terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18079: (In)citações (113): Mário Leitão aos microfones da Rádio Ondas do Lima: Ninguém fica para trás!... Seis heróis limianos ainda continuam sepultados em terras de África: 1 no cemitério de Bissau, e os restantes em cemitérios de Moçambique (Mueda, Vila Cabral, Nova Freixo)


Capa do livro "História do Dia do Combatente Limiano", 
da autoria de Mário Leitão, edição de 2017.



Ponte de Lima > Singelo mas comovente monumento de Homenagem aos combatentes limianos. inaugurado em 24 de agosto de 2013

Fotos (e legendas: © Mário Leitão (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem de [António] Mário Leitão [ex- Fur Mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), 1971 a 1973; membro da nossa Tabanca Grande; autor do livro "História do Dia do Combatente Limiano"

Data - 9/12/2017
Assunto - Soldados limianos sepultados em África

Caro Luís Graça, querido amigo e camarada! Um grande abraço!
Acabei há poucos minutos de ler este pequeno texto na Rádio Ondas do Lima, numa rubrica semanal chamada ALMA LIMIANA.

Ele também se refere ao Soldado José Peeira Durães, sepultado em Bissau em campa bem referenciada.

Julgo que a sua divulgação no nosso blogue será da maior importância.
Obrigado pelo excepcional trabalho da tua equipa!
Outro abraço!
Mário Leitão
(Grão-Tabanqueiro 741, infiltrado)


PS - As referências numéricas referem-se aos meus aquivos, conforme serão publicadas no próximo livro HERÓIS LIMIANOS DA GUERRA COLONIAL. Até já, Professor!


2. Mário Leitão aos microfones da Rádio Ondas do Lima: Ninguém fica para trás!

As televisões e os jornais noticiaram anteontem o regresso dos restos mortais de um militar português que morreu em combate em Angola, em 19 de Setembro de 1962, e que por lá ficou sepultado durante 54 anos. Trata-se do Soldado Paraquedista António Silva, natural de Lobão da Beira, no concelho de Tondela, que pertencia ao Regimento de Caçadores Paraquedistas de Tancos e que morreu em Úcua, tendo sido enterrado em Luanda.

Com o regresso deste soldado, os Paraquedistas portugueses cumpriram finalmente o seu lema NINGUÉM FICA PARA TRÁS, tão apregoado pelas Forças Armadas Portuguesas, mas atraiçoado sucessivamente ao longo de mais de meio-século pelos altos comandos militares e pelos sucessivos governos de Portugal. De facto, agora já não há nenhum paraquedista fora do território nacional, porque este foi o último corpo a ser resgatado. No entanto, jazem em África, ao que se diz, mais de dois mil corpos de soldados de Portugal! São mais de dois mil lutos por fazer! São mais de dois mil gritos de dor permanente que esmagam dia a dia as suas famílias!

Trago aqui hoje esta questão, porque o tema encaixa perfeitamente no alcance desta crónica chamada ALMA LIMIANA, como facilmente poderia explicar. Mas também porque ele faz parte de uma das maiores preocupações da minha vida actual: o registo histórico da participação limiana na Guerra Colonial,

Naturalmente, os caros ouvintes não sabem que há 6 rapazes de Ponte de Lima que ficaram sepultados em África. Vou REPETIR: Naturalmente, os nossos ouvintes desconhecem que existem 6 corpos de soldados limianos que ficaram abandonados em África!

São 6 Heróis Limianos que deram a vida ao serviço de Portugal, mas que ficaram abandonados por aqueles que gritavam a torto e a direito que NINGUÉM FICAVA PARA TRÁS! Este assunto deveria estar na ordem de trabalhos dos nossos políticos eleitos, quer a nível autárquico quer a nível nacional, mas infelizmente não faz parte das suas preocupações.

Grande parte dos políticos portugueses tem uma deficiente carga cultural, quer sob o ponto de vista da qualidade quer no que respeita à quantidade. Temos provas disso todos os dias, a começar por presidentes de junta e a terminar em ministros, e por isso não lhes passa pela cabeça que é um dever da Pátria resgatar os corpos dos seus filhos que por ela morreram. Mas os chefes militares também têm culpa, porque têm poder suficiente para exigir aos governantes que corrijam essa injustiça.

O Professor Dr. Luís Graça, da Escola Nacional de Saúde Pública, já em Abril/2008, a seguir a uma Grande Reportagem da SIC/Visão intitulada NINGUÉM FICA PARA TRÁS, dava notícia dos esforços desenvolvidos pela Liga dos Combatentes para resgatar os restos mortais de muitos soldados mortos na Guerra do Ultramar. Através do seu blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, o País vai sendo sensibilizado pouco a pouco para essa colossal tarefa de resgate, que deveria ser um ponto de honra para qualquer governo.

Ora, a este propósito , lanço novamente o meu apelo através da Rádio Ondas do Lima para que o nosso Concelho se mobilize para resgatar os restos mortais dos seus soldados que jazem em solo africano, cujos nomes são os seguintes (conforme constam no livro publicado em 10 de Junho deste ano, intitulado História do Dia do Combatente Limiano):


José de Araújo Sendão, 
natural de Santa Cruz,
 morto em Combate aos 23 anos, 
sepultado em Vila Cabral, Moçambique;


Manuel Fiúza Parente das Bouças, 

natural de Moreira, 
falecido em combate aos 22 anos de idade, 
sepultado em Vila Cabral, Moçambique;


José Narciso Vieira Rodrigues, 
natural de Anais, 
morto em combate com 22 anos, 
sepultado em Mueda, Moçambique;


Domingos da Sila Araújo, 
da Vacariça, Refoios, 
morto em combate em Nova Freixo, norte de Moçambique, 
onde está sepultado;


José Pereira Cerqueira, 
do lugar do Paço, Vitorino das Donas, 
morto em combate com 23 anos, 
sepultado em Vila Cabral, Moçambique;


José Pereira Durães, 
natural de Abelheiras, 
Vitorino de Piães, 
falecido com 22 anos em Mansoa, Guiné, 
e sepultado no cemitério de Bissau.

Portanto, faço daqui um apelo aos presidentes das Juntas das Freguesias de Santa Cruz, Moreira, Anais, Refoios, Vitorino das Donas e Vitorino dos Piães para que honrem o cargo para que foram eleitos e iniciem rapidamente o processo para resgatarem estes seus conterrâneos do esquecimento. 

Esses Heróis têm o direto de regressar à terra natal, de modo a permitirem a conclusão do luto que foi adiado durante tantos anos! E essas freguesias têm o direito de se sentirem honradas e confortadas com o regresso dos seus filhos martirizados pela Guerra do Ultramar. O bem-estar social não é apenas o saneamento básico, os caminhos alcatroados e a cozinha farta! A felicidade das populações alicerça-se, sobretudo, no conforto do dever cumprido! Cumpramos, pois, o nosso dever!

Pela minha parte, podem contar com todo o meu apoio e com a ajuda de muitas instituições e de gente que vive angustiada com este problema.

Não deixemos estes Heróis Limianos abandonados em África!

Obrigado e muito bom dia para todos os ouvintes.
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Nota do editor:

Último postes da série > 24 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18011: (In)citações (112): A Tabanca Grande, a Guerra “de libertação”, que tarda em acabar para os bissau-guineenses e a marca dela nos ex-combatentes do continente (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703)

Guiné 61/74 - P18078: (De) Caras (101): Geraldino Marques Contino, ex-1º cabo op cripto, da CART 1743, ex-prisioneiro de guerra, aqui à conversa com outro camarada do seu tempo, com quem chegou a trabalhar no centro cripto de Tite, o Raul Pica Sinos (CCS / BART 1914, Tite, 1967/69)


S/l > s/d > O Geraldino Marques Contino, à esquerda, com os seus dois filhos, e a esposa Luísa, presumivelmente em férias.


S/l  [Ovar ?] > s/ d [2009 ?] > O Geraldino Marques Contino... Ja há dez anos atrás, o nosso grã-tabanqueiro Henrique Matos perguntava o que era feito destes homens, nossos camaradas, que foram  capa da revista do Expresso, nº 1309, de 29 de novembro de 1997

Fotos (e legendas: © Raul Pica Sinos (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Ainda Bissássema, em conversa com o Contino  

por  Raul Pica Sinos [ex-1º cabo op cripto, CCS/BART 1914, Tite, abril de 1967 / março de 1969; vive em Almada] [foto à esquerda]

[texto redigido em abril de 2009 / revisto em novembro de 2013;
editado por Leandro Guedes > Blogue do BART 1914. Tite, Guiné-Bissau > 17 de novembro de 2013 > Ainda Bissássema, na conversa com o Contino

[Reproduzido aqui com a devida vénia: trata-se de um depoimento excecional, permitindo-nos completar o conhecimento dos factos relacionados com a captura e a condição de prisioneiro de guerra do nosso camarada Geraldino Marques Contino, ex-1º cabo op cripto, da CART 1743, adida ao BART 1914, Tite, 1967/69;  sobre o assunto publicámos recentemente um interessante trabalho do nosso colaborador permanente Jorge Araújo (*);.

Tanto o Geraldino Marques Contino como o Raul Pica Sinos, ficam desde já convidados para nos darem a honra de se sentarem à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande; temos  ainda  poucas referências  tanto ao BART 1914 como à CART 1743.

Sobre a "batalha de Bissássema" o Raul Pica Sinos tem diversos postes publicados no blogue do BART 1914. Recorde-se que na noite de 3 de fevereiro de 1968:

(i) desapareceram em combate o fur mil Manuel Nunes Reis Cardoso, do Pel Mort 1208, e o soldado Milícia Manga Colubali, da CMIL 7;

(ii) foram capturados pelo IN três militares da CART 1743: alf mil António Júlio Rosa; 1º. cabo op cripto Geraldino Marques Contino; e sold Victor Manuel Jesus Capítulo.

O blogue do BART 1914, que existe desde 2008, é mantido por 3 antigos operadores cripto, se não erro, o Leandro Guedes, o Pica Sinos e o José Justo; aqui fica também o nosso reconhecimento público pelo extraordinário trabalho que estes camaradas do BART 1914 estão a fazer, recolhendo e partilhando memórias da sua unidade e subunidades adidas.

Estes camaradas estão também ativos no Facebook.]


... AS MÃES SÃO IGUAIS EM TODO O MUNDO... 

Na pequena, mas importante, vila do concelho de Almada que, dá pelo nome de Trafaria, localizada na margem esquerda do rio Tejo, a cerca de 3 quilómetros da foz, vila onde estava situado o antigo quartel do BRT (Batalhão de Reconhecimento das Transmissões) que incorporava o Centro de Informações e Segurança Militar com vistas à formação, entre outras, da especialidade em Operadores de Cripto, especialidade comum à época aos protagonistas deste apontamento, foi o local escolhido para o almoço/encontro de confraternização entre a minha pessoa (entre outros) e o ex-1.º Cabo Geraldino Marques Contino.

Há anos que procurava este acontecimento, não só para matar saudades, mas também para satisfazer curiosidades não só da minha pessoa, como de muitos que viveram o drama, aquando da captura do entrevistado em Bissássema, na região de Tite, em Guiné-Bissau,  e nas prisões em Conacry. (**)

Recordo-me, em Tite, no Centro de Cripto, nos dias que trabalhei com o nosso convidado, era comum vê-lo transportar um livro debaixo do braço. Nos pequenos momentos de descanso, não deixava escapar duas ou três linhas de leitura. 

Havia dias que também gostava, como os demais, de se vestir de forma despreocupada. Ainda hoje confessa que não sabe a razão porque foi “brindado”, pelo ex-capitão miliciano Paraíso Pinto, com 5 dias de detenção, justificados porque… o chapéu de palha e os sapatos de pala que trajava (naquele dia), não conjugavam com o trono nu e com os calções do fardamento...

O ponto “quente” da nossa longa conversa, foi a sua captura e a dos demais 2 companheiros (o Rosa e o Capitulo), em 2 de Fevereiro de 1968, na operação que, dava, creio, pelo nome de “Velha Guarda”.

A Companhia de Artilharia [CART] 1743 a que pertenciam, encetou a operação, em 31 de Janeiro de 1968, integrando num dos 3 destacamentos constituídos (um deles elementos da CCS), uma Companhia de Milícias. O objectivo, era, na região de Bissássema, banhada pelo rio Geba, (na sua frente a cidade de Bissau), aniquilar o IN, anulando o constante saque do arroz e, o recrutamento dos jovens e das mulheres. Os primeiros para ingresso nas suas fileiras e as segundas para servirem de carregadoras e cozinheiras dos produtos pilhados. Consequentemente fixar elementos das NT na zona, não só com vistas a proteger as populações, como conservá-las afectas.

Segundo conta o Contino, 2 dias após a chegada ao terreno, pouco minutos a faltarem para a meia-noite, mais precisamente no dia 2 de Fevereiro de 1968, (sexta-feira), um numeroso grupo IN, investiu em direcção ao extenso e mal programado perímetro das nossas tropas, pelo lado do pelotão das milícias. Estes não aguentando o ímpeto do ataque, acabaram por abandonar os seus postos, permitindo abrir brechas na defesa do terreno e possibilitar o cerco ao improvisado posto de comando.

A confusão surpreende as NT e, permite a captura dos europeus [o Geraldino Marques Contino, o António Rosa e o Vitor Capítulo]

Acrescenta o meu convidado:
…nem mesmo a sua tentativa de se esconder de entre a manada das vacas resultou…

Foram longos os dias e a distância efectuada a pé pelo mato.

Quando pelas tabancas passavam para descansarem ou pernoitarem, eram sempre bem recebidos, em especial pelas “mulheres grandes” e mães, que, ao vê-los feitos prisioneiros, não deixaram de lançar o seu olhar misericordioso e de grande lamento, imaginando como seria o sofrimento das mães brancas ao saberem que os seus filhos foram feitos prisioneiros.

…"As mães são iguais em todo o mundo!", remata o camarada.

Julgo, conhecendo-o como o conheci no seu pequeno período de permanência em Tite, a sua forma de estar, era de atitude ou algo diferente na resposta à recepção dos naturais guineenses. Homem habituado aos usos e costumes africanos, onde, desde os 3 anos de idade até aos 17 anos, viveu na cidade de Luanda, em Angola, razão pela qual não se fez rogado em aceitar, por uma ou outra vez, dançar e mesmo consentir o cumprimento dispensado por algumas bajudas (, mulheres em idade de casamento).

Conclui, dizendo que até à fronteira de Conacry  foi sempre, como os seus camaradas, muito bem tratado, em especial pelo seu captor.

Os inimigos nunca souberam das suas especialidades e patentes, inclusive teve o cuidado, durante a “viagem”, sem disso se aperceberem [os seus captores], de comer o pequeno livro de cifra que na ocasião transportava.

Já em Conacry, na prisão estatal, tomava as refeições, como os demais, no refeitório, na presença dos elementos da direcção do PAIGC. Diferente quando mudado para a prisão de prisioneiros de guerra e políticos. Aqui as refeições não primavam pela qualidade, mas comiam exactamente o mesmo que os seus carcereiros.

De tempos a tempos … lá vinha uma manga ou uma papaia… Ofertas de agradecimento dos guardas carcereiros que, sendo analfabetos, lhes pediam para escrever as cartas às famílias e ou suas namoradas.

De resto a maior parte do tempo era passado a jogar às cartas, com baralhos construídos por si, em aproveitamento do papel de que eram feitas as pequenas caixas de fósforos.

O Contino, depois de 30 anos de trabalho, como quadro superior na TAP, já está reformado.

[Revisão / fixação de texto / negritos e realce a amarelo:  o editor do Blogue Luís Graça & Caramadas da Guiné, com um alfabravo fraterno ao Contino e ao Pica Sinos]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  11 dezembro de 2017 >  Guiné 61/74 - P18076: (D)o outro lado do combate (15): A Igreja Católica na vida dos prisioneiros de guerra: o caso do Geraldino Marques Contino, 1º cabo op cripto, CART 1743, Tite, 1967/69 - II (e última) Parte (Jorge Araújo)

(**) Último poste da série > 30 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18030: (De)Caras (101): J. Casimiro Carvalho, ex-fur mil op esp, CCAV 8530 (Guileje, 1972/73) e a "patrulha fantasma", massacrada em Gadamael, em 4/6/1973

Guiné 61/74 - P18077: Parabéns a você (1353): Francisco Palma, ex-Soldado Condutor Auto da CCAV 2748 (Guiné, 1970/72) e Luís Dias, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3491 (Guiné, 1971/74)


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Nota do editor

Último poste da série de Guiné 61/74 - P18067: Parabéns a você (1352): Fernando Barata, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2700 (Guiné, 1970/72)

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18076: (D)o outro lado do combate (15): A Igreja Católica na vida dos prisioneiros de guerra: o caso do Geraldino Marques Contino, 1º cabo op cripto, CART 1743, Tite, 1967/69 - II (e última) Parte (Jorge Araújo)


Infogravura nº 1: itinerário (a verde) utilizado em território da Guiné-Conacri pelos três militares da CART 1743,  feitos prisioneiros pelo PAIGC, em 3 de Fevereiro de 1968, na Tabanca de Bissássema: o António Rosa, o Vítor Capítulo e o Geraldino Contino.


Guiné > Região de Quínara > Bissássema > Local onde foram aprisionados, em 3 de Fevereiro de 1968, os três militares da CART 1743 (Tite, 1967/69): o António Rosa, o Vítor Capítulo e o Geraldino Contino.

A amarelo e laranja, o percurso realizado pelo trio de prisioneiros evadidos em 3 de Março de 1969 do Forte de Kindia: o António Rosa, o António Lobato e o José Vaz. Seis dias depois foram recapturados e reconduzidos para a prisão de Conacri.

[Infogravura adaptada, retirada do sítio  «http://ultramar.terraweb.biz/06livros_AntonioLobato.htm», com a devida vénia].



1.  INTRODUÇÃO 

A primeira parte deste pequeno trabalho de investigação, partilhada recentemente neste espaço colectivo (*), inicia-se com as consequências do ataque à Tabanca de Bissássema, situada nos arredores de Tite, em 3 de Fevereiro de 1968, que antes já tinha sido uma base IN. 

Guião da CART 1743 (1967/69),
"Os Diabos"
Do ataque da madrugada desse dia, sábado, resultou terem ficado prisioneiros de guerra três militares de um Gr Comb da CART 1743 (1967/69), «Os Diabos», que tinha recebido a missão de aí se instalar e onde decorria já a construção de abrigos enquadrados na organização do seu sistema de defesa.

Corolário desse ataque continuado, intercalado entre maior e menor intensidade, alguns guerrilheiros entraram no aquartelamento, lançando granadas e apanhando à mão o António Rosa, o Victor Capítulo e o Geraldino Contino, os quais foram levados para território da Guiné-Conacri. 

Primeiro atravessando a pé o corredor de Guileje (cerca de 200 km em 6 dias),  seguindo depois até Boké em viatura. Aí chegam à fala com Nino Vieira (1939-2009), e depois dirigem-se a Conacri onde são recebidos por Amílcar Cabral (1924-1973).  Segue-se nova viagem até à “Casa Forte de Kindia”.

Treze meses depois, em 3 de Março de 1969, António Rosa com mais dois prisioneiros de guerra, António Lobato e José Vaz, levam à prática um plano de fuga pensado entre si, sendo recapturados ao fim de seis dias. Na sequência dessa evasão mal sucedida foram transferidos para um novo cativeiro em Conacri [vidé P2095 e P7929]. [Infogravura nº 1, reproduzida acima[,

Após o diálogo estabelecido com os três militares da CART 1743, em Conacri, Amílcar Cabral dá conta em comunicado escrito em francês, datado de 19 de Fevereiro de 1968, da identificação destes novos prisioneiros de guerra.

Exactamente seis meses depois do episódio da Tabanca de Bissássema, ou seja, em 3 de Agosto de 1968, Amílcar Cabral faz aos microfones da «Rádio Libertação», a sua emissora, nova referência aos prisioneiros de guerra do PAIGC. Por deferência deste, as palavras do seu secretário-geral foram gravadas em fita magnética, bem como as declarações de oito militares portugueses feitos prisioneiros nos primeiros seis meses desse ano, e retransmitidas em Argel, na rádio «A Voz da Liberdade», emissora da FPLN/Portugal [Frente Patriótica de Libertação Nacional]. O conjunto desses oito depoimentos foram editados no Caderno 1, da responsabilidade da FPLN, com o título “falam os portugueses prisioneiros de guerra” [vidé P16172]. [Infogravura nº 2]



Infogravura nº 2

Citação:

(1968), "Guiné 1 - Falam os portugueses prisioneiros de guerra", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_84394 (2017-10-30)


Nesse caderno 1, na página 20, encontrámos os testemunhos de Geraldino Marques Contino, com respostas dadas a sete perguntas, conforme se reproduz abaixo. De relevar que das sete perguntas duas estão relacionadas com a comunicação com a família, depreendendo-se que seria para lhes dar conta da sua [nova] situação. Por exemplo, a 4.ª, “Você já escreveu à sua família)”; R: “Escrever ainda não escrevi, mas escreverei brevemente”; e a última, “Você vai escrever-lhes [aos pais]?”; R: Vou escrever-lhes, naturalmente”. Como se pode observar, o seu apelido está mal escrito [Contino e n não Coutinho}. [Infogravura nº 3]



Infogravura nº 3


Fonte: Casa Comum; Fundação Mário Soares.
Pasta: 04309.007.011.
Título: Guiné 1 - Falam os portugueses prisioneiros de guerra.
Assunto: Editado pela FPLN/Portugal, em Alger, exemplar 1 de publicação com declarações dos militares portugueses feitos prisioneiros pelo PAIGC. Pretende-se dar conhecimento da verdade às famílias, ao mesmo tempo que se acusa o governo português de os referir como desaparecidos (militares das incorporações de 1966). Este número inclui transcrição de uma comunicação de Amílcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC, aos microfones de “A Voz da Liberdade”, dirigida aos prisioneiros portugueses, no dia 3 de Agosto de 1968, com a promessa de fornecer em breve fitas magnéticas com testemunhos dos prisioneiros, bem como o tratamento que lhes é dado, quando feridos e ligação com a Cruz Vermelha Internacional, para o seu repatriamento para junto das suas famílias.
Data: 1968. Observações: Declarações gravadas em fita magnética e difundidas pela Rádio Libertação, pelo PAIGC, que autorizou retransmissão pela emissora da FPLN, a Voz da Liberdade. Fundo: Arquivo Mário Pinto de Andrade.
Tipo Documental: Documentos

[com a devida vénia].

Neste contexto, não é possível confirmar o que quer que seja quanto ao envio de “notícias para a metrópole”, como então se dizia. Só o próprio nos pode/poderá fazê-lo. Certamente que não foi nada fácil dizê-lo, e a existir algum atraso, ele seria perfeitamente compreensível, por necessidade de encontrar as palavras acertadas e estabelecer um fio condutor que não provocasse danos, nos dois sentidos. Por um lado aos destinatários, que nada sabiam acerca da nova realidade, por outro ao próprio remetente que estava “obrigado” e/ou “comprometido” em dizer-lhes a verdade. Mas, ao pensar referi-la, é aceitável que se tenha questionado, muitas vezes, sobre as consequências que esta notícia teria no seu seio? Como é que ela seria recebida? Aumentando a angústia e a dor nos seus pares ou desenvolvendo esforços no sentido de encontrar canais de comunicação alternativos? Provavelmente ambas as situações.


2. A IGREJA NA VIDA DOS PRISIONEIROS DE GUERRA (II) - O CASO DE GERALDINO MARQUES CONTINO


Geraldino Marques Contino, o ex-1.º Cabo Op.Crpt da CART 1743, feito prisioneiro naquele sábado, dia 3 de Fevereiro de 1968, na tabanca de Bissássema, certamente que passou pelas mesmas emoções, angústias, privações e sofrimentos relatados pelos seus camaradas de infortúnio, o António Rosa e o Victor Capítulo, desde que foi capturado, depois na prisão de Kindia, onde cinco dias após aí ter dado entrada completou o seu 23º aniversário (em 15 de Fevereiro) e, por último, na de Conacri.

Como referimos anteriormente, foi na busca de informações sobre a sua vida em cativeiro que tomámos em mãos essa tarefa, existindo uma só fonte onde poderíamos obtê-las, isto é «Do outro lado do combate». E a consulta recaiu, uma vez mais, no espólio da Casa Comum – Fundação Mário Soares, onde encontramos várias referências, umas já publicitadas acima, outras relacionadas com a troca de correspondência entre os responsáveis da Igreja Católica e Amílcar Cabral, na qualidade de secretário-geral do PAIGC.

E a causa/efeito para esse contacto nasce da falta de notícias do Geraldino Contino, o qual deixou de escrever aos seus familiares, em particular para os seus pais, depois do mês de Janeiro de 1970, muito provavelmente por volta do dia em que completava o seu 25º aniversário (o 3.º em cativeiro), data considerada para si e para os seus de muito importante. A ausência de liberdade, o permanente controlo dos seus movimentos, e a cada vez menor motivação para a escrita, levaram-no a cortar com o mundo exterior. Será que foi isso que aconteceu? Ou terão as cartas, também elas, ficado retidas/ prisioneiras?

Uma vez que a ausência de notícias se manteve durante alguns meses, os pais do Geraldino Contino tomam a iniciativa de escrever para o Vaticano, dando conta a Sua Santidade o Papa Paulo VI (1897-1978) da sua angústia por desconhecimento do destino do seu filho, feito prisioneiro pelo PAIGC. O Santo-Padre interessa-se por este caso e remete, em 10 de Setembro de 1970, uma carta dirigida ao Arcebispo de Conacri, Raymond-Marie Tchidimbo (1920-2011), solicitando informações concretas sobre a situação desse jovem militar. Este religioso, por sua vez, cumprindo o superior desejo de Paulo VI, escreve em 16 do mesmo mês uma nova missiva de teor semelhante, enviando-a ao cuidado de Amílcar Cabral, na qualidade de secretário-geral.

Recorda-se que estas duas cartas, escritas em francês, constam da Parte I. (*)

A este contacto formal do Arcebispo de Conacri, Raymond-Marie Tchidimbo, seguiu-se a resposta pronta de Amílcar Cabral, com data de 17 de Setembro, cujo conteúdo daremos a conhecer de seguida, a tradução e o original em francês, por esta ordem.

Tradução [de Jorge Araújo]:

Conacri, 17 de Setembro de 1970

Sua Excelência Monsenhor Raymond-Marie Tchidimbo, Arcebispo de Conacri Monsenhor,
Tenho a honra de acusar a recepção da vossa carta de 16 de Setembro, pela qual teve a gentileza de pedir para o pôr ao corrente sobre o conteúdo de uma carta remetida pela Secretaria de Estado da Cidade do Vaticano, por intermédio de Sua Excelência Monsenhor BENELLI, substituto desse mesmo Ministério.

A direcção nacional do nosso Partido está honrada de poder dar as seguintes informações acerca do prisioneiro de guerra Geraldino Marques Contino de acordo com o interesse de Sua Santidade o Papa Paulo VI.

- Nome: Geraldino Marques Contino
- Filho de Armando Contino e de Olinda Marques
- Nasceu em 15 de Fevereiro de 1945 em Envendos [Mação, Santarém]
- Profissão: estudante
- Situação na arma colonial: 1.º Cabo – RAL5
- N.º mecanográfico: 093526/66
- Feito prisioneiro em 3 de Fevereiro de 1968 em Bissássema (Frente Sul) a 17 quilómetros de Bissau, a capital.

O prisioneiro encontra-se bem, tanto física como moralmente. De acordo com os princípios humanitários da nossa luta, do respeito pela pessoa humana e de nunca confundir colonialismo português e povo de Portugal ou cidadãos portugueses, o melhor tratamento é concedido a este prisioneiro como a todos os outros. Toda a sua correspondência é enviada, no tempo, para o seu destinatário. É possível que o Governo português por necessidade da sua propaganda contra a nossa luta legítima, não quer que as famílias dos prisioneiros sejam informadas da situação na qual se encontram os seus filhos, cônjuges e irmãos.

A carta anexa, escrita pela mão do prisioneiro, e endereçada a seus pais, informará melhor que nós sobre a sua situação, a sua saúde e o seu estado de espírito.

À vossa inteira disposição para todas as informações úteis, por favor aceite, Monsenhor, a expressão dos nossos sentimentos de respeito e fraternal amizade.

Pel’ O Secretariado Político do PAIGC
Amílcar Cabral, Secretário-Geral



Citação:
(1970), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_39285 (2017-10-30)

Na volta do correio, o Arcebispo de Conacri, Raymond-Marie Tchidimbo, acusa a recepção das informações enviadas por Amílcar Cabral, em nova carta datada de 19 de Setembro, nos seguintes termos (primeiro a tradução, depois o original constituído por duas folhas dactilografas):

Tradução [de Jorge Araújo]

Senhor Amílcar Cabral
Secretário-Geral do PAIGC
Conacri

Deixe-me dizer obrigado – um obrigado muito simples mas não menos sincero – pela recepção dispensada à minha carta de 16 de Setembro e a resposta, tão rápida e atenciosa, que se dignou trazer.
Gostaria de ser gentil o suficiente por ter sido o interlocutor junto do Secretariado Político do PAIGC para o qual registo aqui a expressão da minha gratidão.

O SANTO-PADRE será em breve informado, por intermédio de Sua Excelência Monsenhor Substituto da Secretaria de Estado da Cidade do Vaticano, - Monsenhor BENELLI – do conteúdo da sua carta; ao mesmo tempo que será transmitida a relação de Geraldino Marques Contino a seus pais.
O seu gesto, Senhor Secretário-Geral, marca uma etapa decisiva da vossa luta para conseguir, finalmente, libertar a sua Pátria de toda a dominação; o Vaticano, singularmente atento às actividades dos Movimentos de Libertação do mundo inteiro, não vai deixar de apreciar o verdadeiro valor das intenções e dos esforços do PAIGC.

Queira aceitar, Senhor Secretário-Geral, com os meus agradecimentos repetidos, a expressão do meu bem fraterno e respeitosa amizade.

Conacri, 19 de Setembro de 1970
Raymond-Marie TCHIDIMBO,
Arcebispo de Conacri




Citação:
(1970), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_39286 (2017-10-30)

Fonte: Casa Comum; Fundação Mário Soares.
Pasta: 07069.111.023.
Assunto: Agradece a resposta à sua carta, em que dá conta da situação do prisioneiro de guerra Geraldino Marques Contino.
Remetente: Monsenhor Raymond-Marie Tchidimbo, Arcebispo de Conacri.
Destinatário: Amílcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC.
Data: Sábado, 19 de Setembro de 1970.
Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Relações com a Guiné-Conacri / Senegal 1960-1970.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.
Tipo Documental: Correspondência.

[com a devida vénia]

Depois desta data nada mais foi encontrado relacionado com este tema. Desconhece-se, por isso, as consequências destes contactos. O que se sabe é que passados dois meses, naquele domingo, 22 de Novembro de 1970, Geraldino Marques Contino e os restantes vinte e quatro militares portugueses, prisioneiros de guerra em Conacri, às ordens do PAIGC, são libertados na sequência da «Operação Mar Verde», planeada e conduzida pelo Comandante Alpoim Calvão (1937-2014) [vidé postes P3244 e P1967].

Vinte e sete anos depois, numa iniciativa do semanário «Expresso», foi possível reunir em Lisboa, dezasseis desses prisioneiros. Na capa da «Revista do Expresso, n.º 1.309, de 29 de Novembro de 1997, é possível identificar, com a seta amarela, o Geraldino Marques Contino, camarada que esteve no centro deste trabalho de pesquisa [Infogravura nº 4]. O texto da reportagem é da autoria do jornalista José Manuel Saraiva.


Infogravura nº 4


Foto do Geraldino Marques Contino, publicada na Revista do Expresso n.º 1309, de 29 de Novembro de 1997, com a devida vénia.

A escassos dias de completar quarenta e sete anos, em que reconquistaram a liberdade na sequência da audaz «Operação Mar Verde» [Guiné-Conacri, 22 de Novembro de 1970], e a vinte anos da primeira reunião pública em grupo, em Lisboa, por iniciativa do Expresso, este trabalho é, também, a minha homenagem a todos eles, uma aprendizagem pessoal e, ainda, uma lembrança pelas duas efemérides.

Por último, recupero as declarações proferidas à RTP, em 1995, pelo então Presidente da República da Guiné-Conacri, Lansana Conté (1934-2008), elogiando a invasão do seu país pelos portugueses, “vendo-a como uma oportunidade perdida de libertar o país do jugo de [Ahmed] Sékou Touré [1922-1984]. E disse que os militares portugueses fizeram aquilo que é um desejo natural das Forças Armadas de qualquer país: libertar os seus prisioneiros de guerra” [Fórum Armada - página não-oficial da Marinha de Guerra Portuguesa - http://archive.is/CNcHE], com a devida vénia.
Obrigado pela atenção.

Com um forte abraço de amizade… e muita saúde.
Jorge Araújo.
8NOV2017
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Nota do editor:

Último poste da série >  30 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18027: (D)o outro lado do combate (14): A Igreja Católica na vida dos prisioneiros de guerra: o caso do Geraldino Marques Contino, 1º cabo op cripto, CART 1743, Tite, 1967/69 - Parte I (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P18075: Notas de leitura (1022): “A caminho de Viseu”, por Rui Alexandrino Ferreira; Palimage, 2017 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Novembro de 2017:

Queridos amigos,
Rui Alexandrino Ferreira tem presença assídua nesta sala de conversa. No seu livro "Rumo a Fulacunda" ofereceu-nos páginas impressivas, tanta da sua guerra da Guiné como da sua vivência angolana. Este livro é um encontro de amigos, tem o RI 14 por epicentro, mas o passado também anda à solta. Tem a língua afiada, e de vez em quando desembesta de mansinho, sai da sua rigidez peculiar. Vale a pena ouvir o que se partilha no anfiteatro das memórias sobre este homem.

Um abraço do
Mário


"A caminho de Viseu", memórias de Rui Alexandrino Ferreira

Beja Santos

Na encruzilhada da vida e em torno de uma vivência do Regimento de Infantaria n.º 14 (Viseu), ergue-se um rol de lembranças e várias pessoas se sentam à mesa da amizade, o pretexto é muito válido, todos concordam. Rui Alexandrino Ferreira [foto à direita] é já conhecido no blogue, saiu-lhe do punho um livro de páginas vigorosas, "Rumo a Fulacunda", voltará a escrever sobre a Guiné, ali houve duas comissões, ali se passaram situações insuperáveis. “A caminho de Viseu”, por Rui Alexandrino Ferreira, Palimage, 2017, é uma sala de conversa a pedido de um certo chefe de orquestra, que abre o desfiar das memórias recorrendo a dois versos de Fernando Pessoa: “Sinto mais longe o passado / Sinto a saudade mais perto”. Logo uma lembrança para um ausente da conversa, Manuel Cerdeira, que fora comandante do destacamento de Cabedu, algures no Cantanhez, e lança-se um abraço fraternal. Está lançado o mote.

Rui Alexandrino Ferreira foi alferes na Guiné em meados dos anos 1960, não se sentiu bem enquadrado na vida civil, em 1970 irá frequentar o curso para capitão, regressa à Guiné, e em 1973 volta a Angola de onde é natural, noutra comissão. Se na sua primeira comissão conheceu atribulações, a sua segunda comissão permitiu-lhe uma experiência distinta, foi nomeado para integrar as Forças Africanas, aquartelou-se em Aldeia Formosa. Discreteia sobre a formação do MFA e põe ênfase no que viu em Angola, assistiu ao horror da guerra fratricida pelo controlo da cidade de Luanda, num cenário de caos e morte e pilhagens, de gente a resgatar os seus bens antes de se porem em fuga, gente enlouquecida a disparar em todas as direções.

Exalta a sua amizade e admiração por Pedro Pezarat Correia, “um dos oficiais mais lúcidos e distintos e mais capazes entre os oficiais do quadro permanente”. Conheceram-se em Aldeia Formosa. Vêm depois pilhérias e facécias que vão desembocar a Viseu, entram testemunhos na ribalta, logo uma prova eloquente de consideração no depoimento do Tenente-General António Luís Ferreira do Amaral. O autor, quando pode, lança a sua ferroada, veja-se o que ele escreve a propósito do tenente Armelim Costa:
“Era e é um moço excelente. Quando se apresentou em Viseu, vindo do Regimento de Comandos, trazia consigo a cabeça cheia daquela propaganda de superioridade, que não tinha a mínima razão de ser. Nunca justificara em combate as extraordinárias atuações de que falavam. Na Guiné fartaram-se de entrar em situações algo nebulosas, inclusivamente uma das suas companhias tinha a fama de ouvir os tiros dos turras duas vezes. A primeira vez quando os tiros passavam por eles e a segunda quando eles passavam pelos tiros… Claro que isto é uma anedota, mas isto são histórias que não vêm ao acaso”.
O Major Sousa Figueiredo brinda-o com versos: 
"Ironia perversa do Destino, / Que manda p’ra Guiné um angolano / Criado em berço de Menino, / A brincar, na rua, com o massano; / Da Guiné regressa à nata terra, / Com o peito cheio de glória, / Mais duas cruzes de guerra, / Qual tributo fruto da vitória. / Capitão vai para o Uíge, / Desfiladeiros, florestas e Fazendas, / Novos feitos e vitórias atinge, / Na africana nova Caipemba; / No mês das águas mil; / Da Páscoa e do Agno de Deus / A revolução do 25 de Abril, / Em boa hora o trouxe a Viseu; / Cá, assentou arraiais, / Procriou, capitaneou e muito mais, / De muitos amigos se rodeou, / Por isso também cá estou.

É uma parada de testemunhos, oficiais, sargentos e praças não se cansam de exaltar amizades bem consolidadas. As histórias multiplicam-se, são como as cerejas, escolhendo uma bastante impressiva, sai do punho do autor a homenagem à classe médica na pessoa do Dr. Lino Ministro Esteves: “Sucedeu a determinada altura que recebi de Alcofra, terra de origem da família dos meus sogros, um telefonema da parte do tio da minha esposa, que pretendia fazer-se acompanhar de uns parentes afastados que pretendiam falar comigo.
Marcado o dia lá os recebi em minha casa. Segue-se uma história embrulhada e Rui Alexandrino replica que lhe falem claro ou então não vale a pena continuar a conversa.
Muito a custo e no meio de certa vergonha contaram-me então que um dos filhos de um dos primos se tinha enfiado na cama afirmando que ia morrer com a sida e ninguém o conseguia demover da condição de que estava doente. No meio disto tudo tinha sucedido que, quando tinha ido para o monte acompanhado de outro moço para o pastorício das ovelhas teriam tido relações sexuais e ao ouvir dizer que a sida era a doenças dos maricas convenceu-se de aquilo também lhe dizia respeito. E aí, para desespero dos pais deixou de comer e trabalhar e não saía da cama. Combinei então com o pai ir eu a Alcofra no fim de semana seguinte onde iria a sua casa para ter uma conversa sozinho com o moço e ver no que aquilo dava.
Da conversa, ao princípio um pouco contrafeito lá me contou o que lhe ia na alma. Posto isto fui-lhe explicando que sendo ele saudável e o outro também e que não tendo ambos relações com mais ninguém, não tendo usado quaisquer agulhas, para injetar drogas, que pudessem estar contaminadas, não tendo por isso relações de risco dificilmente podia ter contraído a doença e que o iria buscar pessoalmente à porta de armas no dia da incorporação e que o levaria ao médico para que lhe fossem feitas análises e exames que levassem à despistagem da doença.
No seguimento tive uma conversa particular com o Dr. Ministro Esteves a quem o entreguei pessoalmente pois fui busca-lo à porta da incorporação, e feitas as análises e as radiografias e tudo mais o que o doutor inventou, lá lhe demos a notícia de que estava são como um pero, saiu dali louco de alegria, passou-lhe a febre! Acabou por ficar como contratado na tropa”.

Em anexos, junta efemérides na história da infantaria do RI 14.
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Notas do editor

Vd. postes do lançamento do livro de:

20 de novembro de  2017 > Guiné 61/74 - P17990: Agenda cultural (606): Uma grande festa de amor, amizade e camaradagem, a do lançamento do livro "A Caminho de Viseu", do Rui Alexandrino Ferreira, nas instalações do RI 14, Viseu, em 4 do corrente - Parte I
e
20 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17994: Agenda cultural (608): Uma grande festa de amor, amizade e camaradagem, a do lançamento do livro "A Caminho de Viseu", do Rui Alexandrino Ferreira, nas instalações do RI 14, Viseu, em 4 do corrente - Parte II

Último poste da série de 8 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18061: Notas de leitura (1021): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (12) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18074: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (23): aspetos do aquartelamento de Cufar


Foto nº 1 > Um militar da CCAÇ 4740 dando banho, numa tina, a uma criança da população local


Foto nº 2 >  Fontanário de Cufar... Provavelmente do tempo do colono cabo-verdiano, grande produtor e comerciante de arroz, Álvaro Boaventura Camacho que terá cedido estas instalações  (incluindo  o aeródromo) à administração do território, com o início da guerra... 


Foto nº 3 > O Luís Mourato Oliveira e ao fundo o edifício da Intendência, o PINT 9288, de que era cmdt o nosso camarada João Lourenço.


Foto nº 4 > O "refeitório" das praças... Cufar não era um aquartelamento construído de raiz...


Foto nº 5 > c. jun / jul / agos 1973 > Na messe de oficiais, à esquerda o alf mil mil António Eiriz [, oficial trms do CAOP1],  seguido do Luís Mourato Oliveira [, CCAÇ 4740,] , o António Graça de Abreu e outro camarada do CAOP1. O Oliveira e o Graça de Abreu ainda estiveram juntos em Cufar cerca de 2 meses.


Foto nº 6 > Perímetro do 3º pelotão da CCAÇ 4740  (que era comandado pelo alf mil inf Luís Mourato Oliveira)

Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mais fotos do álbum do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1.º semestre 1973) e, no resto da comissão, comandante do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74).

Afinal, o Oliveira ainda esteve umas largas semanas em Cufar com o António Graça de Abreu, do CAOP1 (, que lá esteve de fins de junho de 1973 a princípios de abril de 1974). Eis o comentário que o António deixou no poste anterior (*)

É verdade, não falo no Oliveira [, no meu "Diário da Guiné"], embora o cite sem o nomear, numa estrondosa palhaçada quando recebemos em Cufar, com praxe e circunstância, o pelotão de piras, o pelotão de canhão sem recuo, a 19 de Agosto de 1973.

É um texto divertido, no meio das desgraças da guerra. Aí vai, talvez o Luís Graça ache que a minha prosa terá direito a um post no blogue:

"Cufar, 19 de Agosto de 1973

No meio dos infortúnios quotidianos, a guerra também pode ser divertida. Esta semana tivemos um dia de grande comédia, com uma espectacular encenação e actores de primeira.

Em Cufar existe um pelotão de canhão sem recuo comandado pelo alferes Nascimento, de Alpiarça, do meu curso de Mafra, que reencontrei na Amadora e mais tarde em Bissau. São trinta homens que têm por missão defender o aquartelamento com a pequena artilharia de que dispomos. Acabaram agora a comissão e na LDG chegou o pelotão de 'periquitos' que os vem substituir. Os alferes, furriéis e soldados da companhia de açorianos [, CCAÇ 4740,], eu também, resolveram ir esperá-los ao porto grande do Cumbijã e encenar uma espectacular paródia de modo a que os “piras” ao chegar aqui se borrassem de medo." (...)

Pois, sim, senhor, em homenagem ao dois nossos grã-tabanqueiros vamos publicar esta entrada do "Diário da Guiné", com as anotações do autor, na respetiva série, em data oportuna.
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Guiné 61/74 - P18073: Consultório militar do José Martins (33): Memórias de Guerra (7): Europa, África, América, Ásia e Oceania


1. Sétimo e último poste do trabalho de pesquisa de autoria do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), sobre as Memórias de Guerra (Grande Guerra e Guerra do Ultramar), que podem ser vistas pelo país e estrangeiro. Aceitam-se, e agradecem-se, correcções e actualizações por parte dos nossos leitores.



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Nota do editor

Postes anteriores da série de

5 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18049: Consultório militar do José Martins (26): Memórias de Guerra (1): Distrito de Leiria

6 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18051: Consultório militar do José Martins (27): Memórias de Guerra (2): Distritos de Coimbra, Aveiro e Porto

7 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18056: Consultório militar do José Martins (28): Memórias de Guerra (3): Distritos de Braga, Viana do Castelo, Vila Real, Bragança e Viseu

8 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18059: Consultório militar do José Martins (29): Memórias de Guerra (4): Distritos da Guarda, Castelo Branco e Santarém

9 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18064: Consultório militar do José Martins (31): Memórias de Guerra (5): Distritos de Portalegre, Évora, Beja, Faro e Setúbal

10 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18069: Consultório militar do José Martins (32): Memórias de Guerra (6): Distrito de Lisboa e Regiões Autónomas da Madeira e Açores

domingo, 10 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18072: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XVII: 20 de outubro de 2016, Auckland, Nova Zelândia



Foto nº 1 > O nosso camarada António Graça de Abreu e a esposa Hai Yuan


Foto nº 2 > Auckland, capital da Nova Zelândia. Ao fundo, a famosa "Sky Tower", om 328 metros de altura, sendo  a construção mais alta de todo o hemisfério sul.


Fotos e legendas: © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Parte XVII (Segundo volume, pp. 23-26)




1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias", do nosso camarada António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 200 referências.

É casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.

Sinopse (*):


(i) neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016;

(ii) três semanas depois o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017);

(iii) na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017). No dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano. Navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo;

(iv) um mês e meio do início do cruzeiro, em Barcelona, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016;

(v) seguem-se depois as ilhas Tonga;

(vi) visita a Auckland, Zona Zelânida, em 20/10/2016.


Auckland, Nova Zelândia



A Nova Zelândia, nos antípodas de Portugal, era um país que não acreditava vir um dia a visitar.

Mas cá estou, em Auckland, a maior urbe neozelandesa, com milhão e meio de habitantes, quase todos com elevada qualidade de vida.

Depois de recortadas baías, o Costa encosta num cais frente ao centro da cidade [Foto nº 3]. É só sair do barco e estamos em Queen’s Street, a grande avenida central de Auckland cheia de animação, cafés e lojas. Mais adiante a Sky Tower, com 328 metros de altura, é a construção mais alta de todo o hemisfério sul. Tem restaurantes, um casino lá em cima e, por certo, uma vista soberba. Não subi. Caminhei por um suave declive até ao fim da Queen’s Street, aberta para uma espécie de grande cidade universitária, com colleges e faculdades para todos os gostos.



Foto nº 3 >  O autor, e ao fundo o navio Costa Luminosa


Muitos jovens chineses estudam aqui. Fazem o ano preparatório de admissão à universidade, com muita língua inglesa, e depois seguem os seus cursos. As propinas são caras mas os pais, em Pequim, em Xangai, em Cantão ou pertencem à classe dos dois milhões de novos ricos da República Popular da China, ou fazem complexas manobras de arquitectura financeira para conseguir colocar os seus rebentos, muitas vezes filhos únicos, a estudar no estrangeiro, na Austrália, Estados Unidos da América, Nova Zelândia. Os meninos e meninas saem melhor instruídos e, com uma licenciatura numa destas universidades, têm a garantia de vir a ser quadros de topo na China, caso decidam regressar ao seu país, o que nem sempre acontece.

Visita ao museu de Auckland, uma estrutura pesada com colunas gregas, no alto das colinas de Pernell. Lá dentro, vastas referências à colonização inglesa e espectáculo com os maoris, os autóctones da ilha, hoje absolutamente minoritários no país mas guerreiros combativos cuja determinação e capacidade de luta vemos na dança ritual no início dos jogos dos all blacks, a equipa de rugby da Nova Zelândia.

Foto nº 4
Um pouco abaixo, dois grandes jardins de Inverno, tipo maxi-estufas com cem anos de idade, guardam uma profusão de flores e plantas, com cores e perfumes como jamais havia visto e cheirado em dias da minha vida. [Fotos nº 1 e 4].

O autocarro leva-nos depois para o outro lado da baía, um pitoresco lugar, uma península chamada Davenport. Fica em frente a Auckland, no entanto, para se lá chegar, temos de atravessar uma grande ponte sobre a baía e fazer uns dez quilómetros numa estrada entre milhares de vivendas de luxo. Davenport será o Estoril ou a Foz do Douro cá do sítio, com fantásticas praias como Narrow Neck voltada para o outro lado do istmo, aberta num imenso areal onde apetece ficar.

É ainda Primavera na Nova Zelândia, estamos com 12 graus centígrados, dá apenas para esquecer o uso de calções de banho e caminhar ao longo da areia dura da praia. Davenport conta com um conjunto de edifícios dos tempos gloriosos da rainha Vitória e do seu filho Eduardo VII, construídos na volta do século XIX para o XX. Mantêm-se impecavelmente conservados. 

Um bom exemplo é o Hotel Esplanade, com dois andares, em tons de creme, interiores em madeira e mobiliário de 1900. Será talvez o must da boa mesa e excelsa cama em Davenport. Fui espreitar e perguntar preços. Não é propriamente acessível, cerca de 250 dólares US a dormida, com pequeno-almoço.

Mais barato foi um livrinho de haikus japoneses que comprei na livraria Bookmark, um alfarrabista de qualidade 150 metros adiante do hotel. Custou-me dez dólares neozelandeses, cerca de sete euros. Especializada em obras sobre a II Guerra Mundial e história da Nova Zelândia, a Bookmark tinha também umas prateleiras recheadas de poesia inglesa, norte-americana e dos mais variados países do mundo. Não havia China, mas lá estavam duas ou três traduções inglesas do nosso Fernando Pessoa. A livreira, senhora já de uma certa idade, foi um poço de simpatia na ajuda às minhas buscas e quando lhe disse que era português e havia traduzido para a minha língua os cinco maiores poetas da China Clássica (*), a senhora, que os conhecia todos, despediu-se de mim com um beijo do tamanho do Oceano Pacífico.
Foto nº 5

Para concluir a ronda por Auckland, uma volta grande, de autocarro, em redor da cidade, sempre junto ao mar, até Mission Bay, com outra praia, cafés, pequenos shoppings e restaurantes. Uma fonte luminosa alindava o lugar. [Fotos nºs 2 e 5].

Tão curta estadia deu para sentir que a Nova Zelândia será um excelso país. Tudo organizado e funcional. Só os arredores de Auckland, com a costa imensamente recortada, baías, praias, falésias, belezas naturais de espantar, serão lugares a explorar e a viver numa próxima reencarnação. Agora até já sei como é, quando cá voltar alugo um automóvel por 17 euros US, por dia, e durante um mês parto à aventura na descoberta, a sério, da Nova Zelândia.

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(*) Poemas de Li Bai, Macau, ICM, 1990, Poemas de Bai Juyi, Macau, ICM, 1991, Poemas de Wang Wei, Macau, ICM, 1993, Poemas de Han Shan, Cod, Macau, 2009 e Poemas de Du Fu, Macau, ICM, 2015.

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Guiné 61/74 - P18071: Agenda cultural (618): Lisboa, Arroios, Mercado de Culturas / Mercado do Forno de Tijolo: concerto do nosso amigo Mamadu Baio (voz e guitarra) + Ibo Galissá (kora)...Sábado, dia 16, às 21h00...Djass Arte - Mostra de criadores africanos e afrodescendentes


Cartaz

Djass Arte – Mostra de Criadores Africanos e Afrodescendentes



Lisboa, Mercado Forno Do Tijolo | Entrada grátis


1. Com a devida vénia, transcreve-se da Viral Agenda:


Entre 15 e 17 de dezembro, o Mercado de Culturas, em Lisboa, acolhe a segunda edição da Djass Arte – Mostra de Criadoras/es Africanas/os e Afrodescendentes, uma iniciativa da Djass - Associação de Afrodescendentes.

 Uma exposição coletiva de artes plásticas e visuais, bancas de venda de livros, artesanato, vestuário e acessórios, uma mostra de cinema afrodescendente, a apresentação de uma nova edição de uma obra de Frantz Fanon, atividades para crianças, música, debates, dança e teatro: são estas as atividades que fazem parte do programa desta mostra, que tem como objetivos principais (i) contribuir para a promoção e valorização das culturas africanas e afrodescendentes; (ii) dar visibilidade aos trabalhos das/os criadoras/es participantes; e (iii) promover o debate em torno de questões ligadas à cultura, afrodescendência, racismo e colonialismo.

 PROGRAMA 

DURANTE TODO O EVENTO 

Exposição de artes plásticas e visuais: 

Chantal James (fotografia), Darsy Fernandes (ilustração), Domingas Ambriz, D'Son Pereira, Eduardo Malé, Gutemberg Coelho, Márcio Bahia, Mário Gerson Garcia, Sidney Cerqueira (pintura).

Bancas de venda:

Cassula (vestuário), Literaturas Afrikanas (literatura africana / afrodescendente), Macalongo - Capulana (manualidades e acessórios), Minouche (acessórios), Nina Manualidades (bonecas e acessórios) 

 SEXTA, 15 DE DEZEMBRO 

14h00: Abertura de portas 
18h30: Inauguração / boas-vindas 
18h45: Performance de dança 
19h00: Apresentação da nova edição, pela Letra Livre, do livro “Pele Negra, Máscaras Brancas”, de Frantz Fanon. Com Manuel dos Santos e Raja Litwinoff.
20h00: Música (DJ Paulo Dias) 
21h00: Fecho 

 SÁBADO, 16 DE DEZEMBRO 

10h00: Abertura de portas 

10h30-13h30: Djass Arte Júnior (atividades para crianças) 
6h00-17h30: Atuação do Grupo do Teatro do Oprimido de Lisboa 

18h00-20h30: Mostra de Cinema Afrodescendente.

 Sessão 1: curtas-metragens + conversa com realizadoras/es, com moderação de Kitty Furtado Filmes: “Até Chá Virar Café” (Celso Rosa); “Relatos de uma Rapariga Nada Púdica” (Lolo Arziki); “Si Destinu” (Vanessa Fernandes); “E Agora Pessoa?” (Lubanzadyo Mpemba); “Bastien” (Welket Bungué). 
Mamadu Baio, 21/1/2014, em casa do nosso editor.
Almoçámos  ontem na Praia da Areia Branca...
O Mamadu, a Sílvia,  o Malick, de 3 anos, 
o João Graça, a Alice e eu... Foto: LG

21h00: Concerto de Mamadu Baio (voz e guitarra) & Ibo Galissá (kora) 

 22h00: Fecho 

 DOMINGO, 17 DE DEZEMBRO 

12h00: Abertura de portas 

15h00-17h15: Mostra de Cinema Afrodescendente

Sessão 2: “Nôs Terra”, de Ana Tica, Nuno Pedro e Toni Polo + conversa com a realizadora Ana Tica, com moderação de Beatriz Dias (Djass)

17h30-20h15: Mostra de Cinema Afrodescendente 

Sessão 3: "O Canto do Ossobó", de Silas Tiny, + conversa com o realizador, com moderação de Joacine Katar Moreira.

20h20: Encerramento 


Rua Maria da Fonte, Anjos (freguesia de Arroios), Lisboa (ver no mapa)

HORÁRIO: sexta-feira: 14h00-21h00; sábado: 10h00-22h00; domingo: 12h00-20h20

 ENTRADA LIVRE 

 APOIO: Junta de Freguesia de Arroios 


 MAIS INFORMAÇÕES: Djass - Associação de Afrodescendentes
Tem página no Facebook. | Email: associacao.djass@gmail.com

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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de dezembro de 2017 > Guiné 61/4 - P18057: Agenda cultural (617): o criminalista e antigo inspector-chefe da PJ, Barra da Costa, acaba de lançar o livro "Os crimes de João Brandão: das Beiras ao degredo" (Edições Macaronésia, Ponta Delgada, 2017)