quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17643: Historiografia da presença portuguesa em África (84): Revista Turismo de Janeiro de 1956 (1) (Fernando Barata, ex-Alf Mil Inf)



1. Mensagem do nosso camarada Fernando Barata (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2700, Dulombi, 1970/72) com data de 29 de Julho, trazendo ao Blogue umas páginas da Revista Turismo de Janeiro de 1956, publicitando algumas das firmas existentes à época na Guiné:

Carlos
Folheando a revista Turismo (Janeiro de1956), exemplar totalmente dedicado à Guiné Portuguesa, não resisti a enviar-te a publicidade nela inserta e através da qual podemos aquilatar qual o tecido empresarial existente na Guiné, à data.
Provavelmente, destas empresas, alguns dos elementos da nossa Tabanca lembrar-se-ão.

Grande abraço
F. Barata









(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17628: Historiografia da presença portuguesa em África (83): Um testemunho sobre a deportação de Abdul Indjai em 1919 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17642: Os nossos seres, saberes e lazeres (224): De Lisboa para Lovaina, daqui para Valeta: À procura do Grão-Mestre António Manoel de Vilhena (3) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 24 de Abril de 2017:

Queridos amigos,
Valeta é um macrocosmos que desperta sentimentos ambivalentes: entre o mar e o céu que emitem a leveza mediterrânica, o peso das muralhas ciclópicas, a desmesura do barroco, a marcação cerrada de uma monumentalidade com fontes, estátuas, bastiões, a disposição ortogonal de uma cidade que se precipita para o porto, sentimos o compasso do tempo e o curso das civilizações.
Sai-se de Valeta e sucedem-se as surpresas: nomes árabes como Hal Qormi, Ir-Rat, L-Imtarfa, uma cidade como Mdina tem uma catedral barroca dentro de muralhas árabes, a escassos quilómetros de Valeta temos as catacumbas, torres monolíticas e qualquer apreciador da História não pode deixar de visitar Tarxien, locais megalíticos, tem magníficos relevos esculpidos, atestam os de civilizações que por aqui passaram quatro milénios antes de Cristo.
Mas há mais, muitíssimo mais a descobrir em Malta e Gozo.

Um abraço do
Mário


De Lisboa para Lovaina, daqui para Valeta: 
À procura do Grão-Mestre António Manoel de Vilhena (3)

Beja Santos

A presença inglesa em Malta foi um facto a partir de 1800, só na década de 1960 é que se deu a partida da potência colonial e se consagrou a independência. Os sinais desta presença britânica são inúmeros e determinantes: primeiro a língua, o tipo de estabelecimentos, cabina telefónica e o marco do correio, a estátua da Rainha Victoria em que a pedra lavrada simboliza um trabalho das bordadeiras da ilha de Gozo, a sumptuosa igreja anglicana, o nome de estabelecimentos comerciais, de localidades como Victoria (Gozo), Pembroke, St. Thomas Bay ou Buskett Gardens. Malta foi estratégica em termos de informação aeronaval no Mediterrâneo, durante a guerra, esses subterrâneos podem ser visitados e aí se avaliar a importância destes gabinetes de guerra.





Quem pega no guia de Malta tem como sugestões fundamentais o passeio pela coluna vertebral de Valeta, Republic Street, recomenda-se a contemplação dos fortes e fortificações e o Porto Grande, considerada a paisagem mais emblemática de Malta; dão-se igualmente sugestões para visitar a Concatedral de São João onde está a tela de Caravaggio, A Decapitação de São João Batista, o palácio do grão-mestre, em primeiro lugar. O viandante não gosta dessas formalidades, faz um compromisso entre o informal, os encontros com o acaso e as propostas sacramentais. Encosta-se a uma muralha e aprecia a sumptuosidade do albergue de Castilha, Leão e Portugal. É que os Cavaleiros Hospitalários tinham estalagens de acordo com as suas línguas ou coesão territorial. Este albergue foi remodelado e embelezado com uma fachada barroca em 1741. É hoje a sede dos gabinetes do primeiro-ministro.


Depois de uma pratada de fachadas barrocas, desce-se dos jardins superiores da Barrakka até aos inferiores, é uma tentativa para perceber como o Porto Grande se tornou o centro de operações da Marinha Real no Mediterrâneo. Malta era uma placa giratória para os navios de comércio que viajavam pelo Suez até à Índia, Singapura e Austrália – mais de cinco mil por ano em finais do século XIX. Ver o porto é saborear em simultâneo a monumentalidade das defesas, as casas apalaçadas, os armazéns, contemplar os navios que partem para Itália ou para cruzeiros no Mediterrâneo, ver estes poderosos bastiões que pouco mudaram desde que foram erigidos no final do século XVI. Pode dizer-se sem exagero que o legado arquitetónico dos Hospitalários permanece intacto.


Uma das recomendações que se fornece ao turista é de que contempla sem pressa o emaranhado da arquitetura civil de onde despontam as célebres janelas avarandadas que lhe dão um timbre muito particular. O viandante queria apanhar um ferry para Sliema, do lado oposto, é uma zona com passeio marginal pejada de hotéis e restaurantes. Enquanto o ferry não chegava registou-se este conjunto imponente de onde seguramente se desfruta uma panorâmica sem rival.


Ando à procura de uma das figuras mais ditosas, António Manuel de Vilhena. Não começa o viandante por o procurar em Valeta, vai até Mdina, que foi capital de Malta antes da chegada dos hospitalários, é o magnífico enclave fortificado no topo de uma colina. Está marcada pela presença árabe, eles fortificaram uma parte de Mdina, separando-a da vizinha Rabat, onde o viandante irá mais tarde, à procura das Catacumbas de São Paulo. Mdina foi muito danificada por um terramoto em 1693 e reconstruida em estilo barroco. Aqui está o Palazzo Vilhena, que alberga hoje o Museu de História Natural de Malta. Houve para aqui obras com farta contribuição da Fundação Gulbenkian, como se pode ver da lápide.




Agora o viandante vai percorrer languidamente esta cidade com imensos sinais medievais, tomar um chá à inglesa e calcorrear por Rabat. Bendita peregrinação nesta pequena ilha que é um cadinho precioso da história da Roma.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17619: Os nossos seres, saberes e lazeres (223): De Lisboa para Lovaina, daqui para Valeta: À procura do grão-mestre António Manoel de Vilhena (2) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17641: Lembrete (25): No próximo dia 4 de Agosto, às 18h00, o Clube de Leitura da Biblioteca Municipal Almeida Faria, Montemor-o-Novo, realizará a segunda sessão integrada no Ciclo de Leitura e Debate subordinada ao tema "A Guerra Colonial”, com a intervenção do Coronel Carlos Matos Gomes (José Brás)



1. Mensagem do nosso camarada José Brás (ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68) com data de 28 de Junho de 2017:

No próximo dia 04 de Agosto (uma sexta-feira) às 18h00, o Clube de Leitura da Biblioteca Municipal Almeida Faria, Montemor-o-Novo, realizará a sua segunda sessão integrada num Ciclo de Leitura e Debate com pano de fundo a “Guerra Colonial” na Literatura portuguesa.

Esta sessão terá a apresentação do Coronel Carlos Matos Gomes que, a partir de “Nó Cego” abordará "África na Literatura Portuguesa - Um tema de uma geração".



A sessão tem entrada livre, aberta e incentivada à participação de membros e não membros do Clube de Leitura.

Integrado no ciclo, decorrerá no espaço da Biblioteca, uma exposição com mais de uma centena de títulos sob o tema da Guerra Colonial.
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 Nota do editor

Último poste da série de 8 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17557: Lembrete (23): Hoje, sábado, na Tabanca dos Melros (Fânzeres, Gondomar), apresentação do II volume do livro do José Ferreira, "Memórias Boas da Minha Guerra"... Daqui a um bocado, às 10h30, que de manhã é que se começa o dia... E como prenda o autor deixa aqui, em reedição, mais um dos seus microcontos, e que, não é por acaso, tem a ver com o tema da atualidade (do nosso blogue...), o Serviço Postal Militar (SPM), e as suas pequenas misérias e grandezas, já depois do 25 de Abril, no rescaldo da guerra colonial

Guiné 61/74 - P17640: "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", brochura de 2002, da autoria do nosso camarada Gabriel Moura do Pel Mort 19 (10): Págs. 73 a 80

Capa da brochura "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra"

Gabriel Moura

1. Continuação da publicação do trabalho em PDF do nosso camarada Gabriel Moura, "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", enviado ao Blogue por Francisco Gamelas (ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto, 1971/73).


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17625: "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", brochura de 2002, da autoria do nosso camarada Gabriel Moura do Pel Mort 19 (9): Págs. 65 a 72

Guiné 61/74 - P17639: Os nossos passatempos de verão (19): Cantigas de escárnio e mal-dizer, à desgarrada... Parte IV: Loas à Tabanca de Porto Dinheiro, ao peixe seco "gourmet" da ACR da Ventosa do Mar, e à sua futura confraria... (Assim Deus queira e o povo ajude!)


Foto nº 1 > Eduardo Jorge Ferreira e Jaime Bonifácio Marques da Silva


Foto nº 2 > Joaquim Pinto de Carvalho e Belmiro Sardinha


Foto nº 3 > A Dijna e o Picão (cunhado)


Foto nº 4 > Maria do Céu e Alice Carneiro


Foto nº 5 > "Sevilhanas" à sobremesa


Foto nº 6 > O famoso "peixe seco" da Ventosa do Mar


Lourinhã > Ventosa (do Mar) > ACR (Associação Cultural e Recreativa da Ventosa) > 31 de julho de 2017 > 35º aniversário > Tradicional batatada de peixe

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Loas à Tabanca de Porto Dinheiro que se reuniu em 31/7/2017 na ACR da Ventosa do Mar, Lourinhã, convocada pelo régulo Eduardo Jorge Ferreira:


Começa logo à segunda feira
Nossa semana cultural,
C’o Eduardo Jorge Ferreira,
Convocando o tabancal.

Senhor do Porto Dinheiro,
És régulo, e muito amigo,
Da Ventosa ao Vimeiro,
Todos querem... estar contigo!

Hoje há festa na Ventosa,
Viemos cá à batatada,
P’ra comer esta maltosa
Nunca se mostra rogada.

Peixe seco é “gourmet”,
Dizem os duques do Cadaval (*)
Mais os amigos da Guiné,
E os primos do Seixal.(**)

João Duarte (***) se faz eco
Na sua terra natal:
Confraria do peix’ seco
É promessa eleitoral.

É terra maravilhosa,
Com vista de serra e mar,
Quem não conhece a Ventosa,
Nada mais tem p'ra contar.

As tabancas geminadas.
Ventosa e Porto Dinheiro,
Passam a ser celebradas
No nosso cancioneiro.

Muita saúde, longa vida,
Para os nossos tabanqueiros,
Foi uma noite divertida,
Camaradas, companheiros.

O João e a Vilma faltaram,
Com pena de todos nós,
Mas de Dubrovnik mandaram
Beijinhos para todos vós. (****).


Associação Cultural e Recreativa da Ventosa, Lourinhã,
31 de julho de 2017.

Luís Graça, secretário da Tabanca de Porto Dinheiro



(*) Embaixada do Cadaval presidida pelo Joaquim Pinto Carvalho, ilustre jurista da comarca de Lisboa, coadjuvado pelo eborense e ex-combatente na Guiné, Belarmino Sardinha que, do peixe seco, só conhecia o bacalhau (da Noruega) e o carapau (da Nazaré). E ficaram fãs, ele e a esposa, do nosso peixe seco da Lourinhã...

(**) Referência ao grã-tabanqueiro Jaime Bonifácio Marques da Silva, um bravo oficial paraquedista, miliciano, do BCP 21, Angola, 1970/72, mais a sua comitiva do Seixal da Lourinhã.

(***) Presidente do município da Lourinhã, natural da Ventosa, e candidato ao próximo mandato. Teve três irmãos a combater em África.

(****) O casal mais famoso da Tabanca de Porto Dinheiro: ele, luso-americano, conhecido ativista de causas sociais (Gravuras de Foz Coa, autodeterminação de Timor, reabilitação de memória de Aristides Sousa Mendes...) e ela a "princesa" eslovena mais portuguesa e mais querida da América...
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segunda-feira, 31 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17638: Notas de leitura (982): “L’Afrique Étranglée”, por René Dumont e Marie-France Mottin, Éditions du Seuil, 1980 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,
René Dumont visita a Guiné-Bissau num período de grande expetativas e ainda quando o país goza de prestígio pelos seus créditos revolucionários. Não esqueçamos que uma das figuras mais eminentes da pedagogia à escala mundial aqui arribou e procurou estimular processos comprovadamente bem-sucedidos de elevação na literacia.
René Dumont já vinha desencantado com o que vira e ouvira noutros países, quando publicou o seu relato, em 1980, todos os seus vaticínios estavam a bater certo, aquelas aspirações de industrialização maciça da Guiné iriam falhar e levar a nova república a um endividamento externo que a mergulhou no desespero. Vale a pena juntar todas estas peças para se perceber que os dirigentes guineenses afinal estavam muito bem avisados de que um país subdesenvolvido não pode gastar à toa sem hipotecar o futuro.

Um abraço do
Mário


L’Afrique Étranglée, por René Dumont e Marie-France Mottin

Beja Santos

“L’Afrique Étranglée”, por René Dumont e Marie-France Mottin, Éditions du Seuil, 1980, foi um dos mais polémicos e debatidos livros do famoso engenheiro agrónomo francês, brilhante ambientalista que um dia até se candidatou às presidenciais francesas.

O que para o caso interessa é que nesse longo périplo chegou à Guiné-Bissau, num período de grandes sonhos e promessas, não gostou do que viu, e o que escreveu, compreende-se, cai mesmo na aceção da África estrangulada, muitíssimos dos problemas da jovem república decorreram de escolhas totalmente imponderadas para um país subdesenvolvido, ainda por cima num tempo em que gozava de uma grande aura de respeitabilidade pelo seu trabalho revolucionário.

Vejamos o que ele escreve sobre a Guiné-Bissau, é direito e brutal, não há frases arrebicadas. Em Bissau, na Primavera de 1979, encontrámos uma pequena burguesia que de modo algum se tinha suicidado (alusão a uma controversa frase de Amílcar Cabral sobre o suicídio da pequena-burguesia, que devia optar por se pôr ao lado dos oprimidos e fugir à tentação das benesses de classe, meio caminho andado para liquidar o movimento revolucionário, detém os postos da administração e o essencial do poder, porque é a única classe capaz de fazer funcionar os mecanismos do Estado e que se pretende “moderna”. Herdou dos portugueses o que se pode chamar uma “não-colónia”, sem indústrias para além de 23 destilarias semi-artesanais.

Ofereceram a esta Guiné-Bissau, de todos os quadrantes, os equipamentos mais modernos e os menos apropriados para a situação real do país, carente de capitais e de técnicos mas cheia de mão-de-obra pouco qualificada. Os sete projetos industriais aprovados entre 1976-1979 previam investir 12 milhões de dólares para criar somente 373 empregos, algo como 32 mil dólares por cada emprego criado. Cometeram-se depois erros monumentais ao ponto de parecerem suscetíveis de comprometer grandemente o futuro económico e a política de independência deste modestíssimo país. Venderam-lhe um projeto verdadeiramente demencial. No Cumeré, não muito longe de Bissau, instalaram um enorme equipamento para o descasque de arroz. Este projeto aumenta todos os encargos e está condenado à falência, veja-se o que se passou na Costa do Marfim. Neste complexo do Cumeré propõe-se descascar a quase totalidade do amendoim produzido no país para o transformar em óleo refinado e outros produtos para exportação. Ora esta concentração irá obrigar a transportes muito dispendiosos do amendoim num país que não possui viaturas nem estradas, fatalmente que irão aumentar todos os preços de revenda. Este projeto do Cumeré é um desastre em perspetiva para a economia agrícola e para o desenvolvimento do país.

No Gambiel, um projeto gigantesco de cana-de-açúcar fala na produção de 60 mil toneladas de açúcar por ano, foi felizmente abandonado. O projeto em curso da realização de 10 mil toneladas de açúcar ainda nos parece excessivo, pois deverá custar em 1979 (depois dos preços aumentarem) 35 milhões de dólares, ou seja, 3500 dólares por tonelada prevista de açúcar! Só a barragem de irrigação teria um custo de 5 milhões de dólares. Os 27 hectares de cana plantada em 1979 já estão a suscitar problemas de gestão e pergunta-se o que irá acontecer com os 1500 hectares previstos. Os solos serão verdadeiramente aptos para a irrigação? Também criticámos a rede de arroz de sequeiro em Contuboel, em terrenos que nos parecem muito arenosos e desadequados à orizicultura.

A manter-se este tipo de projetos, os camponeses correm o risco de serem atraídos para Bissau que beneficia, face ao conjunto do país, de vantagens substanciais: Bissau consome já seis vezes mais eletricidade que o resto do país.

Depois René Dumont exalta as capacidades de trabalho dos Balantas e volta aos riscos gravíssimos de uma industrialização pesada que levará ao desastre, cita uma nota sobre a estratégia de desenvolvimento industrial na Guiné-Bissau da autoria de Ladislau Dowbor em que este chamou oportunamente à atenção para o facto da indústria ser um processo custoso que exige ritmos muito elevados de rotação que podem muito mais facilmente desequilibrar do que dinamizar uma economia. A Guiné-Bissau teve a oportunidade de não ter herdado um setor industrial virado para a exportação ou para as necessidades menos prementes do seu mercado interno. Se acaso se vierem a estabelecer grandes unidades dispendiosas, como aquelas que foram atrás referidas, vai-se construir uma economia de cima para baixo e as atividades agrícolas terão de se adaptar, o que vai conduzir a um desastre. Todas essas fábricas exigem infraestruturas económicas, financeiras, técnicas, estradas, portos, uma pujante rede comercial: isso existe em Dakar, não em Bissau. Dowbor recomenda que haja uma estratégia judiciosa para se multiplicarem pequenas instalações pelo país, será o modo melhor estruturado para elevar o nível tecnológico geral capaz de operar um processo de industrialização mais dinâmico. Se for assim, as povoações ficarão equipadas de pequenas máquinas para descascar o amendoim e poder-se-á usar tanto a tração animal como a motor. Virá a seguir a indústria têxtil para utilizar o algodão. Os relatórios apontam para as grandes possibilidades associadas à pesca, seria interessante que o governo ponderasse empresas mistas suscetíveis de trazerem divisas e um abastecimento barato de proteína para o mercado interno. O mesmo se poderá dizer de um estratégia florestal muito acompanhada de perto e que não deverá obedecer à lógica pura do lucro, só interessada em desbastes sem reflorestamento.

O tempo veio dar razão às piores previsões de René Dumont.
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17626: Notas de leitura (981): Relatório sobre a situação dos direitos humanos na Guiné-Bissau, 2008/2009, Lema: a força sem discernimento colapsa sob o seu próprio peso (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17637: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (10): Págs. 89 a 97 (Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto)


1. Fim da publicação do livro "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é hoje", da autoria do 2.º Sargento António dos Anjos, 1937, Tipografia Académica, Bragança, enviado ao Blogue pelo nosso camarada Alberto Nascimento (ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63) que se estendeu por 10 postes. Vd. ligações no rodapés deste poste.
Os nossos renovados agradecimentos ao camarada Alberto Nascimento por ter feito chegar até nós este precioso documento. 


(FIM)
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Nota do editor

Vd. postes da série de:

29 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17523: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (1): Até à pág. 14 (Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto)

3 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17538: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (2): Págs. 15 a 23 (Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto)

6 de Julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17551: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (3): Págs. 24 a 32 (Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto)

10 de Julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17564: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (4): Págs. 33 a 42 (Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto)

13 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17576: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (5): Págs. 43 a 51 (Alberto Nascimento, ex-Sold. Cond. Auto da CCAÇ 84, 1961/63)

17 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17590: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (6): Págs. 52 a 60 (Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto)

20 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17603: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (7): Págs. 61 a 69 (Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto)

24 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17613: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (8): Págs. 70 a 79 (Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto)

27 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17622: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (9): Págs. 80 a 88 (Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto)