segunda-feira, 24 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17614: Notas de leitura (980): Relatório sobre a situação dos direitos humanos na Guiné-Bissau, 2008/2009, Lema: a força sem discernimento colapsa sob o seu próprio peso (1) (Mário Beja Santos)

Tagme Na Waie e Nino Vieira


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,
A catar documentação para um livro que estou a preparar sobre as histórias da Guiné-Bissau, encontrei este minucioso relatório produzido pela Liga Guineense dos Direitos Humanos (www.lgdh.org).
É um extenso documento que abarca áreas sobre as quais habitualmente não discorremos caso dos crimes ambientais, o funcionamento do Ministério Público e o estado das forças de Defesa e Segurança, sobre as quais falaremos no próximo texto. Tanto quanto eu pude apurar, a Liga não voltou a produzir documento tão amplo e importante como este.

Um abraço do
Mário


Relatório sobre a situação dos direitos humanos na Guiné-Bissau, 2008/2009, 
Lema: a força sem discernimento colapsa sob o seu próprio peso (1)

Beja Santos

É um relatório que fala de um país à deriva, em que os direitos humanos continuam reféns de um Estado reduzido aos fatores e valores antidemocráticos. Os números falam por si. Em menos de 12 anos, a partir da fratricida guerra civil em que o país viveu (1998-1999), a Guiné-Bissau assistiu a numerosas situações de sublevação perpetradas sobretudo pelas forças de defesa e segurança, designadamente de golpes de estado, assassinatos de um presidente da República e de três chefes de Estado-Maior, sendo que nesse período o país conheceu 5 presidentes da República, 11 governos e respetivos primeiros-ministros com a agravante de nenhum deles ter concluído o seu mandato.

Advoga-se no documento o imperativo de mecanismos para contornar a atual pirâmide de inversão de valores:
- os militares continuam a ter um papel determinante na definição do rumo político do país;
- o descrédito do setor de justiça, um elevado índice de corrupção no aparelho de Estado, associado a uma base produtiva ineficiente.

O dado mais chocante neste quadro dos atentados aos direitos humanos tem a ver com um Presidente da República democraticamente eleito, João Bernardo Vieira, que foi morto por soldados na madrugada de 2 de Março de 2009 num ataque supostamente motivado por vingança, algumas horas depois do Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, General Baptista Tagme Na Waie, ter sido vítima de um atentado à bomba nas instalações do Estado-Maior das Forças Armadas. As imagens dos restos mortais do Presidente da República foram despudoradamente exibidas na internet. Para a Liga, os assassínios de Março de 2009 não passam de um atentado à consolidação do Estado de Direito e à estabilidade institucional. Houve inquérito com poucos resultados alcançados, decorrido um ano sobre a data dos incomensuráveis assassínios, nada está esclarecido.


Explosão que vitimou Tagme Na Waie. No tempo da presença portuguesa este edifício era o Quartel-General do CTIG

Em 23 de Novembro de 2008, Nino Vieira já havia sido visado pelos militares num atentado frustrado na sua residência, houve um segurança da residência presidencial morto. A classe política qualificou o atentado como uma inventona do presidente da República para se reabilitar politicamente de uma derrota humilhante do partido que apoiou nas eleições legislativas de Novembro de 2008.

O processo de inquérito aos assassinatos dos altos dirigentes não prossegue porque os membros da comissão de inquérito sentem-se inseguros para conduzir as investigações, pois os principais suspeitos são militares. As testemunhas temem retaliações,  o que as obriga a abandonar o país, nomeadamente Isabel Romano Vieira, a viúva do presidente. Quanto ao atentado contra o Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, a comissão de inquérito procedeu à detenção de 5 suspeitos: Brigadeiro-General Manuel Melcíades Gomes Fernandes, ex-Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, que apresenta sinais de tortura; Malam Candé; Capitão Bacar Sanó, submetido a fortes torturas; Alberto José Té; Capitão Domingos Monteiro Nbana Lem. Os referidos suspeitos estão detidos em péssimas condições humanitárias, apresentando sinais de tortura grave e desprovidos de assistência médica e judiciária há mais de um ano.

Quando o país se preparava para iniciar a campanha eleitoral para as eleições presidenciais, para preencher o vazio constitucional provocado pelo assassinato do presidente da República, foi anunciado pelos Serviços de Informação de Estado em 5 de Junho de 2009 mais uma suposta tentativa de golpe de estado; estes serviços reivindicaram os assassinatos em legítima de defesa de Hélder Proença, antigo ministro da defesa, o motorista e o segurança pessoal, Major Baciro Dabo, candidato às presidenciais. Estes assassinatos continuam por esclarecer. Vários cidadãos foram detidos e torturados, como é o caso do ex-Primeiro-Ministro Faustino Fadut Imbali, o Coronel Antero João Correia, ex-Diretor da Segurança do Estado, Aia Dabó e o músico Domingos Brosca, tendo o primeiro ido tratar-se no estrangeiro devido às graves lesões que lhes foram infligidas pelos militares.

A nível local, são muitos os pontos onde grassa a impunidade. É o caso de Bissássema. Na segunda metade de 2008, dezenas de populares invadiram a missão evangélica naquela localidade em retaliação às campanhas de evangelização contra as práticas culturais nefastas, tais como: casamento precoce, feitiçaria, violência, agressões físicas e infanticídio. Muitos missionários ficaram feridos, tendo o pastor principal sido sequestrado por algumas horas. De 2007 a 2009 mais de três dezenas de pessoas foram fisicamente agredidas e assassinadas sem qualquer processo crime e à margem das autoridades locais que temem retaliações.

O relatório debruça-se igualmente sobre os N’Kumans, que são jovens que se aproveitam da ausência de Estado, sobretudo na zona Norte, para abusar do monopólio da autoridade. Impuseram uma nova ordem étnico-cultural na região do Oio. Durante esse período, centenas de pessoas foram sujeitas a tratamento degradantes. Os membros do grupo desencadearam operações de furto e de roubo, as autoridades locais receavam retaliações dos militares do Comando da Zona Norte, que atuam em cumplicidade com estes jovens desordeiros, sobretudo o batalhão Quemo Mané.

Passando para o capítulo de torturas, detenções arbitrárias e intimidações, o relatório assinala que a seguir aos assassinatos de Nino Vieira e Tagme Na Waie, se assistiu a terríveis operações de intimidação. Foi nesta senda de brutalidade que os Drs. Pedro Infanda e Francisco José Fadul foram espancados por indivíduos armados, havendo sido o primeiro caso assumido publicamente pelo próprio Estado-Maior como mandante do criminoso.

Não menos inquietante é referido o que se passa na comunicação social e o tráfico da droga. Este tráfico abalou de tal maneira a imagem da Guiné-Bissau no exterior que passou a ser referida como narco-Estado. Os profissionais da comunicação social que ousaram relatar os factos referentes a estas atividades criminosas começaram a ser perseguidos pelos presumíveis implicados, tanto civis como militares.

Veja-se o caso do julgamento do jornalista Albert Oumar Dabó, da rádio Bombolom e colaborador da ITN News, acusado de difamação e calúnia contra o ex-Chefe do Estado-Maior da Armada, José Américo Bubo Na Tchuto. Este julgamento foi adiado sine die. O jornalista é parte ilegítima no processo, pois apenas serviu de intérprete à equipa da ITN News.

(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 21 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17610: Notas de leitura (979): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (7) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17613: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (8): Págs. 70 a 79 (Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto)


1. Continuação da publicação do livro "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é hoje", da autoria do 2.º Sargento António dos Anjos, 1937, Tipografia Académica, Bragança, enviado ao Blogue pelo nosso camarada Alberto Nascimento (ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63).


(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 20 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17603: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (7): Págs. 61 a 69 (Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto)

domingo, 23 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17612: Blogpoesia (521): "Uma leve neblina encobre o mar..."; "Cabelos ao vento desgrenhados..." e Aragens de vento...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Foto: Com a devida vénia a Informação a bordo


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Uma leve neblina encobre o mar...

Uma leve neblina encobre o mar ao amanhecer.
Não tardará o sol,
fugirá para a serra ao longe
e se esvairá aqui pelo céu azul.

Partem da doca para a sua faina os barcos que nos dão o peixe.
Há um deles, negro, negro,
ronca irado,
de não querer partir.

E os de recreio, ostentando, ao alto,
elegantes mastros,
bailam serenos para adormecer.

Deserta a praia é repasto livre
para as gaivotas que só agora
se irão deitar.

Que quadro belo
desta varanda alcanço,
cálida noite que não me deixou dormir.

Roses, 17 de Julho de 2017,
6h56m
Jlmg

************

Cabelos ao vento desgrenhados…

Rasgo em pedaços minhas vestes
E corro por esses barrancos a esmo e sem destino.
Atiro louco pedras para as fendas
E fico a vê-las se estatelarem sobre o vazio.
Oiço gemidos das nuvens aprisionadas,
morrendo de secura lá no cimo.
Grito e berro ao mar
Pare de vez essas investidas loucas contra as rochas,
A nada levam.
Pasmo de medo perante o abismo
Como um cavalo em fúria, desenfreado
E deixo escorrer na minha fronte
Um suor escaldante
Que brota de dentro como um vulcão.
Queimo as cinzas todas que restaram do incêndio
E tirito de frio, enregelado.
Suplico em vão aos deuses,
No olimpo,
Cessem, de vez
sua vingança…
Tenham tino.
Me ajoelho e abro os braços em oração
Àquele Jesus, de carne e osso que, há dois milénios,
morreu por todos, sózinho,
no alto do calvário…
Ouvindo a nona sinfonia de Beethoven
Amanhecendo com nevoeiro

Mafra, 22 de Julho de 2015
6h49m
Joaquim Luís Mendes Gomes

************

Aragens de vento…

Passam por mim
Lufadas de vento.
Trazem as folhas do tempo,
Em que escrevo meus versos.
Vêm de longe.
Dos confins dos tempos
Em que o sol brilhava.
Me fazia feliz.
Contam-me histórias.
Esquecidas.
De gentes passadas.
Trazem saudades.
Me encantam ouvi-las.
Falam de tudo.
Que o tempo levou.
Minhas glórias da vida
Que minha vida encheu.
Me prendo a elas,
Como um náufrago no mar.
Me trazem à praia,
Onde a vida esperou.
Minha Mãe,
Minha Irmã.
Sinto saudades
Da praia em Agosto,
Naquele mar de Varzim,
Onde a infância parou.
Apanhava conchinhas.
Com sargaço em novelos.
Beijava as areias,
Com iodo do mar.
Tudo eu sinto em mim…

Mafra, 21 de Julho de 2014
18h53m
Joaquim Luís Mendes Gomes
____________

Nota do editor

Último poste da série de 20 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17604: Blogpoesia (520): Não é possível conservar o tempo (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto)

sábado, 22 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17611: (De) Caras (86): Gente da "Linha", gente "magnífica"... Nos bastidores da Tabanca da Linha, Carcavelos, 32º almoço-convívio, 20 de julho de 2017 - Parte I


Foto nº 1 > Cascais > Carcavelos > Junqueiro > Hotel Riviera > Magnífica Tabanca da Linha > 32º almoço-convívio > 20 de julho de 2017 > Quando o régulo tem um sorriso deste tamanho, é porque os "magníficos" estão bem e gostam de se encontrar, de dois em dois meses, às quintas-feiras, para "fazer a prova de vida", para conhecer novos "periquitos", para contar aquela história que ainda ninguém contara, ou para partilhar aquele segredo guardado há 50 anos, ou até para aprender (ou relembrar) como é que se referencia e indica um ponto na carta de 1/50 mil...


Foto nº 2 > Cascais > Carcavelos > Junqueiro > Hotel Riviera > Magnífica Tabanca da Linha > 32º almoço-convívio > 20 de julho de 2017 >  Dois homens que nunca se tinham encontrado na vida... têm um ponto em comum: Buruntuma, lá no cu de Judas" da Guiné... e ficaram todo o almoço a conversar animadamente à volta de um álbum de fotografias... Domingos Pardal, conhecido empresário de mármores em Pero Pinheiro, e o "periquito" Jorge Ferreira, o fotógrafo de Buruntuma (à direita)... que ficou encantado com a partilha de informação e conhecimento e com o ambiente da Tabanca da Linha...

O Pardal esteve em Cufar (que foi estrear) e depois em  Buruntuma (, aqui 11 meses)... Em Cufar foi contemporâneo do meu primo José António Canoa Nogueira (1942-1945 (, sold do Pel Mort 942, adido ao BCAÇ 619... Segundo a versão do João Sacôto, o Canoa Nogueira "não morreu em Ganjola, mas sim, em combate, numa das operações para a instalação das NT em Cufar, da qual também fez parte (CCaç 617),  numa altura em que, estando a municiar o morteiro, saiu do abrigo para ir buscar granadas, foi atingido na cabeça por um estilhaço de granada do IN."

O Domingos Pardal, que aceitou o meu convite expresso para integrar a Tabanca Grande, foi sold cond auto da CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66). A esta subunidade pertenceu também o nosso grã-tabanqueiro Manuel Luís Lomba.


Foto nº 3 > Cascais > Carcavelos > Junqueiro > Hotel Riviera > Magnífica Tabanca da Linha > 32º almoço-convívio > 20 de julho de 2017 > Juvenal Amado e Augusto Silva Santos: mais dois camaradas que se sentem bem à mesa dos "magníficos": o primeiro vem da linha de Sintra, mora atualmente na Reboleira, Amadora, mas tem boas recordações da "Linha", do seu tempo de juventude, e adora fazer o seu passeio (, "de carro"), do Guincho até ao Cais do Sodré; o segundo, tem de atravessar a ponte sobre o Tejo, mora em Almada. Já lhe disse que está na altura abrir mais uma tabanca (pode ser a de Almada ou da Margem Sul). Ficaríamos com duas tabancas à beira Tejo, uma na margem esquerda, outra na margem direita do rio... A tasca do Janes, o "Violas", podia ser o local ideal  para um dos nossos próximos encontros, da malta da Área Metropolitana de Lisboa, ou simplesmente da Grande Lisboa... Tasca, salvo seja... que ela já ganhou prémios gastronómicos do Município de Almada. Estou-me a referir à "Tasca do Reguengos" (sic), do Manuel José Janes, ex-1º cabo, da CCAÇ 1427 (Cabedu, 1965/67), que é também poeta e fadista, além de membro (recente) da nossa Tabanca Grande.


Foto nº 4 > Cascais > Carcavelos > Junqueiro > Hotel Riviera > Magnífica Tabanca da Linha > 32º almoço-convívio > 20 de julho de 2017 >  Um camarada que tem o dom da ubiquidade, é capaz de estar em duas ou mais tabancas ao mesmo tempo... O nosso mui querido amigo e camarada Hélder Sousa, indigitado régulo da Tabanca de Setúbal... Não sei o que será dele quando um dia a ASAE se lembrar de fechar todas as nossas tabancas... Espero, todavia,  que esse dia nunca chegue!... Porque então os senhores inspetores da ASAE tinham que ouvir o bom e o bonito: e então as nossas "cantinas" lá no mato, de Madina do Boé à Ponta do Inglês, de Mansambo a Gadamael, da ponte Caium à ponte do rio Udunduma? Onde é que os senhores inspetores estavam nessa altura ?!... A ver navios, carregados de carne para canhão, imprópria para consumo!...


Foto nº 5 >  Cascais > Carcavelos > Junqueiro > Hotel Riviera > Magnífica Tabanca da Linha > 32º almoço-convívio > 20 de julho de 2017 >  Todos somos camaradas, mas um tenente general é um senhor tenente general... Em 1968 era tenente pilav na BA 12, Bissalanca. "Periquito" nestas lides tabancais... Esperamos que tenha gostado. Já publicou no nosso blogue, tem meia dúzia de referências... Também já o convidámos a integrar a Tabanca Grande, por intermédio do Miguel Pessoa a quem incumbimos, em 9/12/2016,  desta delicada missão:

"Miguel, gostava muito que o Nico se juntasse à malta, aqui na Tabanca Grande... Ele é um dos bravos da FAP e da Guiné cujo nome nos honra a todos... Só nos faltam as 'chapas' [fotos]  da ordem, uma antiga e outra atual... E uma pequena apresentação do CV militar... Dás-lhe uma
palavra? Podes ser o 'padrinho' dele... já que na Tabanca Grande tu é que és o mais... 'strelado'. Ab, boa saúde. Luís"...

A resposta vem logo a seguir, a 13/12/2017, e com o seguinte teor, como o Miguel "previa": "Pessoa: Peço ao Luís Graça que não me leve a mal mas eu prefiro ficar um bocado na sombra. Gosto do 'site' e até já pedi para publicarem dois artigos, como sabes. Um abraço e parabéns ao Luís Graça pelo magnífico serviço do blogue a favor da nossa memória colectiva na guerra na Guiné. J. Nico."


Foto nº 6 > Cascais > Carcavelos > Junqueiro > Hotel Riviera > Magnífica Tabanca da Linha > 32º almoço-convívio > 20 de julho de 2017 >  Jorge Pinto, coçando a testa, e segredando para o Luís Graça: "Eh!, pá, vens cá poucas vezes, mas como representante máximo da Tabanca Grande, deixa-me dizer-te que já tens vindo mais bem ataviado: barba aparada, cabelo cortado, enfim, esses pequenos pormenores a que o RDM do nosso tempo nos obrigava e que continuam a ficar bem no seio desta rapaziada da 'Linha'... Olha-me só para o régulo, sempre bem apessoado!"...


Foto nº 7 > Cascais > Carcavelos > Junqueiro > Hotel Riviera > Magnífica Tabanca da Linha > 32º almoço-convívio > 20 de julho de 2017 > Gente da "Linha", pois claro: ao centro o Manuel Macias, e à sua esquerda o Manuel Resende e o Hélder Sousa...  O Manuel Macias, que vive em Algés, esteve comigo em Contuboel, cerca de dois meses, em junho/julho de 1969: ele era da CART 2479/CART 11, eu da CCAÇ 2590/CCAÇ 12... Estivemos a recordar alguns nomes de malta da sua subunidade, que integram a nossa Tabanca Grande: Valdemar Queiroz, Abílio Duarte, Renato Monteiro...


Foto nº 8 > Cascais > Carcavelos > Junqueiro > Hotel Riviera > Magnífica Tabanca da Linha > 32º almoço-convívio > 20 de julho de 2017 > De professor para professor: da direita para a esquerda, o Manuel Joaquim e o António Graça de Abreu... Uma conversa necessariamente instrutiva que, segundo quem assistiu, não versou desta vez sobre o estafado debate "guerra ganha / guerra perdida"!... E, a propósito, coisas mais prosaicas: o António Graça de Abreu agradeceu-me a gentileza da publicação (em curso) das suas crónicas sobre a volta ao mundo em 100 dias, no navio de cruzeiros "Costa Luminosa" (set/dez 2016) e deu-me, em primeira mão, a notícia de que vai publicar um livro com esse material, naturalmente com fotos e textos mais elaborados... Parabéns!... A Tabanca Grande congratula-se sempre que um dos seus membros faz um filho, planta uma árvore e escreve um livro"


Foto nº 9 > Cascais > Carcavelos > Junqueiro > Hotel Riviera > Magnífica Tabanca da Linha > 32º almoço-convívio > 20 de julho de 2017 > Se não sereníssimo, pelo menos sereno o nosso Armando Pires... figura maior entre os seniores da Tabanca da Linha, magnífico entre os magníficos, mesmo quando é traído pela emoção de já não poder cantar o fado como cantava nas noites de glória de Bissorã...


Foto nº 10 > Cascais > Carcavelos > Junqueiro > Hotel Riviera > Magnífica Tabanca da Linha > 32º almoço-convívio > 20 de julho de 2017 > Uma família portuguesa, com certeza!.. Que coisa linda!.. É do Manuel Alves, que veio do Carregado, Alenquer. Da nossa base de dados, consta que pertenceu à CCAV 8351 Tigres de Cumbijã (Cumbijã, 1972/74, companhia que foi comandada pelo cap mil Vasco da Gama, membro da nossa Tabanca Grande, natural de Buarcos, Figueira da Foz).

Fotos: © Manuel Resende (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
___________

Nota do editor:

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17610: Notas de leitura (979): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (7) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Julho de 2017:

Queridos amigos,
Não hesito em propor a todo e qualquer interessado no estudo da Guiné Portuguesa a consultar este levantamento documental tão laborioso, como o fez Armando Tavares da Silva, foi pena que o seu levantamento documental rarissimamente faça interpretações e quando as faz não aparecem cabalmente documentadas. Dá como certa uma permanente tensão entre a administração e os comerciantes, é verdade que se registaram tensões ligadas por vezes a interesses menos nobres, mas nunca foram uma constante, os atores mudavam de campo com relativa facilidade. E o autor despede-se deixando no ar a existência de analogias entre o movimento de libertação e o que se passara em três períodos distintos, entre 1891 e 1915, na esfera de Bissau. Nada de mais equívoco fazer suposições sem demonstrações de conteúdo.
E gaba-se a edição de Caminhos Romanos, é um livro para ficar, belas imagens e muito bons mapas.

Um abraço do
Mário


A presença portuguesa na Guiné: história política e militar 1878-1926, 
Por Armando Tavares da Silva (7)

Beja Santos

“a Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar 1878-1926”, por Armando Tavares da Silva, Caminhos Romanos, 2016, é um contributo documental inescapável doravante para quem se dedicar à historiografia desta região. Nenhum outro investigador, até ao presente, carreara, em sequência cronológica, tanta documentação que viesse dar mais visibilidade aos atos políticos da governação e aos empreendimentos militares a partir do momento em que se criou a província da Guiné. Fica à disposição de todos, sem sombra de dúvida, uma narrativa de decisões políticas, sublevações, operações, avanços e recuos, e sobretudo o histórico da crescente presença portuguesa, partindo de praças e presídios para a criação de povoações, postos militares, gradual desobstrução às práticas comerciais; e também em narrativa de conjuras, confrontos tremendos, apeamento de heróis, clarificação de alianças entre colonizador e colonizado.

Estamos agora em 1919, Souza Guerra é um governador que assiste a um ato insólito, a greve dos funcionários públicos, coisa nunca vista na província. Armando Tavares da Silva insiste na luta entre duas fações: a fação ligada à generalidade do funcionalismo público, maioritariamente cabo-verdiano, e a fação dos comerciantes de Bissau. Não é por indícios espúrios que se pode constituir uma teoria, quanto muito, e mesmo na posse de informações irrefutáveis num dado período, não se pode generalizar a toda a história da Guiné este confronto. No momento exato em que concluo a apreciação desta louvável investigação histórica, estou a passar a pente fino os relatórios da gerência da filial em Bolama do BNU, neste período. Lêem-se nestes documentos coisas surpreendentes e uma delas passa pela crítica acerba de que uma boa parte dos funcionários desapareciam metade do ano de Bolama para virem até ao continente fazer negócios e tratar das propriedades, e depois voltavam à capital para cuidar dos impostos, mormente do imposto de palhota. Terá base de sustentação falar num confronto estruturado entre funcionários e comerciantes? Duvido, até prova em contrário. É facto que aparecem figuras de prática maquiavélica, caso de Sebastião Barbosa, um secretário-geral reizinho, pronto a minar uma governação conducente ao desenvolvimento e à harmonia entre etnias, funcionalismo e interesses comerciais.

E assim chegamos à governação de Vellez Caroço, um dos nomes mais prestigiantes para a consolidação da presença portuguesa nesse período que antecede outros governadores que irão preparar o terreno para o trabalho exemplar de Sarmento Rodrigues. Ele chega à Guiné em 1921, põe em funcionamento os órgãos legislativos e executivos da colónia, vai quebrando a influência de Sebastião Barbosa. Começa a pôr a casa em ordem, exige a correção e porte aos funcionários, dirige-se aos administradores de circunscrição, pede-lhes equilíbrio nos seus atos políticos: “Acabem as dissensões, dominemos as más disposições próprias deste clima depauperante e unidos trabalhemos todos para o engrandecimento da província”. É criada a circunscrição de Cacine, é uma forma de fazer sair da obscuridade uma zona do sul sujeita a muita pressão externa. É um tempo em que se misturam a dignidade do cargo político com atos de comércio, mesmo que praticados posteriormente.

É o caso do ex-governador Carlos Pereira que requerera a concessão por aforamento de 25 mil hectares de terreno na circunscrição civil da Costa de Baixo, era notória uma escandalosa concessão. Vellez Caroço dá a conhecer ao ministro que Carlos Pereira, como governador da província, informara sobre o requerimento de outros pretendentes que esta concessão não podia ser dada, por os terrenos estarem todos ocupados pelos indígenas… Era assim que se agia na maior das impunidades.

Vellez Caroço não hesita em mandar fazer sindicâncias a alguns administradores de circunscrição, e até mesmo a figuras de prestígio como o coronel de engenharia Guedes Quinhones, a quem se deve o traçado do que virá a ser a artéria principal da nova Bissau, que Sarmento Rodrigues embelezará. O governador procedeu em conformidade para moralizar a vida pública, procurou melhorar os serviços e deixou impressões dignas de atenção no seu primeiro relatório anual. Está focado no saneamento da província, vive um momento de paz e de ausência de revoltas, procura dar consciência aos seus superiores de que é necessário que a Guiné Portuguesa não seja encarada como uma colónia de Cabo Verde.

A situação financeira é o calcanhar de Aquiles da sua governação, haverá uma onda de protestos pelos comerciantes afetados. O governador volta a Lisboa mas é reconduzido no seu posto, regressa à província em Abril de 1924, há incidentes em Acra, ocorre uma nova operação a Canhabaque e a outras localidades. O governador procura pôr em execução uma política de desenvolvimento, interfere na Agricultura, na Saúde, na Educação, nas comunicações. Só que a crise fiduciária estende-se enquanto o governo central parece alheado ao problema. Formam-se falanges de apoio e de oposição à prática governativa de Vellez Caroço, os ataques são constantes, é preciso fazer frente à crescente influência da Casa Gouveia, encontrar uma solução para a questão dos cambiais e aliviar as dificuldades para as transferências. Vellez Caroço será exonerado e vai chegar à Guiné em Março de 1927 o Major Leite de Magalhães. Está aberto o caminho a um conjunto de governações dotadas de solidez e que funcionarão dentro dos parâmetros do Ato Colonial. Vive-se um período de paz, que o autor enfatiza, referindo a viagem do Secretário de Estado do Ultramar em 1947 e a visita do Presidente Craveiro Lopes em 1955.

E termina numa forma críptica, assim: “Uma paz que viria a durar uns escassos trinta anos! – Seria o ressuscitar do conflito de interesses e das velhas tensões que estiveram na base das questões de Bissau de 1891, 1894 e 1915!”.

Diga-se em abono da verdade que o final está totalmente desfasado da realidade dos factos. A paz que se quebra a partir de 1961 e que é um processo contínuo de 1963 a 1974,  tem um contexto totalmente distinto de sublevações, conjuras e intrigas, as tais questões de Bissau prenderam-se a revoltas de certos grupos étnicos que só se mostrarão pacificados depois da campanha de Bissau liderada por Teixeira Pinto. Insinuar analogias é não ter o mínimo de compreensão histórica do que foi o processo descolonizador orientado por um movimento de libertação que tinha Amílcar Cabral à frente, que trazia um quadro ideológico preciso, uma organização eficaz, que foi crescendo e que se disseminou por uma boa parte do território, era dirigida por uma pequena burguesia, não havia tensões com os comerciantes como nos exemplos dados do autor.

Enfim, Armando Tavares da Silva levanta mais uma hipótese infundada, culmina o seu notável levantamento documental de uma forma tristemente desastrada.
____________

Nota do editor:

Vd. postes de:

30 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17526: Notas de leitura (973): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (1) (Mário Beja Santos)

3 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17536: Notas de leitura (974): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (2) (Mário Beja Santos)

7 de Julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17554: Notas de leitura (975): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (3) (Mário Beja Santos)

10 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17563: Notas de leitura (976): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (4) (Mário Beja Santos)

14 de Julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17582: Notas de leitura (977): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (5) (Mário Beja Santos)

17 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17591: Notas de leitura (978): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (6) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17609: Historiografia da presença portuguesa em África (82): o caso de Abdul Injai: "Roma não paga a traidores" (António J. Pereira da Costa).... "mas Lisboa e Paris também não" (Cherno Baldé)... Ainda comentários de Hélder Sousa, Mário Beja Santos e Nuno Rubim



Foto de Abdul Injai em 1915, herói das "campanhas de pacificação",  no auge da sua glória, tenente de 2ª linha, régulo do Óio e do Cuor



1. O nosso editor LG mandou um email a alguns dos nossos amigos e camaradas que se interessam mais por temas de história, que se reproduz a seguir, seguir dos comentários recebidos (*)

Assunto - Abdul Injai: quem foi afinal ? Herói ou vilão ? Nacionalista ou mercenário ? Cabo de guerra ou bandido ?...

Amigos e camaradas:

Lembrei-me dos nomes de alguns de vocês porque se interessam pela história da Guiné-Bissau e de Portugal e pelas "pontes" que temos vindo a construír juntos...

Infelizmente não temos muitos "interlocutores" na Guiné-Bissau e em Cabo Verde, nem sequer muitos amigos e camaradas, na Tabanca Grande, que se interessam pela historiografia da presença portuguesa em África...

Estes são temas "maçudos", para muitos dos nossos leitores, que obrigam a ler e a refletir, e que não são compagináveis com o formato Facebook, Reader's Digest, Correio da Manhã e similiares...

Ficamos gratos, os editores do blogue, àqueles de vocês que quiserem e puderem acrescentar algo mais (nem que seja duas linhas...) ao nosso limitado conhecimento sobre esta figura, "tão lendária quanto controversa", que foi o Abdul Injai, "companheiro de armas" do capitão Teixeira Pinto, tenente de 2ª linha, régulo do Oío e do Cuor, e que acabará por morrer no desterro...

Todos os heróis, santos e similares são controversos, por que são "mais do que homens e menos do que deuses"...

Seguindo a linha editorial do blogue, não diabolizamos nem santificamos ninguém, do Teixeira Pinto ao Amílcar Cabral, do Alpoim Calvão ao 'Nino' Vieira...São figuras históricas que fazem parte da nossa galeria de referências e memórias...

Um abraço e boas férias, se for caso disso. Mantenhas. Luís Graça

18 de julho de 2017 às 14:30


2. Comentário de Mário Beja Santos

Luís,

 Vale sempre a pena retomar a análise de personalidades históricas face às quais não existe o crivo da imparcialidade, como é o caso do régulo e chefe da guerra Abdul Indjai. 

Quem vai mais longe no seu estudo é Armando Tavares da Silva em "A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar, 1878-1926" (Caminhos Romanos, 2016). Vale a pena ler o que o investigador refere deste herói caído em desgraça. Logo em 1906 Abdul Indjai, por ordem do governador Almeida Pessanha vê dissolvido o seu bando de homens armados, Abdul é preso e deportado para S. Tomé.

 Por ocasião da visita do príncipe real D. Luiz Filipe a S. Tomé em Julho de 1907, Abdul terá obtido do príncipe permissão para regressar à Guiné. Será figura cimeira ao lado de Oliveira Muzanty nas campanhas de Badora e Cuor, Infali Soncó procurara uma sublevação com outros régulos, tornou mesmo o Geba intransitável, o que obrigou as autoridades de Lisboa a autorizarem uma impressionante mobilização de topas europeias, moçambicanas e muitíssimos auxiliares guineenses. Nunca se vira no Geba tantos brancos tantas lanchas, tantos canhões, tantos animais de tiro. Infali deixou uma imagem desgraçada no Cuor, anda sempre cercado pela sua tropa de choque, expolia, sequestra, reduz à servidão, é um tiranete.

Calvet de Magalhães, administrador de Bafatá, vê nele [, Abdul Injai,] o homem certo para apoiar Teixeira Pinto. Abdul Injai ganha uma fama terrível, no que permite matar e destruir e roubar. O poder, enquanto régulo do Oio, ter-lhe-á chegado à cabeça, desrespeita as autoridades administrativas, preparou um brutal confronto que o levará ao desterro, irá morrer em Cabo Verde, sem antes, porém, ter procurado levar por diante um processo que conduzisse ao seu julgamento. 

A minha opinião, Abdul Injai pertence ao rol de figuras que atingiram um certo pico de glória ou fama, como Marques Geraldes ou Graça Falcão e que tiveram depois a faculdade de se atirar para o abismo. Dir-se-á sem hesitação que foi a figura fulcral nas campanhas de Teixeira Pinto e que o seu rasto de prepotências, extorsões, violências sem controlo o precipitaram na desgraça, tornou-se no antigo herói de comportamento intolerável que importava deixar ao abandono.

19 de julho de 2017 às 11:00


 3. Comentário de António J. Pereira da Costa

Olá,  Camaradas

Há quem diga que "Roma não paga a traidores" e eu acrescento "e não consta que o venha a fazer brevemente", mas isto sou a pensar...

19 de julho de 2017 às 12:13

["Roma não paga a traidores" é uma expressão que a voz do povo, ou seja, o mito, a lenda, atribui ao general romano Quinto Servílio Cipião, vencedor dos Lusiatanos (139 a. C.), aos carrascos de Viriato, seus companheiros, quando vieram reclamar o prémio prometido pelos conquistadores romanos. (LG)]


4. Comentário de Hèler Sousa

Olá

O António José tem razão.... mas pode acontecer que os "traidores" não o cheguem a ser.... podem ser dedicados cúmplices!

19 de julho de 2017 às 14:46



5. Comentário de Cherno Baldé


Caros Amigos,

O Abdul Indjai foi homem da sua época, época de uso da força pela forçaa, da prepotência, da violência extrema para dominar e sujeitar o homem à razão do mais forte.

Pedir ou exigir ao Homem (Abdul Indjai=desenraizado-guerreiro-aventureiro++) que fosse razoável e correcto no exercício das funções da Regência de populações civis, que em África, apesar de selvagens e primitivos, era uma função hereditária e de longa e metódica preparação, a semelhança do que se passava no "Velho Continente", era confundir o Deus com o Diabo.

O que aconteceu ao Abdul Indjai já tinha acontecido ao Alfa Iaia, Chefe do Labé (Futa-Djalon) em finais do Sec. XIX. Os Franceses para conquistarem o território do Futa-Djalon (cobiçado por Franceses, Ingleses e Portugueses), precisavam de uma aliança interna para conquistarem o poder e foi o Alfa Iaia que foi habilmente utilizado,  para depois o afastarem com um pretexto idêntico ao usado pelos Portugueses para afastar o Abdul Injai.

Sim,  senhora. "Roma não paga a traidores", também Lisboa e Paris, idem, aspas...  Da mesma forma que não se pode esperar que o Lobo seja um excelente pastor de ovelhas.

Como se não bastasse, a história voltaria repetir-se com o não menos famoso caso do gen. Brik-Brak, aliás Ansumane Mané, quem é que não se lembra?

Um abraço amigo,
Cherno AB

6. Comentário de Nuno Rubim:

Caro Luís Graça

Este é um dos casos em que julgo que cada um deve tirar as sua próprias conclusões depois de consultar obras sobre o assunto.

No acervo do AHM [Arquivo Histórico Militar]  que te envio, a obra de Teixeira Pinto é fundamental, mas Pélissier constitui para mim a obra mais objectiva e isenta.

- A Ocupação Militar da Guiné, Lisboa: Agencia Geral das Colónias, 1936

- História da Guiné, René Pélissier,  trad. Franco de Sousa, Lisboa: Estampa, 2001, 2 v

21 de julho de 2017 às 08:03
____________

Nota do editor:

(*) Vd. último poste de 18 de julho de  2017 > Guiné 61/74 - P17596: Historiografia da presença portuguesa em África (81): quem foi Abdul Injai, companheiro de armas do capitão Teixeira Pinto, nas 'campanhas de pacificação' de 1913-1915, e por ele promovido a tenente de 2ª linha, régulo do Oio e do Cuor ?... Herói ou vilão ? Mercenário ou nacionalista ? Aliado ou inimigo ? Cabo de guerra ou bandido ?

Guiné 61/74 - P17608: "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", brochura de 2002, da autoria do nosso camarada Gabriel Moura do Pel Mort 19 (7): Págs. 49 a 56

Capa da brochura "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra"

Gabriel Moura

1. Continuação da publicação do trabalho em PDF do nosso camarada Gabriel Moura, "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", enviado ao Blogue por Francisco Gamelas (ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto, 1971/73).


(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 18 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17595: "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", brochura de 2002, da autoria do nosso camarada Gabriel Moura do Pel Mort 19 (6): Págs. 41 a 48

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17607: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (45): Instruções para indicação de pontos na carta de 1/50.000 (Nuno Rubim, cor art ref, historiador militar)


Guiné > Carta do Xime (escala 1/50 mil) (1961)... Com os 9 quadrantes numerados, de acordo com o esquema B... Clicar aqui para ver em formato grande.

Esquema  A

Esquema B 





1. Mensagem de Nuno Rubim, com data de hoje, às 3h42, em complemento do pedido no poste anterior (*)

Caro Luis

Talvez isto ajude.
Material recolhido no A.H.M. [Arquivo Histórico Militar]

A minha única dúvida reporta-se a qual dos dois esquema, A ou B, era o utilizado.
Abraço

Nuno Rubim

2. Comentário do editor LG:

Nuno:
Obrigado, fez-se luz!.. As tuas instruções são preciosas... Posso confirmar, pela minha experiência operacional (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), relatórios de operações e leitura das cartas, nomeadamente do setor L1, que o esquema que se aplica é o B: de cima para baixo e da esquerda para a direita: 3/2/1 | 6/5/4 | 9/8/7....
Aqui vão algumas localizações:

Vd. carta do Xime (1 /50 mil)

(i) proximidades da ponte do Rio Jago (estrada Mansambo-Xitole): Xime 8A 5-36;
(ii) acampamento IN em Baio/Buruntoni: Xime 2D-81;
(iii) duas tabancas civis sob controlo IN entre a Foz do Rio Corubal e Ponta do Inglês: Xime 3A 2-46 e Xime 3A 4-11.

Mas também experimentei com outras cartas, em regiões onde fizemos operações: por exemplo, Namboncó, a norte do Rio Geba:

(iv) acampamento IN na região de Belel, oito moranças com colmo e 7 de adobe: MAMBONCO  7I4-97;
(v) fuga do IN na direção de MAMBOCÓ 8G6-32.

Também encontrei a referenciação mais detalhada, acima referida, com graus e minutos, por exemplo, no relatório da Op Lança Afiada, comandada pelo cor inf Hélio Felgas (iniciada em 8 de março de 1969, com a duração de 11 dias, envolvendo mais de 1300 militares e carregadores, que bateram toda a margem direita do Rio Corubal, ao tempo do BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70)... Por exemplo, algumas localizações de posições IN (ao longo da margem direita do Rio Corubal, que corresponde à carta do XIME):

(vi) Gã Garnes (Ponta do Inglês) (subsetor do Xime): 1500 1150 B5-5; 
(vii) Fiofioli (subsetor do Xime): 1500 1145 E4 ou D5;
(viii) Galo Corubal (subsetor do Xitole): 1455 1145 B5 ou D5.

Salvaguarda-se alguma eventual gralha datilográfica...

Espero ter ajudado. Um alfabravo. Luís

PS - O Nuno Rubim tem uma documentação, em suporte digital e em papel, absolutamente fabulosa sobre o TO da Guiné, onde fez duas comissões, no princípio e no fim da guerra (no QG)... Na primeira comissão comandou duas das unidades que passaram por Guileje: a CCAÇ 726 (out 1964/jul 1966) e a CCAÇ 1424 (jan 1966/dez 1966)...

O Nuno Rubim, hoje cor art ref, é um dos membros mais antigos do nosso blogue. Chegou até nós, no último trimestre de 2005, pela mão do nosso querido coeditor Virgínio Briote. Estiveram ambos nos comandos, na Guiné, em 1966, sendo na altura comandante da CCmds da Guiné o Nuno Rubim.

É um dos nossos camaradas que mais sabe da história militar da guerra colonial na Guiné (1963/74) e é um reputado especialista em história da artilharia portuguesa.  Terá mais de 90 GB de informação sobre o CTIG em geral e a região de Tombali, em particular. É um profundo conhecedor do Arquivo Histórico Militar.

Deus, Alá e os bons irãs te protejam, Nuno!
_____________