domingo, 14 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18213: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (24): ronco balanta em Cufar, a festa de circuncisão ('fanado') dos rapazes ('blufos')



Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3 


Foto nº 4


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 9



Foto nº 8


Foto nº 10


Foto nº 5

Foto nº 12


Guiné > Região de Tombali >  Cufar > CCAÇ 4740 (1972/74) >  1973 > Ronco balanta, a festa da circuncisão ('fanado') dos rapazes ('blufos')



Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Mais fotos do álbum do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1.º semestre 1973) e, no resto da comissão, comandante do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)

Afinal, o Oliveira ainda esteve umas largas semanas em Cufar com o António Graça de Abreu, do CAOP1 (,  pelo menos desde junho até agosto de 1973), antes de ir, no 2º semestre, para o setor L1 (Bambadinca), comandar o Pel Caç Nat 52 e fechar a guerra...

Durante a sua comissão foi sempre uma apaixonado pela fotografia. A sequência que hoje publicamos, a preto e branco, é notável, retratando um acontecimento que poucos de nós puderam apanhar... Ele chamou-lhe simplesmente "ronco"... Mas trata-se (, e eu confirmei isso com ele ao telefone) da festa da circuncisão ('fanado') dos rapazes ('blufos'), que se passava em três ou quatro momentos e espaços: tabanca (preparativos, anúncio, batuque), bolanha, tabanca,  floresta (cerimónia da circuncisão p.d. e transmissão de saberes) e, mais tarde, o regresso de novo à  tabanca (**)... É pena não podermos legendar com detalhe cada uma das fotos... Este 'fanado' (masculino) era (e continua a ser) um aspeto central da cultura balanta. O médico que estava então em Cufar, um alferes miliciano (Faria, se não erro) tentou que a pequena ciriurgia (ablação dp prepúcio) se realizasse em condições de higiene, segurança e assepsia. Em vão...

2. Veja-se o que diz o dicionário sobre o vocábulo "blufo":

blufo | s. m.
blu·fo
(balanta blufo)
substantivo masculino

1. [Guiné-Bissau] Rapaz não circuncidado.

2. [Guiné-Bissau] Jovem inexperiente.

3. [Guiné-Bissau] Indivíduo considerado estúpido.

4. [Guiné-Bissau] Dança executada na cerimónia de circuncisão.

"blufo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/blufo [consultado em 14-01-2018].
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Notas do editor:


(...) Em 1951, James Pinto Bull, nascido em 1913 em Bolama, funcionário colonial, ao tempo administrador de circunscrição, e com carreira de deputado pela frente, três vezes eleito pelo círculo da Guiné para a Assembleia Nacional, escreve no Boletim Cultural da Guiné um artigo intitulado “Subsídios para o estudo da circuncisão entre os Balantas”.

É uma escrita direta, de pendor marcadamente divulgativo, chama à atenção para o “fanado” e para o modo como os Balantas encaram esta cerimónia religiosa, começando logo por referir que os “grandes” das tabancas apresentam-se com o tradicional “lopé” e trazendo enrolado pelo corpo pedaços de corda, vão à autoridade local pedir autorização para “deitar o fanado”.

Segue-se uma descrição vivacíssima:

“Dada a autorização, rompe imediatamente o tamborilar de um pequeno tambor para levar a nova aos indígenas reunidos nas moranças e com danças alusivas à cerimónia que se vai iniciar, os velhos regressam à tabanca. Toda a noite se ouve o barulho do “ẽbõbor” (tambor grande, anunciando às tabancas distantes a realização do fanado, convidando os jovens a virem alegrar com a sua presença a grande festa. 

"Rompe a aurora e principia a concentração da turba nas proximidades da tabanca onde se realiza o fanado. A falange engrossa rapidamente e os assistentes vão-se aquecendo, não só pela ação do calor que sufoca, mas também pela do álcool. O mestre-cerimónia dá o sinal para se fazer a concentração geral. Começa a marcha e centenas de indígenas lançam-se em correria desenfreada, parecendo à primeira vista que se trata de um ataque guerreiro, pois quase todos os do sexo masculino ostentam espadas e cacetes. 

"O grupo dos futuros circuncisos esforça-se por abrir caminho a fim de se dirigir para o porto ou bolanha mais próximos, onde besuntam o corpo com lama. Em correria louca e entoando cânticos variados, os blufos regressam à tabanca, formando grupos separados, para que cada um possa mostrar o seu valor. Continua nos arredores da tabanca o barulho ensurdecedor dos tambores, misturado com milhares de vozes e com a gritaria infernal dos mais alcoolizados. 

"O sol vai declinando e, enquanto os futuros circuncisos se reúnem na tabanca para tomarem a última refeição ainda como blufos e receberem as mezinhas para os proteger contra os feiticeiros durante a permanência na barraca, a multidão alegra-se cada vez mais, chegando a tomar o aspeto de verdadeira orgia. Todos estão em maior ou menor grau sobre a ação etilisante do álcool”.

(...) “As mulheres e as bajudas estão completamente excitadas sobre a dupla ação do álcool e algumas delas não resistem à tentação de se deixar agarrar pelo blufos que sabem tirar partido destas oportunidades. É que nesse dia tudo é permitido, desde o adultério, que para certos maridos até constitui honra, por verem que as suas mulheres foram muito apreciadas, até a própria violação das bajudas, facto que alguns pais perdoam, não exigindo a costumada reparação material”.

É então que o mestre-cerimónia, velhos e rapazes já circuncidados seguem para a bolanha para que se cumpra a operação. A festa acabou. Os futuros circuncisos já chegaram à bolanha e estão atolados pelo menos até aos joelhos. Vamos regressar ao relato:

“Começa então a operação feita pelo parente mais próximo, a qual consiste no corte do prepúcio, por um ou mais golpes ao contrário do que se sucede nas outras tribos em que o corte tem que ser rápido e com um único golpe. Acaba a operação, os pacientes recolhem-se a um local antecipadamente escolhido, em princípio numa mata próxima da tabanca, e onde é feita previamente uma clareira protegida por uma paliçada. 

"A permanência varia de um a três meses, e enquanto os circuncidados ali permanecerem, as famílias são obrigadas a preparar-lhes as melhores comidas e a confecionar os tradicionais e caprichosos panos de fanado. 

"Terminado o tempo julgado necessário, os circuncisos descem às povoações, formando um único grupo, envolto nos panos do fanado. Cumpridas estas regras, o irresponsável blufo que até vivia em comum com os seus camaradas, adquire todos os direitos e deveres de homem, podendo construir a sua palhota e arranjar mulher para constituir família”.

(...) Uma última nota, James Pinto Bull irá falecer num acidente de helicóptero, em Julho de 1970, faleceram entre outros, José Pedro Pinto Leite, considerado como uma das grandes promessas da Ala Liberal. (...)

Guiné 61/74 - P18212: Convívios (837): 66º encontro da Tabanca do Centro, em Monte Real, 31 de janeiro, 4ª feira: comemoração do 8º aniversário, inscrições até 26, lotação máxima: 90 pessoas (Miguel Pessoa)





Página de rosto da revista 'on line',  mensal,  "Karas de Monte Real", editado pelo nosso camarada e amigo Miguel Pessoa. Edição de dezembro de 2017. 



Excerto do poste de 12 de janeiro de 2018 > P987: vem aí o nosso aniversário...

 Para saber mais ver aqui o blogue da Tabanca do Centro, que é editado pelo nosso camarada e amigo Miguel Pessoa. Régulo da Tabanca: Joaquim Mexia Alves. Email: tabanca.centro@gmail.com.

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Nota do editor:

Último poste da série >  13 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18208: Convívios (836): Já são 62 os ' magníficos' inscritos para o 35º almoço-convívio da Tabanca da Linha, 5ª feira, dia 18, em Algés, no restaurante "Caravela de Ouro". Cinco vêm do Porto, cinco gloriosos "bandalhos"!... O prazo de inscrição termina 2ª feira, 13 (Manuel Resende)

Guiné 61/74 - P18211: Blogpoesia (548): "Rastejante e subtil", "Subindo a montanha", e "Sinfonia dos pardais", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Rastejante e subtil

Como a água,
Rastejante e subtil,
Tudo inunda,
Como o sol.
Ora perto ora distante.
Se impregna.
Corpo e alma.
Bem distintos.
Semi-partes.
Dois destinos.
Dum o chão, a terra e húmus.
Doutro o céu. O além para sempre.
É vida. Energia ardente.
Sarça breve.
Arde e cinza.
Verde, alegre.
Assim desponta.
Flor silvestre.
Fonte pura.
Cardo e espinhos.
Sabor a mel.
Clara e escura.
Alada e presa.
Rainha e escrava.
Comboio e barca.
A viagem, mesma.
Partiu e marcha.
Sentido, de ida apenas.
Destino igual.
A todos leva.
Eternidade.

Ouvindo Vespers de Rachmaninov
Berlim, 7 de Janeiro de 2018
8h51m
Jlmg

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Subindo a montanha

Escalada dorida da vida.
Montanha elevada,
Encostas agrestes.
Por vezes suaves.
Desafio constante.
Seguir adiante, sem olhar para trás.
Se alarga o horizonte,
Se torna mais leve,
À medida que sobe.
Umas vezes com ânimo.
Outras, apetecendo parar.
O caminho tem fontes e sombras.
As pedras são bancos.
Mata-se a sede.
O corpo descansa.
A força renasce.
Os cumes lá em cima,
Mais perto do céu,
São leves e longos.
Atraem e chamam.
Prometem esperança e sossego.
Dá para correr e sonhar.
Depois, quando a saudade apertar,
Por um lado ou pelo outro,
É sempre a descer…

Berlim, 8 de Janeiro de 2018
Dia de sol - está tudo gelado
Jlmg

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Sinfonia dos pardais

Poisam nos fios ao de leve.
Como as notas numa pauta.
Como enxames pelas ramagens,
Soltam brados e orações.
Cantam breves as suas preces.
Trinam cantos, entoam sons.
Parecem choro, parecem hinos.
Ora em coro, ora sózinhos.
Não têm escola.
É inata a sua arte.
Melodia universal.
Jorra pura e cristalina.
Brilha ao sol e silva ao vento.
A candura terna duma flauta.
Suave encanto dum violino.
São alegres, rapioqueiros.
Assustadiços como a aragem.
Interrompem a sua festa.
Desprendidos. Generosos.
Sabem que agradam a toda a gente.
Nunca esperam as nossas palmas.
Em todo o lado são felizes…

Ouvindo sinfonia nº 2 – Oceano de Rubinstein
Berlim, 11 de Janeiro de 2018
6h47m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18184: Blogpoesia (547): "O primeiro poema...", "Começou a viagem", e "Despedida do passado", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18210: O nosso blogue em números (50): visualizações de página por navegador e por sistema operativo... 602 seguidores do blogue; 2630 amigos do Facebook... Comentário do nosso colaborador permanente Hélder Sousa






1. Mais alguns números que podem ter piada, para os nossos leitores e visitantes (*):

(i) Nas visualizações de página, "por navegador", ganham o Chrome e o Firefox, cada um com 32%. Segue-se, com alguma distância, a Internet (26%)... E, muito mais atrás, o Safari (4%) e outros (6%) (Opera, BingPreview, Mobile Safari, Mobile, GSA, Crhomeframe) (Gráfico 6);

(ii) Nas visualizações de página,  "por sistema operativo", o Windows aparece destacadíssimo (80%)... Abaixo de 10%, temos o Macintosh (6%), Linux (4%) e o Android (4%) (Gráfico 7).


Comparando com o ano de 2014, constatava-se que (**):

(iii) por navegador, o Internet Explorer ia à frente (38%), seguido do Chrome (28%) e do Firefox (22%); os restantes juntos somavam 12% do total dos visitantes;

(iv) por sistema operativo, o Windows  era então )como continua a ser) o rei e o senhor (82%), destacadíssimo da concorrência: McIntosh (6%), Linux (5%) e outros (7%).


2. Temos 602 seguidores do nosso blogue.  E o Facebook da Tabanca Grande Luís Graça atinge, neste momento, a cifra dos 2630 "amigos".

O nº de amigos "facebook...eiros" era de 1638, em finais de 2014 (, mais 300 do que em 2013).  Em três anos subiram para 2630.

Recorde-se que a nossa página no Facebook nasceu em janeiro de 2011. E uma página "aberta" a todos ou quase todos os que nos pedem "amizade".

Temos, contudo, dado preferência, em termos de resposta a esses pedidos, aos antigos combatentes da guerra colonial (Angola, Guiné, Moçambique...), mas nem todos os amigos do Facebook têm a ver com a guerra, longe disso, e muito menos com a Guiné.

É bom também lembrar que a nossa página do Facebook, gerida pelos editores Luís Graça e Carlos Vinhal, não se rege pelos mesmos princípios editoriais do blogue. Os amigos do Facebook não são automaticamente membros do blogue. Para esse feito, têm que seguir os mesmos procedimentos: (i) mandar 2 fotos, (ii) ter um email válido (ou disponível, através de um familiar ou amigo); e (iii) apresentar-se aos membros da nossa comunidade virtual a que chamamos Tabanca Grande, escrevendo meia dúzia de linhas, a dizer quem são, por onde andaram, a que unidade pertenceram, etc.

Como temos frisado noutros anos, temos de: 

(i) encontrar uma maneira de articular melhor o blogue e a página do Facebook; 

e (ii) prestar mais atenção às muitas páginas que, sob a forma de blogues, sítios e páginas do Facebook, se abriram nestes últimos anos, individuais ou de grupo, e que são um importantíssimo contributo para o esforço de preservação, proteção e divulgação das memórias dos antigos combatentes da guerra colonial.

3. Comentário do nosso colaborador permanente Hélder Sousa, com data de ontem:

Sem dúvida que isto é notável.

Estes anos todos, com situações que levaram ao 'cansaço' de alguns (lembrei-me de uma parte de um poema que dizia "ouvimos dizer que estás cansado"), com a forte concorrência do Facebook  que convida ao imediatismo e à preguiça mental, com o surgimento de mais locais relacionados com o 'fundo' do nosso Blogue, com muitas mais coisas que 'convidam' à dispersão, a realidade que está por detrás destes números é realmente um caso incontornável.

Devemos fazer do Encontro/Convívio deste ano, em Maio, uma "prova de força e de vontade".
Apelo para que possamos:

(i) comparecer em massa;

(ii) aprofundar a nossa amizade e fraternidade;

(iii) resolver (pelo menos, tentar) algumas "diferenças";

(iv) se possível, dar algum impulso à iniciativa da petição do nosso camarada [Inácio Silva];

(v) enfim, aproveitar a ocasião para entendermos melhor o tempo e a época que vivemos.

sábado, 13 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18209: Fotos à procura de... uma legenda (98): Adivinhem quem vem almoçar à Tabanca da Linha, 5ª feira, dia 18?... Será um grupo coral alentejano? Alguns "meninos da Linha" já se começaram a queixar, ao régulo e seu adjunto, que a Tabanca está-se a tornar numa grande "bandalheira"...


Foto sem legenda: Alguns virão ao 35.º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha (*), dizem-nos... Mas a foto é intrigante e há várias hipóteses de resposta:

a) um grupo coral alentejano junto à Casa do Cante;
b) um grupo excursionista e jantarista da raia espanhola;
c) uma turma da universidade sénior de Freixo Espada à Cinta;
d) um bando de turistas nórdicos fotografados junto ao Padrão dos Descobrimentos, em Belém;
e) fãs do escritor Zé Ferreira de Catió;
f)  os últimos sobreviventes portugueses da batalha de La Lys
g) representantes sindicais dos lenhadores do pinhal de Leiria;
h) delegação dos que viviam "para lá do Marão" antes da abertura do túnel, e que vieram a Lisboa protestar porque "já não mandam os que lá estão";
i) foliões do Carnaval de Torres Vedras, candidatos ao Panteão Nacional;
j) grupo de ex-combatentes da guerra colonial na véspera de embarque para a Guiné, em viagem de turismo de saudade;
k) os mais jovens frequentadores do café mais velho da cidade;
l) simplesmente um bando de bandalhos... (des)alinhados.

Alguns "meninos da Linha" já se queixaram ao régulo (e seu adjunto) que a Tabanca se  está a tornar numa grande "bandalheira" (**)... A resposta do Jorge Rosales, coadjuvado pelo Manuel Resende, só podia ter sido  a mais politicamente correta possível: "Meninos da Linha, não sejam sulistas e elitistas. A Tabanca quando nasceu, foi para todos!"...

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Guiné 61/74 - P18208: Convívios (836): Já são 62 os ' magníficos' inscritos para o 35º almoço-convívio da Tabanca da Linha, 5ª feira, dia 18, em Algés, no restaurante "Caravela de Ouro". Cinco vêm do Porto, cinco gloriosos "bandalhos"!... O prazo de inscrição termina 2ª feira, 13 (Manuel Resende)


Magnífica Tabanca da Linha > Foto de grupo do 30º  almoço-convívio em 

35.º almoço-convívio > Algés, 5ª feira, dia 18/1/2018 > Lista provisória dos inscritos


Destaque para os cinco "bandalhos", do glorioso Bando do Café Progresso, Porto (régulo: Jorge Teixeira)
1. Mensagem de ontem ao fim da tarde, do nosso régulo Manuel Resende, publicada na página do Facebook da Magnífica Tabanca da Linha (que tem 88 membros registados):

Amigos Magníficos, depois de publicar o convite para o 35.º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, publico a seguir a lista dos já inscritos até este momento. 

Já somos 62. Esperamos chegar a 70. Veremos, pois ainda faltam muitos que não costumam falhar. Qualquer alteração, digam.

Manuel Resende


2. Informações:

Preço por boca - 20 "morteiradas"  (crianças dos 5 aos 10 anos pagam metade)
Restaurante "Caravela de Ouro"

Localização:
Alameda Hermano Patrone, 1495 Algés (Jardim de Algés, junto à marginal)

Inscrições até às 24 horas do dia 15, 2ª feira,  para os régulos:

Jorge Rosales 914 421 882 - jorge.v.rosales@gmail.com

Manuel Resende 919 458 210 - manuel.resende8@gmail.com

ou dizendo "vou" ao convite do Facebook no nosso grupo.
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Nota do editor:

Último poste da série >  > 9 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18194: Convívios (835): Vai realizar-se no próximo dia 18 de Janeiro mais um convívio da Magnífica Tabanca da Linha, no Restaurante "Caravela de Ouro", em Algés (Manuel Resende)

Guiné 61/74 - P18207: Os nossos seres, saberes e lazeres (248): À sombra de um vulcão adormecido (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 1 de Novembro de 2017:

Queridos amigos,
Estadia mais frutuosa não podia haver. Amigo há várias décadas de Mário Reis, o combativo secretário-geral da ACRA - Associações dos Consumidores da Região Açores, recebi com ambas as mãos o convite que me endereçou para passar um tempo numa casa de família, no Vale das Furnas. Dali só saí para ir a Ponta Delgada visitar uma comadre e fazer uma brevíssima romagem de saudade por alguns dos locais frequentados 50 anos atrás.
Apanhei bom e mau tempo, sol e neblina, os calores de várias estações do ano, o importante era uma varanda vidrada com vista para os prados e para as cumeeiras, acrescentando-se o mugir das vacas ao quadro bucólico. E fica-se naquela varanda a contemplar um quadro de uma região que é, toda ela, um geoparque, uma preciosidade nascida de um acidente vulcânico habitado por povoadores que adubaram o misticismo e a curiosidade de conhecer mundo, basta pensar em Antero de Quental e Bento de Góis, o importante missionário que chegou à China.
Nunca dá para cansar o deslumbramento açoriano.

Um abraço do
Mário


À sombra de um vulcão adormecido (3)

Beja Santos

O viandante chegou em Outubro de 1967 a esta terra abençoada pela bagacina e pedra vulcânica. Muito se surpreendeu pelas estradas flanqueadas por plátanos, perguntou a alguém que planta era aquela que se espalhava pelos declives, aprendeu o que era a conteira, uma infestante. Numa fase mais adiantada de iniciação açoriana aprendeu a distinguir a criptoméria. E se aqui se fixa camélias amarelas, em pleno Outubro, depois habitou-se a vê-las pelo Outono a desabrochar em tons vermelhos e brancos, é porque se manteve incrédulo, visto à distância até lhe parecia hibisco, valha-nos a ignorância, mas é assim que se aprende. Camélias a receber-me no Vale das Furnas!



Era 19 de Outubro, data de nascimento da filha mais nova do viandante, falecida em 2009. Entrou na igreja de Nossa Senhora da Alegria para fazer as suas encomendas, apontando-as às estrelas. É nisto que dá de face com este vitral, a exaltação do nascimento, calou-lhe fundo a associação imaginada, nesta e noutras coisas o viandante é pouco virado para os milagres, visões a aparições, embora acredite que é possível receber sinais. Haja alegria!



Estamos agora na Poça de D. Beija, apresentada como espaço de correio e de relaxamento, tendo mesmo uma mística especial. O que para o caso interessa é o deslumbramento da água férrea, fluído contínuo, sabe bem estar em decúbito dentro de águas a uma temperatura média de 39 graus, encostar a coluna à torrente, um arremedo de talassoterapia, assim se passam as horas e o corpo agradece. Repare-se na segunda imagem duas hidrângeas em flor, como se contempla assim a água em cascata.


Já se tirou esta fotografia, largos meses atrás, na primeira viagem comemorativa do cinquentenário do achamento de S. Miguel. Desta feita até se conversou com a proprietária do estabelecimento, ela tem muito orgulho neste espavento de cestos coloridos, tudo à disposição de furnenses e turistas, é uma bela atração vegetal, ali a escassos centímetros daquele belo pavimento de pedra acinzentada, não acham?



Um tanto a despropósito, quer recordar-se a quem nos lê que se cumpriu a tradição, comeu-se cozido, aqui nas Furnas tem chancela de monumento nacional. As coisas passam-se assim: as panelas que resguardam as carnes e os vegetais do cozido são ensacadas e enterradas em solo geotérmico, segue-se uma cozedura de cerca de 5 horas, e o resultado é um cozido totalmente distinto do que se come no continente. Mas não se vai agora falar em cracas, nem nos bifes, nem nos filetes de abrótea, nem nas alcatras de peixe, nem nas queijadas, quanto muito deixa-se uma referência ao bolo lêvedo, daqui originário, um bolinho preparado na sertã, uma delícia com compota ou manteiga. Voltemos à natureza. O que aqui se vê é o que é possível ver do jardim da D. Beatriz do Canto que no século XIX era conhecido por Parque das Murtas, localiza-se junto do leito da Ribeira das Murtas. O parque é visitável em Agosto, ao todo 3,7 hectares. Isto que se mostra é o que se pode ver fora de Agosto. É muito pouco mas é muito belo.



As caldeiras merecem uma visita obrigatória, não há ninguém que não se impressione com estas fumarolas de água fervente, aqui se fez termalismo usando lamas medicinais e águas. É ponto obrigatório, tal como as caldeiras da Lagoa das Furnas, nesta é que se prepara o cozido. Os turistas que aqui arribam veem um pouco da lagoa, inexplicavelmente não chegam a visitar a Ermida de Nossa Senhora das Vitórias nem a Mata-jardim José do Canto, ao tempo um caso exemplar de empreendedor agrícola, sempre na vanguarda; há passeios pelo Parque Terra Nostra, com abundante flora, com uma espantosa coleção de fetos, conhecido no mundo inteiro pela sua coleção de camélias, rododendros e a flora endémica nativa dos Açores; e finalmente as caldeiras, acreditem que é um passeio incomparável. Por aqui o viandante andou à solta e daqui partiu com a noite escura.


Quem vem ao Vale das Furnas não deve perder a oportunidade de visitar o Observatório Microbiano dos Açores, que se apresenta como um centro de divulgação científica e tecnológica, está instalado no antigo chalé, seguramente que aqui se fazia termalismo, olhe-se para a cor desta banheira e tenham-se ideias positivas que nela emergiram doentes e que imergiram com muito mais conforto. Ninguém deu uma explicação satisfatória ao viandante por que estas termas perderam uso quando no passado tiveram tanto prestígio.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18181: Os nossos seres, saberes e lazeres (247): À sombra de um vulcão adormecido (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18206: Historiografia da presença portuguesa em África (106): O atlas da Guiné, de 1914 (Armando Tavares da Silva)





Guiné > Atlas de 1914 (esboço) > Escala 1/1 milhão


Cortesia do prof Armando Tavares da Silva, nosso grã-tabanqueiro,  autor de “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar (1878-1926)” (Porto: Caminhos Romanos, 2016, 972 pp.)


1. Mensagem de Armando Tavares da Silva, com data de 4 do corrente:

Caro Luís Graça,

O Post P18170 do Grã-Tabanqueiro Cherno Baldé, fez-me apressar o envio da carta da “Província da Guiné”, inserta no Atlas Colonial Português da Comissão de Cartografia do Ministério das Colónias, de 1914. Esta carta, que tem 100 anos, ajuda a conhecer as mudanças que sofreu a toponímica da Guiné.

Para além da imagem de toda a carta (ocupa 2 páginas e tem a dimensão de 43 x 32 cm), envio ainda a mesma carta mas dividida em quatro partes para melhor identificação das povoações.

Uma das povoações que nela figura é Gam Sancó, povoação que não figura nas cartas mais recentes. Esta povoação figurava também nas cartas da Comissão de Cartografia de 1889 e 1906, e ainda no atlas de João Soares (*), que teve várias edições nos anos 1940, e era utilizado no ensino liceal. [...]

 Abraço do

Armando Tavares da Silva

Guiné 61/74 - P18205: Parabéns a você (1374): Maria Ivone Reis, ex-Capitão Enfermeira Paraquedista (1961/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18196: Parabéns a você (1373): Bernardino Parreira, ex-Fur Mil Inf da CCAV 3365 e CCAÇ 16 (Guiné, 1971/73)

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18204: Historiografia da presença portuguesa em África (105): O atlas da Guiné, de João Soares, que teve várias edições nos anos 40 do séc. XX e era usado no ensino liceal (Armando Tavares da Silva)







Guiné > Atlas de João Soares (c. 1940) > Escala: 1/2 milhões. Teve várias edições nos anos 40 e era usado no ensino liceal. 

Cortesia do prof Armando Tavares da Silva, nosso grã-tabanqueiro, especialista da história da Guiné no período que vai de 1878 a 1926, abarcando o essencial das "campanhas de pacificação". 




Capa do livro de Armando Tavares da Silva. “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar (1878-1926)” (Porto: Caminhos Romanos, 2016, 972 pp.)

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18203: Notas de leitura (1031): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (17) (Mário Beja Santos)


Escola Missionária de Bolama


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Outubro de 2017:

Queridos amigos,

Este documento é intencionalmente extenso, não conheço melhor comprovante, relatório tão meticuloso e protesto quase virulento, como este.
Trata-se de responder ao governador do BNU sobre uma alegada revolta de Felupes que ocorreu em Novembro de 1933, fruto da queda de um avião francês, que se presumia ter acontecido na região de Susana. O que aqui se expõe,  demonstra de forma eloquente que era precária a posição portuguesa em toda aquela região, cambiava a violência, não se pagava o imposto de palhota, cortavam-se cabeças por tudo e por nada. É um episódio tão impressionante que o historiador René Pélissier lhe dedicará inusitada atenção, como veremos mais adiante.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (17)

Beja Santos

O ano de 1933 vai ser dominado pela chamada revolta dos Felupes. Em 10 de Novembro desse ano o BNU sede envia o seguinte telegrama:

“Este telegrama é absolutamente confidencial e só poderá ser decifrado pelo gerente devendo na sua ausência ser devolvido indecifrado ao expedidor – telegrafe se o gentio se revoltou – telegrafe se ordem restabelecida quem e como foi sufocada alteração. Telegrafe as notícias que puder pormenorizando. Este telegrama é absolutamente confidencial para toda e qualquer pessoa seja como for a sua categoria.

A 13, por carta talhada, o gerente de Bissau escreve ao governador relativamente à revolta dos Felupes:  

“Há cerca de três meses levantou voo de Dakar, com destino a Ziguinchor, um avião francês tripulado pelo aviador Gatti, acompanhado de um observador.

Por qualquer razão desconhecida – diz-se que fugindo a um tornado, o avião desviou-se da sua rota e presume-se que por falta de gasolina tenha caído em território desta colónia, a uns 40 ou 50 quilómetros da fronteira Norte, na região dos Felupes, área do posto civil de Susana, circunscrição de Canchungo.

O governo francês, supondo que o avião tenha de facto caído nesta região, solicitou do nosso que mandasse proceder às necessárias pesquisas. Diz-se que essas pesquisas foram efetuadas sem resultado. Há 20 dias, pouco mais ou menos, apareceram na área do posto de Susana a mulher do aviador desaparecido e uma outra senhora francesa acompanhadas de um sargento aviador francês e ainda de um outro indivíduo que se dizia comerciante de Dakar, para fazerem, por sua vez, novas pesquisas.

O administrador da circunscrição não consentiu nessas diligências sem autorização superior, e essa equipa francesa foi a Bolama conferenciar com o governador, regressando ao posto de Susana acompanhada pelo ajudante de campo deste.

Em breve começaram a circular boatos sobre o aparecimento de vestígios do avião e dois ou três dias depois seguia também para Susana o Diretor dos Serviços e Negócios Indígenas, Capitão Velez Caroço. Afirma-se que este oficial, depois de iniciadas novas pesquisas, notando certo retraimento do gentio, receando qualquer agressão dos Felupes (gentio da região) que desde sempre se tem mantido mais ou menos rebelde, pagando o imposto positivamente quando e como quer, sem que lhes tenha sido aplicado o corretivo necessário por falta de recursos, cobardia ou desleixo, resolveu de acordo com o governador, não continuar as suas diligências sem se fazer acompanhar de uma pequena força militar.



No dia seguinte ao da ida daqueles oficiais a Bolama, regressaram a Bissau com um pequeno contingente, e daqui partiram de novo para Susana, armados e municiados. Os Felupes receberam-nos hostilmente, travando-se um combate em que morreram dois soldados, ficando vários feridos. O facto foi comunicado ao governador, seguindo imediatamente para o local, com reforços, o Capitão Sinel de Cordes, comandante da polícia. Chegado este a Susana, e posto ao corrente do que se tinha passado, entendeu, e muitíssimo bem, que era preciso castigar energicamente os revoltosos, tanto mais que já o ano passado, na mesma região, tinham cortado a cabeça a cinco soldados, presumindo-se que outro tanto tivessem feito aos tripulantes do avião desaparecido.

O Capitão Sinel de Cortes veio a Bissau conferenciar com o governador, no dia 4 do corrente, e no dia seguinte regressava a Susana com mais reforços, sendo expedidas ordens para de Bolama virem todos os oficiais e soldados disponíveis que aqui chegaram cerca de meia-noite desse dia, seguindo ato contínuo por via marítima para a região revoltada.

Entretanto, era mandado chamar o nosso [, do BNU,] chefe dos contínuos, Bora Sanhá, alferes de 2ª linha, com bons serviços prestados em anteriores campanhas, para se lhe ordenar que organizasse o mais rapidamente possível um grupo de irregulares Fulas, com o fim de coadjuvarem com as tropas regulares na ação decisiva que o momento impunha contra os Felupes. Poucas horas depois, Bora Sanhá escolhia 100 homens da sua confiança, alguns deles seus antigos companheiros de armas, dos 300 que se lhe ofereceram, depois de armados e municiados, embarcaram para Jufunco (povoação revoltada). Ao mesmo tempo, foram expedidas ordens para em Bambadinca serem mobilizados mais 200 irregulares Fulas, também comandados pelo Tenente de 2.ª Linha Bonco Sanhá, primo de Bora, um dos quais foi a Lisboa o ano passado, à Exposição Industrial.

Corriam os mais desencontrados boatos sobre o que se estava a passar com os Felupes. Dizia-se que aos aviadores desaparecidos tinham sido cortadas as cabeças, operação de especial simpatia dos Felupes, para, depois de descarnadas por elas beberem vinho de palma com sangue de galinha, como manda o ritual.

Tinham sido mortos dois soldados nossos e feridos outros, em combate; foram mandados para a região revoltada, todos os soldados disponíveis, 100 ou 120; mobilizaram-se irregulares, etc; mas as autoridades, guardando uma reserva que nada justifica, a nosso ver, informavam que nada se passava de anormal, que se tratava de um simples caso de polícia! O Capitão Sinel de Cortes assumiu o comando de regulares e irregulares, ao tudo cerca de 400 armas e cinco metralhadoras, começando a bater os revoltosos com a energia que o momento impunha. Os revoltosos, porém, batidos mas não derrotados, refugiavam-se entre pântanos de onde era difícil desalojá-los por falta de artilharia, visto estarem fora do alcance das metralhadoras e espingardas, fazendo pequenos ataques de guerrilhas, dizimando dezenas de auxiliares. A região é muito pantanosa e portanto moroso o avanço das nossas forças.

O governador seguiu para o campo de operações, e durante quatro dias estivemos, em Bissau, sem quaisquer notícias. Sua Excelência regressou a esta cidade em 11, à noite, e no dia seguinte, aproveitando o convite que nos fez para irmos falar, tivemos ocasião de trocar impressões sobre o que se passava com os Felupes.

Disse-nos que, apesar das grandes dificuldades de avanço das nossas tropas, o gentio, desalojado, se tinha posto em fuga, sofrendo importantes baixas; resolvera dar por findas as operações, deixando apenas na região uma pequena força para policiamento, visto que os acontecimentos não tinham a gravidade que se lhes atribuía; que se tratava apenas de um caso de polícia, já solucionado, e que se iniciaria uma política de atração do indígena, que se deve ter refugiado no território francês, criando-se para início dessa política, a circunscrição civil de S. Domingos, que abrangerá toda a região dos Felupes.

Ao senhor Ministro das Colónias devem ter sido prestadas outras informações mais claras e precisas, pois nós julgamos saber que a situação de Susana, conquanto não seja grave, é, todavia, um tanto melindrosa. As nossas tropas, à custa de sacrifícios grandes, têm efetivamente avançado e arrasado todas as povoações por onde têm passado, incendiando as palhotas e destruindo as culturas, dizimando os revoltosos sem contudo os derrotar.

A revolta, que teve início na tabanca (povoação indígena) de Jufunco, estendeu-se a outras povoações, como Egino, Bolor e Lala, engrossando, consequentemente, o número dos rebeldes, que a princípio se calculavam entre 1500 a 2000, número que hoje deve ser muito mais elevado, oferecendo mesmo poucas garantias toda a região dos Felupes. 

A ação das nossas tropas está longe, muito longe mesmo, segundo as informações que temos, de se poder considerar decisiva. Ainda nos últimos dias foi assaltada pelos rebeldes uma camioneta que conduzia auxiliares, escapando, por milagre, o condutor do carro; aos outros foi a todos cortada a cabeça e membros, e os troncos decapitados deixados na estrada, alinhados, numa demonstração de ameaça e requintada selvajaria. As cabeças foram levadas para, consoante o uso, servirem de taças.


Bolama- Interior de uma escola

É curioso notar, e convém não esquecer para melhor se poder aquilatar do caso de polícia em questão, que, até hoje, as nossas tropas não conseguiram ver nem uma mulher nem uma criança. Quer isto dizer que o gentio está perfeitamente decidido a tudo e disposto a combater até ao fim. O gado também desapareceu, na sua quase totalidade, o que não é menos significativo. Só por manifesto desconhecimento dos usos e costumes gentílicos se poderá atribuir significado diferente a estes detalhes. O senhor governador, porém, resolveu, e possivelmente com muito acerto, mandar recolher as tropas em operações, deixando na região revoltada, porventura batida mas não derrotada – não é demais frisá-lo – um destacamento de polícia.

Não desejamos comentar esta medida governamental, porque isso não está na nossa índole, nem temos fundamento bastante para considerar desastrosa a ordem de retirada. Não percebemos nada de assuntos militares, nem dos altos problemas de administração ou de política indígena e muito menos de política internacional.

Mas, talvez justamente por isso, permitimo-nos discordar absolutamente – perante V. Exa., nesta carta confidencial –, da atitude assumida pelo senhor governador. A saída das nossas tropas da região revoltada sem ter infligido um exemplar castigo aos revoltosos é desprestigiante e será, necessariamente, mal interpretada pelos vizinhos franceses, que estabeleceram postos militares ao longo da nossa fronteira, guarnecidos por tropas senegalesas rapidamente transportadas para lá em camiões e bicicletas, como fomos informados.

Sabe-se que em Ziguinchor um francês que acompanhou as duas senhoras a que atrás fizemos menção ao referir-se à nossa ação nas pesquisas do avião desaparecido nos alcunhou de cobardes. Talvez tenha sido por isso que o Capitão Sinel de Cordes, calmo e sereno, mas decidido, tivesse tido a intenção de acabar de vez, com a lenda dos Felupes, lenda que tem custado a vida a soldados e auxiliares indígenas”.

Nunca até agora me fora dado ler documento tão contundente e exposição tão pormenorizada de gerente para governador do BNU. Fala-se em vergonha, na arrogância Felupe que no ano anterior tinham feito sofrer um revés na mesma região às nossas tropas, cortando cabeças, era completamente incompreensível deixar os Felupes sem uma punição severa. E o gerente da filial de Bissau recorda ao governador em Lisboa os Bijagós da ilha de Canhabaque e a falta permanente de respeito dos Papéis na ilha de Bissau, os Papéis recusavam-se à reparação das estradas da ilha e à limpeza da cidade mandando fazer este trabalho os Balantas e os Mancanhas, considerados os intrusos do “seu chão”. E mais criticava o governador por não ter acedido à proposta do ministro das Colónias de dispor de dois aviões para acompanhar as operações. E assim se despede o gerente de Bissau:

“O efeito moral seria ótimo, sendo esta a melhor forma de mostrar aos franceses que também dispomos dessa arma de guerra”.

Mas não fica por aqui esta saga da revolta dos Felupes, como veremos a seguir.

(Continua)
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Nota do editor

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