quinta-feira, 22 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17502: Memória dos lugares (360): Murteira, união das freguesias de Lamas e Cercal, concelho de Cadaval: monumento aos 61 ex-combatentes da guerra do ultramar (1954-1975): Cabo Verde (1), Angola (31), Índia (2), Timor (1) , Moçambique (12) e Guiné (14) (Jorge Narciso, ex-1.º Cabo Especialista MMA, Bissalanca, BA 12, 1968/69)








Cadaval >  União das freguesias de Lamas e Cercal >  Murteira > Monumento  aos 61 ex-combatentes da guerra do ultramar (1954-1975):   Cabo Verde (1), Angola (31), Índia (2), Timor (1) ,  Moçambique (12) e Guiné (14). O monumento foi inaugurado em 10 de junho de 2016. A rua principal da terra, que tem cerca de 800 habitantes, é justamente a dos Combatentes do Ultramar.


Fotos: © Jorge Narciso  (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Eis aqui as fotos que o Jorge Narciso nos prometeu há dias a propósito do poste P17474 (*):

"Luís, estamos a falar da minha terra adoptiva, Murteira, onde tenho casa.  Vou fazer a foto do monumento aos combatentes da guerra do Ultramar, naturasi da Murteria, e envio-te. Esse padeiro que, como mais de 50% dos naturais da Murteira, terá mesmo o apelido Geada, não conheço, mas familiares dele seguramente.  Abraço e até um dia destes, quem sabe... na Murteira".

Jorge Narciso [ex-1.º Cabo Especialista MMA, Bissalanca, BA 12, 1968/69] é membro da nossa Tabanca Grande desde 20 de novembro de 2009 (**)

O nosso camarada tem razão: dos 61 ex-combatentes da guerra do ultramar/guerra colonial, nados e criados em Murteira, há pelo  menos  uns 9 com o apelido "Geada". O Alfredo R. C. Ferreira, 1º cabo, padeiro da CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70), também era conhecido por "Geada"... Aliás, ninguém o conhecia pelo apelido "Ferreira". (*)

Murteira, uma terra hoje progressiva, com cerca de 800 habitantes, era a maior da antiga freguesia de Lamas (, hoje união das freguesias de Lamas e Cercal). Quantos habitantes teria nos anos 60/70, na altura da guerra colonial ? De qualquer modo, 61 dos seus jovens passaram por terras de África (Cabo Verde, Guiné, Angola e Moçambique) e Ásia (Índia e Timor). E regressaram todos!... É um grande feito!

Obrigado, Jorge, e até um dia destes na Murteira. Afinal estamos a menos de 20 km de distância um do outro,  quando eu estou na Lourinhã (ao fim de semana) e tu na Murteira (quase sempre ?).
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17474: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca ... é Grande (108): Na Lourinhã, fui encontrar o ex-1º cabo at inf Alfredo Ferreira, natural da Murteira, Cadaval, que foi o padeiro da CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70)... e que depois da peluda se tornou um industrial de panificação de sucesso, com a sua empresa na Vermelha (Luís Graça)

(**) Vd. poste de 20 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5305: Tabanca Grande (188): Jorge Narciso, ex-1º Cabo Esp MMA, BA 12, Bissalanca, 1969/70

(...) Como dizia há dias o teu/nosso camarada Miguel Pessoa, o primeiro piloto da FAP a ser 'strelado', em 25 de Março de 1973, sob os céus de Guileje, a rapaziada do Exército conhecia a Guiné por baixo e vocês por cima... Enfim,. duas perspectivas complementares, a celestial e a terrena. Falta aqui a abordagem, mais líquida, da Marinha (que anda rarefeita)...
Fora de brincadeiras, cada um de nós terá o seu bocado de Guiné, que é como quem diz, do inferno, da terra e do céu... Jorge, estás apresentado à Tabanca Grande, onde há de tudo um pouco: casernas, hangares, aeródromos, heliportos, bases navais, quartéis, destacamentos, bolanhas, lalas, pontes, palmeiras, poilões, irãs, tempestades tropicais e sei lá o que mais... Isso terás que ser tu a descobrir... Acomoda-te a um canto e saca  lá das tuas memórias...

Um dia destes dou-te um abraço, ao vivo, no Cadaval ou na Lourinhã... Até lá, felicitemo-nos  por este mundo ser pequeno e o nosso blogue... ser ou  parecer grande (*). Um Alfa Bravo. Luís (...)


Guiné 61/74 - P17501: Parabéns a você (1275): Coronel Art.ª Ref António José Pereira da Costa, ex-Alf Art da CART 1642 e ex-Cap Art, CMDT das CARTs 3494 e 3567 (Guiné, 1968/69 e 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 20 de Junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17488: Parabéns a você (1274): Engenheiro Cherno Baldé, Amigo Grã-Tabanqueiro, natural da Guiné-Bissau

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17500: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (18): Amigos e camaradas de Cufar - Parte I


Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 > 18º Pel Art > Eu, junto ao obus 14 mais o  sargento Barros



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 > O edifício da Intendência [o martirizado PINT 9288, de que era cmdt o nosso camarada João Lourenço].




Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 > Eu e António António [Octávio da Silva] Neto [, alf mil inf] junto ao "Solar do Gringo"


Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 > Com o Rebelo,  do Liceu Pedro Nunes



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 >  António e Eiriz (cujo nome completo  não identificámos): o primeiro será o alf mil, cmdt do 2º Gr Comb  António Adolfo Moreira da Silva Zêzere ? Vd. aqui a história da unidade e a sua composição orgânica. [No caso do Eiriz, trata.se do alf mil trms  do CAOP1, António Eiriz]


Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil inf da CCAÇ 4740 (Cufar, 1973) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)

De rendição individual, foi o último comandante do Pel Caç Nat 52. Irá terminar a sua comissão no setor L1 (Bambadinca), em Missirá, depois de Mato Cão, e extinguir o pelotão em agosto de 1974.

Até meados de 1973 esteve em Cufar, a comandar o 3º pelotão da CCAÇ 4740, no 1º semestre de 1973. Tem bastantes fotos de Cufar, que começámos a publicar no poste P17388 (*).

Hoje mostram-se mostram-se algumas fotos de camaradas de Cufar. Além da CCAÇ 4740, unidade de quadrícula, de origem açoriana, Cufar era uma verdadeira base militar,  com pista de aviação e porto fluvial, contando com forças da marinha, da força aérea, do CAOP1, e ainda as seguintes:

Pel Caç Nat 51

Pel Caç Nat 67

Pel Canhões s/r

 Pel Art 18

Pel Rec Fox 8870

PINT 9288

Milícias.

Vários camaradas da Tabanca Grande passaram por lá nesta altura (1973/74), além do Luís Mourato Oliveira: António Graça de Abreu, Fernando Franco, António Baia, António Salvador, Armando Faria, João Lourenço, António P. Almeida... Citamos  de memória!

O Luís Mourato Oliveira já não estava em Cufar quando se deu a tragédia do dia 2 de março de 1974: duas minas, mais de duas dezenas de mortos, em grande maioria estivadores ao serviço da Intendência(**)...  Nem antes,  em 14 de novembro de 1973, quando  Cufar começou a "embrulhar", com os foguetões 122 mm ("os jactos do Povo", como lhes chamava a malta do PAIGC) (***)...
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2 de março de  2014 > Guiné 63/74 - P12787: Efemérides (150): Cufar, 2 de março de 1974: Horror, impotência, luto... (Armando Faria, ex-fur mil, MA, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74)

2 de março de 2015 >  Guiné 63/74 - P14314: Efemérides (181): Recordando o dia 2 de Março de 1974, dia de horror, impotência e luto em Cufar (Armando Faria)

(***) Vd. poste de 17 de outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3328: Memórias literárias da guerra colonial (7): O baptismo de fogo de A. Graça de Abreu, em Cufar, aos 17 meses (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P17499: Agenda cultural (568): Exposição comemorativa do 1º centenário do nascimento de Manuel Ferreira (1917-1992), a ser inaugurada em 18 de julho próximo, no Museu José Malhoa, Caldas da Rainha, e que deverá seguir depois, em setembro, para a terra natal do escritor e oficial do exército, Leiria (João B. Serra)


Capa da 2ª edição do livro de contos "Morabeza", que Manuel Ferreira (1971-1992) escreveu, em 1957, nas Caldas Rainha quando chefiava a secretaria do RI 5. Era então 1º sargento. A 1ª edição é de 1958. A obra foi em 1957 distinguida com o prémio Fernão Mendes Pinto e editada pela Agência Geral do Ultramar. Uma segunda edição, “refundida e aumentada”, saiu em 1965, sob a chancela da Ulisseia, com prefácio de José Cardoso Pires. A belíssima capa é de Sebastião Rodrigues.

Foto e legenda: cortesia de João B. Serra (2017

1. Comentário de João B. Serra  ao poste 19 de junho de 2017,  "Guiné 61/74 - P17486: Meu pai, meu velho, meu camarada..." (*)

Estou muito grato ao Luís Graça pela sua disponibilidade pessoal e pela intermediação que fez para outros seus "camaradas" que me permitiu enriquecer o conhecimento e ampliar a investigação sobre a presença de militares portugueses em Cabo Verde durante a II Guerra Mundial.

No acervo familiar de Manuel Ferreira, que me foi facultado por um dos seus filhos, o Eng. Hernâni Ferreira, existem também algumas fotografias dessa época, que vou utilizar na exposição que preparo para as Caldas da Rainha.

A exposição será inaugurada (espero) a 18 de Julho, no museu de José Malhoa, seguindo-se, a 22, no mesmo Museu, uma conferência sobre a vida e obra do escritor.

Manuel Ferreira, então 1º sargento, esteve colocado no Regimento de Infantaria 5 (tal como, anos antes, Luís Henriques, pai de Luis Graça) no período que vai de 1954 a 1958. Para documentar esse pedido tive a colaboração do actual comandante  da Escola de Sargentos do Exército, que sucedeu ao antigo RI 5 [em 1981].

A referida exposição seguirá em Setembro para Leiria, terra natal de Manuel Ferreira.

Obrigado a todos os que têm colaborado nesta iniciativa.

João Serra

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17486: Meu pai, meu velho, meu camarada (57): um roteiro da cidade do Mindelo: parte II [álbum fotográfico de Luís Henriques (1920-2012), natural da Lourinhã, ex-1º cabo inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, entre julho de 1941 e setembro de 1943]

Guiné 61/74 - P17498: Efemérides (259): Dia do Combatente Limiano - 6.ª Homenagem do Concelho de Ponte de Lima aos seus 79 Heróis Militares caídos em combate pela Pátria, 27 na I Grande Guerra e 52 durante a Guerra do Ultramar (António Mário Leitão, ex-Fur Mil na Farmácia Militar de Luanda)



1. Mensagem do nosso camarada António Mário Leitão [ex- Fur Mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), 1971 a 1973], autor do livro "Biodiversidade das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d´Arcos" (2012), com data de 16 de Junho de 2017:

Caro Luís e Camaradas do nosso Blogue!
Aqui envio imagens da magnífica jornada de saudade celebrada no Dia de Portugal, em que se realizou a 6ª Homenagem do Concelho de Ponte de Lima aos seus 79 Heróis Militares caídos em combate pela Pátria (27 na I Grande Guerra e 52 durante a Guerra do Ultramar) durante o século vinte.

Organizada pelo Lions Clube de Ponte de Lima, que desde há 4 anos assumiu essa incumbência patriótica, esta celebração desenvolveu-se em três momentos: 
- uma missa na Igreja da Misericórdia, 
- a apresentação do meu livro "História do Dia do Combatente Limiano" 
- e a homenagem no Memorial dos Heróis do Ultramar.

A adesão da população foi muito significativa, apesar deste dia ter sido há dois anos chumbado pela Assembleia Municipal de Ponte de Lima e pela Câmara Municipal (conforme petição popular já publicada nesta nossa Tabanca Grande).

O Capelão Militar Padre Ricardo Barbosa trouxe uma encorajadora mensagem do Chefe do Estado Maior do Exército, que nos permite encarar com mais alento as homenagens futuras. E também a Liga dos Combatentes, através desse sacerdote, se disponibilizou para participar activamente na conservação destas Sagradas Memórias.

A presença de dois Coronéis da GNR, de um Coronel Comando, do Oficial Patrão-mor de Viana do Castelo e de uma senhora Major do Exército, além de outras individualidades, constituiu também um factor de grande encorajamento para continuarmos a nossa missão, que tem sido muito acarinhada pelo Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima, pelas associações de ex-Combatentes e pelos párocos das diversas freguesias.

Apesar da sua rejeição pelo poder político vigente, o Dia do Combatente Limiano vai-se afirmando! 
Quem sabe se depois das próximas eleições autárquicas ele não será instituído?

Um abraço para todos os teus Colaboradores e parabéns pelo V. trabalho!
Até já!
Mário Leitão















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Nota do editor

Último poste da série de 15 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17475: Efemérides (258): O 10 de Junho no Porto e em Leça da Palmeira (Carlos Vinhal / Núcleo de Matosinhos da LC)

Guiné 61/74 - P17497: Os nossos seres, saberes e lazeres (218): São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (7) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 8 de Março de 2017:

Queridos amigos,
Sugiro, a quem pretenda fazer comparações entre o presente e quatro ou décadas atrás que visite museus. Na minha infância, o Museu Nacional de Arte Antiga era mal iluminado, a exposição daqueles objetos artísticos, a coisa mais desgraciosa que imaginar se pode, posso testemunhar que vi a baixela de D. João V bem suja. Hoje é um espaço atrativo, um primor para a museologia e museografia. O mesmo acontece com o Museu Carlos Machado, em Ponta Delgada, que fui visitar, pude constatar o alto profissionalismo que por ali vai, a dedicação e o carinho na conservação e restauro.
Se passarem por Ponta Delgada, este museu é paragem obrigatória.

Um abraço do
Mário


São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (7)

Beja Santos

Aqui há uns dias fui ao Museu Nacional de Arte Antiga visitar a exposição “Lisboa, capital global”, mais um empreendimento de grande categoria museológica e museográfica. Aproveitei para visitar o museu do terceiro andar até à capela, onde se conservam belíssimos presépios. Em criança, este importantíssimo museu revelava-se-me soturno, havia humidades e a exposição dos objetos era tristonha, lembro-me da minha mãe me estar a falar da famosíssima baixela de D. João V e de eu lhe ter perguntado porque é que toda aquela prataria estava suja… Ora quando visitei pela primeira vez o Museu Carlos Machado, em 1967, tive uma imagem mais lisonjeira, mas por razões que desconheço os objetos postos não tinha nada a ver com o deslumbramento desta visita, 50 anos depois. Houve para aqui obras de vulto, consta que havia muita madeira cheia de bicho, o que interessa é que a disposição e a organização das salas permite admirar um património magnífico. O Museu Carlos Machado está instalado no antigo Convento de Santo André, também foi liceu, Carlos Machado ergueu e organizou os primeiríssimos recheios, o património tem crescido, a conservação e o restauro são magníficos. Que belo museu!



O património é variadíssimo, como disse, eu peço desculpa por não me entusiasmar com aves empalhadas nem com os segredos oceanográficos, nada desdenho, e sei muito bem que o museu acolhe visitantes que vêm propositadamente deliciar-se com pássaros e peixes deste recanto oceânico, para diante de uma bela azulejaria, vi a cadeira da última abadessa, e subi ao coro alto, nunca aqui tinha estado.



Recordo-me, quando chegou a hora daquela onda extremista que deu pelo nome da FLA, li um panfleto falando da identidade açoriana, toda ela singular. Os demagogos não tiveram seguidores. Por razões compreensíveis, basta olhar esta arte que está dispersa por todo o território português e perceber que a coesão nacional é dada pela língua, pelos valores imateriais e espirituais em horizontalidade, pela cultura e vetores de civilização. O que se chama açorianidade, que Vitorino Nemésio tão bem definiu, tem a ver com a imensidão do mar à volta, o ter os pés assentes em massa vulcânica, em amassar o caráter no isolamento e valorizar a solidão. Gosto dos escritos açorianos, quando leio José Martins Garcia ou Cristóvão de Aguiar sinto a alma do ilhéu, que perpassa, mais tenuemente na obra de Natália Correia, mas também o continente tem os seus castiços, como os do Douro ou os da planície alentejana e o mundo da raia, os saborosos acentos do mirandês e do barranquenho. Por isso respiro aqui os vigores destes modos de vida e exulto o que a natureza oferece, no seu mistério, na sua graciosidade, no seu aprazimento. A visita ao museu prossegue, também eu estou em aprazimento.



Nem todas as salas deste magnífico museu estão abertas ao público, vinha à espera da rever os belíssimos registos dedicados ao Senhor Santo Cristo dos Milagres, de um deles adquiri através de uma artífice de gabarito, Graça Páscoa, a réplica de um deles que tenho no meu escritório. E há os artistas açorianos contemporâneos que não pude ver, fica para a próxima, já tive a minha dose do escultor Canto da Maia, não vou mal guarnecido. Desço ao rés-do-chão para colher umas imagens surpreendentes.




Quando se lê Camilo Castelo Branco aparece muitas vezes a roda, era aqui que se largavam as crianças de pai incógnito ou de casais na penúria, nalguns casos ficava a identificação, noutros nem tanto. Um símbolo do que era a assistência conventual e como se praticava a compaixão. Espero que os meus leitores tenham ficado bem impressionados com o museu Carlos Machado. A visita está praticamente no fim, ainda tenho jardins em agenda e depois um passeio até à Lagoa do Fogo.
Eu conto já a seguir.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17469: Os nossos seres, saberes e lazeres (217): São Miguel: vai para cinquenta anos, deu-se-me o achamento (6) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17496: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (42): o caso do colono Fausto Teixeira (1900-1981), deportado político em 1925, empresário de sucesso até ao 25 de Abril... Depoimentos do neto Fausto Luís Teixeira, formador, e Fernando Gouveia (ex-alf mil rec e inf, Cmd Agr 2957 Bafatá, 1968/70)


Gabriel Pedro, pai de Edmundo Pedro, com outros deportados para a Guiné, em 1925, alegados membros da misteriosa "Legião Vermelha". O Gabriel Pedro é o quarto da segunda fila, a contar da esquerda (assinalado a vermelho). O Fausto Teixeira seria o segundo, de boina (assinalado a verde).

"Curiosa esta fotografia das alegados membros da 'Legião Vermelha' - Todos engravatados e de camisa branca!" (Armando Tavares da Silva).. "Na época tiravam-se fotos com a melhor roupinha que se tinha... Pode parecer insólito... Como não chegaram a ser julgados, temos de presumir a sua inocência... E, no entanto, alguns poderão ter cometido crimes de sangue...Quem vê caras não vê corações... Por outro lado, ainda não há investigação historiográfica séria sobre esta alegada rede terrorista" (Luís Graça)...

[Fonte do fotograma: You Tube > A Legião Vermelha - Portugal 1920/1925, documentário da RTP, com a devida vénia...]


1. A nossa curiosidade sobre este colono que viveu meio século na Guiné (entre 1925 e o 25 de Abril de 1974), e tem uma notável história de vida (*), espicaçou-se com o pedido de informação do neto, Fausto Luís Teixeira:

(...) Chamo-me Fausto Luís Teixeira, nasci em Ponte Nova, Bafatá (onde vivi até aos 3 anos) e sou neto de Fausto da Silva Teixeira, que mal conheci e de que gostava saber algo mais. Uma pergunta: sabeis como ele foi parar à Guiné? (...).

Temos mobilizado e trocado informações e conhecimentos, com contributos vários de camaradas e amigos nossos (Luís Graça, Armando Tavares da Silva, José Manuel Cancela, Jorge Cabral, Manuel Amante da Rosa, Fernando Gouveia...), além do próprio neto que ainda se lembra de ir de automóvel até à casa do Edmundo Pedro, filho de Gabriel Pedro, talvez dois dos mais conhecidos "hóspedes" do campo de concentração do Tarrafal, nos anos 30 e 40.

2. Publicam-se três das mais recentes mensagens que trocámos:

(i) Fausto Luís Teixeira, formador  na área hotelaria e restauração (e quem o editor convida desde já para integrar a nossa Tabanca Grande)

Data - 19/06/2017

Olá!... Imensamente obrigado pelos seus esforços. Lamento andar sem tempo - e paciência,diga-se, em abono da verdade,e não fazer esforços equivalentes aos vossos, mas... um final de ano lectivo é sempre um pouco stressante.

Ainda assim (a propósito de algo referido por Sr Cancela):

- António Teixeira, meu tio, tinha um irmão mais velho, Adriano  (além de duas irmãs, uma mais velha e outra mais nova);

- o Adriano é o meu pai, de quem por graça se pode dizer que  "foi comprar cigarros", a Setúbal, em 1965, para só reaparecer após o 25 de Abril,  em 1976/77; viveu em países de leste e na Alemanha (onde ainda hoje vive), e não em Palmela, na Quinta dos Carvalhos (que era da família);

- além de eu próprio, também nasceram em Bafatá os meus irmãos, mais velhos (em 1957 e 1958);

- falei telefonicamente com a minha mãe,  e espero outra oportunidade para mais obter detalhes;

-  o meu avô Fausto Teixeira teve várias mulheres, donde os meus tios terem diferentes mães: Paula Vitória das Neves, viúva de um militar, capitão,  a prestar serviço na Guiné,  e Agostinha, de que já se falou:

- e, por fim, o Fausto Teixeira nasceu a 31 de março de 1900 e faleceu a 30 de dezembro de 1981.

Até breve e muito obrigado
Fausto Luís

PS - A ser alguma daquelas personagens, o meu avô parece-me ser o de boina em cima. Sem dúvida que era fascinante e nunca esquecerei ele a contar histórias de fuga à polícia  com grande gozo e sentido de humor...e muito riso.

Como sabeis, ele só tinha as falanges de ambas as mãos; sempre pensei que tivesse sido um acidente na serração...mas faz sentido, cada vez mais sentido, um "diz que"...  "terá sido por causa de uma bomba", uma vez dito por minha mãe.

Continuo a achar algum exagero nas diversas idades que lhe vão atribuindo....Vou ver se pergunto a uma tia (irmã mais nova de António), quando esta vier de férias.


(iii) Pedido de informação do editor LG  ao Fernando Gouveia [ex-alf mil rec e inf, Cmd Agr 2957 Bafatá, 1968/70: arquiteto da CM Porto, reformado; e membro da nossa Tabanca Grande desde 9/4/2009]

 (...) Assunto: Madeireiro "amigo" do PAIGC (?) Fausto [da Silva] Teixeira, deportado para a Guiné em 1925... Um barco dele é atacado no Rio Geba c. 1970...

Preciso de um favor teu, mais um esforço de memória... Este homem tinha uma serração mecânica (desde 1928), em Bafatá, Fá e Banjara (esta abandonada com a guerra...). Era um próspero madeireiro nos anos 40/50, tinha barco(s) que fazia(m) o Geba... Ajudou o Luís Cabral a fugir para o Senegal... Relacionava-se com o Amílcar Cabral e a esposa Maria Helena (que era transmontana como tu)...

Era um "tuga", e possivelemnte teria duas famílias, uma em Palmela e outra em Bafatá... No final dos anos 60, hospedava-se no Hotel Portugal e tinha uma companheira cabo-verdiana, muito mais nova do que ele, de nome Agostinha...

Esta história diz-te alguma coisa, sobretudo a parte relativa a Bafatá ? Em 1947, em 7 de fevereiro, o subscretário de Estado das Colónias, mais o Sarmento Rodrigues e comitiva, fazem um paragem em Fá, vindos de Bafatá, para visitar a empresa deste "colono", que se "fixara" na colónia há cerca de 20 anos... Ora, ele fora deportado, sem julgamento...Na história do PC, ele é considerado como um dos primeiros militantes a ser preso e,  para mais , deportado...


(iv) Resposta de Fernando Gouveia

Data - 20 de junho de 2017, 23:43

Luís: Por aqui tudo bem. Só respondo agora pois estive para o "meu" Nordeste {Transmontano], sem Net.

Quanto ao madeireiro de Bafatá, dir-te-ei o mesmo que em tempos te disse em relação ao Sr. Teófilo: dadas as minhas funções nas Informações nunca me abri com pessoas controversas.
O único contacto que tive com o madeireiro foi quando precisei de umas tábuas para fazer uma mesa para a minha casa. Fui à serração, fui muito bem atendido (era tropa e oficial), não me tendo cobrado nada pela madeira que me forneceu.

E é tudo. Um grande abraço
Fernando Gouveia

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

20 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17489: (De) Caras (85): o testemunho de Manuel Amante da Rosa, embaixador plenipotenciário de Cabo Verde em Itália, sobre o Fausto Teixeira: "era uma figura distinta, opositor ao regime de Salazar, vigiado pela PIDE/DGS, amigo do meu pai que lhe comprou, no início dos anos 70, o último navio que ele levou para a Guiné, um antigo cacilheiro que fazia carreiras regulares para o Xime e para os Bijagós ...Morreu depois do 25 de Abril em Portugal".

(...) Este Senhor, Fausto Teixeira, era uma figura distinta na Guiné. Um empedernido opositor ao regime de Salazar, por vezes incómodo, e permanentemente seguido pela PIDE/DGS. Conheci-o através do meu Pai, de quem era amigo. De baixa estatura, conversador, rijo apesar da idade e pertinaz em todas as opiniões que proferia.

Era originário de Setúbal, tendo sido deportado para Bissau (...). O meu Pai  comprou-lhe o último navio que ele levou para a Guiné nos inícios dos anos 70. Registou o navio, um antigo "cacilheiro", com o nome de "O Amanhã". Nessa altura, [o Fausto Teixeira] estaria já nos seus 70 anos e denotava esperanças em tudo o que fazia ou dizia. O meu Pai conservou o nome e ele fazia carreiras regulares para o Xime diariamente. Eu fiz muitas viagens nele, não para o Xime como para os Bijagós.

Julgo que o Sr. Fausto terá vivido o seu amanhã com o 25 de Abril ainda na Guiné e terá morrido anos depois na sua terra natal. (...)


18 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17482: (De) Caras (84): Fausto Teixeira, deportado político em 1925, empresário em Bafatá, de quem o 2º tenente Teixeira da Mota, ajudante de campo do governador Sarmento Rodrigues dizia, em 1947, ser um "incansável pioneiro da exploração de madeiras da Guiné"... Mais três contributos para o conhecimento desta figura singular (José Manuel Cancela / Jorge Cabral / Armando Tavares da Silva)

(...) O Fausto Teixeira faria parte de um grupo de 26 membros da Legião Vermelha que, a bordo do cruzador Carvalho Araújo, foram deportados para a Guiné, onde chegaram em Junho de 1925.

A Legião Vermelha era um grupo anarco-sindicalista que varreu o país com uma onda de atentados bombistas contra figuras de destaque no campo do comércio, indústria, etc., supostamente conservadoras. A 15 de Maio de 1925 atentam contra a vida do comandante da polícia, coronel João Maria Ferreira do Amaral, que fica ferido. É na sequência deste atentado que um grupo destes anarquistas é deportado para a Guiné [, entre eles, Gabriel Pedro, pai de Edmundo Pedro]. Era presidente do ministério Victorino Máximo de Carvalho Guimarães.

Foi o mesmo grupo que, em 1937, atenta contra a vida de Salazar. (...)


16 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17477: (De) Caras (83): Ainda o madeireiro Fausto da Silva Teixeira, com residência familiar em Palmela, amigo do "tarrafalista" Edmundo Pedro... Apesar da "amizade" com Amílcar Cabral e Luís Cabral, teve um barco, carregado de madeiras, atacado e incendiado no Geba, a caminho de Bissau...



(**)  Último poste da série > 22 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17168: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (41): Pedido de ajuda para tese de doutoramento sobre "o papel dos negros que combateram nas tropas especiais" (Sofia da Palma Rodrigues)

Guiné 61/74 - P17495: Agenda Cultural (567): "Comandos - Subsídios para a sua História", do Ten Gen Comando Ref Júlio Faria Ribeiro de Oliveira: lançamento do livro, dia 28, 4.ª feira, às 18h00, no Museu Militar, Lisboa. Apresentação a cargo do Ten Gen Ref Alexandre Sousa Pinto, actual Presidente da Comissão Portuguesa de História Militar



Convite que chegou ao nosso blogue através do nosso leitor e camarada, o escritor, Cor Inf Ref, Manuel Bernardo. a quem agradecemos a atenção. O apresentador esteve para ser o Gen Ramalho Eanes. Por razões de agenda, foi substituído pelo Ten Gen Ref Alexandre Sousa Pinto, atual Presidente da Comissão Portuguesa de História Militar. Uma síntese histórica dos Comandos também pode ser vista aqui.
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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17476: Agenda Cultural (566): Lançamento do II Volume de "Memórias Boas da Minha Guerra", da autoria de José Ferreira, dia 8 de Julho de 2017, pelas 10h30, no Choupal dos Melros, Rua das Cabanas, 177, Fânzeres-Gondomar - Seguir-se-á um almoço com inscrição prévia

Guiné 61/74 - P17494: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XI: EUA:, Califórnia: San Diego, San Pedro e Long Beach, a sul de Los Angeles: 30/9 e 1/10/2016


O nosso camarada António Graça de Abreu e a esposa Hay Yuan









Parte XI (Segundo volume, p. 1-5)


Texto, fotos e legendas: © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias", do nosso camarada António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE,CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com cerca de 190 referências.

É casado com a médica chinesa Hai Yuan e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais. Soubemos, pelos jornais, que o João há pouco tempo andava pela China e pela Coreia do Norte...

Neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016. Três semanas depois o navio "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, de sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017). 


2. Nesta II etapa da "viagem de volta ao mundo", com um mês de viagem (a primeira parte terá sido "a menos interessante", segundo o escritor), chegamos aos EUA, à costa da Califórnia:  San Diego e depois San Pedro (30/9/2016) e ainda Long Beach (1/10/2016), nos arredores de Los Angeles. [Sobre o navegador e explorador português João Rodrigues Cabrilho (Cabril, Montalegre, 1499 - Califórnia, 1543), ver aqui mais. ]

Recorde-se a mensagem que o António Graça de Abreu escreveu  aos nossos leitores, em 19 de fevereiro passado;

Companheiros e camaradas da Guiné

Depois daqueles anos de fogo, nas décadas de sessenta e setenta do século passado em que, meninos e moços, fizemos uma guerra em terras da Guiné e depois, pelo bem e pelo mal, regressámos marcados para todo o sempre, continuámos as nossas sinuosas vidas, filhos, netos, casamentos, divórcios, trabalhos e lazeres, emigração, viagens de espantar, a atravessarmos o mundo e o mundo a atravessar-nos a nós.

Com sete décadas de complexa vida, tive a sorte de viver quase nove anos fora de Portugal, derramando-me por quatro continentes. Sou dono de coisa nenhuma, mas o mundo não me é estranho.

Acabei de concretizar uma Volta ao Mundo, por alguns dos muitos mares "nunca dantes navegados", três meses e nove dias de viagem num navio ao encontro do mundo, ao encontro de mim. Fui escrevendo uns textos curtos, de lugar em lugar, simples notícias às vezes extravagantes e, por certo, inéditas.

Se tiverem paciência, leiam, acompanhem-me na viagem. Prometo não vos desiludir. Em San Diego, EUA, em Melbourne, Austrália, na Tailândia, em Cochim, Índia, em Muscate, Omã, lá encontrarão também a referência aos combatentes de outras, ou as mesmas, guerras, e a essa fantástica, exaltante e estuporada expansão dos portugueses pelo vasto mundo.
Abraço a todos,

António Graça de Abreu

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