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segunda-feira, 6 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11535: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (6): Testando armamento (HK 21 e morteiro 60) na berma da estrada, na ausência de carreiro de tiro...


Foto s/ nº > Mansoa > 1973 > Testando a HK 21 (1)



Foto nº 84   > Mansoa > 1973 > Testando a HK 21 (2)





Foto s/nº  > Mansoa > 1973> Testando a HK 21 (3)


Foto s/nº  > Mansoa > 1973 > Testando o Morteiro 60 (ou morteirete)


Fotos: © Carlos Alberto Fraga (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]

1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Carlos Fraga (*), recentemente admitido como membro da nossa Tabanca Grande (nº 611). Recorde-se que ele esteve em Mansoa, no 2º semestre de 1973, como alf mil (da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72), indo depois comandar uma companhia em Moçambique, já depois de 25 de abril de 1974.

Publicam-se hoje  fotos de militares da 3ª C/BCAÇ 4612/72  a experimentar  armas no "2º ou 3º dia depois do Choquemone" (**).

Acrescente-se, a talhe de foice, que a maior parte dos setores não tinha... carreira de tiro.  No setor L1, por exemplo, havia, no tempo do Paulo Santiago,  do J.L. Vacas de Carvalho e do Luís Dias, uma carreira de tiro para instrução das novas companhias de milícias. Mas eu não me lembro, no meu tempo, de nenhuma carreira de tiro em Bambadinca. Havia uma em Contuboel, no tempo em que demos instrução de especialidade aos futuros soldados (guineenses) da CCAÇ 12. 

Parece que em Mansoa também não havia carreira de tiro, no 2º semestre de 1973, a avaliar por estas fotos... Por outro lado, no meu termpo, fazer tiro no mato era punido disciplinarmente... Por exemplo, no rio Udunduma, quando se estava lá destacado, fazia-se-se tiro uma vez por outra...Tal como se pescava à granada mas isso podia causar alarme quer em Bambadinca (, sede do batalhão,)  quer nos destacamentos ou tabancas em autodefesa,  à volta (Nhabijões, Amedalai...) ou ainda nos aquartelamentos  mais próximos (por ex., Xime).

No nosso caso (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), confiávamos na fiabilidade das nossas armas (nomeadamente da G3), graças ao impecável trabalho do nosso 1º cabo quarteleiro (ou de manutenção de material) João Rito Marques que reencontrei há tempo num convívio, e é natural de Sabugal.



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Centro de Instrução de Milícias (CMIL) > Setembro de 1973 > A Instrução de tiro na carreira de tiro, que era perto da ponte do Rio Udunduma, na nova estrada Bambadinca-Xime.

Foto: © Luis Dias (2008). Todos os direitos reservados.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3187: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (16): Instrutor de milícias em Bambadinca (Out 1971)

Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (16)


Texto e fotos do Paulo Santiago
ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 53
Saltinho 1970/72


Página do manual de instrução AS MILÍCIAS NA CONSTRUÇÃO DE UMA ''GUINÉ MELHOR'



Instrução de Milícias em Bambadinca

Foquei na última memória a minha ida para Bambadinca, para comandar uma Companhia de Instrução de Milícias. Vão hoje mais algumas lembranças dessa fase.

A instrução de tiro é daquelas que mais me aviva a memória, fazendo-me pensar que, possivelmente, estávamos meios loucos, melhor, estávamos completamente apanhados.
A carreira de tiro, desaterro efectuado quando da construção da estrada Xime-Bambadinca, situava-se aí entre 500 a 1000 metros da ponte do rio Udunduma, para quem seguia em direcção ao Xime.

A zona, para quem se lembra, era perigosa, mas sempre fomos na maior das calmas, como se não houvesse guerra nas imediações. Ia um pelotão de cada vez, em viaturas até à carreira de tiro, quer fosse dia ou noite, porque também havia instrução de tiro nocturno. Se de dia era arriscado, imaginem à noite.

O oficial de tiro, já dito na memória anterior, era o Vacas de Carvalho, depois substituído pelo Vilaça, talvez no início de Dezembro de 1971, nestas funções e também no comando do Pelotão Daimler.

Na instrução nocturna, o Fur Mil instrutor e o monitor levavam umas granadas e uns dilagramas, sendo esta a segurança acrescida. Claro que eu levava a G3, quer de dia ou de noite.

Em Fevereiro de 2005, quando estive no quartel de Bambadinca, contei esta cena ao comandante, respondendo ele..."tiveram sorte".


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) > No dia de encerramento da instrução, junto da carreira de tiro.


Tensão arterial baixa

Aí por início de Dezembro de 71, ia eu numa instrução de Educação Física (E.F.), correndo com os instruendos na estrada Bambadinca-Bafatá, falando em termos militares, fazia um trabalho de estrada, quando comecei a transpirar em abundância, espalhando-me de imediato no asfalto.

Passados uns segundos, recobrei, regressando apoiado ao quartel, indo de seguida ao
posto médico expor ao Dr Vilar (mais conhecido por Drácula) o episódio. Aplica-me no braço o aparelho de medir a tensão arterial, dizendo-me após verificação:
- Ó caralho, estás mal, tens a merda da tensão a 4,5-7,5.
- Que medicamento tens aí para tomar?, pergunto eu.
- Qual medicamento, vais mas é começar a beber whisky logo de manhã, não te embebedas só à noite, ao meio-dia tens de estar borracho; se seguires estas indicações a tensão arterial normaliza - foi esta a receita prescrita pelo médico.

Resultou, apesar de não estar bêbado ao almoço. Durante uns tempos caminhava para essa fase a passos largos, comecei mesmo a beber uns whiskies logo pela manhã.
Estava tudo doido, começando pelo médico.

Foto tirada na ponte de Udunduma com o Celo ao meu lado esquerdo. Os restantes são militares do destacamento (talvez da CCAÇ 12). Foi tirada num Domingo em que fui ao Xime beber copos...Maluqueiras!

As meninas de Bafatá

Habituei-me a ir às meninas. Ao sábado não havia instrução, andava em pulgas para que chegasse este dia. Chegava à sexta-feira, começava a funcionar a "cabeça perfurante" sem ligar à "cabeça pensante" e no sábado lá ia com o Vacas, de Daimler, para Bafatá.

O Zé Luís conhecia uma série de meninas, havia duas que trabalhavam ou tinham trabalhado no Fontória em Lisboa. Era uma rebaldaria. Depois do serviço, vá de comer e beber uns copos naqueles restaurantes de Bafatá.

Após o Vacas de Carvalho ter regressado, andei uns tempos sem companhia para vir à cidade, mas já quando formava a 2ª Companhia de Milícias consegui convencer, ou desviar, o Fur Mil Dinis para me acompanhar nos desvarios da carne.

__________

Notas de vb:

(*) Vd. artigos anteriores da série, em

13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3053: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (15): Instrutor de milícias em Bambadinca (Out 1971) e

25 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2302: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (14): Ilustres visitantes no Saltinho

quinta-feira, 21 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11288: (De) caras (13): Guerra Ribeiro, natural de Bragança: de administrador colonial no tempo do Schulz a intendente no tempo de Spínola (Paulo Santiago / Cherno Baldé / António Rosinha)


Foto 1> Guiné > Zona leste > Bambadinca > BART 2917 (1970/729 > Março de 1972 > Carreira de tiro > Da direita para a esquerda: (i) na primeira fila: o general Spínola  e o ten cor Polidoro Monteiro (comandante do BART 2917); e atrás, na segunda  fila,  (ii)  o  antigo administrador de Bafatá, o então intendente Guerra Ribeiro.



Foto 1> Guiné > Zona leste > Bambadinca > BART 2917 (1970/729 > Março de 1972 > Carreira de tiro > Da direita para a esquerda: (i) na primeira fila: Comandante do CAOP 2, General Spínola,  e o ten cor Polidoro Monteiro (comandante do BART 2917); e atrás, na segunda  fila,  (ii) o Paulo Santiago (,de bigode e óculos escuros, o ten-cor Tiago Martins e o  antigo administrador de Bafatá, o então intendente Guerra Ribeiro.



Foto 2-A > Guiné > Zona leste > Bambadinca > BART 2917 (1970/729 > Março de 1972 > Carreira de tiro > em primeiro plano, dois civis, da administração colonial , sendo o segundo o Guerra Ribeiro), no meio de militares, com o gen Spínola ao centro; ao fundo, à direita o nosso grã-tabanqueiro Paulo Santiago, na altura instrutor e comandante de companhia de milícias.


Foto 2 > Guiné > Zona leste > Bambadinca > BART 2917 (1970/729 > Março de 1972  > Foto de conjunto das autoridades civis e militares em visita à carreira de tiro de Bambadinca.

Fotos (e legendas): © Paulo Santiago (2013). Todos os direitos reservados [Fotos editadas pro L.G.]


1. Mensagem do Paulo Santiago [ex-Alf Mil At Inf, Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72], com data de ontem:

Olá,  Luís

No P 11281 (*) fala-se do Guerra Ribeiro, Administrador de Bafatá. Conheci a pessoa num dia em que apareceu no Saltinho,e lá pernoitou.

Mais tarde,apareceu em Bambadinca na cerimónia de encerramento do curso de Milícias. Nesta altura, já não era Administrador, era Intendente, e penso que estava em Bissau, mas sei muito pouco sobre estes cargos da Administração Civil. [Voltei a Bambadinca em Janeiro de 72 e, durante o novo curso de milícias, tive duas visitas do Com-Chefe, uma aí pelo meio e a outra no final tendo, desta vez, sido cumprido todo o programa de encerramento, que incluiu uma deslocação de viatura à carreira de tiro, que ficava para lá do destacamento da Ponte de Udunduma, a caminho do Xime].

Nas fotos juntas, Março de 72, aparece o então Intendente Guerra Ribeiro. Na primeira, é a pessoa de farda amarela, atrás do Polidoro Monteiro e do Spínola. Na segunda, está a olhar para o lado esquerdo, e vê-se, também fardado,um outro elemento da Administração Civil que não sei quem é. (**)

Abraço, Paulo Santiago


2. Comentário de Cherno Baldé ao poste P11281 (*):

O Guerra Ribeiro, Administrador da Circunscrição, depois Concelho de Bafatá nos anos 60, era o terror dos nativos "indígenas" que viviam nos arredores ou visitavam a cidade, por força de uma medida administrativa que mandava prender e açoitar todos os nativos que nela entrassem de pés descalços.

A medida era inédita, controversa e paradoxal, porque no seu ambiente natural, salvo raras excepções (personalidades politicas ou religiosas), o nativo guineense, em geral, não usava sapatos no seu dia-a-dia e, também na fase inicial da colonização, o uso de sapatos entre o "gentio" ou era mal visto ou simplesmente proibido pela administração.

E, de repente, nos anos 60, o Administrador de Bafatá confundiu a mentalidade dos nativos com esta medida que intrigava muita gente e teria sido motivo para o surgimento de casos caricatos que ainda hoje se contam e são motivo de divertidas gargalhadas.

Com esta medida histórica, quem tivesse que passar por Bafatá, por qualquer motivo, sabia de antemão ao que era obrigado, mesmo que, por isso, tivesse que arrastar os pés ou andar como um coxo, porque os cipaios de Guerra Ribeiro estavam lá para fazer cumprir a ordem.

Assim, na região de Bafatá a história do uso de sapatos está intimamente ligada ao nome de Guerra Ribeiro, e a maioria dessas pessoas compravam o seu par de sapatos exclusivamente para satisfazer
o Senhor Administrador de Bafatá.

O nome de Guerra Ribeiro está também ligado a construção do Bairro-de-Ajuda, o único Bairro digno deste nome na periferia da antiga Bissau,  construído na base de trabalho obrigatório.

É por estas e outras coisas que, hoje, face a situação actual do pais, muita gente questiona (em especial os mais velhos) se não era melhor manter a ordem e a disciplina coloniais.

 3. Comentário do António Rosinha ao poste P11281 (*):

Sempre houve chefes de Posto, ou Administradores coloniais,  que deixaram marcas como este Guerra Ribeiro que talvez o nosso Cherno só já conheceu de ouvir falar.

Mas não sei se existiu mesmo uma lei colonial ou não que se contava: "Nas Repartições do Estado, não podem entrar nem cães, nem pretos descalços".

Mas o trabalho obrigatório como o bairro da Ajuda já fora da Chapa-Bissau (moderno), esse trabalho teve mais ou menos o mesmo processo do trabalho criticado políticamente pelos movimentos PAIGC, MPLA...que era os "contratados" em Angola.

Também lá em Angola eram os Chefes de posto ou Administradores que, como Guerra Ribeiro, arrebanhavam, convocavam, obrigavam, "contratavam" os jovens das tabancas a prestarem trabalhos
temporários, que eram sempre remunerados e com normas.

E,  como diz o Cherno, a "disciplina colonial", também eu digo sempre, que os velhos régulos "gostavam" dos chefes de posto. Mas não é fácil de explicar, quem poderia explicar bem era um Luís Cabral, um Nino, e mesmo Amílcar Cabral.

Os que politicavam antes da guerra diziam que,  se se produz tanta riqueza para o branco com trabalho obrigatório, quando for a trabalhar para nós...imagine-se.

Ainda trabalhei com guineenses na Tecnil que conheceram esse muito afamado Guerra Ribeiro, para o povo era tão afamado como Spínola. Sempre que ouvia falar nele era no tom como aqui se fala do Salazar, quando se diz agora só "dois salazares".

A minha vida em Angola foi trabalhar com "contratados", e só soube analisar o que isso era depois de trabalhar 13 anos na Guiné com "voluntários". E cá, com brasileiros, guineenses, moldavos e ucranianos.

4. Comentário do editor:

A expressão "Guerra Ribeiro - Bafatá" aparece num documento, de 5 páginas, manuscrito, de Amílcar Cabral, sem data, disponível no Arquivo Amílcar Cabral:  "Título: Ordens de Missão. Assunto: Apontamento com Ordens de Missão manuscrito por Amílcar Cabral. "Guerra Ribeiro - Bafatá". Data: s.d. Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Manuscritos de Amílcar Cabral (Organização Militar, Organização do Lar, Estratégia Militar)".

No museu da RTP há um outro documento se ciat o nome do Guerra Ribeiro: trata-se do texto do programa "Crítica literária, por José Blanc de Portugal", que passou na Emissora Nacional, em 27 de julho de 1966, às 14h50

Nesse programa fala-se do livro  de crónicas do jornalista e escritor Amândio César, Guiné 1965: Contra-ataque. Numa dessas crónicas, aparece o nome de Guerra Ribeiro, que faz de tradutor para o Amândio César, numa cerimónia de juramento de bandeira de soldados do recrutamento local, em Nhacra, cerimónia essa que é abrilhantada com cânticos e danças mandingas. Diz o José Blanc de Portugal:, citando o cronista "Eu não, eu não sou terrorista. Sou português da Guiné Portuguesa". E comenta Amândio César: "Era o fim desta maravilhosa. Os versos traduzia-mos Guerra Ribeiro, um bragançano que se encontra há muito na Guiné Portuguesa. O povo continuou a comemorar aquela festa de ronco pelo dia adiante. Tinha direito a esta festa que era portuguesa e pelos pretos da Guiné portuguesa" (...). 

Noutro documento do museu da RTP, disponível na Net, Amândo César refere-se a Guerra Ribeiro como administrador de Bissau.

Ficamos, portanto, a saber que o administrador Guerra Ribeiro era  natural de Bragança, bragançano ou bragantino.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de março de 2013 >  Guiné 63/74 - P11281: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte VII): Bafatá, uma piscina para três mil...

(**) Último poste da série > 9 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10133: (De) caras (12): Foi com um arrepio que voltei ao Xime e a Mansambo, ao ver o vídeo sobre o quotidiano da Cart 2339 (António Vaz, ex-cap mil, CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69)

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19719: Notas de leitura (1172): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Fevereiro de 2019:

Queridos amigos,
Procura-se a sincronia com Santos Andrade, desta feita a recruta, seguir-se-á a especialidade, ele em Estremoz, como irá contar e cantar. Recruta é adaptação, a superação de temores, o primeiro degrau da camaradagem, as marchas, a carreira de tiro, a tática, a ideologia da contraguerrilha num conta-gotas, dada com a mais elementar superficialidade e indiferença. E a descoberta.
Falando por mim, já me confidenciei:
"O Tangomau maravilha-se. Acima de tudo com a ginástica, por andar, saltar, marchar, pular, até rastejar. Tem bom físico mas com aquelas aulas, aquelas marchas e caminhadas, o seu corpo está a ganhar vida, a ter mais músculo, até dorme melhor. Quando regressa do crosse da Ericeira, entra pela ala sul risonho ou bem-disposto, ganhou o dia, sente-se outro".
Em abono da verdade, sem aquela recruta, e sem a duríssima especialidade que se seguiu, não teria tido a preparação que me permitiu, meses a fio, aqueles passeios diários de 25 km entre Missirá e Mato de Cão, para cuidar da navegabilidade do Geba. Tudo ganhos da recruta, afianço-vos.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (3)

Beja Santos

“Missão Cumprida”, de Santos Andrade, é a história em verso do BCAV 490. Foi composto e impresso na Tipografia das Missões, Guiné Portuguesa, em julho de 1965. Idealizei a sua publicação em pequenas porções, a que se irão adicionando leituras colaterais e incidentais, sem esquecer o apelo permanente de propostas dentro da confraria, há imenso pasto para conversa de como se foi a caminho da recruta, como ela decorreu, a especialidade e a hora da mobilização, capítulo primeiro desse grande romance que foi a comissão de cada um de nós. A festa está centrada no BCAV 490, o Santos Andrade é o Homero desta Odisseia, mal o projeto foi esboçado bateu-se à porta do Armor Pires Mota, a pedir ajuda, divulgação junto dos seus pares, esta “Missão Cumprida” deve continuar, com eles a protagonizá-la, querendo.
E vamos continuar, Santos Andrade chegou a Mafra:

“Neste grande Convento
o sofrimento aumentava.
A minha sorte era o dinheiro
que minha mãe me mandava.

Havia quem me dissesse
que a tropa não era má,
mas só quem vem para cá
é que sabe o que acontece.
Muitas vezes se adoece
por causa do sofrimento.
Aqui neste aquartelamento
há sempre pouco comer.
Tenho muito que sofrer
neste grande Convento.

Dia a dia vou sofrendo.
A minha sina já está lida.
Dos martírios da minha vida
alguns eu vou escrevendo:
vão-me sempre acontecendo
coisas que eu não esperava.
Na especialidade eu pensava
que deixava de rastejar,
mas sendo grande o meu azar,
o sofrimento aumentava.

Gastava uma conta avantajada
porque a fome era tirana.
Chegava ao princípio da semana
começava a coboiada.
Comia muita linguiça assada
eu mais o meu companheiro,
porque a mãe do Torraneiro
mandava muita encomenda.
E p’ra comprar vinho na venda
a minha sorte era o dinheiro.

A sopa era ruim,
o segundo sabia-me mal.
Foram dois meses e tal
com esta vidinha assim.
Tudo isto para mim
eram coisas que eu não gramava.
Muitas vezes eu chegava
a comer só um bocado de pão
que comprava com o patacão
que a minha mãe me mandava.”

O Santos Andrade centra-se na comida, na verdade horrível. Permito-me falar do que experimentei, assim escrevi em “A Viagem do Tangomau”:
“O Tangomau não esquece que o refeitório onde jantou pela primeira vez no convento é um espaço amplo, um género de arrecadação exterior, muito próximo de garagens de viaturas, dar-lhe-ão uma sopa de manga de capote olorosa e altamente comestível, a seguir apareceram umas sardas a nadar em banhos de fritura como se trouxessem restos de carvão, e batatas cozidas, estas apetecíveis, por sinal. Por razões do pudor, preferiu nada trazer da caserna para comer à mesa. A sopa soube-lhe bem, o casqueiro era saboroso, recusou a sarda, esmagou as batatas, saboreou-as lentamente logo à primeira garfada. Cumpre dizer que em todas as refeições militares há sempre um vigilante, pois teme-se pela indisciplina ou pelo motim, que nestas coisas da tropa dá pelo nome de levantamento de rancho, uma suprema blasfémia. E nisto, comia o Tangomau placidamente as batatas esmagadas, sonhando já com um pedacinho de proteína lá no armário, de fumeiro ou em lata de conserva, quando se aproximou o oficial vigilante: ‘O nosso cadete não tirou sarda, tem de comer, isto não é casa para gente caprichosa, aqui a gente da tropa come de tudo e não refila. Ó nosso soldado, traga cá a bandeja, ponha dois pedaços de sarda no prato do nosso cadete, regue as batatas com óleo!’. O nosso cadete ainda olhou súplice para o nosso soldado em funções de criado de mesa, este dispunha do seu poder soberano que era ver o nosso cadete massacrado, de antemão agoniado, espetou-lhe com duas metades de sarda no prato, ambas com a cabeça calcinada, e ter-lhe-á dito ao ouvido: ‘o nosso cadete coma tudo, só deixe as espinhas, o nosso tenente se ficar zangado participa de si, adeus ao fim de semana!’. E comeu tudo, com o estômago revoltado, até foi ao bar dos cadetes emborcar um bagaço (aguardente chamada 1920)”.
Este Tangomau não esqueceu a caserna, daqui se parte e aqui se chega neste mundo das novas lides que metem a parada, a Tapada ou o Corredor Lacouture:
“Nesta antecâmara, aproveita-se o tempo disponível para dormir ou cabecear, ou chalacear, quem não conhecia a habitação coletiva já se resignou a tanta gente nua, ou semivestida, às sonoridades outrora íntimas, ali é espaço para desabafos, brincadeiras, anedotas pícaras, até tertúlias”.

Vamos agora regressar a “O Pé na Paisagem”, por Filipe Leandro Martins, uma referência à carreira de tiro:
“Na carreira de tiro, quando abriram os cunhetes carregados de balas brilhantes, fez-se silêncio. Agachados no chão enchemos carregadores, os cartuchos a resvalarem nos dedos suados e no metal oleado. A barulheira começou, os tiros a partirem assobiando, os espertos a acertarem, os nabos a errarem, os monitores a ensinarem aos encontrões à malta, as cápsulas saltando a ferver da câmara.
Ficámos surdos e felizes. Já tínhamos coisas importantes para contar. Durante algumas semanas muitos de nós esqueceram que teriam preferido nunca pôr as botas no quartel”.
E ainda um outro dado sobre a recruta, da mesma obra de Filipe Leandro Martins:
“Nos primeiros quinze dias da recruta, também em filas mansas nos mandaram sentar numa sala estreita, um corredor, meio nus e pacíficos, em compridos bancos de pau; esperávamos que nos fossem espetando agulhas nas omoplatas; quando o enfermeiro chegava ao fim do banco ainda o ajudante começava a exprimir a seringa, a dose de cavalo, no primeiro ombro. Depois o enfermeiro passava novamente, arrancando fora as agulhas e alguns rapazes iam rolando para o chão e outros punham-se verdes, tentando aguentar-se nas canetas. Era assim.”

Também o Tangomau tem um desabafo a fazer sobre a carreira de tiro, não é uma visão das armas, era do que ali se oferecia a comer, conta as suas impressões passadas umas semanas da recruta, escreveu assim:
“O Tangomau anda enfiado, é essa a verdade, começaram a desmontar as armas, a dar nome às peças, ao fim de pouco tempo estava baralhado com o cão e o percutor, a corrediça, o rolete de travamento, a haste do gatilho, o alojamento do amortecedor. O mundo das armas arrepia o Tangomau, é evidente que se percebe a função do tapa-chamas, mas depois é aquele horror das cavilhas, a culatra, suportes, eixos, até a chapa do coice. Limpar a arma é uma questão de higiene e segurança, requer paciência, depois há sempre um camarada prestável que dá as indicações necessárias. O Tangomau familiarizou-se com o meio, é muito próprio dele, gosta do som dos carrilhões, passeia-se pelos corredores, está a chegar o verão e empolga-se com as folhas verdes de todo o arvoredo da ala sul. Até pediu licença para entrar onde trabalham os encadernadores e olhou demoradamente a construção das lombadas em carneira, depois debruadas a ouro.
O horrível, a tal ponto que inesquecível, são aqueles caldeiros que esperam os cadetes na carreira de tiro ou nos dias de marchas. O Tangomau nunca será acreditado por quem não esteve em Mafra que houve arroz, naquele segundo curso de 1967, que vinha com patas e cabeças de galinha com bicos e olhos, foi caso extremo mas aconteceu e repetiu-se”.

(continua)
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Notas do editor

Poste anterior de19 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19697: Notas de leitura (1170): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de22 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19706: Notas de leitura (1171): Um luso-cabo-verdiano que amou desmedidamente a Guiné (2) (Mário Beja Santos)

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9532: As novas milícias de Spínola & Fabião (2): O CIMIL (Centro de Instrução de Milícias) de Bambadinca, criado em 5 de Agosto de 1971, ao tempo do BART 2917


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Centro de Instrução de Milícias (CMIL) > Setembro de 1973 > A Instrução de tiro na carreira de tiro, que era perto da ponte do Rio Udunduma, na estrada Bambadinca-Xime.



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Centro de Instrução de Milícias (CMIL) > Outubro de 1973 > Parada de final de instrução no CIMIL de Bambadinca. Em 1º plano, o Pel Mil 388. O Cmdt da Companhia de Instrução era o Alf Mil At Inf Luis Dias,  da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74) e o 2º Cmdt era o Fur Mil Gonçalves, da mesma companhia.



Fotos: © Luis Dias (2008). Todos os direitos reservados.



Guiné-Bissau > Zona Leste > Bambadinca > CIMIL > Carreira de tiro > 1971 > O Alf Mil Cav José Luís Vacas de Carvalho, comandante do Pel Daimler 2206, foi também instrutor de tiro de "duas ou três companhias de milícias", numa altura em que aumentava a escalada da guerra e se intensificava o esforço de africanização das NT. "Eu estou atrás do General Spínola. Ao meu lado direito está (parece-me) o Fabião e logo a seguir o Polidoro Monteiro. E atrás, de óculos escuros, parece-me ser o Tomé".

Foto: © J.L. Vacas de Carvalho (2006) Todos os direitos reservados.

Desenho: Tony Levezinho (1971) para a capa da História da CCAÇ 12.










1. Este era o Dispositivo militar do BART 2917, sediado em Bambadinca (Setor L1), durante o período de junho de 1970 a março de 1972. Podia ser calculado em cerca de 1350 homens, metade dos quais do recrutamento da província (CCAÇ 12, Pel Caç Nat 52, 53 e 54, 2º Pel Art, mais companhias de milícias). A população que vivia no setor era estimada em 20 mil (5 mil sob controlo do PAIGC, e os restantes 15 mil sob controlo das NT).


Em 5 de Agosto de 1971 foi criado o Centro de Instrução de Milícias (CIMIL) de Bambadinca.  Por lá passaram, como instrutores, camaradas nosso como o Paulo Santiago, o Luís Dias, o Vacas de Carvalho... 


Em 25out71, foram sediar em Candamã e Enxalé, os Pel Mil (Pelotões de Milícias) 308 e 309, respetivamente,  formados no  CMIL. 


Em 25dez71 após o término do 3º Turno/71 da instrução de Milícias em Bambadinca foi sediar no Enxalé o GEMIL 310 (Grupo Especial de Milícias),  formado neste CIMIL,  o qual  já tinha formado, além dos GEMIL 309, 310 e PMIL 308 atribuídos, ao seu Sector, os seguintes para outros sectores: os PMIL  315 e 316 para o Setor L-5,  GEMIL 323 para o Setor L-4. 


Em 17jan72 dava início à  instrução de pelotões de milícias para Deba, Campada e Ponta Augusta de Barros.

O BART 2917 também prestou o seu apoio ao Centro de Instrução de Comandos Africanos quando em funcionamento em Fá Mandinga.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21517: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (10): Relembrando a morte, por acidente com um dilagrama, no CIM de Bolama, em 10/7/1972, do alf mil Carlos Figueiredo


Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Bolama >  c. jun/jul 1973 > O jardim colonial,  com a estátua em bronze de Ulysses S. Grant (1822-1885), o presidente norte-americano que em 21 de abril de 1870 resolveu, por sentença arbitral, a questão da soberania de Bolama, disputada entre Portugal e a Grã-Bretanha... 

A estátua em bronze desapareceu em 2007, sendo mais recentemente substituída por uma em cimento, A foto é do nosso camarada Luís Mourato Oliveira, que em meados de 1973 fez um estágio,  de preparação para o comando de subunidades africanas, no Centro de Instrução Militar (CIM)  de Bolama. Um ano antes, estiveram  aqui o Carlos Barros e a sua 2ª CART / BART 6520/72 a fazer a IAO.

 Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Carlos Barros, Esposende


1. Mais uma pequena história do Carlos Barros [, um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974; membro da Tabanca Grande nº 815; vive em Esposende, é professor reformado]

Recorde-se que o BART 6520/72 foi mobilizado pelo RAL 5 (Penafiel), tendo embarcado em 23 de junho de 1972 (Cmd, CCS e 2ª Companhia )... Após a realização da IAO, com as suas companhias, de 30 de junho de 1972 a 26 de julho de 19l72, no CIM, em Bolama, seguiu, em 28 de julho de 1972 ara o sector de Tite, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com o BArt 2924.

Em 20 de agosto de 1972, assumiu a responsabilidade do Sector SI, com sede em Tite e englobando os subsectores de Tite, Jabadá, Nova Sintra e Fulacunda, este até 4 de janeiro de 1973, por transferência para a zona de acção do COP 7. Em 19 de junho de 1973, por extinção do COP 7, a zona de acção do batalhão foi alargada com os subsectores de Fulacunda e Ganjauará.

Desenvolveu intensa actividade operacional, orientada para a realização de patrulhamentos, emboscadas, reconhecimentos ofensivos e acções sobre os grupos inimigos instalados na área, além de garantir a segurança e protecção das populações e a reacção contra flagelações efectuadas sobre os aquartelamentos e aldeamentos.

Dentre o material capturado mais significativo destacam-se: 1 metralhadora ligeira, 2 pistolas-metralhadoras, 8 espingardas, 1 lança-granadas foguete e a detecção e levantamento de 38 minas.

Após ter coordenado a desactivação e entrega do subsector de Nova Sintra ao PAIGC, em 17 de julho de 1974, recolheu em 20 de agisto de 1074 a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso, tendo as subunidades dos restantes subsectores assumido a responsabilidade das medidas de desactivação e entrega dos aquartelamentos respectivos: Jabadá (1º Companhia), Nova Sintra (2ª Companhia) e Fulacunda (3ª) Companhia.
 

Relembrando a morte, por acidente com  um dilagrama, no CIM de Bolama, em  10/7/1972, do alf mil Carlos Figueiredo  (CCS/BART 652o/72)

 por Carlos Barros (**)


Em Bolama, quando os militares da 2ª CART/BART 6520/72 estavam a fazer a IAO, uma pré –preparação militar para nos ambientar à guerra, a carreira de tiro era o local onde treinávamos com o material de guerra: G3, bazucas, dilagramas, morteiros 60...

Foi um mês [. junho / julho de 1972,] de intenso treino com “fogo real”…

O furriel Barros tinha estado, no quartel,
perto do rio Geba, não longe do destacamento dos dos fuzileiros, com o seu amigo, alferes Carlos [Manuel Moreira de Almeida]  Figueiredo, da CCS [, natural de São Pedro do Sul,] e, numa conversa amena, este tinha-lhe confessado que estava farto da carreira de tiro e que ia pedir ao comandante para o deixar descansar.

O Barros ouviu o seu desabafo do seu amigo e concordou com a ideia do Alferes, seu amigo, porque não era fácil ouvir tanto tiro, tanto rebentamento, durante semanas “a fio”!

No dia seguinte, o pelotão do Barros estava no mato em exercícios militares e vê uma urna a ser transportada numa viatura militar. Perguntou a si mesmo, o que teria acontecido? ...

Naquele momento, uma grande e mortífera cobra passou por ele... O Barros não fez qualquer movimento e ela seguiu o seu caminho…

Em pleno treino, na carreira de tiro, no lançamento de um dilagrama, com defeito de fabrico, uma granada deflagrou-se inesperadamente, e atingiu mortalmente um cabo de outra companhia (talvez de Empada) e o Alferes Figueiredo, ficando os dois irreconhecíveis.

À noite, o Barros e outros camaradas foram jantar num designado Hotel, mas não conseguiram jantar, e os pratos encheram-se de lágrimas de dor!

Perdeu-se um amigo num insólito acidente e  o Barros pensava:

Ao fim de quinze dias de  Guiné, já temos dois mortos!...

Foram noites sem dormir, e foi este o primeiro “banho de tragédia e sofrimento” que ele sentiu.

Meus Deus, dizia ele para os botões do seu camuflado:

 Irei resistir a isto?

Com muita sorte, o pessoal da companhia resistiu em 24 meses e 48 dias de guerra, tendo regressado à Metrópole, no dia 10 de agosto,

 Talvez o dia mais feliz da minha vida!...− exclamou ele.

Carlos Barros

Furriel Miliciano

Guiné 1972/74

Nova Sintra, 26 de junho de 1973 
 ______________



28 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21398: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (8): os meus livros de bolso, da RTP, oferecidos pelo MNF, em 25/1/1973, deixei-os a alguns guerrilheiros do PAIGC, em 17/7/1974... E comigo trouxe "farrapos" da nossa bandeira, e ainda os guardo, como símbolo do nosso sofrimento e coragem

19 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21371: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (7): os craques da bola...

14 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21358: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (6): a evaporação das cervejas

12 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21349: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (5): A visita da Cilinha ao destacamento de Nova Sintra, em 1973...

7 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21332: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (4): A cabrinha Inha...

4 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21325: Guiné 61/74 - P21319: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (3): As ratazanas (e o PAIGC) ao ataque em Gampará

3 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21319: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (2): A fuga da 'beijuda

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12759: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (4) : Parte IV (pp. 16-18): Regime disciplinar; Pretensões, dispensas e licenças


Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 8 >  A hora do almoço...



Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 8 A >  A hora do almoço... Pormenor: lado direito da foto nº 8: os instruendos estoirados e esfomeados...




Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 8 AA > A hora do almoço... Pormenor: lado direito da foto nº 8... Há sofrimento nestes rostos...




Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 8 B >  A hora do almoço... Pormenor: lado esquerdo  da foto nº 8: os instruendos estoirados e esfomeados...




Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 9 >  Regresso da carreira de tiro, sob a ponte romana que ligava as margens do Rio Gilão, a esquerda (casario ao fundo) e a direita (onde ficava a colina de Santa Maria e, nesta, a parte antiga de Tavira)



Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 9 A >  Regresso da carreira de tiro, sob a ponte romana.. Lado esquierdo da foto nº 9.




Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 9 B >  Regresso da carreira de tiro, sob a ponte romana.. Lado direito  da foto nº 9.




Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 10 > A memorável semana de campo...



Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 11  > Semana de campo: o grupo IN, alguns equipados de mauser...



Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 12 >  Regresso da semana de campo 



Tavira > Quartel da Atalaia > CISMI > 1968 > Foto nº 12 A >  Regresso da semana de campo  (pormenor)


Fotos (e legendas): © César Dias (2014). Todos os direitos reservados.[Edição: L.G.]



1. Continuação da publicação da brochura "Guia do Instruendo" (Tavira, CISMI, 1968), pp. 16-18 (*):












Páginas, de 16 a 18, não numeradas, do "Guia do Instruendo", usado no CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, em Tavira, na altura em que o César Dias lá fez a recruta e a especialidade (sapador) (2º semestre de 1968).

O documento, de 21 páginas, era policopiado a "stencil". O César Dias mandou-nos o documento em "power point", com 21 "slides". As páginas foram convertidas em formato jpg. O original foi-lhe dado pelo seu camarada de recruta, o Fernando Hipólito, que foi depois mobilizado para Angola, enquanto o César foi parar à Guiné.

Um grande abraço  aos dois.

O César Dias, em resposta a email meu, deu-me as seguintes coordenadas, em mensagem do dia 10 do corrente:

Olá, Luis!,,, É verdade, não voltei lá [, à Guiné, a Mansoa...] nem voltarei,  penso eu, embora gostasse de voltar a vêr alguns lugares daquela terra. Sobre o Branquinho também não sei nada dele, nem do Levezinho, mas para as Caldas não foram, porque no nosso tempo não havia especialidades nas Caldas se eram atiradores de infantaria ficaram em Tavira.

Tens razão em me relacionares com Torres Novas, nasci numa aldeia desse Concelho, Chancelaria entre Torres Novas e Fátima. Vivo há 35 anos em Santiago do Cacém, trabalhei na Refinaria de Sines este tempo todo e por cá fiquei. Estou reformado desde 2009, mas agora tive uma recaída, chamaram-me para dar formação à juventude, e eu aceitei.
Sobre as fotos, ainda pensei que tinha alguma de Santa Margarida, mas aquilo foi mesmo uma rapidinha, nem fotos fizemos.

Obrigado pelo mapa [de Tavira], fiz alguma plantação de explosivos por essa zona [, salinas].
Um abraço, César Dias.

Imagens (digitalizadas): © César Dias (2014). Todos os direitos reservados.[Edição: L.G.]


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Nota do editor: 

Postes anteriores da série:

10 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12703: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (1) : Parte I (pp. 1-6)

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6277: O Spínola que eu conheci (15): Muito obrigado pelas palavras que proferiu em S. Domingos (Bernardino Parreira / Plácido Teixeira)

Guiné > Algures > O Alf Mil Pil Heli Al III (BA 12, Bissalanca, 1968/70) e o Spínola (Com-Chefe e Governador Geral, CTIG, 1968/73)
Foto: © Jorge Félix (2010). Direitos reservados


1. Mensagem de Bernardino Parreira (ex-Fur Mil da CCAV 3365/BCAV 3846, S. Domingos e Bachile), com data de 12 de Abril de 2010:

Caro camarada Luis Graça, autor e editor deste Blogue e caros camaradas co-editores.
Começo por apresentar-vos a minha saudação e os meus parabéns pelo trabalho extraordinário que realizam diariamente, neste digníssimo Blogue.

Apesar de não pertencer a esta Tabanca, acompanho diariamente a mesma e tudo que se relaciona com a Guiné, e até já me concederam a oportunidade de comentar alguns posts.

A propósito da homenagem ao Sr. Marechal Spínola, tenho a dizer que tive a honra de o conhecer pessoalmente no dia da minha chegada à Guiné em 09/04/1971 quando apresentou os cumprimentos de "boas vindas" ao BCAV 3846, e no dia do meu regresso à Metrópole em 17/03/1973, quando o mesmo se deslocou ao Aeroporto de Bissau para apresentar os cumprimentos de despedida à CCAV 3365 a que eu pertencia.

Com já referi em anteriores comentários, fiz parte da minha Comissão Militar como Furriel Miliciano em S. Domingos e outra parte no Bachile. Em todos os destacamentos que estive e no contacto com as populações que convivi testemunhei a grande admiração e respeito que a população nativa manifestava pelo Sr. General Spínola.

Enquanto estive em S. Domingos testemunhei muitos ataques ao Quartel e posso dizer que quando de lá saí, em 1972, a situação começava a estar insustentável. Os ataques do PAIGC, vindos do Senegal intensificavam-se.

Há algum tempo, o meu camarada e amigo Plácido Teixeira, que reside nos EUA, e que também pertenceu à CCAV 3365, que esteve sempre colocado em S. Domingos de 1971 a 1973, escreveu sobre o "Inferno" que viveu em S. Domingos, e sobre o General Spínola, o seguinte texto, que vos envio com a devida permissão desse meu amigo, para publicarem se assim o entenderem.

Bem Hajam!

Abraços
Bernardino Parreira


2. Texto escrito por Plácido Teixeira, da CCAV 3365, colocado em S. Domingos,1971/1973:

"Senhor Spínola... sim, Senhor, porque outros tempos vão longe! Mas Senhor Spínola com muito respeito eu digo e escrevo o seguinte:

Muito obrigado pelas palavras que proferiu uma vez em S. Domingos, para uma Companhia abusada, e maltratada e deitada ao abandono. Lembro-me que uma vez, num horrível mês, do ano de 1972, a nossa Companhia foi um alvo, uma carreira de tiro. Sim, uma carreira de tiro e nós o alvo!!! Era bombardeamento diário. Não havia comida, não havia bebida ou até luz.

Lembro-me que andava a passar uma ronda e fomos apanhados no meio do campo de futebol. Todos saltámos do Jeep, uns para a direita, outros para a esquerda. Como fomos apanhados no meio do campo de futebol, a vala e os abrigos estava muito longe. Corri e cheguei finalmente a vala, sem arma, sem sapatos e sem oculos! Bonito para a minha defesa. Mais uma vez a ideia era sobreviver. Havia fumo por todo o lado. Como tinha chovido, na vala era só lama. Não havia luz e com o fumo nada se via para fora da vala. Era até impossível por a cabeça de fora. O tiroteio do outro lado do arame era intenso. Constou que estávamos a ser atacados com bombas de fumo e que até já tinham entrado para dentro do "quartel".

Ficámos toda a noite nos abrigos. Mesmo após o tiroteio ter parado, estava tudo cansado e desmoralizado, sabe-se lá até com que ideias... Sabíamos que do lado de fora do arame, o ataque estava bem organizado e como tal para sobreviver não havia que dar chances ou oportunidades.

Na manhã seguinte com a luz do dia só se via destruição. Poucos foram os que se aventuraram para fora dos abrigos. No entanto como era normal principiaram os boatos... o Jeep está destruído... o bar está acabado... ha dois mortos... há inúmeros feridos... na enfermaria só há sangue etc. etc.

Foi bombardeamento diário durante muitos dias. Era afinal S. Domingos. Era a razão pela qual a sede do Batalhão foi para lugar seguro. Foi assim o nosso pesadelo!

Durante os ataques e certas vezes podia-se ouvir o outro lado, sabiamos portanto que eles não estavam longe, e que afinal eram seres humanos como nós, só que defendiam a sua terra a qual não nos pertencia. Eles tinham razão. Nós éramos invasores, éramos seres humanos como eles, com pais e irmãos, alguns casados e com filhos. Ficámos esgotados e sem energia para sobreviver, água não havia a não ser a da chuva, comer não havia, e munições também estavam a esgotar rápido.

A lama acabou por secar e as pernas foram ficando presas como no cimento. As armas, muitas não trabalhavam de sujidade. Estávamos deitados ao abandono e à mercê da sorte ou do destino.

Não veio ajuda... nem do ar, nem por terra, nem tão pouco por água. Esperávamos somente ajuda, mas do Céu. Mais um dia e seríamos todos mortos ou prisioneiros tal foi essa semana maldita.

Os aviões não podiam vir, pois eles estavam tão perto, corriam o risco de ser também feridos ou mortos. Helicópteros não vinham mandar mantimentos, medicamentos e o necessário, pois seriam alvejados... estes foram os boatos!.

Finalmente ao fim de uma semana, fomos ajudados. Talvez tenha sido por Deus... Como ratos saímos das valas. A cara estava amarela, a barba enorme as roupas rasgadas, e havia lama por todo o lado e até ao cabelo.

O choque final foi saber quem ficou ferido, quem morreu etc.

Ficou tudo destruído. Gerador, frigoríficos, fogões até as panelas ficaram como um assador de castanhas! Água não havia. Passamos a beber água amarela dos "poços" da tabanca. Estávamos portanto sujeitos a malária etc.

Era uma Companhia desmoralizada, sem energia sem sono! Uns choravam com o stress de Guerra, outros não falavam, outros ficaram sem o sorriso da juventude.

Finalmente um dia um helicóptero!

Foi tudo reunido para ouvir o Governador da Guiné. Senhor Spínola eu agradeço imenso e esteja onde estiver, esteja em paz, como em paz nos deixou!
Agradeço as palavras, não de um General mas palavras de um amigo, palavras de reconhecimento.
Agradeço ter compreendido estes jovens que foram deixados a mercê das armas e da sorte.

Senhor Spínola... muito e muito obrigado por ter dito a todos nós, em frente do Comandante da Companhia que... a culpa não foi nossa... que: "a culpa foi do vosso Comandante que deixou que o vosso quartel fosse uma carreira de tiro..."!

Resta-me portanto dizer que fomos bombardeados diariamente, que sofremos porque gente sem escrúpulos, sem dignidade, gente agarrada as ideias fascistas e de poder, orgulhosos de uma farda e de peso nos ombros famintos por medalhas ao peito, nunca pediu ajuda! Esse Comandante não teve dignidade humana...

Senhor Spínola, muito obrigado é verdade... aquele senhor desumano, realmente deixou fazer do nosso quartel uma carreira de tiro, onde todos nós fomos o alvo.

Bem-haja.
Plácido Teixeira"

__________

Nota de CV:

[...]
Bernardino, não tenho ninguém da tua CCAV 3365. Obrigado pelos teus elogios ao nosso blogue (nosso, meu, teu, de todos nós). Está na altura de saltares os muros da parada e apresentares-te ao serviço... Sob pena de eu te considerar "desertor"... A Tabanca é Grande e é Nossa. Conheces as regras da casa. Manda as duas fotos da praxe. E conta-nos uma história de São Domingos. Um Alfa Bravo. Luís
[...]

Vd. último poste da série de 17 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6168: O Spínola que eu conheci (14): Sempre vi naquele homem, trinta e quatro anos mais velho do que eu, o Chefe Militar (Torcato Mendonça)