e arbustos sempre verdes. O terreno deste vale consta principalmente de pomes pulverizada. Ainda que fraco, é cultivado, e produz trigo, milho, legumes, e nos sítios húmidos inhames. Cavando um pouco abaixo da superfície acham-se muitas cavidades, que mesmo passeando sobre a terra se percebem pelo som. No fim do vale do Sueste há uma pequena elevação a que chamam as caldeiras. Esta elevação que porventura terá uma milha quadrada consta de numerosos outeirinhos, e é aí evidente a ação do fogo. Descobrem-se várias camadas; pirites, lava, pomes, morne, greda de diferentes cores, ferro em bruto, terra calcária misturada com enxofre".
Talvez seja ilusão mas não deixa de ser boa vontade dizer o que vozes autorizadas elogiaram a este sítio de caldeiras, águas, banhos, fontes, falando mesmo em águas santas capazes de quase tudo tratar, exceto as doenças venéreas. Que outros venham a termas mas que não descurem do que a natureza oferece em flora, estamos num Fevereiro de temperatura moderada, vicejam camélias, azálias, catos em glória. Aqui finda a curtíssima estadia nas Furnas, vai seguir-se um passeio de autocarro daqui até à Povoação e depois o Nordeste, dormir na Achada. O tempo tem estado de feição, o temporal chegará esta noite. São coisas do tempo açoriano, o inesperado das correntes atlânticas, faz parte do jogo do viver e do viajar.




(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17415: Os nossos seres, saberes e lazeres (215): São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17440: Efemérides (256): Faz agora 75 anos que foi afundado a oeste da Gronelândia o lugre bacalhoeiro ilhavense "Maria da Glória" por um submarino alemão... Dada o forte simbolismo da data, foi já proposta a Assembleia da República a instituição do dia 5 de junho como "O Dia Nacional do Bacalhau"...


Capa do livro do ilhavense Lícinio Ferreira Amador, "Tempos de Pesca em Tempos de Guerra", edição de autor . O livro foi apresentado em 16 de abril de 2016, no anfiteatro do Museu Marítimo de Ílhavo, entre outros pelo nosso amigo Tibério Paradela. O autor é professor do ensino secundário aposentado. O livro tem 241 pp, e já vai em 2ª edição, Preço de capa;: 12 €. Pode ser adquirido aqui, no portal da CM Ílhavo.

Fonte: portal Caxinas - Poça da Barca, de "lugar" a freguesia (com a devida vénia)


1. Onze navios, sob bandeira portuguesa, foram afundados,  durante a II Guerra Mundial, não obstante e as embarcações estarem claramente identificadas como sendo oriundas de Portugal. Uma dessas embarcações foi afundada por um submarino italiano, as restantes pela marinha e pela aviação alemãs. 

Um dos casos mais chocantes foi o bacalhoeiro, o lugre-motor, "Maria da Glória".  A tragédia ocorreu a 5 de junho de 1942, faz agora 75 anos (*). Era comandado pelo capitão Sílvio Pereira Ramalheira, natural de Ílhavo, e que ficou gravemente ferido. Dos 44 tripulantes, apenas 8 sobreviveram, a bordo de um dos dóris da embarcação. Ao todo morreram 36 homens.

A embarcação de bandeira portuguesa, registada no porto de Aveiro, tinha zarpado do estuário do Tejo em 19 de maio de 1942. Na noite de 5 de junho, navegava rumo aos bancos de pesca da costa oeste da Gronelândia, quando às 22h10 é atacada, brutalmente, sem aviso prévio, a tiros de canhão do submarino U-94. (Ainda não lemos o livro do Licínio Ferreira Amador, que é um trabalho de investigação de arquivo, de vários anos. Percorremos várias versões desta tragédia na Net, havendo erros factuais nalgumas. O próprio comportamento do submarino U-94 está por esclarecer: a decisão de atacar o indefeso e frágil lugre bacalhoeiro português pode ter sido originada por fatal erro de comunicações entre os navios pesqueiros.)

A  embarcação, de três mastros, ostentava uma bandeira portuguesa no casco, não podendo haver qualquer dúvida sob a sua identificação. Na impossibilidade de deter o ataque e salvar o navio, com incêndio a bordo, mortos e feridos, é dada a ordem de evacuação, que é feita em condições heróicas sob constante metralha. O navio afunda-se  às 22h50.

Os sobreviventes, que escaparam ao naufrágio, espalham-se pelos vários dóris que foi possível içar (pequena embarcação que não é uma baleeira, e não dispunha de água nem de comida) e aqui prossegue a II parte da sua história trágico-marítima (a fome, a sede, o frio, as tempestades, o isolamento, o desespero...). Os feridos mais graves morrem, outros perdem-se no meio das vagas... Ao fim de cinco dias, só resistiam 3 dos 9 dóris. Ao nono (ou décimo) dia, são avistados por um avião de patrulha norte-americano que lhes larga caixas de sinais e de mantimentos. Ao 11.º dia, são resgatados pelo USS Sea Cloud, um navio meteorológico da Guarda Costeira Norte-Americana. Dos 44 tripulantes, há apenas 8 sobreviventes, incluindo o capitão.

Por seu turno, o U-94, que tinha a sua base em França, em Saint Nazaire, era comandado pelo 1.º tenente Otto Ites (1918-1982). Pouco tempo depois, em 28 de agosto de 1942, é atacado e afundado quando navegava à superfície no Mar do Caribe. Os sobreviventes foram resgatados pelas marinhas do Canadá e dos EUA, e levados para este último país onde ficaram prisioneiros até ao fim da guerra.

Aconselha-se a leitura do livro "Tempos de Pesca em Tempos de Guerra”, do investigador ilhavense Licínio Ferreira Amador, que traz a última versão, rigorosa, desta  história trágico-marítima.


2. Recentemente, no passado dia 8 de fevereiro, a Associação dos Industriais do Bacalhau formalizou, na Assembleia da República, a  proposta para instituição do Dia Nacional do Bacalhau em 5 de junho, justamente para homenagear o "Maria da Glória" e os seus bravos. A ideia partiu da conhecida empresa Riberalves, com o apoio do Museu Marítimo de Ílhavo. 

O afundamento do "Maria da Glória" é considerado, pelos historiógrafos, como o episódio mais trágico da história portuguesa da pesca do bacalhau. A data tem, portanto, uma forte carga simbólica   no país que mais bacalhau consome em todo o mundo. Pretende-se homenagear não só a epopeia da pesca do bacalhau mas também valorizar a dimensão económica. gastronómica e identitária que tem o bacalhau, em Portugal e nas comunidades portuguesas em todo o mundo. Duas personalidades, Álvaro Garrido (professor da Universidade Coimbra) e Ricardo Alves (presidente da AIB – Associação dos Industriais do Bacalhau, e administrador da Riberalves) são o rosto deste projeto.

Segundo a notícia que lemos no portal Terranova, de 8/2/2017, os proponentes da ideia enfatizam o facto de, ao longo dos séculos, os portugueses terem-se tornado "os maiores consumidores mundiais de bacalhau, transformando este peixe num símbolo identitário da sua cultura, alavancando uma indústria que acolhe 2000 empregos diretos e um volume de negócios de 400 milhões de euros (100 milhões de euros de exportações)."

A fundamentação académica da proposta coube ao prof Álvaro Garrido o nosso maior especialista da história e da socioeconomia da pesca do bacalhau no Estado Novo.

Parece que a proposta teve bom acolhimento no seio dos partidos representados na Assembleia da República.  

3. Recorde-se também aqui, neste blogue de ex-combatentes, a importância que tinha ou teve, no TO da Guiné, durante a guerra colonial, a presença do "fiel amigo"... Para suprir as falhas da Intendência, eram as nossas próprias famílias que nos faziam chegar, aos aquartelamentos no mato, remessas do tão desejado bacalhau... sobretudo nas datas mais festivas e simbólicas, como o Natal ou o dia de anos. 

Estou-me a lembrar de um dos amigos que fiz, para a vida, o Tony Levezinho, meu camarada da CCAÇ 12, e um dos membros seniores da nossa Tabanca Grande (**). É um gentleman, tal como o pai, que eu ainda tive o privilégio de conhecer pessoalmente na sua casa da Amadora, nos primeiros anos da década de 1970... Pai e filho trabalhavam na Petrogal... O Tony chegou mesmo a chefe de divisão (o que não era fácil a um self-made man como ele, numa empresa de engenheiros). Reformado, vive hoje com a sua querida Isabel na Tabanca da Ponta de Sagres - Martinhal...

Apesar da sua modéstia, o Tony foi (e continou a ser, mesmo depois de reformado)  um perito na arte do import-export do petróleo e seus derivados... Mas, se eu evoquei aqui o seu nome, foi  para contar o seguinte, a título de (in)confidência: graças às suas ligações à Sacor, nunca nos faltava o fiel amigo à mesa, em Bambadinca...

O bacalhau e outras iguarias chegavam-nos à Guiné, a Bisssau e depois a Bambadinca, regularmente, através do navio-tanque da Sacor... À boa maneira portuguesa, o pai Levezinho nunca se esquecia do filho Levezinho e dos seus amigos e camaradas de Bambadinca..., e lá "arranjava" um buraquinho no navio para meter  a encomenda...

Eu tenho que ter aqui um pensamento de grande ternura e gratidão  para com esse homem, o pai Levezinho, que foi um dos nossos bons irãs poisados nos poilões de Bambadinca: o bacalhau que chegava ao Tony Levezinho, periodicamente, através do navio-tanque da Sacor, não era comido às escondidas, sozinho, mas sim generosa e festivamente partilhado pelos amigos e camaradas mais próximos...  E devo dizer que, se não nos matou a malvada,  foi um suplemento de alma, e seguramente ajudou-nos a sobreviver e  a regressar a casa, com mais ganas de continuar a viver e a amar as coisas boas da vida. 
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P17439: Parabéns a você (1267): Ernesto Marques, ex-Soldado TRMS Inf da CCAÇ 3306 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17436: Parabéns a você (1266): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM/CTIG (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 6 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17438: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (43): O Zé Manel dos Cabritos e os amigos invejosos



1. Em mensagem do dia 29 de Maio de 2017, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), autor do Livro "Memórias Boas da Minha Guerra", enviou-nos uma história, no mínimo, estranha. Não é que nós até conhecemos os intervenientes?

Caros amigos,
Esta história pode, até, parecer verdadeira. É que há nela muitas coincidências com nomes de pessoas e com moradas que nos podem levar a essa conclusão. No entanto, quero desde já declarar que tudo é pura ficção.

Um abraço do
JF Silva


Memórias boas da minha guerra

43 - O Zé Manel dos Cabritos e os amigos invejosos

Nasceu nos arredores de Penafiel, mais precisamente na zona descendente ao Rio Tâmega, ali à esquerda de quem vai para Entre-os-Rios. Desde miúdo, ajudou os pais no amanho das terras e no pastorício do gado. Gostava muito de animais e, se possível, de os domesticar. Para além das vacas e ovelhas, ele perdia-se com cães, gatos, pegas, melros etc., etc. Mas o que ele mais gostava era de “dominar” os cabritos. Mais as cabras, porque se afeiçoavam a ele facilmente. De tal forma se dedicava a eles que os seus amigos de infância o baptizaram por Zé Manel dos Cabritos.

Pouco se sabe dele nessa época de juventude. Deve ter decorrido normalmente, para um jovem do campo, de aspecto feliz e brincalhão. Apenas se lhe destaca essa paixão desmedida pelos cabritos. A tal ponto que sua mãe, ao contrário de seu pai que o que mais queria era o rendimento que o rapaz lhe proporcionava com essa dedicação, enquanto ela, preocupada, ia dizendo:
- Ó home, bê se tiras o teu filho de trás das cabras, porque o pobo inté lhe arranja alguma fama feia.

Ele ria-se, ria-se, sem se preocupar de nada. Até que a mãe, D. Ana, tomou a decisão de arranjar uma ocupação para o rapaz numa fábrica de trabalhar a pedra. Porém, ele não assentava, com as saudades da vida do campo e foi despedido mais que uma vez, por estragar o granito tentando esculpir imagens dos animais da sua estimação. O pai até achou piada quando o empresário Antero lhe disse:
- Ó Manel, olha que o teu filho pode vir a ser um grande artista. Manda-o para as Belas Artes, antes que se perca por aqui a fazer estragos. Eu, é que já não o posso aguentar mais porque dá me muito prejuízo. Ainda lhe expliquei que se fizesse crucifixos, alminhas, pias para água-benta ou pias para porcos, talvez se safasse, mas ele é teimoso e só pensa em figuras de animais.

Curioso que, quando veio da Guiné, voltou a ir trabalhar para o Antero e, desta vez, foi ele que se despediu. Foi para a Bélgica. A mãe foi ter com o Antero culpabilizando-o de o filho ter emigrado. O Antero meio desanimado, justificou-se junto da amiga Ana e disse-lhe:
- Eu gostava dele. Era trabalhador mas fazia muitas maluqueiras. Parece que ainda veio pior da Guiné. O último prejuízo que me deu foi quando, armado em escultor, fodeu-me uma estátua, já pronta, que valia um dinheirão. Ó rapariga deixa-o ir que só lhe vai fazer bem. E vai safar-se a fazer qualquer coisa, ainda que seja a encher pneus.

Tudo estaria bem e tudo seria esquecido se não fossem os “amigos” que ele arranjou na tropa. Com a alcunha que já trazia da terra e mais as histórias que se foram contando lá pela Guiné, ele ficou marcado para sempre. E tudo por causa dos cabritos. O que lhe vale é a excelente mulher (muito linda, por sinal) que teve a sorte de arranjar e que o compreende e o acarinha como ninguém.
Eu, que o conheci em convívios de ex-combatentes, chego a ter pena dele, só pelas supostas infâmias que ouço, acerca dele. Coitado, ri-se muito (dizem que sai ao pai) e, também, tem muita dificuldade em defender-se do veneno de alguns desses “amigos”. Não imaginam o que eles dizem a seu respeito.
O Neca da Régua, nunca mais lhe perdoou as privações que passou na Guiné por causa dele. Quantas vezes ele percorreu as tabancas de Mampatá e arredores, à procura de cabritos, e sempre lá ouvia:
- Cabrito cá tem. Zé Manel fodéo-o todos.

Segundo este conceituado poeta duriense, o Zé Manel organizou uma pequena mafia que açambarcava os cabritos, provocava a sua procura e especulava os preços de venda. Tinha o esquema tão bem montado, que ninguém o poderia atacar. Diz que veio a descobrir que o Zé Manel se infiltrara nas tabancas, negociando com cipaios, gilas, lavadeiras e, até, com feiticeiros. Por outro lado, tinha o Capitão, o seu Alferes, o Primeiro Sargento, o Enfermeiro, o Vagomestre e o grupinho da sueca, caladinhos como ratos, porque também “mamavam” à grande.
Conta também que, um dia, tentou sensibilizá-lo, explorando o facto de serem ambos do norte, quase vizinhos e que, se calhar, até seriam do mesmo clube.- “Quando eu lhe disse que era do Benfica, então é que fodi tudo. Nunca mais nos entendemos”.

Ainda hoje, quando estamos por perto (nos convívios), vemos que vai um para cada lado, por forma a não estragarem o ambiente com tanta provocação.
Outro que também lhe guarda rancor é o Augusto Carvalho, o ilustre Mayor de Meladas City, que foi veterinário no tratamento de carne para canhão, e se especializou também em tratar de gazelas e cabritos para o tacho, peixinhos da bolanha em escabeche e nhecas com piri-piri. Também era conhecido por alguns excessos como aquele de aconselhar a utilização de preservativos usados, desde que virados do avesso. Dizem que em campanha eleitoral, lá na terra, chegou a referir o mau exemplo da oposição, açambarcadora e insaciável, que lhe “fazia lembrar uma certa pessoa de Penafiel que conhecera na Guiné e que roubava os cabritos aos pretinhos, para se banquetear apenas com os seus capangas mais chegados”.

Todos sabemos que os Enfermeiros (também chamados de Veterinários) gozavam de um estatuto especial; partilhavam mezinhas e recebiam chorudas compensações. Pois o Carvalho viu-se fracassado no exercício das suas nobres funções. E como os indígenas já não lhe podiam trazer galinhas ou cabritos, talvez por vingança, passou a cortar-lhes nos medicamentos. O Zé Manel diz que ele chegou ao ponto de colar os comprimidos na testa dos doentes para que não os gastassem. Também o acusa de comilão insaciável, que apanhou a bicha-solitária lá na Guiné e que nunca mais a largou. E ainda acrescenta:
- Agora até lhe dá muito jeito porque anda sempre em comezainas, a mamar à custa do povo e dos amigos. Cuidado, porque com ele só interessam contas à moda do Porto. Vá comer ao caralho!!!

O Carlos Rocha, sabia de tudo. Como era vizinho do Zé Manel, este bonacheirão também era amante de cabritos… no forno (e não só), cedo se comprometeu numa relação de franca amizade, selada pelo apadrinhamento de um descendente e pela sua união em festas tradicionais e patuscadas intermináveis, ou periódicas, como se fossem telenovelas brasileiras.
Porém, já o ouvi lamentar-se que um dia ficou envergonhado. Foi pelas festas de Rio de Moinhos, quando passeava na companhia do Zé Manel, e se viu observado por um grupo de alunos seus que estavam a cochichar e lhe perguntaram:
- Ó Sô Pro’ssor, veio ver se consegue algum cabritinho? Olhe que a Festa do Cordeirinho já passou. Vai ver que desta vez não leva nada.


A festa do Cordeirinho realiza-se na véspera da Quinta-feira do Corpo de Deus. De acordo com a tradição lá na terra, os miúdos das escolas desfilam com oferendas ao seu professor. Todos levam o cordeiro ainda vivo, acompanhado de salpicão, chouriço, queijos, batatas, cebolas etc., etc.
Conta o Rocha que um dia teve que chumbar um aluno pela terceira vez consecutiva. Dizia:
- É que ele não aprendia mesmo nada!


Quando chegou ao dia da festa do cordeirinho verificou que o cordeiro melhor era o do rapaz que chumbara. Ficou meio encaralhado, sem saber como reagir. E quando se ia a esquivar da tribuna dos professores e das outras entidades, apareceu-lhe o pai do rapaz que o quis abraçar:
- Obrigado, Sôr Pro’ssor, não imagina o favor que me fez. A minha, mulher que é ainda mais burra que o filho, passava-me o tempo a teimar que o rapaz tinha esperteza para chegar a presidente. E eu, o inteligente, que me fodesse a amanhar as terras, sozinho.


Quando o Zé Manel emigrou para a Bélgica, ganhou umas coroas e reformou-se cedo e bem. Juntou ainda a reforma de escultor e a de militar. Mexeu os cordelinhos de tal maneira que nem o Presidente Cavaco ganha tanto como ele. Ora, isto dá azo a que os seus “amigos”, invejosos, passem grande parte do tempo comum, acusando-o de se andar a aproveitar da bagunça que tem reinado em Portugal.
E o que é mais flagrante é que o Zé Manel, que não consegue gastar o que ganha, vive à grande e à francesa, consolado de gargalhadas contínuas, contagiando o ambiente que o rodeia.


Ainda muito recentemente, vimos fotos dele, parecendo assediar cabritos em Mampatá, numa das várias viagens que tem feito à Guiné. O Neca da Régua sabe que aquilo é uma provocação. Sempre afirmou que devido àquela revoltante razia, estes cabritos, que agora são tratados como animais sagrados, tipo vacas na Índia, são descendentes de uma cabrita prenha que conseguiu escapar ao bando do famoso Zé Manel dos Cabritos.
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17341: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (42): O Arturinho do Bonjardim, a relojoaria, o negócio das carnes, os vários circuitos e destinos, até ao reagrupamento do… Bando

Guiné 61/74 - P17437: Notas de leitura (965): Guiné: um rio de memórias, "alegres e doridas"... Porque regressar é preciso: "costuma(-se) dizer que tem mais dores aquele que nunca regressa completamente"... E quem o reafirma é o Luís Branquinho Crespo, que lá voltou quarenta e tal anos depois...



Dedicatória autografada para o nosso editor: "Para Juís Graça, aqui lhe ofereço estas memórias da Guiné, alegres e doridas. [Luís Branquinho]. 17.05.2017"



Contracapa: texto e  foto do autor


Capa do livro do Luís Branquinho Crespo, "Guiné: um rio de memórias".
Leiria, Textiverso, 2017. 


O autor escreveu a seguinte dedicatória no livro: 

"A todos os que ficaram para lá do mar como o Braima Bá e o António Pouca Sorte", duas figuram que personificam aqui os perdedores de todas as guerras. 





Ficha técnica do livro do nosso camarada Luís Branquinho Crespo, “ Guiné – Um Rio de Memórias” . Preço, com envio através do correio: € 15,80 já com portes, podendo esse valor ser transferido para o seguinte IBAN 0010 0000 1888 8110 0015 3.






1. Excerto, com a devida vénia ao autor e editor, das pp. 95/96. Dá para perceber o estilo incisivo,  seco, frases curtas, às vezes quase telegráficas,  de repórter à Hemingway, do nosso Luís Branquinho Crespo que regressa à Guiné em 2010, mais de quarenta anos depois de ter feito a guerra como alf mil, na CART 2413 (Xitole e Saltinho, 1968/70). (É advogado desde os anos 70, em Leiria, e passou recentemente a integrar a nossa Tabanca Grande, sentando-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 744).

É um livro que se lê num fôlego: 21 capítulos, não chega às 180 pp. Veja-se o índice, e logo um "rio de memórias" começa a fluir, nomeadamente para aqueles, como eu conheceram, no leste, o setor L1, o triângulo Xime-Bambadinca-Xitole... e lidaram quase dois anos com as gentes da Guiné, na paz e na guerra...

Veja-se como o autor, numa pincelada magistral, descreve a aproximação de uma "mulher grande" até ao jipe dos viajantes: " (...) o Carlos, que ia na parte de trás do Toca-Toca, viu-a chegar com aquele jeito manso, bamboleante e sorridente, com que as mulheres do mato, em pose erótica e alegre, sabem dar ao corpo" (p. 95).

É um livro que deve ser lido neste verão, tempo propício para os viajantes, os que partem,os que regressam, por todos aqueles nossos camaradas que já voltaram à Guiné e por todos aqueles que não tencionam, por esta ou aquela razão, lá voltar. Ou que nunca pensaram sequer nessa possibilidade.

A viagem de Carlos Viegas ("alter ego" do autor),  Xavier e Joaquim  termina com esta frase, que tem muito de sabedoria popular e de verdade psicofisiológica: "Costuma(-se) dizer que tem mais dores aquele que nunca regressa completamente" (p.175).

Estou grato ao autor pelo envio deste exemplar autografado. Prometi fazer-lhe, com tempo e vagar, uma mais detalhada nota de leitura, complementando a já feita, "just in time", pelo nosso crítico literário, o Mário Beja Santos, e outras que entretanto possam aparecer. ( **).

Obrigado, Luís, por estas memórias "alegres e doridas" da "nossa" Guiné...  A viagem segue dentro de momentos, por que ao fim e cabo a vida não é mais do que uma viagem pela "picada fora"...  (LG).

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17425: Notas de leitura (963): “Guiné, Um rio de memórias”, por Luís Branquinho Crespo, Textiverso, Unipessoal, Lda, 2017 (Mário Beja Santos)

(**) Último poste da série > 5 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17433: Notas de leitura (964): Anuário da Província da Guiné, ano de 1925 - Um documento histórico incontornável (1) (Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17436: Parabéns a você (1266): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM/CTIG (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 5 de Junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17431: Parabéns a você (1265): Manuel Traquina, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70)

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17435: Os nossos camaradas guineenses (45): Encontro no LNEC com o Augusto Delgado, ex-Fur Mil da CCAÇ 18, hoje Engenheiro Técnico (Hélder Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF)

 
Augusto Delgado e Hélder Sousa, Engenheiros Técnicos da Guiné-Bissau e de Portugal


ENCONTRO COM GUINEEENSE NO IV CONGRESSO DA OET

Na quinta e sexta-feira passados ocorreu em Lisboa, nas instalações do LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil), o IV Congresso da OET (Ordem dos Engenheiros Técnicos), que é a minha Ordem profissional.

Tal evento decorreu de modo muito satisfatório, segundo a minha opinião, com temas muito interessantes e com bastante participação, quer na assistência, quer nas intervenções.
Foram abordadas questões como a “Reabilitação, Revitalização e Regeneração urbana”, cruzando com a interrogação “E se houver um sismo em Portugal” a propósito de não se aproveitar para se enquadrar o “reforço anti-sísmico” no âmbito da “reabilitação”, também se debateu o “Plano Nacional de Segurança Rodoviária”, o aproveitamento do Montijo para aumento temporário da capacidade do Aeroporto de Lisboa, etc., sendo que um aspecto importante teve a ver com “A livre circulação de profissionais de engenharia no mercado global”.

É relativamente a este último aspecto que o assunto se cruza com a Guiné. Foi criada uma Entidade para agrupar os países de expressão portuguesa, concretamente a “Associação de Engenharia de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho” e, nesse âmbito, houve intervenções de pessoas do Brasil, de Cabo Verde, de Angola e da Guiné-Bissau.
A representação deste último País recaiu no Engenheiro Técnico Augusto Delgado, na qualidade de Presidente da Associação Guineense dos Engenheiros Técnicos que, na sua intervenção, teve oportunidade de dar conta da dificuldade que é exercer a actividade de modo sério, competente e responsável em face das (nossas) conhecidas ‘facilidades’ com que as mesmas se desenrolam no seu dia-a-dia, com a agravante das constantes mudanças de dirigentes e outros responsáveis.

Notou-se a sua dificuldade em se mover e fiquei a saber que tal se devia a um relativamente recente episódio de AVC que lhe deixou sequelas, com implicações ao nível dos seus membros inferior e superior, do lado direito, também na vista e um pouco menos na fala.

Consegui estar e falar um pouco com ele, o que não foi fácil, mas fiquei a saber que é “mancanha”, oriundo da zona de Bula/Có, fez o seu curso na Escola Industrial de Bissau (era um dos que estudava sob a luz da iluminação na então Praça do Império em frente ao Palácio do Governador), fez estágio na Lisnave, prestou serviço militar na tropa portuguesa, em 72/74, como Furriel Miliciano na CCaç 18, na zona de Aldeia Formosa (Quebo, actualmente).

Tirámos uma foto, que anexo.
Será que algum dos nossos membros desta “Tabanca” se recorda dele?

Hélder Sousa(*)
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Notas do editor

(*) - Hélder Valério de Sousa foi Fur Mil de TRMS TSF em Piche e Bissau, nos anos de 1970/72

Último poste da série de 18 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16213: Os nossos camaradas guineenses (44): Criada, em Bissau, a Associação dos Filhos e Viúvas dos Antigos Combatentes das Forças Armadas Portuguesas (AFVCFAP): presidente Suleimane Camará (Idrissa Iafa, jornalista, Rádio Pindjiguiti)

Guiné 61/74 - P17434: Efemérides (255): centenário do nascimento do escritor, investigador e professor de literatura africana de expressão portuguesa, o leiriense Manuel Ferreira (1917-1992), capitão SGE reformado, ex-furriel miliciano, expedicionário em Cabo Verde, São Vicente, Mindelo, mobilizado em 1941 pelo RI 7 (Leiria)...Também fez comissões na Índia (1948-54) e em Angola (1965-67). "Creio que se pode perceber que estamos perante uma trajectória humana singular" (disse-nos o seu biógrafo, João B. Serra)



T/T Vera Cruz > A caminho de Angola > Em primeiro plano, o ten SGE Manuel Ferreira a bordo do paquete Vera Cruz em agosto de 1965 a caminho de Luanda. Cortesia de João B. Serra.

Foto (e legenda): © João B. Serra (2017). Todos os direitos reservados


1. Nota elaborada com dados fornecidos ao nosso blogue pelo programador cultural João B. Serra, natural das Caldas Rainha, historiador, professor coordenador do Instituto Politécnico de Leiria, e a quem foi cometida, pela autarquia de Leiria,  a missão de a realizar, em tempo recorde, uma exposição comemorativa dos 100 anos do nascimento do escritor leiriense Manuel Ferreira (1917-1992).


Manuel Ferreira (Gândara dos Olivais, Leiria, 1917- Linda a  Velha, Oeiras, 1992), conhecido como escritor, investigador e professor de literatura africana de expressão portuguesa, completaria 100 anos no próximo 18 de Julho.

Mas fez também carreira como militar, faceta que é menos conhecida: foi 1º cabo, furriel, 2º sargento, 1º sargento e, depois, alferes, tenente e capitão SGE,  tendo portanto frequentado a antiga Escola Central de Sargentos  (ECS) (, criada em 1896, em Mafra, tranferida depois para Águeda em 1926, transformada em estabelecimento em ensino superior, em 1977, com a designação de Instituto Superior Militar, e entretanto desativada, no início dos anos 90, para passar a existir, a partir de 1966, na Amadora,  o Instituto Politécnico do Exército).  Passou à reserva no posto de capitão, em 1974.

O Manuel Ferreira, órfão muito cedo,  de pai (que era ferroviário), alistara-se no exército em 1933, ainda menor, com 16 anos. Vai para Coimbra, cujo ambiente estudantil o fascina.   Completa o curso comercial. Mas quatro anos depois, envolve-se nas contestações à reforma (salazarista) do exército. Em julho de 1938,  com 21 anos, com o posto de 1º cabo,  é detido e colocado, no Porto, às ordens da polícia política. Transferido para Lisboa, para a prisão do Aljube, é julgado pelo  Tribunal Militar Especial de Santa Clara, um ano depois, sendo  absolvido, mas acaba por ser expulso das fileiras do exército. Entretanto, o tempo de prisão foi importante para ele em termos de formação político-ideológica,

 Regressa a Leiria e ajuda nos negócios do irmão até que,  em 1940, em plena segunda mundial,  volta ser chamado às fileiras do exército, E mobilizado, em 1941, para Cabo Verde.

O 1º cabo, promovido depois a furriel miliciano, Manuel Ferreira,  foi contemporâneo de alguns dos nossos pais, expedicionários em Cabo Verde durante a II Guerra Mundial, Esteve lá, na ilha de São Vicente, no Mindelo, cerca de seis anos,  de finais de 1941 até 1946. Foi mobilizado pelo RI 7 (Leiria), cujas forças (1º batalhão) ficaram aquartelada na zona de Chão de Alecrim enquanto o 1º  batalhão expedicionário do RI 5 (Caldas da Rainha)  estava estacionado na zona do Lazareto.

 Aproveita o tempo dessa comissão de serviço militar para continuar a estudar. Em 1944  concluirá o curso liceal (secção de letras), no liceu Gil Eanes, no Mindelo, A sua futura mulher, e também, escritora, notável contista, Orlanda Amarílis (1924-2013), natural de Santiago,  era da turma do Amílcar Cabral (1924-1973), natural da Guiné (Bafatá), mas filho de pais cabo-verdianos,

Casaram, Manuel Ferreira e   Orlanda Amarílis, em 1945. O seu primeiro filho ainda nasce no Mindelo.  Um dos professores que o marcou muito foi o escritor e linguista Baltazar Lopes, mas também Aurélio Gonçalves, aliás primo de Orlanda. Em contrapartida, Manuel Ferreira (que veio de licença de férias a Portugal em 1944, tendo aqui editado o seu primeiro livro, "Grei", coletânea de contos) terá sido o primeiro ou um dos primeiros (, a par de outros expedicionários)  a introduzir na ilha de São Vicente, a mais aberta e cosmopolita, as obras da nova geração de escritores portugueses, da escola neo-realista (como o Alves Redol, o Mário Dionísio e o Manuel da Fonseca). E começou, também ele, a dar os primeiros passos na ficção.

Este período é muito marcante (e decisivo) na sua vida.  A sua memória de Cabo Verde, a singularidade do crioulo, a "morabeza" do  seu povo, a sua cultura, a sua literatura, a sua música, as suas paisagens,  as suas tragédias (a seca, a fome, a emigração...), passam a fazer parte das vivênvias do homem, do cidadão e do escritor, das suas preocupações e áreas de trabalho intelectual e literário. Descobre em Cabo Verde uma segunda pátria. Ele é, de resto, um dos cofundadotes e animadores da revista literária "Certeza" (1944), de vida efémera (mas com impacto na vida cultural da ilha). (Publicaram-se dois números, o 3º terá sido proibido pela censura.).




Cabo Verde > São Vicente > Mindelo >  9/11/2012 > 11h11 >  Baía do Porto Grande e Monte Cara, ao fundo. 


Foto: © João Graça (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Geraça & Camaradas da Guiné]



 Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mapa de 2007, da autoria de Francisco Santos. Imagem copyleft (Fonte: Cortesia de Wikipédia. Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > s/l > Ribeira de Julião (?) > Legenda no verso: "Jantar em San Vicente, Nosse terre. Nativos em festa. Recordações da minha estada em C[abo] Verde (Expedição). 1941-1943. Luís Henriques". Provável Foto Melo.

Foto: © Luís Graça (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Geraça & Camaradas da Guiné]


Regressado ao continente em 1946, Manuel Ferreira é colocado no RI 7 (Leiria), Em 1947, publica na revista coimbrã "Vértice", em duas partes, um texto, pioneiro,  dedicado à literatura cabo-verdiana. Em 1948 edita, em Leiria, o livro "Morna: Contos Cabo-verdianos". Em 1947 tinha saído essa obra de referência da literatura cabo-verdiana que é o "Chiquinho", de Baltazar Lopes (Caleijjão, São Nicolau, 1907- Lisboa, 1989.)

 Como cidadão, e apesar de ser militar, também mantém relações com personalidades da oposição democrática, do MUD Juvenil, numa  época, o pós-guerra, em que ainda havia fortes esperanças no fim da ditadura salazarista. Naturalmente, a PIDE  vigia-o.

Em abril de 1948 é enviado para a Índia. Acompanham-no a mulher e o filho. Irá lá ficar até fevereiro de 1954. Manuel Ferreira, já com o posto de sargento, prossegue em Goa os seus estudos. Em 1949 conclui no liceu Afonso de Albuquerque a secção de ciências. Em 1952 fica diplomado com o curso de Farmácia da Escola Médico-Cirúrgica de Goa, enquanto por seu turno  Orlando tira o curso de professora primária na Escola do Magistério. Em 1949, tinha nascido o segundo filho do casal.

Regressa a Portugal em 1954. É colocado no R I 5, nas Caldas da Rainha, já só com funções de secretaria. E esse vai ser um período de grande grande produção literária, [Presumimos que tenha sido neste período, que o Manuel Ferreira frequentou a escol de Águeda; o nosso amigo João B. Serra consultou o seu processo individual, pode depois confirmar este dado omisso na nota biográfica que teve a gentileza de nos disponibilizar, de seis páginas],

Em 1958 é transferido para Lisboa. Em 1962, sai o seu primeiro romance de
temática cabo-verdiana, o "Hora di Bai", centrado na tragédia da seca e da fome de 1942, que o consagra definitivamente como escritor, reconhecido pela crítica e pelo público,. Em 1963 a Academia de Ciências de Lisboa atribui-lhe o prémio da criação literária Ricardo Malheiros.

Em 1961, é convidado para o lugar de secretário da  Sociedade Portuguesa de Escritores (SPE), de que é presidente o consagrado Ferreira de Castro (1898-1974). Em 1965, as instalações da SPE são atacadas e destruídas, sendo a  instituição dissolvida por decisão governamental, por ter tido a ousadia de atribuir a um "terrorista" do MPLA, preso no Tarrafal, o Grande Prémio de Novela desse ano... .O livro chamava-se "Luuanda", e o escritor, angolano, nascido em Portugal, era o Luandino Vieirapseudónimo literário de José Vieira Mateus da Graça (nascido em 1935, em  Nova de Ourém),

O então tenente SGE Manuel Ferreira é colocado em Angola para mais uma  comissão de serviço militar (1965/67). De regresso a casa, ainda tem tempo para concluir, em 1974, a licenciatura em ciências sociais e políticas do ISCSPU - Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina.

Depois de passar à reserva logo a seguir ao 25 de Abril, aceita de bom grado o convite para dar aulas na Faculdade de Letras de Lisboa. Será professor universitário de dezembro de 1974 até atingir os 70 anos, em 17 de julho de 1987, data em que teve de se jubilar, por imperativo legal. Foi mestre de toda uma geração lusófona numa área nova, na nossa universidade, como foi o ensino e a investigação da literatura africana de expressão portuguesa.

Na área da literatura infantil, tem 7 livros editados,  entre 1964 e 1977,   maioritariamente relacionados com o imaginário cabo-verdiano. Na ficção, destaque-se as reedições de "Morabeza" (1961) e "Hora do Bai" (1963), uma refundição de "Morna", com o título de "Terra Trazida" (1972) e, enfim, a narrativa "Voz de Prisão" (1971).

Ainda em vida, em 1991, por ocasião da passagem do 50º aniversário da sua chegada a Cabo Verde, o município do Mindelo homenageou-o com o título de  cidadão honorário. Em contrapartida, a sua cidade parece tê-lo redescoberto tarde...

Em suma,  se ele hoje fosse vivo, poderíamos também tratá-lo como  "nosso pai, nosso velho, nosso camarada". Parafraseando o seu biógrafo, João B. Serra, por este "curriculum vitae resumido", dá para perceber que "estamos perante uma trajectória humana singular".

De acordo com a informação do João B. Serra,  há diversas iniciativas em curso para celebrar o centenário de Manuel Ferreira, algumas recentes, outras previstas para julho. As comemorações prolongar-se-ão ao longo do ano em curso, em Leiria (onde nasceu e foi mobilizado para Cabo Verde), nas Caldas da Rainha (onde esteve colocado, no então RI 5), em Lisboa (onde foi professor, na Faculdade de Letras) e eventualmente noutras cidades portuguesas. E esperemos  que também no "seu" Mindelo, terra de sortilégio!

Dessas iniciativas iremos  dando noticia, aqui no nosso blogue. João B. Serra está também a ultimar a biografia de Manuel Ferreira,  para a qual conta, para já, com o apoio dos editores e colaboradores de dois blogues, o nosso, Luís Graça & Camaradas da Guiné, e o Praia de Bote (editado por Joaquim Saial, um alentejano que se apaixonou pelo Mindelo nos anos 60, e que tem, entre os seus colaboradores, o nosso camarada Adriano Lima. cor inf ref, que vive em Tomar, outro grande mindelense de alma e coração).
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Guiné 61/74 - P17433: Notas de leitura (964): Anuário da Província da Guiné, ano de 1925 - Um documento histórico incontornável (1) (Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,
Este será porventura o primeiro documento em que no século XX se apresenta a Guiné, a sua geografia, administração, atividades económicas, fauna e flora, um pouco da história militar a partir do século XIX, dados sobre a religião e usos e costumes indígenas. João Barreto colaborou no anuário e seguramente que encontrou aqui alguns veios para o trabalho a que se abalançou, a primeira história da Guiné. Tanto quanto eu sei, só aparecerão anuários em 1945 e 1946, graças ao labor de Fausto Duarte, um dotado plumitivo, injustamente esquecido. Mergulha-se nesta leitura e percebe-se rapidamente como é frágil a nossa presença, frágil e precária, a despeito de alguns governadores de mão cheia, como é o caso de Vellez Caroço, o governador ao tempo deste anuário.

Um abraço do
Mário


Um documento histórico incontornável: Anuário da Província da Guiné, ano de 1925 (1)

Beja Santos

Será porventura o primeiro documento oficial de onde é possível retirar um retrato do que era a Guiné no final do primeiro quartel do século XX. Ainda é província ultramarina, em breve será transformada em colónia. É governador da província um militar de rara qualidade, Vellez Caroço. O anuário é coordenado Armando Augusto Gonçalves de Morais e Castro, divide-se em três partes: na primeira, dá-se uma sinopse do que é a província, as suas vias de comunicação, viaja-se pelo território, explica-se o que é a administração, quais os serviços públicos, as cidades e as vilas; na segunda parte, apresenta-se a agricultura e a pecuária, o comércio e as indústrias, a fauna e a flora; na terceira parte, dá-se relevo à climatologia, sintetiza-se a história militar, a instrução e religiões, as circunscrições civis e usos e costumes indígenas.

O autor não está para meias medidas, vai direto ao assunto. “Pode dizer-se que desde a data da descoberta da Guiné, até ao começo de 1834, faltam notícias circunstanciadas ou sequer símbolos informes sobre as operações militares que na província se tivessem realizado”. É esse um dos dados valiosos do seu documento, refere mesmo que aqui se sintetiza a “Memória sobre as campanhas de pacificação” de que foi autor o Tenente-Coronel João José de Melo Miguéis. Um dos colaboradores deste anuário é o Tenente Médico João Barreto que, anos depois, dará à estampa a primeira história da Guiné, louvável iniciativa, hoje é um registo praticamente ultrapassado em todos os aspetos.

Falando da geografia da Guiné, não resiste a mencionar o fenómeno do macaréu, e cita Ernesto de Vasconcelos: “Dá-se no Geba o fenómeno conhecido dos portugueses pela denominação de macaréu, nome que parece provir do termo sânscrito Makára, que designaria um monstro marinho da mitologia oriental, causador da onda de maré que se eleva em determinadas circunstâncias no golfo de Cambaia, Pegú e outras partes dos Oriente. O macaréu corresponde ao mascaret dos franceses, ao boro dos ingleses e ao proroca dos brasileiros, que o observam no Amazonas; a sua explicação não tem sido bem estudada; no Geba parece ser devido à formação repentina de uma onda que se levanta na ocasião da enchente, deslizando sobre as águas do rio, com grande velocidade em direção a montante, vencendo a corrente de vazante e inundando todos os bancos e coroas que se oponham ao seu livre curso. Este fenómeno só se dá aqui nas grandes marés de conjunção lunar e consiste em três grandes ondas, não causando embaraços sérios à navegação”.


Confesso que ardia de curiosidade ao consultar este documento, queria saber concretamente onde se situava a chamada Sociedade Agrícola do Gambiel, implantada no Cuor, as únicas instalações que encontrei de pé no regulado e à volta do Gambiel situavam-se em aldeia do Cuor, mas não tinha nenhuma certeza. Consultando o anuário, a nenhuma certeza cheguei, falam na empresa do Gambiel Limitada, tendo à frente o senhor Armando Cortezão (quando cheguei a Missirá, no início de Agosto de 1968, o régulo Malam Soncó fez questão de me dizer que me oferecia os ferros da cama do senhor Cortezão, bate certo, ele por aqui andou a plantar palmeiras de Samatra, o Gambiel é mais acima e vai desaguar perto da aldeia do Cuor. Diz o articulista: “Uma pequena visita que fizemos ao local em que esta empresa está instalada, fixou em nós e impressão agradável de que ali se trabalha, de que os capitais que lá estão empregados não são de modo algum capitais perdidos, desperdiçados por mãos sonâmbulas. É alguma coisa com caráter e com larguíssimo futuro. Quem nesta empresa meteu ombros pôs de parte o palavrório, como é costume resolvermos tudo, para se preocupar com obras. Ali se encaram e resolvem três problemas: o da agricultura, o da pecuária e o da indústria”. Mais adiante refere-se à Empresa Agrícola de Fá, o que bate certo, existiu em Fá e, tal como a de Gambiel, terá desaparecido antes da guerra de libertação.

O régulo, devotado amigo e colaborador do capitão Teixeira Pinto, foi convidado a vir à I Exposição Colonial, que decorreu no Porto, em 1934. Ei-lo aqui, num soberbo desenho de Eduardo Malta

É óbvio que aqui não se pode escrever tudo o que o autor diz sobre a história militar. Adianto só alguns parágrafos, reportados a 1843, no momento em que se verificou um grave contencioso em Bissau entre as forças aquarteladas na praça e os grumetes vizinhos: “Daqui por diante é uma longa enfiada de ataques traiçoeiros, de recontros e escaramuças sanguinolentas; de chacinas bárbaras; de tratados e ratificações; de autos de submissão e vassalagem, desmentidas, dias depois, por novas surpresas e furiosas investidas em que o ódio milenário do gentio contra o branco tripudiava num frenesim vermelho de ululantes bestas-feras; é um rosário sinistro de extorsões e pilhagens, feitas com um sábio requinte de malvadez e canibalesca perfídia; é um martirológio trágico e arrepiante, em que sobreleva o heroísmo obscuro, cristianíssimo, de simples soldados que, para defenderem os seus chefes de uma morte certa, investem, desarmados, com a força, apenas, da sua indignação contra um grupo uivante de cinco ou seis negros, e, cheios de sangue, retalhados de golpes mortais, só se deixam render, quando outros negros acorrem numa chusma selvática de gorilhas! Interrogam-se os arquivos e nas suas folhas amarelecidas os nossos olhos deparam com uma sucessão infinita de combates, em que a intemerata Alma Portuguesa vibra e palpita, como um clarim de guerra, que, embora esfriado o sopro que o animava e caído pelo chão entre o troar dos obuses, e o horrível “pêle-mêle” da refrega vai dizendo a si mesmo, inextinguivelmente, a sua canção heróica, que anima de energias novas o opressivo desalento dos combatentes".

Segue-se uma curiosíssima exposição sobre o tipo de raças da Guiné, fica para a semana.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17425: Notas de leitura (963): “Guiné, Um rio de memórias”, por Luís Branquinho Crespo, Textiverso, Unipessoal, Lda, 2017 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17432: Tabanca Grande (438): Ernesto Marques, leiriense de Ancião, vive no Cartaxo, foi Soldado TRMS Inf, CCAÇ 3306 / BCAÇ 3833 (Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73)... Novo grã-tabanqueiro n.º 745

Foto n.º 1

Foto n.º 2

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Foto n.º 6

Foto n.º 7

Fotos: © ErnestoMarques (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do novo membro da Tabanca Grande, nº 745, Ernesto Marques

Data: 29/05/2017
Assunto: Inscrição no Blogue como membro da Tabanca Grande


Agradeço a inscrição no blogue, do qual já sou adepto há muito tempo,
Fui Soldado de Transmissões de Infantaria, Ernesto Marques, n.º 01391570, Companhia de Caçadores 3306, Batalhão de Caçadores 3833. Estive na Guiné, Jolmete, entre Dezembro de 1970 e Dezembro de 1972

Junto envio igualmente, para efeitos de contacto, o nº de telemóvel.

Grato pela atenção,

Abraço,
Ernesto Marques


2. Nota do editor:

Ernesto: és naturalmente benvido à Tabanca Grande. Passas a figura na lista alfabética dos grã-tabanqueiros, que consta  na coluna do lado esquerdo da página de rosto do nosso blogue. Por ordem de entrada, és o n.º 745. É o teu lugar à sombra do nosso poilão, mágico, fraterno, protector.

Além das fotos que mandaste, ainda fomos repescar mais algumas na tua página do Facebook. Vimos que passaste a maior parte do teu tempo em Jolmete de que tens uma bela foto da tabanca e do quartel com uma secção das valas e o espaldão do morteiro 81 (tens que confirmar).

Da tua companhia CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73), temos na Tabanca Grande o ex-fur mil  Augusto Silva Santos de que, por certo, estás lembrado, e que vive em Almada, sendo aliás teu amigo no Facebook. Vejo que a vossa companhia se reúne todos os anos,

Sabemos ainda que trabalhaste como chefe de pessoal na empresa Ford Lusitana, SA, que vives no Cartaxo, mas és natural de Ancião, Leiria.

Desejamos-te boa continuação da tua reforma. E, não te esqueças, manda-nos pelo menos uma pequena história do teu tempo na Guiné. Já sabes, uma vez que és nosso leitor de longa data, quais são as nossas regras de convívio e o que precisas de fazer para comentar os postes que publicamos todos os dias. (As regras constam da coluna do lado esquerdo.).

Obrigado pelo teu número de telemóvel, que naturalmente não divulgamos, mas fica disponível para os editores e demais camaradas que te queiram contactar. Se quiseres que a gente te dê em público os parabéns pelo teu aniversário natalício, tens que nos dizer a tua data de nascimento.

Um alfabravo dos editores.
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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de maio de  2017 > Guiné 61/74 - P17370: Tabanca Grande (437): Luís Branquinho Crespo, ex-alf mil, CART 2413 (Xitole e Saltinho, 1968/70)... Passa a sentar-se à sombra do nosso polião, no lugar nº 744. É advogado em Leiria e autor do livro "Guiné: Um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017)

Guiné 61/74 - P17431: Parabéns a você (1265): Manuel Traquina, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17426: Parabéns a você (1264): António Azevedo Rodrigues, ex-1.º Cabo do CMD AGR 2957 (Guiné, 1968/70)