A apresentar mensagens correspondentes à consulta "José Matos" + "CCAV 677" ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens
A apresentar mensagens correspondentes à consulta "José Matos" + "CCAV 677" ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3516: Em busca de... (54): Companheiros da CCAV 677/BCAÇ 599 (Resultados) (Santos Oliveira)

Texto cronológico elaborado por Santos Oliveira, a pedido do editor CV.

1. Mensagem original de José Matos, com data de 21 de Novembro de 2008

Caro Luis Graça

O meu pai (José Matos) esteve na Guiné em 1964-66 na Companhia de Cavalaria n.º 677; Batalhão de Caçadores n.º 599. Era Furriel Miliciano e gostava de saber de colegas que estiveram com ele nessa Unidade e que o conheceram. Será que podia publicar este post no blogue?

José Matos


2. Mensagem dos editores para a tertúlia em 23 de Novembro

Caros camaradas
Mais um pedido de um filho de um nosso camarada que quer saber onde param os seus companheiros da CCAV 677/BCAV 599 (*), que esteve na Guiné entre 1964/66.

Se alguém tiver uma pista, pode-a mandar directamente ao José Matos ou para nós.

Muito obrigado e continuação de bom Domingo.

Um abraço do
Carlos Vinhal

(*) Por lapso escrevi BCAV 599, quando devia escrever BCAÇ 599


3. Mensagem do tertuliano Afonso Sousa para Santos Oliveira, no mesmo dia

O Santos Oliveira talvez possa ajudar!

Um abraço


4. Mensagem do nosso camarada Mário Bravo com data de 23 de Novembro de 2008

Meu Caro
Estive na Guiné, entre Novembro de 1971 e Setembro de 1973. Por esta razão não possuo qualquer tipo de informação.

Cumprimenta
Mário Bravo


5. Mensagem de Santos Oliveira para os editores, com conhecimento a José Matos

Camaradas

A Comp.ª Cav 677 esteve colocada em S. João e foi Comandada pelo Cap Pato Anselmo, depois pelo Alf Ranito e finalmente pelo Cap Fonseca.

Vou tentar descobrir os seus nomes completos e o de outros Camaradas a fim de poder estabelecer contactos.

Darei notícias em breve.

Abraço
Santos Oliveira

Nota: Rectificação de nomes dos CMDTS: Capitão António Luis Monteiro Graça (agora Coronel) regressado por doença, teve como CMDT Interino O Alf Ranito Baltazar, que o foi até à chegada do Cap Eurico António Sacavém Fonseca (agora Coronel).


6. Mensagem do tertuliano Carlos Silva para os editores

Amigo Vinhal

Contacta o Santos Oliveira, porque ele deve ter estado com o Zé Matos e conhece muita malta do BCaç 599 e BCaç 1860

Um abraço
Carlos Silva


7. Mensagem resposta de CV

Obrigado Carlos
O Santos Oliveira já se disponibilizou para estabelecer contactos.
Sois umas máquinas.

Obrigado
Carlos


8. Mensagem de CV para Santos Oliveira

Camarada
Por favor faz um registo das mensagens subsequentes para termos um dossiê para futura publicação. Eu vou tentar fazer o mesmo, mas é melhor dois que um.

Um abraço e bom Domingo
Carlos Vinhal


9. Mensagem de CV para Santos Oliveira, dando conhecimento de uma mensagem do nosso amigo tertuliano Abreu dos Santos.

Caro SO
Para o teu dossiê.

Um ab
Carlos Vinhal

Mensagem original de Abreu dos Santos

Boa noite, Carlos Vinhal,

A CCav 677, subunidade independente mobilizada pelo RC7-Ajuda (embarque 08Mai64 [salvo erro, no "Ana Mafalda" (*)], desembarque 13Mai64), no dia seguinte à chegada foi colocada em Tite «na função de intervenção e reserva» do BCaç 599 [por lapso, no v/P3504 referido como BCav 599]. Foi seu primeiro comandante, o capitão de cavalaria António Luís Monteiro da Graça*; em 24Abr65 ficou aquartelada em São João, passando em Set65 a reportar ao BCaç 1860 (recém-chegado a Tite); foi seu segundo comandante o capitão de cavalaria Eurico António Sacavém da Fonseca. E em 26Abr66 embarcou em Bissau de regresso a Lisboa [salvo erro, no "Carvalho Araújo" (*)].

Em 24Abr94, decorreu em Tondela o 3.º Convívio daquela CCav, à qual pertenceram: FERNANDO SILVA, residente em COIMBRA; ORLANDO OLIVEIRA, residente no Porto; e JOSÉ FRANKLIN COIMBRA ALMEIDA, (endereço e contacto desconhecidos).

Cumprimentos,
Abreu dos Santos

* (autor de «Vem Comigo à Guerra do Ultramar», ed. 2007; vd http://lanceiromor.googlepages.com/vemcomigo%C3%A0guerradoultramar)


Resposta de CV

Caro Abreu dos Santos
Muito obrigado pela sua ajuda, sempre oportuna e esclarecedora. Fui induzido em erro, pois associei, sem verificar, uma CCAV a um BCAV.
Vou proceder à urgente e devida correcção.
Obrigado também pelo resumo da CCAV 677 e informação sobre o livro do Coronel António Luís Monteiro da Graça.

Receba um abraço
Carlos Vinhal
2008/11/23



10. Mensagem de José Matos para Santos Oliveira

Caro Santos Oliveira

Confirmo os dados que enviou. De facto, a sua descrição é precisa. O meu pai deixou um vasto arquivo fotográfico desses tempos, que poderei partilhar. Gostava, no entanto, de contactar pessoas que o conheceram pessoalmente, porque não tenho muita informação desse período da vida dele e ele também não falava muito disso.. Mas enfim agradeço toda a informação que possa prestar. Resido na zona de Aveiro e não sei se não haverá nenhum camarada desse tempo por aqui...

Um abraço
José Matos

11. Mensagem do dia 24 de Novembro do nosso camarada José Martins:

Caros camaradas

Seguem elementos solicitados em 21/11/2008

Companhia de Cavalaria 677
Unidade Mobilizadora: Regimento de Cavalaria 7 – Lisboa
Embarque: 08Maio64
Desembarque: 13Mai64
Regresso: 26Abr66

Comandantes:
Capitão Cavalaria António Luís Monteiro da Graça
Capitão Cavalaria Eurico António Sacavém da Fonseca

É colocada em Tite com a função de intervenção e reserva do Batalhão de Caçadores 599 em 14Mai64, com um pelotão destacado em Fulacunda.
Realizou operações nas regiões de Jufá, Bária, Budugo, Gamol, Jabadá e Brandão, e destacou pelotões para reforço das guarnições de Jabadá e Enxudé.
Assumiu, em 24Abr65, a responsabilidade do subsector de S. João.
Voltou a Tite em 06Abr, seguindo para Bissau para efectuar o regresso.


12. Mensagem de Santos Oliveira do dia 24 de Novembro para José Matos, com conhecimento aos editores

Caro José Matos

Pelo carácter de urgência que é custo da colaboração, solicitam-se os seus Endereços (postal e telefónico), dado que os Camaradas José Franklin e Fernando Rodrigues assim o solicitam; sabem que o Fur Mil José Matos, seu pai, já faleceu e é (era) de Estarreja. Lembram-se bem dele e contam que era muito divertido. Um dos episódios era que colocava uma bandeira dentro do copo do vinho e dizia que era para Portugal esquecer a Guerra em que se meteu.
Já tiveram o seu Encontro deste ano e sabem que o próximo se vai realizar em Fátima, em data a determinar, mas pensam que vai coincidir com um dos feriados de Junho. Os próximos Organizadores já estão identificados. Um deles é, precisamente o Orlando Oliveira, com quem está combinado falar logo à noite e sendo que o 2.º é Fur Mil António Correia Rodrigues, a quem irei contactar pela noite.

Nada mais, no momento, a não ser aguardar os elementos solicitados a fim de serem transmitidos ao conjunto dos interessados.

Abraço solidário, do
Santos Oliveira


13. Caro Matos

Tenho na minha lista nomes de dois Camaradas que mais ou menos habitualmente nos honram com sua presença nos Almoços do BCaç 599.

São eles:
Fernando Rodrigues da Silva e José Franklin Coimbra Almeida

Entretanto foi-me facultado via Mail mais o nome de Orlando Oliveira (abrev), que é Orlando A.Barbosa Oliveira

Todos pertencem à CCav 677, que, como já o disse, esteve em S. João, sob a dependência Operacional de TITE, inicialmente com o BCaç 599 (tal como eu) e depois havendo transitado para o BCaç 1860.

Já agora um esclarecimento para a minha curiosidade: o senhor seu Pai está vivo e de boa saúde, ou já nos deixou como se depreende?

Entretanto, sobre a disponibilidade que tem com os Documentos e Fotos do seu Pai, não fui mandatado para tal, mas sei que o Blogue teria muita honra em recebê-los se os puder partilhar. Por isto, o meu obrigado.

Acerca do assunto principal, creio poder dar mais informações nos próximos dias. Um pouco mais de paciência.

Um Abraço solidário, do
Santos Oliveira


14. Comentário de Santos Oliveira inserido na mensagem anterior

Por esta sequência o que foi colhido e escrito acerca da busca dos Camaradas do falecido Fur Mil José Augusto de Matos.

Foram agora estabelecidos contactos telefónicos vários de que destaco o do 1.º Cabo Escriturário Orlando Oliveira que prestou todos os esclarecimentos à minha solicitação; só não possuia a Lista dos Camaradas que havia sido passada ao Fur Mil António Correia Rodrigues.

Contactado, deixou vir ao de cima toda a velha Camaradagem (até dá saudades!!!) e prontificou-se, a seu tempo, a fornecer a Lista de quantos têm estado presentes nos seus Convívios, manifestando , inclusive, vontade de que estivessemos presentes já no próximo, que se irá realizar em Fátima, ainda sem certezas na data, mas com a previsão de 7 de Junho de 2009.

Esta mensagem irá ter a sua transmissão simultânea e não encerra o caso até que o Filho do Nosso Camarada José Augusto de Matos, de Salreu-Estarreja, assim o dê por terminado. Ainda haverá muito caminho a percorrer, não só com as Histórias de transmissão oral, como com as fotos ou outros docimentos, que venham a ocupar o lugar no Blogue que seria o do seu Pai.

Um abraço sincero e os votos das maiores venturas, do
Santos Oliveira


15. Mensagem de José Matos para Santos Oliveira em 24 de Novembro

Caro Santos Oliveira

Obrigado por todo o empenho nesta questão e pela rapidez que fez os contactos. De facto, o meu pai já faleceu há muito tempo, mais precisamente há 20 anos, mas teria todo o gosto em falar com os tais colegas dele, pois interesso-me pelo assunto e gostaria também de partilhar o espólio fotográfico que o meu pai deixou, como também ouvir as histórias desse tempo.

Dessa forma envio então o meu contacto. Podem também contactar-me por mail.

Um abraço
José Matos


16. Mensagem de Santos Oliveira para os editores do Blogue com data de 25 de Novembro.

Vinhal
Imediatamente após o envio do Doc da cronologia da busca, recebi resposta ao Mail de pedido de contactos.

Liguei de imediato ao José Matos, falamos longamente (até cerca da meia-noite) e notei a ansiedade do nosso novo amigo. Não sabendo quais as condições para o ingresso de filhos de camaradas, omiti o assunto, mas renovei o pedido de que pudessemos obter fotos e outros documentos que pudesse e quisesse disponibilizar.

Ficou combinado que sim. Se houver que dizer algo mais acerca do assunto aqui passo a iniciativa para o Blogue.

Vou ter que regularizar os contactos do José Matos, conforme ficou combinado com os antigos camaradas do seu Pai e por manifesto desejo deles. Praticamente, além da listagem que o camarada António Correia Rodrigues irá enviar em devido tempo, fica completa esta missão.


17. Comentário de CV

Mais uma vez ficou demonstrada a solidariedade entre os terulianos da nossa Tabanca Grande e os filhos dos camaradas que nos solicitam apoio.

No título deste poste faço só referência ao Santos Oliveira, porque foi ele que mais uma vez tomou a iniciativa de proceder a buscas e a realizar os contactos conducentes a encontrar os camaradas do José Matos (pai), combatente da CCAV 677, que infelizmente faleceu já há cerca de 20 anos.

Como já não é a primeira vez que o Oliveira actua desta forma, pedi-lhe para elaborar um dossiê com a troca de mensagens, para publicação, quando houvesse resultados.

Temos que lhe deixar um agradecimento público pelo seu trabalho, feito quase no anonimato, investigando, telefonando, enviando mensagens e, sempre dando conhecimento aos editores e aos interessados.

Não podemos contudo deixar de lembrar os outros camaradas intervenientes neste poste, a saber Abreu dos Santos (Tertuliano sempre atento e oportuno nas suas críticas) Afonso Sousa (sempre disponível para ajudar), Carlos Silva, José Martins (outro dos nossos indefectíveis colaboradores que já devia ter um estatuto especial no nosso Blogue)e Mário Silva (o nosso médico do Porto).

A todos o nosso muito obrigado, e ao José Matos (filho) as maiores venturas no encontro dos camaradas de seu pai.
_______________

Notas de CV:

- Foram omitidos na edição, os números telefónicos, endereços electrónicos e endereços postais das pessoas contactadas ou a contactar. Estes elementos chegaram ao conhecimento dos interessados.

Vd. poste de 23 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3504: Em busca de... (53): Companheiros da CCAV 677/BCAÇ 599, Guiné, 1964/66 (José Matos)

(*) Em tempo

De acordo com informações prestadas pelo nosso camarada António Rodrigues, a CCAV 677 foi para a Guiné e regressou, no navio UÍGE.

sexta-feira, 17 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24149: Em busca de... (319): Camaradas do combatente Avelino da Silva Pereira da CCAV 677/BCAÇ 599, natural de Penude - Lamego - e de um exemplar do livro “Vem comigo à guerra do Ultramar”, escrito pelo Coronel António Luís Monteiro da Graça, CMDT da CCAV 677

1. Mensagem de 13 de Março de 2022 das nossas amigas Fátima Soledade e Fátima Silva, ambas filhas de antigos combatentes da guerra do ultramar, procurando camaradas do combatente Avelino Pereira, da CCAV 677:

Boa noite, Carlos Vinhal
Espero que se encontre bem de saúde.

Ontem, estivemos em contacto com o antigo combatente, ferido na Guiné, Avelino da Silva Pereira, de Penude, Lamego. Esteve integrado na Companhia de Cavalaria 677 do Batalhão de Caçadores 599.

O seu capitão foi o célebre Monteiro Graça (Coronel de Cavalaria António Luís Monteiro da Graça,
(n
a foto à direita)falecido em 2014.

Sabemos que este Coronel escreveu as suas memórias num livro intitulado “Vem comigo à guerra do Ultramar” que, com certeza, poderia ajudar a esclarecer alguns episódios referidos pelo antigo combatente.

Sabemos que a publicação foi da responsabilidade do autor, por isso foi limitada a alguns exemplares. O seu amigo João Sena foi presenteado com um exemplar.

Será que conhece alguém que o tenha e nos faculte informação do mesmo, relativa ao período do desembarque em Bissau, 13 de maio de 1964 a 24 de junho/julho de 1964, altura em que o nosso conhecido foi ferido?

Mas também localizamos no vosso blogue, o filho de um furriel miliciano dessa companhia, José Matos. Talvez nos pudesse com algum registo que o pai deixasse (fotografias, …). O nosso conhecido não tem quaisquer registos fotográficos, nunca esteve em convívios, mas é associado da Liga dos Combatentes de Lamego.

Se nos pudessem ajudar a localizar um antigo combatente dessa companhia, gostaríamos muito de o contactar.

Muito gratas,
Fátima Soledade e Fátima Silva

____________

Notas do editor:

- Sobre o livro "Vem Comigo à Guerra do Ultramar", de António Luís Monteiro da Graça, Combatente do Ultramar, ver aqui a recensão de Mário Beja Santos: Guiné 63/74 - P11399: Notas de leitura (472): Vem Comigo à Guerra do Ultramar, pelo Coronel António Luís Monteiro da Graça (Mário Beja Santos), de 15 de Abril de 2013.

- O filho do nosso camarada José Matos, ex-Fur Mil da CCAV 677, é o nosso tertuliano José Matos, investigador em História Militar, que no nosso blogue tem já uma extensa colaboração.
As nossas amigas Fátimas e o Dr. José Matos já estabeleceram contacto telefónico.

- Ver aqui a apresentação de José Matos à tertúlia: Guiné 63/74 - P15080: Tabanca Grande (472): José Matos, investigador independente em história militar, filho do nosso falecido camarada José Matos, fur mil da CCAV 677 (Fulacunda, São João e TIte, 1964/66)... Novo grã-tabanqueiro nº 701, de 7 de Setembro de 2015

- Último poste da série de 13 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23877: Em busca de... (318): Fernando José Machado Gouveia (1945-2022), ex-militar da FAP, que passou pelo CTIG; era natural de (ou morador em) Crato, distrito de Portalegre... Sobrinha procura antigos camaradas

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15080: Tabanca Grande (472): José Matos, investigador independente em história militar, filho do nosso falecido camarada José Matos, fur mil da CCAV 677 (Fulacunda, São João e TIte, 1964/66)... Novo grã-tabanqueiro nº 701

1. Mensagem enviada ontem ao José Matos, na sequência do poste  P15077 (*) 

José:  Convite aceite? Posso por o seu nome na coluna do lado esquerdo do blogue, na lista alfabética, de A a Z,  dos "amigos e camaradas" da Guiné?

Vamos naturalmente publicar, mais à frente, o outro artigo, que escreveu em coautoria com o nosso conhecido Matt [Matthew] Hurley, A arma que mudou a guerra", e que também saiu na Revista NMilitar, nº 2553,outubro de 2014, pp. 893-907 (2014).

Sou contemporâneo da Op Mar Verde, em 22/11/1970... Vi os comandos africanos chegarem ao Xime e a Bambadinca, depois do regresso de Conacri... Começámos a dar conta do risco sério de escalada da guerra (Strela, MiG, blindados...). Regressei em março de 1971... Mas 4 dias depois da invasão de Conacri apanhei uma brutal emboscada, com cubanos a enquadrarem a guerrilha... Tivemos 6 mortos e 9 feridos graves, na Op Abencerragem Candente... Isto, em pleno coração da Guiné...

Boa noite para si.. (ou para ti, que na Tabanca Grande, tratamo-nos todos por tu, os camaradas... e os filhos dos camaradas)...

Abração.
Luís


2. Resposta pronta do José Matos, que passa a ser o grã-tabanqueiro nº 701:

Ok,  Luís.

Sim, podes meter o meu nome na coluna da esquerda... não há problema... Tenho feito muita investigação à volta da Guiné e mais novidades vão surgir na RM  [Revista Militar]. no futuro...
Já tenho um outro artigo alinhado sobre o início da guerra na Guiné, que vai sair no futuro e estou agora a trabalhar numa coisa sobre o fim da guerra muito interessante, com o seguinte título: "O fim da guerra na Guiné: dúvidas e factos."

Portanto, à medida que for publicando tenho todo o gosto que o blogue divulge...

Não estou a pensar escrever nada sobre a [Operação]  Mar Verde, porque o [Luís] Marinho já escreveu muita coisa naquele livro de 2005 sobre o tema, portanto é um assunto já explorado... e o meu objectivo é trazer coisas novas à luz dia e não falar de coisas que outros já falaram...

Mas vamos falando... Olha, só uma pequena correcção o meu pai morreu em 1987 e não em 98, morreu novo tinha 45 anos, deu-lhe um AVC que foi fatal... Ele tem dois álbuns de fotos engraçadas da Guiné, e eu arranjei material sobre o Batalhão dele, mas é um tema muito específico, não está nos meus planos publicar nada... agora poderei partilhar algumas fotos, quando calhar...

Abração
José Matos



3.  Sobre o José [Augusto] Matos:

(i)é filho de um camarada nosso, José Matos,  ex-fur mil,  CCAV 677, Fulacunda, S. João e Tite, 1964/66), já falecido em 1987, aos 45 anos;

(ii) vive na região de Aveiro;:

(iii) e investigador independente em história militar, tem feito investigação sobre as operações da Força Aérea na Guerra Colonial, principalmente na Guiné;

(iv) é colaborador da revista Mais Alto, da Força Aérea Portuguesa, e tem publicado também o seu trabalho em revistas europeias, em França, Inglaterra e Itália.

Da CCAV 677, camarada do pai do José Matos, temos, na Tabanca Grande, o António Correia Rodrigues, também fur mil

A CCAV 677, mobilizada pelo RC 7 (Lisboa),  embarcou  em 8/5/1964, chegou a Bissau em 13/5/1964 e regressou à metrópole em 26/4/1966. Foi colocada em Tite com a função de intervenção e reserva do BCAÇ 599 em 14/5/1964, com um pelotão destacado em Fulacunda.

Realizou operações nas regiões de Jufá, Bária, Budugo, Gamol, Jabadá e Brandão, e destacou pelotões para reforço das guarnições de Jabadá e Enxudé. Assumiu, em 24/4/1965, a responsabilidade do subsetor de S. João. Voltou a Tite em 6/4/1966, seguindo para Bissau para efetuar o regresso. Há um livro escrito, com histórias da companhia, da autoria do então capitão António Luís Monteiro da Graça.

O Cap Cav Pato Anselmo foi outro dos comandantes da companhia, segundo informação do nosso camarada Santos Oliveira, contemporâneo do José Matos (pai).
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15077: FAP (84): a ameaça dos MiG na guerra da Guiné (José Matos, Revista Militar, nº 2559, abril de 2015) - Parte I

domingo, 23 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3504: Em busca de... (53): Companheiros da CCAV 677/BCAÇ 599, Guiné, 1964/66 (José Matos)

1. Mensagem de José Matos com data de 21 de Novembro de 2008, querendo saber dos companheiros de seu pai, o nosso camarada de nome também José Matos.

Caro Luis Graça

O meu pai (José Matos) esteve na Guiné em 1964-66 na Companhia de Cavalaria n.º 677; Batalhão de Caçadores n.º 599. Era Furriel Miliciano e gostava de saber de colegas que estiveram com ele nessa Unidade e que o conheceram.
Será que podia publicar este post no blogue?

José Matos


2. Em 23 de Novembro foi emitida a seguinte mensagem à tertúlia:

Caros camaradas
Mais um pedido de um filho de um nosso camarada que quer saber onde param os seus companheiros da CCAV 677/BCAÇ 599, que esteve na Guiné entre 1964/66.

Se alguém tiver uma pista, pode-a mandar directamente ao José Matos ou para o nosso Blogue.

Muito obrigado e continuação de bom Domingo.

Um abraço do
Carlos Vinhal

3. Comentário de CV

Este apelo do nosso camarada José matos é extensivo a todos os nossos leitores, pelo que qualquer informação deve ser dirigida a ele ou a nós.
_____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3473: Em busca de... (52): Ernesto, balanta de Bula, lançador de roquetes... (António Matos)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2820: Aqueles que nem no caixão regressaram (1): O Sold António Alves Maria da Silva, campa nº 247, Bissau (Virgínio Briote)

1. Comentário do Virgínio Briote, nosso co-editor, ex-Alf Mil Comando, ao poste P2811 (1):


O Soldado António Alves Maria da Silva (campa nº 247, Cemitério Municipal de Bissau, Talhão militar português) morreu atingido por uma bala no peito, durante a Op Hermínia, o 1º helitransporte de assalto na Guiné, realizado na zona de Jabadá, em 6 de Março de 1966, um domingo, se não erro.

Fui eu que, na contingência, lhe prestei os primeiros socorros. Como estava em paragem cardíaca, assistiu-o com o que tinha à mão, naquele momento, a minha boca. Ao inspirar profundamente, entrou-me uma golfada de sangue a "ferver". Esforços inúteis. Os helis, a caminho da BA12, responderam ao pedido de evacuação, e minutos depois estavam em cima de nós. Como havia fogo cruzado, foi-nos pedido que nos aproximásemos de uma zona com maior segurança. Quando um militar nosso lançou uma granada de fumos laranja, o capim alto incendiou-se (quando queríamos que ardesse , raramente era à primeira) e tivemos que andar com o corpo de um lado para o outro até o conseguirmos meter no Allouette 3.

A magnífica equipa de helis (com a qual fizemos várias operações posteriormente) era comandada pelo então major Mendonça e dela fazia parte o Ten Velez Caldas, um piloto que muito estimei.

Procedemos à recolha de fundos e, com algum dinheiro do saco azul, tratamos da trasladação do corpo para a terra dele, Erada, Covilhã.

Nunca vim a saber porque é que os restos mortais do nosso Camarada ainda lá continuam. O António estava no fim da comissão e sinto que tenho a minha quota de culpa por ter transigido aos insistentes pedidos dele em participar naquela que ele disse ser a última operação para se despedir da Guiné.

vb

__________

Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 5 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2811: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (3): De 1966 a 1967 (A. Marques Lopes)

(2) O Soldado Comando António Alves Maria da Silva, oriundo da CCaç 674, havia frequentado com sucesso do 2º Curso de Comandos, do CTIG, em 4 de Setembro de 1965. Pertencia ao Grupo Diabólicos, comandado pelo Alf Mil Cmd Virgínio Briote:



1. Alf V. Briote (CCav 489/BCav 490)
2. 2º Sarg Mário J. Machado Valente (CCS/QG)
3. Fur Caetano Azevedo (CCaç 764)
4. Fur Fernando Marques de Matos (Pel Caç 953)
5. 1º Cabo Carlos Filipe Faria (CCaç 462)
6. Sold Bacar Djassi (CCS/QG) (fuzilado após a Independência)
7. 1º Cabo Mamadu Jaló (Agrup 16) (fuzilado ...)
8. Sold Albino F. Silva (CCS/BCaç 697) +
9. Sold José Vicente Caleiro Júnior (CCS/BCaç 697) +
10. 1º Cabo José Henriques Cristóvão(CCS/BCaç 790)
11. Sold António Jesus da Silva (CCS/Bat.Caç 790)
12. Sold António A. M. Silva (CCaç 674) (morto em combate,Jabadá, 06/03/66)
13. Sold Fernado Simões Moura (CCaç 726)
14. Sold António Amador Caeiro (CCaç 726)
15. Sold Bacar Mané (BAC) (fuzilado após a Independência)
16. 1º Cabo António Rita Domingues (CArt 732) +
17. Sold Álvaro dos Santos (CCav 677)
18. Sold Carlos Alberto S. Roberto (CCav 677)
19. Sold Domingos Lopes (CCav 703)
20. 1º Cabo Casimiro Oliveira Anselmo (CCav 789)
21. Sold José Correia Martins (CCav 789)
22. Sold Joaquim Ventura Esperto (CCav 789)
23. Sold José Feitinha de Matos (CCav 789)
24. Sold Diamantino F. M. Carvalho (CCav 789)
25. Sold José Joaquim Pereira Marques (CCav 678)

Obs.: + já falecidos

terça-feira, 21 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4224: Convívios (116): Pessoal das CCAV 677 e 678, no dia 21 de Junho em Fátima (Santos Oliveira/Rodrigues)

1. Mensagem do nosso camarada e tertuliano Santos Oliveira, ainda em convalescença de um problema de saúde, com data de 18 de Abril de 2009:

Vinhal

O nosso querido Furriel Rodrigues, fez-me chegar este Mail, com o apelo de entreajuda e divulgação.
De acordo com as disponibilidades e na oportunidade...

Cá vou "esperando" a dispensa médica para voltar a ver as novidades do Blogue (que já não o serão, pelo menos desde o dia 30 do mês passado) .
Ontem, pelas circunstâncias que conheces, acabou, no final do dia, por ser difícil para mim.
Ainda não estou estabilizado, mas estou com boas esperanças.
... Mas correu tudo muito bem. Só não houve outro alguém que "botasse" faladura. Eu, nesse momento, estava meio bloqueado pela emoção, pelo que nem me atrevi a tal.
Os Camaradas tiraram fotos pelo que vais acabar por ver e saber como tudo se processou.

Abraços, do
Santos Oliveira


2. Mensagem do ex-Fur Mil Rodrigues para Santos Oliveira

Bom dia.

Meu caro Santos Oliveira.
Votos de boa saude.

Embora de relance, tenho visto algo do que tens escrito no blogue.
Tenho imensa pena que, neste momento, não tenha disponibilidade de tempo para poder participar com alguns testemunhos e vivencias.
Ficará para quando me aposentar... porque reformado sou há 7 anos.

Porque vamos ter o nosso encontro no dia 21 de Junho em Fátima, lembrei-me de te pedir se pode ser inserido, como noticia, a carta que segue como anexo, e se podem fazer divulgação. pode ser que apareça sempre algum que veja o blogue. Teremos gospo em receber toda a "malta que nos conheceu em Tite, S. João ou Fulacunda.

Sei que não é possivel, mas precisava de quem me ajudasse a abrir e ver 350 mails que tenho por abrir!...

Um forte abraço do amigo
Rodrigues


Encontro de 2009, das CCav 677 e 678, dia 21 de Junho em Fátima (*)

António Correia Rodrigues
tonicrodrigues@sapo.pt
Avenida Padre Júlio Fragata, 104
4710-413 BRAGA


Braga, 10 de Abril de 2009
Meu caro amigo e camarada das lides da Guiné.

Um forte abraço extensivo a todos os que te são queridos.

Apesar de termos marcado inicialmente o encontro para o dia 7 de Junho, andamos largos dias a tentar informações que poderíamos realizar o mesmo nesse dia. Começamos por ter indícios que nesse dia seriam realizadas as eleições para o Parlamento Europeu, noticia daqui noticia dali, e veio a confirmar-se aquilo que menos desejávamos. As eleições para o Parlamento Europeu, são mesmo a 7 de Junho.

Não fora saber que muitos dos nossos camaradas estão nesse dia, tal como eu, empenhados nas eleições quer como autarcas, quer como elementos das assembleias de voto, e talvez mantivéssemos a data. No entanto, pretendendo que estejam presentes o maior número de elementos da CCav 677/8 alteramos a data para o dia 21 de Junho em Fátima conforme previsto.

Embora fruto do acaso, ou talvez não, recentemente reparamos que neste ano de 2009, mais precisamente a 13 de Maio, faz 45 anos que chegamos à Guiné, e sem nos termos apercebido da coincidência, escolhemos Fátima para o nosso 17.º Encontro.

O Encontro começa com agrupamento, cerca das 10H45, ao fundo do recinto, junto da estátua do Papa João Paulo II.

Daí seguiremos para a participação na Eucaristia das 11 horas, em cuja celebração será referida a nossa presença.

Para os retardatários, haverá novo reagrupamento no final da Eucaristia e no mesmo sítio.

Partiremos para o restaurante D. Nuno Álvares Pereira
Estrada Minde 326
2495-300 FÁTIMA
Tel.: 249 539 041 que fica na estrada para Minde, a cerca de 6 km.

O valor estabelecido é de 25,00€ e comporta já um pequeno contributo para as despesas de organização.

A confirmação para este almoço deverá ser feita até ao dia 10 de Junho para qualquer dos contactos indicados nesta carta.

Porque foi uma boa experiência, quando fomos para Évora de autocarro, também, todos os do Norte, poderão beneficiar desta possibilidade que se traduz em mais economia, maior conforto e mais convívio.

O preço e locais de entrada serão indicados quando fizerem marcação. Terá a sua partida de Braga às 6,45 horas, passará pelo Porto para recolher quem lá pretender entrar, às 7H30.

Deves manifestar desejo de ir no autocarro o mais breve possível, para que possamos saber com o que contar.

Tal como no anterior encontro, não será ofertada qualquer lembrança, as coisas estão negras… Vamos fazer troca de prendas e como sempre, só tem prenda quem trouxer para trocar. O valor não deverá exceder os 2,50€.

Este convite é extensivo a todos os Camaradas da Companhia de Cavalaria 678, nossos convidados em encontros anteriores. Bem-vindos.

Contactos:
Rodrigues
Mail – tonicrodrigues@sapo.pt

Telemóvel 919 717 832
Trabalho 253 262 824
Telefones fixos:
Casa depois das 20 horas: 253 693 615

Manuel Fernandes (2001)
Telemóvel 917 634 474
Telefone casa 253 577 883

Restaurante D. Nuno
Telefone 249 539 040

MAPA DE LOCALIZAÇÃO


__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

1 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3551: Brasões, Guiões ou Crachás (4): CCAÇ 728; CCAÇ 2617; CCAÇ 3566; PEL CAÇ NAT 63; CCAV 677 e CCAÇ 2402 (José Martins)

25 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3516: Em busca de... (54): Companheiros da CCAV 677/BCAÇ 599 (Resultados) (Santos Oliveira)
e
23 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3504: Em busca de... (53): Companheiros da CCAV 677/BCAÇ 599, Guiné, 1964/66 (José Matos)

Vd. último poste da série de 20 de Abril de 200): Guiné 63/74 - P4219: Convívios (113): Pessoal da CCAÇ 3491, no dia 16 de Maio, em São Martinho de Antas, Sabrosa, Vila Real (Luís Dias)

domingo, 10 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1357: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (3): Nem a cruz nem o altar (Mário Dias / Luís Graça)

Guiné > Brá > 1965/66 > Emblema do Grupo de Comandos Diabólicos, do Alf Briote, e a que pertenceu também o então 1º cabo Marcelino da Mata (hoje, cortonel do exército, na reforma, e cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada) (1).

Foto: © Virgínio Briote (2006). Direitos reservados. (Reproduzido do blogue Tantas Vidas, com a devida vénia...).


1. Mensagem do Mário Dias, com data de 9 de Outubro de 2006:

Caro Luis:

Como sabes, conheci e lidei de perto com o Marcelino da Mata, actualmente residente em Queluz e com quem me encontro de vez em quando.

Estou disposto a ajudar a filha dele nesta homenagem tão simpática que ela quer prestar ao pai. Como fazê-lo? Directamente para ela ou através de ti?

Mantenhas.

Mário Dias

2. Resposta de L.G., na volta do correio:

Mário:

És um homem puro e generoso, sem parti-pris... Eu nunca conheci o Marcelino da Mata... Não me sinto juiz de ninguém, nem quero sê-lo, nomeadamente quando estão em causa antigos combatentes da Guiné, como eu... Deformação profissional, sociológica ? É possível... Deixo isso à história, ao futuro, aos nossos nossos netos, que nos hão-de julgar... Além disso, estamos a falar de antigos combatentes que ainda estão vivos... A questão é sempre delicada.

Julgo não ter feito a guerra como o Marcelino da Mata, ou nem sequer como tu que te ofereceste para os comandos... Tu defendias uma terra que amavas, desde os teus 15 anos... Quem te poderá apontar o dedo por lutares por convicção e patriotismo ? Ou a mim, por ter feito um papel de resistência passiva (fraca, mole...) que a minha consciência me impunha ?

No caso do Marcelino, eu gostava no mínimo de conhecer a sua história de vida, a sua acção, os seus feitos... Muita coisa já pertence ao domínio da lenda, do mito ... Eu quero o teu testemunho sereno e privilegado, o teu, o do Virgínio e de outros camaradas que com ele conviveram de perto... Vocês têm uma autoridade que ninguém mais tem na tertúlia, com excepção do coronel Nuno Rubim de quem ele foi subordinado nos anos de 1966 (segundo creio): por isso, o vosso depoimento, o vosso testemunho, é essencial...

Eu sei que o Marcelino da Mata - heroificado à direita, crucificado à esquerda - poderá vir a ser outra questão fracturante no nosso blogue, na nossa tertúlia... Vamos ter que agir com serenidade, lucidez, objectividade... Não vamos crucificá-lo nem pô-lo no altar... Interessa-nos o homem, o cidadão, o militar, o combatente (2)... É, além disso, um oficial superior do Exército Português que deve deve ser tratado como tal.

Mas eu penso que já atingimos a maturidade... Somos capazes de falar, uns com os outros, sem puxar pela G-3, ou no mínimo com a G-3 em segurança... Não há nada - pelo menos, comigo, como editor do blogue - que não se possa evocar, falar, descrever, narrar, criticar, contestar, do Salazar ao Amílcar Cabral, do Otelo ao Nino, do Alpoím Galvão ao Luís Cabral... Em suma, não há vacas sagradas na nossa caserna virtual...

Só quero (exijo) que as pessoas, os tertulianos, exponham os factos, contem o que viram, o que sentiram, o que pensaram... Sem preconceitos ideológicos (O que não quer dizer sem valores): o Marcelino da Mata foi um combatente, ao que parece excepcional... Posso interrogar-me sobre os seus métodos de actuação, depois de conhecer a sua estória... Não o conhecendo, não posso ter uma opinião sobre ele, muito menos baseada no diz-que-disse...

Há a questão (delicada) da informação a dar à sua filha... A vida de seu pai não foi nenhum conto de fadas, como ela de resto o deve saber há muito... Mas ela é uma pessoa adulta, saberá ler e contextualizar a informação que vier a ser inserida no blogue... Ela tem direito à verdade, tal como os filhos de outros combantentes, tal como nós e os nossos filhos... Foi ela, de resto, que nos pediu estes testemunhos...

O Marcelino, o Saiegh, o Bacar Jaló, o Luís Graça, o Mário Dias, o Beja Santos, o João Tunes, o Jorge Cabral ou o Virgínio Briote e os restantes membros da nossa tertúlia, todos nós estivemos, objectivamente, do mesmo lado da barricada... Seguramente, que não pensávamos todos da mesma maneira, nem actuámos da mesma maneira, mas isso que importa agora!?...

Mário: tens uma grande responsabilidade... Vais dar o pontapé de saída... O Virgínio também vais vasculhar o baú, lá em Esposende (2)...

3. Comentário do Mário Dias (cujo prometido testemunho sobre o Marcelino da Mata continuo a aguardar, desde 10 de Outubro de 2006):

Caro Luís:

Passando por cima dos elogios que me fazes, imerecidos, mas que agradeço, aceito o teu desafio e o mais brevemente que me for possível, vou narrar a história do Marcelino apenas na parte respeitante à vivência que com ele tive entre 1963 e 1966 (3). Do restante da sua vida, apenas conheço o que tenho ouvido e lido e que é do domínio público.

Claro que o julgamento que cada um faz está condicionado pela forma como ideologicamente vê e interpreta os factos. O que para uns é um acto justo e necessário, para outros será um excesso criminoso. Não é raro que alguém clame contra a injusta barbaridade dos seus opositores e enalteça como justas e patrióticas barbaridades semelhantes, e por vezes bem maiores, cometidas pela parte com que simpatiza e apoia.

Um abraço e até breve.

Mário Dias

__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. o sítio oficial da Associação de Comandos > Galeria dos Heróis > Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito > Marcelino da Mata


(2) Vd. posts anteriores:

10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1355: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata a pedido de sua filha Irene (2): Orgulho-me de o ter conhecido em Guileje (José Carvalho)

10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1354: Testemunhos sobre Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (1): De 1º Cabo Comando a Torre e Espada (Virgínio Briote)

(3) De acordo com o blogue do Virgínio Briote, Tantas Vidas, o Marcelino da Mata fez parte do Grupo de Comandos, os Diabólicos, estando estado integrado na 1ª equipa:


GRUPO DE COMANDOS DIABÓLICOS (ao tempo da estadia em Barro)

1ª Equipa

1º Cabo Marcelino da Mata
Soldado Carlos Alberto dos Santos Roberto
Alferes Briote
Soldado José Feitinhas de Matos/ANPRC10
Soldado Álvaro dos Santos/Enfº

2ª Equipa

Soldado José Marques
Soldado José Caleiro
Furriel Caetano Azevedo
Soldado António Alves Maria da Silva
Soldado Joaquim Esperto

3ª Equipa

Soldado Domingos Lopes
Soldado José C. Martins
Sargento Mário Valente
Soldado Albino Ferreira da Silva / MG-42
Soldado Mamadú Jaló

4ª Equipa

Soldado Fernando Moura
Soldado Bacar Mané
1º cabo Carlos Faria Black
1º Cabo Casimiro Anselmo
1º Cabo António Domingues


Em 4 de Setembro de 1965, quando terminaram o 2º Curso de Comandos,- juntamente com os Apaches (Alf António Vilaça e Vítor Caldeira), os Vampiros (Alf António A. Neves da Silva) e os Centuriões (Luís M. N. Almeida Rainha), os Diabólicos eram assim constituídos (entre parênteses, indica-se a sua unidade de origem e assinalam-se, em observação em itálico, os que já morreram e em circunstâncias):

Alf. V. Briote (CCAV 489/BCAV 490)
2º Sarg. Mário J. Machado Valente (CCS/QG)
Fur. Caetano Azevedo (CCAÇ 764)
Fur. Fernando Marques de Matos (Pel Caç 953)
1º Cabo Carlos Filipe Faria (CCaç 462)
Sold. Bacar Djassi (CCS/QG) (fuzilado)
1º Cabo Mamadu Jaló (Agrup 16) (fuzilado)
Sold. Albino F. Silva (CCS/BCAÇ 697) (falecido)
Sold. José Vicente Caleiro Júnior (CCS/BCAÇ 697)
1º Cabo José Henriques Cristóvão(CCS/BCAÇ 790)
Sold. António Jesus da Silva (CCS/BCAÇ 790)
Sold. António A. M. Silva (CCAÇ 674) (morto, Jabadá, 06/03/66)
Sold. Fernando Simões Moura (CCAÇ 726)
Sold. António Amador Caeiro (CCAÇ 726) (falecido)
Sold. Bacar Mané (BAC) (falecido)
1º Cabo António Rita Domingues (CART 732) (falecido)
Sold. Álvaro dos Santos (CCAV 677)
Sold. Carlos Alberto S.Roberto (CCAV 677)
Sold. Domingos Lopes (CCAV 703)
1º Cabo Casimiro Oliveira Anselmo (CCAV 789)
Sold. José Correia Martins (CCAV 789)
Sold. Joaquim Ventura Esperto (CCAV 789)
Sold. José Feitinha de Matos (CCAV 789)
Sold. Diamantino F. M. Carvalho (CCAV 789)
Sold. José Joaquim Pereira Marques (CCAV 678)

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13269: Agenda cultural (323): II Colóquio Internacional Colonialismo, Anticolonialismo e Identidades Nacionais “A Guerra e as Guerras Coloniais na África Subsaariana no Século XX (1914-1974)”: Universidade de Coimbra, Departamento das Ciências da Vida, Antropologia, amanhã e depois, 12-13/6/2014






1. Com pedido de divulgação, reproduz-se mensagem, de 7 do corrente,  do nosso leitor  José Matos [e investigador, especialista em aviação militar, filho de uma camarada nosso, já há muito falecido, fur mil José Matos, da CCAV 677 / BCAV 5499, 1964/66]

Boa noite

No final da próxima semana decorre em Coimbra um colóquio sobre “Colonialismo, Anticolonialismo e Identidades Nacionais” promovido pelo Grupo “História e Memória” do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século 20 (CEIS20). 

Já está disponível no site do colóquio o programa e a ficha de inscrição. Agradecia a divulgação deste evento no vosso site.

José Matos



II Colóquio Internacional Colonialismo, Anticolonialismo e Identidades Nacionais
“A Guerra e as Guerras Coloniais na África Subsaariana no Século XX (1914-1974)”



Em Fevereiro 2008, integrado na “X Semana Cultural da Universidade de Coimbra” e organizado pela linha de investigação “Colonialismo, Anticolonialismo e Identidades Nacionais” do Grupo “História e Memória” do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século (CEIS20), teve lugar o Colóquio Internacional “Comunidades Imaginadas. Nação e Nacionalismos em África”.

O livro (parcialmente homónimo) de Benedict Anderson foi o ponto de partida, pretendendo-se teorizar, documentar e ilustrar as múltiplas faces da complexa questão nacionalista e as peculiares tonalidades que estas assumiram no cenário africano. Ao longo de dois dias, especialistas consagrados, jovens investigadores, assim como personalidades de formação diversa, enquadraram a problemática e analisaram, em especial, os países nascidos no rescaldo do fim do colonialismo português.

Sendo intenção dar continuidade a iniciativas similares, os investigadores da mencionada linha pretendem organizar o II Colóquio Internacional Colonialismo, Anticolonialismo e Identidades Nacionais, subordinado ao tema “A Guerra e as Guerras Coloniais em África no Século XX (1914-1974)”.

Com o objectivo de assinalar o centenário do início da I Guerra Mundial e os 40 anos do fim da Guerra Colonial/de Libertação, propõe-se que todos os investigadores interessados dêem o seu contributo com o envio de propostas no âmbito das seguintes temáticas:

1) Das Campanhas de Pacificação” à “Grande Guerra”

2) Cultura, representações e memórias da guerra

3) Demografia, Migrações e Refugiados de guerra

4) A Guerra Colonial/de libertação

5) Psicopatologias em contexto de (pós) guerra



Chamada de Trabalhos : datas importantes

(i) até 31 de Março era  prazo limite para a submissão das propostas;  até 15 de Abril – Comunicação dos resultados; até finais de Abril – Publicitação do programa

(ii) 12 e 13 de Junho – Realização do Colóquio [vd. programa,  em detalhe, em baixo] ;

(iii) 20 de Junho – Data para o envio do texto final para publicação

Data limite para o pagamento da inscrição: 25 de Maio de 2014: (i) Participante com comunicação – 10€; Participante sem comunicação (com certificado e materiais) – 5€

O colóquio terá lugar na:  Universidade de Coimbra, Deprartamento das Ciências da Vida, Antropologia

 Comissão Científica:

Ângela Coutinho | Daniel Gomes | Fernando Pimenta | Joana Damasceno  José Lima Garcia | Julião Soares Sousa |  Sérgio Neto

Comissão Organizadora:

 Alexandre Ramires | Ângela Coutinho | Clara Serrano | Daniel Gomes | Joana Damasceno | José Lima Garcia | Julião Soares Sousa | Marlene Taveira | Sérgio Neto

Programa:

 [, entre outras, chama-se a atenção das comunicação a apresentar, no dia 13, no painel IV - Guerras Coloniais, às 10h00, por José A. Matos  e Matthew M. Hurley, "A arma que mudou a guerra", referência ao Strela; bem como pelo nosso amigo, o historiador guineense Julião Soares Sousa, "A 'guerra de fronteira': Guileje e o corredor de Guileje"; de destacar ainda  a apresentação de testemunhos orais de antigos combatentes da guerra colonial, na tarde do dia 13 ]





_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 6 de junho de 2014 >  Guiné 63/74 - P13244: Agenda cultural (322): Lançamento do livro "Guiné-Bissau, um país adiado - Crónicas na pátria de Cabral", de Manuel Vitorino, dia 12 de Junho de 2014, pelas 18h00 na Biblioteca Florbela Espanca, em Matosinhos.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15333: FAP (91): O impacto do Strela na actividade aérea na Guiné - Parte I (José Matos, historiador e... astrónomo)

1. Divulgamos, com todo o gosto, mais um artigo de investigação do nosso grã-tabanqueiro José Matos. Desta vez o tema é o míssil terra-ar Strela, de origem russa, introduzido na Guiné depois da morte de Amílcar Cabral, na sequência da escalada da guerra. 

O artigo já foi publicado no sítio AFAP - Associação da Força Aérea, em 17/3/2015. Certamente por lapso, o José Matos é aqui apresentado por general... José Matos.  Se ele é militar, desconhecíamos por completo essa condição. Mas parece-nos que não. O nosso José [Augusto] Matos, de acordo com o portal Linkedin,   é  especialista em aviação e exploração espacial ["instructor, lecturer, and media commentator on Astronomy and Space Exploration since 1994"]. Faz parte da Fisua - Associação de Física da Universidade de Aveiro, tendo-se formado em astronomia em 2006 na University of Central Lancashire, Preston, UK...

Enfim, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... Como Deus, Alá e os Irãs do nosso poilão, todos os entes que nos protegem e nos inspiram...

O que importa, no nosso blogue,  é também a sua (dele, José Matos) paixão pela nossa história militar, e em especial pelo que se passou na Guiné, no nosso tempo, durante a guerra de 1961/74. Recorde-se que o José Matos é filho de um camarada nosso, o ex-fur mil José Matos, da CCav 677 (São João, 1964/66), já falecido em 1998. E é seguramente o seu carinho e amor pelo seu pai (e a sua memória) que o faz gastar o seu tempo nestas viagens ao passado de dois pequenos países lusófonos (Guiné-Bissau e Portugal) de que raramente se fala, hoje em dia... Mas, para um astrónomo como ele, são dois ínfimos pontos, na nossa grande galáxia, que lhe servem de referência (e quiçá de ancoragem). Viajantes do tempo e do espaço, todos precisamos de pequenos portos de abrigo... Espero que ele se continue a sentir em casa... na nossa Tabanca Grande!... (E continuo à espera que ele me mande algumas fotos do seu pai e nosso camarada José Matos!).

No final do artigo supracitado, que nos chegou em formato pdf, com 29 pp., e que vamos publicar em três partes, há referências e agradecimentos aos nossos queridos amigos e camaradas, da Tabanca Grande, cor pilav ref Miguel Pessoa e ten gen pilav ref António Martins de Matos, heróis dos céus da Guiné e que sobreviveram, felizmente, ao Strela.

Refira-se, por fim, que o nosso amigo José Matos  foi autor, recentemente, de uma comunicação sobre “O fim da Guerra na Guiné: operações secretas”, no âmbito do  III Colóquio Internacional Colonialismo, Anticolonialismo e Identidades: 1415-2015-Dos Impérios à CPLP. discursos e práticas (Universidade de Coimbra, Coimbra, 28-29 de outubro de 2015).

PS - Há uma outra versão deste artigo, mais curta, do José Matos e de Matthew M. Hurley , cor da Força Aérea dos EUA, na reserva,  "A arma que mudou a guerra", Revista Militar, nº 2554, outubro de 2014, pp. 893-907 disponível aqui. O José Matos mandou-nos essa versão em 6/9/2015, mas optámos por reproduzir a mais extensa, em que ele aparece como único autor. De qualquer modo, estamos gratos aos dois, ao José Matos e ao Matt Hurley, já nosso velho conhecido e amigo.



SA 7- Grail (designação da NATO), míssil terra-ar, de origem russa (9k 32 Strela 2), desenhado por volta de 1964 e operacional em 1968. Fonte: Cortesia de Wikipedia. Imagem do domínio público.


O impacto do Strela na actividade aérea na Guiné (Parte I)  (*)

por José Matos


A evolução da guerra colonial na Guiné tomou um rumo dramático em 1973-74, quando o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) adquiriu a última versão do míssil soviético terra-ar SA-7 (Strela-2M). 

A utilização desta arma pela guerrilha provocou profundas alterações no emprego da aviação e na eficácia das operações aéreas. Aproveitando os efeitos tácticos do míssil, que tiveram reflexos estratégicos, os guerrilheiros lançaram várias operações de grande envergadura e a guerra entrou numa fase muito delicada. Surpreendida, inicialmente, a Força Aérea tomou rapidamente várias contramedidas que reduziram a eficácia do míssil. Que impacto teve, verdadeiramente, na actividade aérea e qual o efeito das contramedidas adoptadas é o que se pretende analisar neste artigo. 



Os primeiros indícios da utilização de mísseis terra-ar pela guerrilha do PAIGC, na Guiné, surgem em meados de março de 1973, quando dois caças Fiat G.91 são alvejados no norte do território, perto da fronteira com o Senegal, por uma arma desconhecida. Os aviões atacam o local do disparo e regressam à base de Bissalanca (BA12) sem qualquer dano, não tendo sido atribuída importância de maior ao facto [1]

Pouco tempo depois deste incidente, os guerrilheiros atacam um monomotor a hélice Dornier DO-27, na área de Bigene, perto do Senegal, e também três Fiat chamados a intervir. Nenhum avião é atingido, uma vez que os pilotos dos G.91 se apercebem de que são mísseis, conseguindo manobrar a tempo de os evitar [2].


Porém, a 25 de março, o Tenente [pilav] Miguel Pessoa já não tem a mesma sorte e é abatido na zona de Guileje, no sul da Guiné, muito perto da fronteira com a Guiné-Conakry. O piloto não se apercebe do míssil, mas consegue ejectar-se e é recuperado [3].

Três dias mais tarde, a 28 de março, outro Fiat, desta vez pilotado pelo Tenente-Coronel [pilav] Almeida Brito, também é abatido no sul da Guiné. O avião de Almeida Brito explode no ar provocando a morte do piloto [4].



Caça-bombardeiro, subsónico, Fiat G-91, da FAP. Desenho de Nelson Teixeira (2011).Imagem do domínio público. Cortesia da Wikipedia.



Na semana seguinte, a 6 de abril, a Força Aérea Portuguesa (FAP) perde ainda dois DO-27 e um T-6 G juntamente com os respectivos pilotos, devido à acção desta nova arma [5].  Rapidamente, a
Força Aérea percebe que está perante o míssil terra-ar SA-7 Grail de fabrico soviético, conhecido também por Strela. Todos os ataques acontecem a menos de 3 km das zonas de fronteira, os alvos incluem desde aviões de hélice muito lentos (DO-27 e T-6) até aviões a jacto (Fiat G.91) e a eficácia dos ataques parece ser elevada se atendermos que na documentação histórica da época surgem pelo menos 8 disparos referenciados e 5 aviões abatidos [6].

No entanto, tudo indica que o número de disparos tenha sido superior a 8 no período que vai de 20 de março a 6 de abril. Os pilotos que escaparam aos disparos desta nova arma do PAIGC (Partido Africano da  Independência da Guiné e Cabo Verde), devem, provavelmente, a sua sobrevivência a pontarias inadequadas, a deficiências de funcionamento da própria arma e ao facto de aqueles que avistaram o projéctil em trajectória de colisão com a sua aeronave terem tido o discernimento de entrar em volta de evasão apertada evitando o impacto do míssil. 

No entanto, o desconhecimento das características do míssil e, por conseguinte, o desconhecimento das modalidades de voo e as regras de empenhamento a adoptar para suplantar as suas capacidades, provoca grande incerteza e receio nos pilotos. A gravidade da situação surge bem espelhada numa informação que o Inspector-Adjunto Fragoso Allas, chefe da delegação da Direcção-Geral de Segurança (DGS), na Guiné, envia para Lisboa, a 9 de abril, sobre a perda de vantagem da Força Aérea. Na opinião de Fragoso Allas “não dispomos de meios aéreos que possam constituir uma força de dissuasão ou que nos permitam castigar duramente as bases de apoio, temos que encarar como muito possível que o PAIGC venha num muito curto prazo de tempo a estabelecer novas áreas libertadas, e dificultar ou impedir o tráfego aéreo e até mesmo a aniquilar algumas guarnições que agora passaram a não poder contar com o apoio aéreo para as defender, evacuar os feridos e reabastecer.” E mais à frente acrescentava: “Consideramos muito grave a situação resultante do emprego pelo PAICG de novas armas antiaéreas.” [7].

Na mesma data, a DGS, em Lisboa, tem já informação sobre o míssil obtida através dos Serviços Secretos Alemães (BND), que a envia ao  Secretariado-Geral da Defesa Nacional (SGDN), pedindo extremo cuidado quanto à salvaguarda da fonte daquela informação [8].

No essencial a informação fornecida pelo BND traça a evolução histórica do míssil, assim como as suas características operacionais e as possíveis medidas de defesa. Pouco tempo depois, esta informação é difundida pelas três frentes de guerra. Entretanto, o Comando da Zona Aérea da Guiné (COMZAVERDEGUINE) começa a tomar as primeiras medidas cautelares para minorar a ameaça da nova arma. 

A introdução do míssil na Guiné

Não se sabe com precisão a data em que o míssil chegou à Guiné, mas em dezembro de 1972, a DGS, na colónia, tinha já recolhido informação de que os guerrilheiros haviam recebido novas armas antiaéreas, entre as quais uma designada por “roquetões.” A nova arma tinha uma configuração semelhante à dos RPG, conhecidos na guerrilha por “lança-rockets”, o que deve ter dado origem à designação de “roquetões”[9].

No entanto, as informações da DGS sobre as novas armas eram vagas e, sabe-se hoje, provenientes de fonte duvidosa. Testemunhos de protagonistas do PAIGC envolvidos directamente no processo como Luís Cabral apontam no sentido de que os primeiros mísseis só chegaram à Guiné depois da morte de Amílcar Cabral, que ocorreu a 20  de janeiro de 1973 [10].

No mesmo sentido, aponta uma análise pericial feita pelas autoridades americanas aos fragmentos de um SA-7 recolhidos na Guiné, que refere fevereiro de 1973, como data de fabrico do míssil [11]. Com efeito, uma parte do míssil é encontrada no norte da Guiné a 7 de abril por tropas pára-quedistas [12] e a 14 de abril é enviada para Lisboa para o Secretariado-Geral da Defesa Nacional (SGDN) [13] onde é analisada, a 17 de abril, por técnicos portugueses, que concluem não dispor de “elementos suficientes para proceder a uma identificação categórica do material em causa.”


Na tarde desse dia, o material é entregue na embaixada dos EUA, em Lisboa, para um exame mais minucioso. Na semana seguinte, a 25 de abril, o adido militar da embaixada, o Coronel da USAF Mosier, desloca-se ao SGDN, a fim de saber se aquele organismo já tinha recebido a informação enviada pela embaixada americana a respeito da identificação do míssil (a 23 de abril, Mosier tinha enviado para o SGDN uma informação confidencial identificando os fragmentos como sendo a secção de propulsão do SA-7 Grail) e pede a anuência portuguesa para que, a título devolutivo, o material seja enviado para os EUA de forma a ser estudado mais detalhadamente pelos serviços técnicos das FA americanas [14].


Entretanto, a 24 de abril, o comando militar em Bissau envia também dois fragmentos electrónicos transistorizados supostamente pertencentes ao míssil [15] para serem analisados pelos técnicos americanos que acabam por se deslocar a Lisboa, em meados de maio. 

O exame pericial feito na embaixada americana conclui que os vários fragmentos recolhidos até então correspondem a uma versão aperfeiçoada do SA-7, desconhecida nos países ocidentais e fabricada em fevereiro de 1973. No parecer dos técnicos americanos, “esta nova versão apresenta alterações que denotam um esforço de melhoria dos métodos de fabrico (para mais rápida produção) e que ao mesmo tempo visam tornar o míssil menos susceptível de avarias devido ao seu manuseamento” e concluem dizendo que desconhecem “se este novo modelo do míssil SA-7 tem uma eficácia operacional superior à da versão anterior” [16]. 

 Juntamente com esta peritagem é entregue, a 25 de maio, no SGDN, um manual técnico da Missile Intelligence Agency (MIA) sobre o míssil, que permite finalmente às autoridades portuguesas conhecer a fundo as características e performances das versões conhecidas do SA-7 [17].

Pouco tempo depois, em junho, a secção de propulsão do míssil e um dos conjuntos electrónicos são enviados a título definitivo para os EUA, para uma peritagem mais exaustiva, que originará depois um relatório técnico da Defense Intelligence Agency (DIA). A 11 de setembro, a DIA envia de Washington, para o adido de defesa da embaixada americana em Lisboa, as conclusões da peritagem. A agência informa que estamos perante uma versão do míssil com um sistema de propulsão melhorado, que permite aumentar a velocidade do SA-7 em 20% a 25%, assim como a sua manobrabilidade, o que aumenta a capacidade do míssil dentro do seu envelope de intercepção contra aeronaves de elevada performance [18].

 Tudo indica que o modelo analisado era Strela 2-M ou SA-7B Grail Mod. 1, introduzido na União Soviética em 1971 e desconhecido no Ocidente [19].


O impacto do míssil no GO1201 


As perdas provocadas pela acção do míssil reflectem-se de imediato na capacidade operacional do Grupo Operacional 1201 (GO1201), que tem na sua orgânica a Esquadra 121, onde estão os Fiat, T-6 e DO-27, a Esquadra 122 com o Alouette III e a Esquadra 123 com o Noratlas e C-47. O GO1201 dispunha em março de 1973, em Bissalanca, na BA12, de 53 aeronaves entre aviões e helicópteros [20].  Desta forma, os abates de março e de abril traduziram-se numa perda de 9,4% das aeronaves do GO1201. Mais importante ainda,   8 dos cinco aviões perdidos pela acção do míssil, dois deles eram aviões Fiat, o único jacto de combate que a FAP dispunha na Guiné. A Esquadra 121 tinha, nessa altura, onze G.91 passando, então, a ter nove. 

O impacto destas perdas foi ainda ampliado pela grande dificuldade em comprar novos caças com um maior potencial de combate ou, então, mais exemplares dos modelos já em uso. Embora os dois Fiat abatidos sejam substituídos em meados de julho desse ano, a Esquadra 121 perde, nos meses seguintes, mais dois G.91 por razões desconhecidas, o que leva o Governo em Lisboa a tentar adquirir aviões Fiat G.91 R/3 já usados, junto da Alemanha Ocidental [21].  Só que o Governo de Bona recusa qualquer venda a Portugal para não ser acusado de apoiar a política colonial portuguesa [22].

 Outro impacto directo é sobre os pilotos. O número de pilotos presentes na BA12 era de 50, estando prontos para voar 49 e prontos para operações 42 [23]. As perdas devido ao míssil representam 9,5% dos pilotos aptos a realizar operações. 

As primeiras medidas cautelares 


Ultrapassada a fase de surpresa inicial, realizada a análise das perdas sofridas e deduzindo, ainda que empiricamente, o funcionamento da nova arma, dada a escassez de informação, o Comando da Zona Aérea   introduz uma série de condicionamentos nas missões realizadas pelas diversas aeronaves. As primeiras medidas cautelares são adoptadas em meados do mês de abril e são as seguintes: 

  •  T-6G – Cancelamento das missões de apoio próximo às forças terrestres e de ataque ao solo de natureza independente;
  • Fiat G.91 – Execução apenas de missões de bombardeamento a picar (BOP) e de metralhamento a picar (MAP), com entrada a 10 000 pés (3300 m) e saída a 3000 pés (990 m); 
  • DO-27 – Cancelamento das missões de Reconhecimento Visual (RVIS) e de Posto de Controlo Volante (PCV); redução das missões de TGER e de TEVS (Transportes Gerais e Evacuação);
  •  Noratlas – Execução de missões de transporte limitado a 3000 kg de carga, a fim de assegurar a maior razão de subida das aeronaves dentro da zona de segurança garantida pelas forças terrestres; canceladas as missões de lançamento de cargas aéreas;
  • C-47 Dakota – Execução de missões de transporte aéreo limitado a 1500 kg de carga;
  •  Alouette III – Execução de missões de TGER e TEVS por duas aeronaves, a baixa altitude, uma limpa e a outra armada para protecção do conjunto e de apoio de fogo das tropas e do meio aéreo de TEVS, na zona de operações das forças terrestres; execução de missões de TGER apenas para pistas interditas ao DO-27. 

Paralelamente a estas medidas, o Comando da Zona Aérea e a DGS na Guiné continuam a desenvolver esforços para conhecer melhor as características da nova arma do PAIGC. Em finais de abril, as forças portuguesas conseguem finalmente interrogar um dos membros das equipas de mísseis, um ex-guerrilheiro de etnia fula, chamado Tcheto Candé, que se entregou aos fuzileiros portugueses em Jemberém, a 21 de abril de 1973. 

Candé revela que foi treinado em Simferopol, na União Soviética, onde esteve seis meses, tendo regressado a Conakry, a 10 de abril, seguindo depois para Kandiafara e Botchecol, de onde acabou por fugir. O ex-combatente fornece ainda informações importantes sobre a localização dos vários grupos de mísseis e dos elementos que os comandam e diz também que “cada arma já traz o míssil incorporado, e que só faz um disparo. Depois, tem a arma de ser enviada para a URSS para ser novamente carregada.” Candé refere a presença do míssil em Botchecol, Jemberém e ainda norte da Guiné [24]. 

 Esta informação é complementada, em outubro, pela deserção de um outro operador de mísseis chamado Armando Baldé, que se entregou na guarnição de Tite. Baldé dá várias informações sobre o funcionamento do SA-7 e das tácticas usadas pelos grupos de atiradores contra os aviões da FAP, o que permite que, nesta altura, as autoridades portuguesas tenham já informação detalhada quer sobre as características do míssil quer sobre o modo de actuação dos grupos armados com o SA-7. 

As informações prestadas por Baldé permitem à Força Aérea confirmar que o míssil é ineficaz abaixo dos 50 metros (160 pés) e que, disparando a arma com um ângulo superior a 60º, o atirador é queimado pelos gases de escape. Desta forma, o ângulo de disparo ideal é de 20º a 60º. Descobre-se   também, nessa altura, que os insucessos nos disparos do míssil contra o Fiat se deviam essencialmente a duas razões: por um lado, durante a picada do avião, o míssil não conseguia adquirir convenientemente o alvo;  por outro, após a saída do passe de bombardeamento, o jacto fazia uma volta muito apertada a grande velocidade, que superava as capacidades de manobra do míssil [25].

(Continua)

[Fixação de texto, imagens e links: LG. Temos cerca de meia centena de referências, no nosso blogue, aos mísseis Strela] (**)
_________________

Notas do autor:

[1] Informação n.º 218/73-DSInf2 da Delegação da Guiné da DGS, Assunto: Actividade do PAIGC, 3 de Abril de 1973, Torre do Tombo, Arquivos da PIDE, Processo 641/61 PAIGC, pasta 9, fls. 102/104.
[2]  Ibidem. 

[3]  Ibidem. 

[4]  Ibidem. 

[5]  Relatório sobre a situação no Ultramar nº4/73, CTI Guiné, Anexo A, ADN SGDN/1690. 

[6]  Informação n.º 93/73 da 2.ª Repartição do Secretariado Geral da Defesa Nacional, Assunto: Míssil Terra-Ar, 13 de Abril de 1973, Lisboa, ADN SGDN/5681/7.

[7] Informação n.º 247/73-DSInf2 da Delegação da Guiné da DGS, Assunto: Rep. Guiné – Situação do PAIGC, 9 de Abril de 1973, Torre do Tombo, Arquivos da PIDE, Processo 641/61 PAIGC, pasta 7, fls. 190/192.

[8] Informação Suplementar do Secretariado Geral da Defesa Nacional, Assunto: União Soviética: Míssil Terra-Ar individual GRAIL (SA-7), Fonte: DGS, 9 de Abril de 1973, Lisboa, ADN SGDN/5681/7. 9 Informação n.º 218/73-DSInf2 da Delegação da Guiné da DGS, ibidem. 

[9] Informação n.º 218/73-DSInf2 da Delegação da Guiné da DGS, ibidem.

[10] Cabral, Luís, Crónica da Libertação, Edições o Jornal, Lisboa, 1984, pp. 433-444. 

[11] Informação n.º 1387/RB c/anexo da 2ª Repartição do Secretariado Geral da Defesa Nacional para o Estado-Maior do Exército, Assunto: Míssil Terra-Ar, 4 de Junho de 1973, Lisboa, ADN, Fundo Geral SGDN/5681/7. 

[12] Calheiros, José Moura, A Última Missão, Caminhos Romanos, Lisboa, 2010, p. 387. 

[13] Nota n.º 1148/BM do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné para o Secretariado Geral da Defesa Nacional (2ª Divisão), Assunto: Material de Guerra para Análise, 14 de Abril de 1973, Bissau, ADN, Fundo Geral SGDN/5681/7. 

[14] Informação n.º 99/RB da 2ª Repartição do Secretariado-Geral da Defesa Nacional, Assunto: Identificação de Material Recolhido no TO da Guiné, 25 de Abril de 1973, Lisboa, ADN, Fundo Geral SGDN/5681/7. 

[15] Nota n.º 1274/BM do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné para o Secretariado Geral da Defesa Nacional (2ª Divisão), Assunto: Material de Guerra para Análise, 24 de Abril de 1973, Bissau, ADN, Fundo Geral SGDN/5681/7. 

[16] Informação n.º 1387/RB c/anexo da 2ª Repartição do Secretariado Geral da Defesa Nacional para o Estado-Maior do Exército, Assunto: Míssil Terra-Ar, 4 de Junho de 1973, Lisboa, ADN, Fundo Geral SGDN/5681/7. 

[17] Manual ST-CS-14-232-72, Dezembro de 1972, Missile Intelligence Agency (MIA), ADN, Fundo Geral SGDN/5681/7. 

[18] Defense Intelligence Agency, teletype message, 111808Z SEP 73, to Defense Attache Office, Lisbon, 11 de Setembro de 1973, ADN SGDN 5681/7. 

[19] KBM Kolomna Strela-2/-2M (SA-7 'Grail') Man-Portable Anti-Aircraft Missile System in Jane’s Electro-Optic Systems 2011, 

 [20] Sitrep Circunstanciando n.º12/73 do COMZAVERDEGUINÉ, Bissau, ADN/F2/16/87.

 [21] Memorando do Estado-Maior da Força Aérea, 25 de Janeiro de 1974, Serviço de Documentação da Força Aérea/Arquivo Histórico (SDFA/AH), 3ª Divisão/EMFA 71/74, Processo 400.121. 

 [22] Carta de Alberto Maria Bravo & Filhos, Assunto: Aviões G-91, 4 de Dezembro de 1973, Arquivo Histórico Diplomático (AHD) PEA 655. 

 [23] SITREP Circunstanciando n.º12/73 do COMZAVERDEGUINÉ, Bissau, ADN/F2/16/87.

 [24] Relatório de interrogatório nº 41/73 anexo à informação 306/73-DSInf 2 da Delegação da Guiné da DGS, 1 de Maio de 1973, Torre do Tombo, Arquivos da PIDE, Processo 332-CI (2), pasta 5, fls. 58/62.

 [25] Relatório Imediato nº 5641/73/DI/3/SC da DGS sobre o míssil solo-ar Strella-2, 31 de Outubro de 1973, ADN/F3/1/1/1.
______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 25 de setembro de 2015 >  Guiné 63/74 - P15153: FAP (90): Para acabar de vez com o mito dos MiG em Conacri: nunca os houve no nosso tempo, garantiu-me o comandante Pombo, no convívio da Tabanca da Linha (António Martins de Matos, ten gen pilav ref)

(**) Do "site" Área Militar - Armamento e Sistemas, com a devida vénia:

SA- 7 «Grail» / 9K32M Strela-2 | Míssil antiaéreo

(...)
Fabricante: KB Machinostroyenia
Função principal: Defesa antiaérea próxima
Alcance: 4.2km 

Velocidade: 1300km/h
Tipo de ogiva : Alto Explosivo / pré-fragmentada 

Peso da ogiva : 15 Kg.
Peso total: 10 Kg 

Comprimento: 1.47 M.
Diâmetro: 72mm 

Sistema orientação: Infravermelhos

(...) O Strela 2 foi concebido em meados dos anos 60, apontando-se o ano de 1964 como altura em que se terá testado pela primeira vez. O seu desenvolvimento demorou algum tempo até que se tornou operacional em 1968.

Com um alcance máximo de 3,7 km e problemas com o sistema de orientação, as prestações do míssil não foram consideradas satisfatórias. Rapidamente foi lançada a versão Strela-2M em 1971. Alcance máximo de 3.7 Km, embora uma versão melhorada «Strela-2M» atingisse em teoria alvos a distâncias de até 4,2km. Eficaz contra alvos a mais de 50 metros de altura e menos de 1500 metros.

O sistema (Komplex em russo) utiliza o míssil 9M32 e a versão modernizada, o míssil 9M32M. (...)

domingo, 6 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15077: FAP (84): a ameaça dos MiG na guerra da Guiné (José Matos, Revista Militar, nº 2559, abril de 2015) - Parte I





"A Empresa da Revista Militar foi fundada no dia 1 de Dezembro de 1848 por um grupo de 26 Oficiais do Exército e da Armada, dirigido pelo então Tenente do Real Corpo de Engenheiros Fontes Pereira de Mello [1819-1887].

"A Revista Militar - com o primeiro número publicado em Janeiro de 1849 - foi um dos primeiros títulos da imprensa militar portuguesa, sendo actualmente o mais antigo Órgão da Imprensa Militar Mundial com publicação ininterrupta.

"Os estudiosos do seu acervo confrontam-se com a influência exercida pelos Fundadores e por grande parte dos colaboradores da Revista na dinamização das Forças Armadas, e do próprio País, desde 1 de Dezembro de 1848, quando se assinou o Contrato.

"O século em que vivemos tende, sem dúvida,
a consomar o grande pensamento humanitário,
que tem por base o predomínio da inteligência
sobre a força".

"(Tenente Fontes Pereira de Mello, Introdução, do Primeiro Número, Janeiro 1849)"

(Reprodução,. com a devia vénia, da página da Revista Militar, que está "on line" desde 17/2/2013)


1. O José Matos mandou-nos há dias (a 25 de agosto último), este seu artigo ("A ameaça dos MiG na guerra da Guiné"), para divulgação no blogue. 

Agradeci-lhe e dei-lhe os parabéns, dizendo.lhe que tinha "muito gosto em publicar o artigo no nosso blogue, em dois ou mais postes, já que é extenso", mas que precisava também da "autorização do editor (, a Revista Militar)"... Embora o artigo esteja "on line" na Net, insistismos na questão da autorização do editor. O autor respondeu-nos em 4 do corrente: "Olá, Luís. Pode avançar com a publicação do artigo....esta foi a reposta da RM: Não há qualquer problema desde que seja citada a fonte de onde é extraído o artigo, no caso em apreço a Revista Militar nº 2559 de abril de 2015, pp 327-352."

O José Matos é filho de um camarada nosso, o ex-fur mil José Matos, da CCav 677 (São João, 1964/66), já falecido em 1998. Em tempos (23/11/2008) publicamos um poste dele, em que procurava camaradas do tempo do seu pai. O nosso camarada Santos Oliveira respondeu-lhe e pô-lo em contacto com camaradas do seu pai. É sabido que muitos camaradas desse tempo não vão à Net nem conhecem o nosso blogue. De qualquer modo, espero que o José Matos, que mora na região de Aveiro,  tenha encontrado alguns camaradas que conheceram o seu pai. Investigador, especialista em aviação militar, o José Matos já nos tem mandado mais artigos ou links para artigo seus .  Recordo, por um exemplo, um anterior sobre o Mirage, em 16/10/2012:

 Caro Luis Graça: Como o tema dos Mirage na FAP já foi debatido uma vez no vosso blogue, aproveito para chamar a atenção que a revista inglesa Aviation Classics publicou este mês um artigo da minha autoria sobre o tema [vd. links aqui], que aconselho a quem se interessa pelo assunto. Julgo que a revista se vende em Portugal.  

 Vamos publicar o artigo, em português, sobre os MiG, em quatro postes, seguidos. E aproveitamos para convidar, formalmente, o José Matos a integrar a nossa Tabanca Grande. Ele sabe que os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são.  Por outro lado, tem fotos do seu pai, no TO da Guiné, que ele gostaria de partilhar connosco. A melhor maneira de honrarmos a memória do seu pai, é pedir-lhe que se sente, connosco, à sombra nosso mágico, fraterno, inspirador e protetor  poilão. Se ele aceitar o nosso convite, será o grã-tabanqueiro nº 701.


2. Revista Militar, nº 2559, abril de 2015, pp. 327-352 > A ameaça dos MIG na guerra da Guiné, por José Matos (Parte I)

por José Matos


No dia 26 de Julho de 1963, um caça português F-86F Sabre destacado na Guiné fazia um voo de teste na região do rio Corubal. A bordo do aparelho, o piloto esperava um voo calmo e sem incidentes, contudo, tem um encontro imprevisto. Enquanto testa o Sabre, avista à distância um jacto desconhecido e, quando muda de rota para tentar verificar a identidade do avião, este foge rapidamente, não permitindo a sua identificação. A única coisa que consegue perceber é que se trata, provavelmente, de um MiG ao serviço da Força Aérea Guineana (FAG) [1].

Este primeiro contacto com um caça guineano é muito raro, ao longo da guerra, embora o comando militar em Bissau receba, com frequência, das tropas terrestres, relatos sobre o avistamento de aeronaves não identificadas. Contudo, convém referir a este propósito, que estes relatos eram baseados em observações visuais feitas pelas forças terrestres, que nem sempre conseguiam identificar correctamente o que viam no céu, sendo difícil saber se os relatos correspondiam efectivamente a voos hostis.

Era sobretudo no sector oeste da colónia que se registava o maior número de avistamentos, o que leva o Exército a deslocar, para Mansoa, em Agosto de 1963, um radar móvel nº 4 Mark VI, que já estava na Guiné nessa altura. Trata-se de um radar de aviso prévio montado num atrelado e que pode facilmente ser deslocado. Durante cerca de um mês de funcionamento detecta oito alvos não identificados, todos a baixa altitude e a baixa velocidade, tratando-se muito provavelmente de helicópteros, sendo, no entanto, difícil de determinar qual a origem dos mesmos [2].

Atento à situação, o Exército já tinha enviado para a capital da Guiné, em Janeiro de 1962, um pelotão de artilharia antiaérea (AA) equipado com peças AA 40 mm Bofors M-42/60, de forma a garantir uma defesa antiaérea mínima contra qualquer acção aérea hostil [3]. Este envio de peças antiaéreas para Bissau, indicava já uma preocupação das chefias militares quanto a uma eventual acção aérea contra as forças portuguesas estacionadas na capital, que só podia ser protagonizada pela aviação militar dos países vizinhos.


Os testes com o radar AN/TPS-1D

Além do envio de armamento AA, o Exército estuda também a expedição de radares AN/TPS-1D, um radar ligeiro transportável, que o Exército Português tinha comprado, em 1960, mas que já estava obsoleto, nessa altura [4].

Nesse sentido, são feitos testes de detecção, na Escola Militar de Electromecânica, em Paço de Arcos, em meados de Maio de 1962, com vista a “avaliar as possibilidades de detecção do radar com aviões de pequena superfície reflectora”. Para o efeito, são usadas duas parelhas de jactos F-86F da base de Monte Real (BA 5), voando uma parelha à altitude de 20 mil pés e a outra a 5 mil pés. Conclui-se então que o radar “é susceptível de permitir a detecção de alvos aéreos de pequena superfície reflectora (parelha de aviões F-86F ou alvo equivalente) embora não garanta a continuidade de detecção quando se afasta, segundo uma linha de rumo que intercepta a estação de radar, dentro dos alcances das experiências (até 100 milhas)”.

Além disso, o AN/TPS-1D é também “capaz de fornecer resultados satisfatórios na detecção de aviões convencionais (de hélice) de média ou grande envergadura dentro dos seus alcances de operação (até 160 milhas).” Em suma, “na falta de equipamento mais adequado, os radares podem ser de grande utilidade no Ultramar para efeitos de vigilância aérea” [5].

Entretanto, no âmbito do Secretariado Geral da Defesa Nacional (SGDN), é dada prioridade ao estudo da defesa área de Cabo Verde e Guiné, em virtude do perigo que pode advir de possíveis ataques aéreos contra os aeródromos destes dois territórios, fundamentais nas ligações aéreas entre Portugal, Angola e Moçambique. Este trabalho é produzido por uma comissão que já existia no SGDN para o estudo da defesa aérea do Ultramar [6].

Em termos gerais, a comissão do SGDN considera que o Aerodrómo Base nº 2 (AB2), em Bissalanca, deve ser dotado de várias estruturas de controlo e comunicações para a gestão do tráfego aéreo civil, mas também para operar um sistema de artilharia antiaérea que seja credível. O estudo considera ainda que as estruturas a criar devem ser apoiadas por radares de vigilância do tipoAN/TPS-1D, além de radares tácticos ligados às baterias de artilharia AA e pelos respectivos meios de comunicação e apoio [7].

No entanto, o estudo aponta também várias limitações para a defesa aérea, que terá de incidir sobre um pequeno número de objectivos, não sendo possível aos F-86 conduzir intercepções por ausência de radares altimétricos. Além disso, “a vigilância exercida pelos radares de cobertura AN/TPS-1D não permitirá mais de 4 a 7 minutos de aviso prévio para aviões de jacto voando a 3000 pés e a artilharia AA disponível não poderá actuar em relação a aviões com velocidades superiores a 800 km/h e a altitudes acima de 2300 pés”.

O estudo refere também a existência no inventário da FAG de alguns caças MiG-15, não havendo qualquer referência à existência do MiG-17 na ex-colónia francesa. No entanto, neste capítulo, existia alguma dificuldade em obter informações fidedignas sobre a existência ou não de jactos de combate no país vizinho. Em Setembro de 1962, uma informação do Ministério do Ultramar português dava conta que, numa parada militar em Conakry, realizada a 19 de Agosto desse ano, tinham desfilado onze caçasMiG-15, embora não tivesse sido possível confirmar essa informação [8].


A retirada dos F-86 da Guiné


Obviamente que a presença dos F-86 na Guiné tinha um efeito dissuasor em relação a qualquer tentativa de incursão aérea. Estes caças tinham chegado a Bissalanca, em Agosto de 1961, e eram usados em vários tipos de missões sobre a colónia, sendo o principal avião de combate da Força Aérea Portuguesa (FAP) na Guiné. Porém, os caças tinham sido cedidos a Portugal para a defesa da OTAN na Europa e os Estados Unidos começam a exigir que os jactos regressem à metrópole [9].

O assunto vai-se arrastando ao longo de 1963, sem que o governo português acate as exigências norte-americanas. O próprio Ministro dos Negócios Estrangeiros português, Franco Nogueira, tem uma longa conversa, em Junho de 1964, com o embaixador americano em Lisboa, George Anderson, em que o problema é novamente abordado. Nogueira argumenta que os F-86 não estavam na Guiné em operações, mas que serviam apenas como factor dissuasor contra possíveis ataques aéreos vindos dos países vizinhos. Anderson concorda com o argumento, mas considera que não era de prever qualquer ataque aéreo estrangeiro e que, “no caso de tal ataque, criar-se-ia uma situação política nova que alterava os dados do problema, mesmo para os Estados Unidos”. Nogueira pergunta então se “Washington tomaria uma posição de activa reacção contrauma agressão aérea provinda de fora”, ao que o embaixador americano responde que “não podia prever como reagiria o seu Governo, e muito menos assumir compromissos”. Anderson insistiu que o problema dos F-86 na Guiné “se tratava de uma questão de princípio” e que era um tema muito explorado pelos inimigos de Portugal, ao que Nogueira comentou que deviam de existir muitos no Departamento de Estado, “porque todos pareciam aferir a política dos Estados Unidos para com Portugal pelo que sucedesse aos F-86” [10].

Pouco tempo depois deste encontro, a pressão americana aumenta, de tal forma, ao ponto dos americanos se recusarem a fornecer sobresselentes para a Força Aérea, caso os portugueses não retirem os caças da Guiné [11]. Para resolver o problema, Lisboa manda retirar os F-86 e compra, na Alemanha, 40 aviões Fiat G-91 R/4 fabricados em Itália, mas ao serviço da Luftwaffe. No Verão de 1966, os G-91 já estão na Guiné em missões de reconhecimento e de apoio às tropas terrestres, mas nunca encontram qualquer jacto da FAG.

Ainda em 1964, são enviados para Bissalanca dois radares AN/TPS-1D para assegurar a vigilância aérea desta base, no entanto, em virtude da dificuldade na obtenção de peças sobressalentes, um dos radares é logo canibalizado para a manutenção do outro, ficando apenas um radar operacional [12]. Com a antena instalada numa torre metálica com cerca de 32 metros de altura, o AN/TPS-1D, porém, nem sempre funciona, devido a problemas de manutenção ou então devido a falta de energia nos geradores de apoio. Para colmatar estes problemas, são enviados outros dois radares do mesmo modelo para a Guiné, mas também acabam canibalizados ou então avariados [13].

Durante os períodos de funcionamento, o AN/TPS-1D faz várias detecções, mas que correspondem provavelmente a aviões civis transitando entre o Senegal e a Guiné-Conakry. O espaço aéreo da Guiné Bissau, acima dos 5 mil pés estava englobado na FIR [14] de Dakar e havia mesmo um corredor aéreo apoiado no VOR [15] de Bissau que vinha de Banjul, na Gambia, e passava à vertical da BA12. Não admira, por isso, que o radar detectasse alguns alvos.


A surpresa dos MiG
O MiG 17 - Cortesia de Wikipedia... [Edição: LG]


Como já foi dito, os Fiat de Bissalanca nunca encontram qualquer caça guineano, mas, em Abril de 1968, dois aviões ligeiros de ataque T-6G Texan são surpreendidos aparentemente por dois caças MiG, a poucos quilómetros de distância da fronteira com a Guiné-Conakry. O incidente ocorre no dia 24 de Abril, quando os T-6 voavam numa missão de escolta a uma coluna do Exército no corredor de Guileje, muito perto da fronteira guineana. Aos comandos dos T-6 iam o Tenente Arantes de Oliveira e o Alferes Oliveira Couto, e o voo decorria sem incidentes quando, subitamente, os dois aviões são surpreendidos pela passagem rápida de dois caças a jacto. Incrédulos, os pilotos observam os dois jactos de asas em flecha, a curvarem, para fazerem uma segunda passagem.

Um dos caças ascende ficando numa posição de ataque, enquanto o segundo passa novamente perto dos aviões portugueses de forma provocatória destabilizando os T-6 devido à deslocação de ar. Os portugueses não reagem e, após mais uma ou duas daquelas manobras, os caças desaparecem no horizonte. Os pilotos julgam inicialmente que foram surpreendidos por dois Fiat vindos de Bissalanca da BA12 e, quando finalmente aterram em Bissalanca participam a ocorrência ao comandante do Grupo Operacional da BA12, o Tenente-coronel Costa Gomes, porém, ao fazerem a descrição do que se passou, Costa Gomes diz-lhes que estão equivocados, pois nenhum G-91 tinha descolado naquele dia. Os dois pilotos percebem então que foram surpreendidos por dois MiG [16].


Medidas de defesa

Em Março de 1969, o Chefe de Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA) solicita à “BA12 um estudo urgente das medidas de protecção das aeronaves estacionadas contra eventuais ataques do exterior”, devendo o estudo ter em grande atenção a possibilidade da dispersão dos aviões, pois, em Bissalanca, estavam sempre demasiado juntos, devido ao elevado número de aviões estacionados na base. A preocupação do Estado-Maior da Força Aérea (EMFA) assentava no facto de surgirem, com alguma frequência, notícias sobre a possibilidade da guerrilha guineense ter meios aéreos e alguns pilotos para usar contras as forças portuguesas, nomeadamente contra Bissalanca [17].

Em resposta, o comando de Bissalanca refere que “as possibilidades de dispersão das aeronaves na BA12 são nulas, pois que as áreas consolidadas nem sequer são suficientes para todas as aeronaves existentes no arranjo normal do estacionamento” pedindo que, como primeira medida, sejam aumentadas as áreas de estacionamento. Refere ainda que “a execução dessa área de estacionamento deve ser, não como placa contínua, mas à base de placas para 1 ou 2 aviões, devidamente protegidos”.

Além destas medidas, os responsáveis da base preconizam ainda que, para protecção contra ataques aéreos do inimigo, deve ser montada “uma estação de radar mais adequada à detecção à distância”, além da aquisição de redes de camuflagem, do reforço dos meios de artilharia AA e a introdução de mísseis Sidewinder no Fiat, ou pelo menos, de um visor próprio para tiro ar-ar. Relativamente à ameaça aérea, o comando da BA12 considera que esta pode concretizar-se na forma de um avião isolado, partindo da República da Guiné (Boké ou Conakry) voando a baixa altitude, sendo provável que o ataque ocorra ao cair da tarde ou da noite [18].

Fiat G 91 R/4 , uma versão que equipaou a FAP na Guiné
durante a guerra colonial... Hoje peça de museu...
Cortesia de Wikipedia... [Edição: LG]
No seguimento deste estudo são enviados à Guiné quatro oficiais (dois da Força Aérea e dois do Exército) para, in loco, estudarem o problema da defesa aérea da colónia. Este grupo elabora depois um vasto relatório no âmbito do SGDN em que preconiza diversas medidas que, em linhas gerais, passam pela dispersão e protecção dos meios aéreos em abrigos ligeiros a construir; o reforço do serviço de incêndios da BA12 em pessoal e material; o provimento de material electrónico e de apoio para o bom funcionamento dos dois radares AN/TPS-1D, já instalados na base, e formação do pessoal especialista para operação destes equipamentos; a criação de um Centro de Aviso Aéreo (CAA) e de um Centro de Operações AA (COAA) e respectivas ligações telefónicas com os radares, torre de controlo e baterias AA; a efectivação do programa dos mísseis AIM-9B Sidewinder no G-91 e também uma eventual aquisição futura de mísseis antiaéreos ligeiros do tipo Redeye.

Em resposta a este estudo, o chefe da 3ª Repartição do Estado-Maior da Força Aérea (EMFA), Coronel António da Silva Cardoso, submete ao CEMFA a “Informação nº 104” em que descreve as medidas preconizadas pela referida comissão procurando depois definir quais as medidas exequíveis sem grandes custos para a Força Aérea e quais as que exigem encargos vultosos. Silva Cardoso considera que o fornecimento de alguns componentes electrónicos e de apoio ao bom funcionamento dos radares já está em curso, no entanto, a satisfação de outras necessidades implicará custos não suportáveis pelas verbas normais da Força Aérea, como é o caso da protecção dos meios aéreos, o reforço do serviço de incêndios em pessoal e material, a criação do CAA e do COAA e o reforço da ZACVG com o pessoal necessário à operação dos radares e COAA.

No mesmo documento, Silva Cardoso informa também o CEMFA sobre os testes realizados nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA) para a instalação dos mísseis Sidewinder no Fiat e a mudança do visor de tiro usado pelo avião. “No que respeita ao visor, constatou-se ser possível equipar os G-91 com qualquer outro tipo diferente do que actualmente possuem”, procedendo-se à instalação de um visor giroscópico K-14 de origem americana. “Contudo, o material disponível apenas permitirá equipar 3 aviões e, por se tratar de material muito antigo, a aquisição de mais material não será fácil, mesmo através da USAF por intermédio do adido em Washington”, conclui Silva Cardoso.

Quanto à avaliação do AIM-9B no Fiat, nas condições tácticas previstas para o seu emprego na Guiné, os testes não conduziram a resultados satisfatórios. “Numa primeira fase dos testes de verificação de captação de radiação infravermelha produzida por aeronaves de motor convencional, constatou-se que o míssil não capta qualquer radiação quando apontado a aviões convencionais, monomotores ou bimotores, manobrando o avião nos sectores de cauda e entre o nível do mar e os 10 mil pés.

Paralelamente, a utilização dos G-91 em combate aéreo, equipados com Sidewinder, contra aviões do tipo MiG revela-se altamente duvidosa, porquanto as características de utilização do míssil estão em nítida desvantagem face às performances dos prováveis inimigos. Estas restrições de utilização dos Sidewinder contra aviões de maior performance assumem maiores dimensões se o combate aéreo se travar a baixas ou médias altitudes porquanto o míssil será inoperante. Daqui se deduz ser altamente duvidosa a utilização operacional dos G-91 equipados com Sidewinder” [19]. Em suma, Silva Cardoso desaconselha a utilização do AIM-9B no Fiat devido aos condicionalismos detectados nos testes.

(Continua)

 ________________

Notas do autor:


[1] PERINTREP n.º 9/63, de 4 de Agosto de 1963, Arquivo da Defesa Nacional (ADN) /F2/02/01/6.


[2] Perintrep n.º 13/63, de 25 de Setembro de 1963, ADN/F2/02/01/6.

[3] Processo P.2.103.1.5/62 do Chefe de Estado-Maior do Exército para o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, 11 de Janeiro de 1962, Arquivo Histórico Militar AHM/FO/29/1/351/51.


[4] Estrato do Relatório da visita à Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné (ZACVG) do Chefe da Secção de Comunicações, Coronel Albuquerque e Castro, Serviço de Documentação da Força Aérea/Arquivo Histórico (SDFA/AH), 1ª Região Aérea, Cx. 102, Processo 430.201.


[5] Relatório das experiências com o radar AN/TPS-1D, realizadas na Escola Militar de Electromecânica, em Paço de Arcos, 20 de Julho de 1962, AHM/FO/29/1/351/51.


[6] Memorando da 3ª Repartição de Operações do Estado-Maior do Exército sobre a Defesa AA de Cabo Verde e Guiné, 18 de Outubro de 1962, AHM/FO/29/1/351/51.


[7] Estudo da Defesa Antiaérea de Cabo Verde e Guiné, 1963, AHM/FO/29/1/351/52.


[8] Informação n.º 283/62 da 1ª Repartição do Secretariado-Geral da Defesa Nacional, Lisboa, 12 de Outubro de 1962, ADN F2/92/306/1.


[9] Nota nº 94 do Chefe de Estado-Maior da Força Aérea para a Secretaria de Estado da Aeronáutica, 30 de Julho de 1963, SDFA/AH.


[10] Nogueira, Franco, Diálogos Interditos, Volume II, Editorial Intervenção, Braga, 1979, pp. 58-60.


[11] Matos, José, A saga do Sabre Mk.6, 1ª parte, Mais Alto nº 394, Novembro/Dezembro de 2011, pp. 37-38.


[12] Estrato do Relatório da visita à ZACVG do Chefe da Secção de Comunicações, Coronel Albuquerque e Castro, SDFA/AH, 1.ª Região Aérea, Cx. 102, Processo 430.201.


[13] Relatório da Secção de Radar da BA12, Bissalanca, 23 de Março de 1970, SDFA/AH, 1.ª Região Aérea, Cx. 102, Processo 430.201


[14] Flight Information Region.


[15] VHF Omnidirectional Radio Range.


[16] Informação fornecida ao autor pelo Alferes Oliveira Couto.


[17] Verbete n.º 1592/RB da 2ª Repartição do Secretariado-Geral da Defesa Nacional, Assunto: Defesa Aérea da Guiné, 16 de Junho de 1969, ADN, Fundo Geral SGDN 6861/3.


[18] Informação n.º 169 da 3ª Repartição do Estado-Maior da Força Aérea para o CEMFA, Assunto: Medidas para protecção de aeronaves da BA12, 26 de Setembro de 1969, SDFA/AH, 1.ª Região Aérea, Cx. 102, Processo 430-201.


[19] Informação n.º104 da 3ª Repartição do EMFA para o CEMFA, Assunto: Defesa Aérea da Guiné, 28 de Abril de 1970, SDFA/AH, 1ª Região Aérea, Cx. 64.

___________