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terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18314: (Ex)citações (328): Regresso de Iemberém, viagem até Bissau, das 3h às 10h da manhã... O Pepito continua no coração de muita gente do Cantanhez... Estive em Guileje, no dia 7. É sempre com emoção que ali paro... Mando-vos cinco fotos em homenagem a todos aqueles de vós que ali muito sofreram (Anabela Pires)


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje >  Memorial à CCAV 8350 (1972/1974) e ao alf mil Lourenço, morto por acidente em 5/3/1973. De seu nome completo Victor Paulo Vasconcelos Lourenço, era natural de Torre de Moncorvo, está sepultado na Caparica.Foi uma das 9 baixas mortais da companhia também conhecida por "Piratas de Guileje" e um dos 75 alferes que perdeu a vida no CTIG..

Em segundo plano, vê-se o nicho que ao tempo da CCAÇ 3477 (1971/77), "Os Gringos de Guileje", abrigava a  imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres. A CCAÇ 3477 era, na alturam, comandada pel cap mil Abílio Delgado, nosso grã-tabanqueiro.


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Era a aqui a porta de armas, com a passadeira VIP feita com garrafas de cerveja dando acesso à pista de aviação, ao tempo da CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971), "Os Cobras de Guileje", de que era comandante o cap inf Jorge Parracho.


Foto nº 3  > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Pormenor da passadeira VIP feita com garrafas de cerveja...


Foto nº 4 > > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guildje > Interior da capela, da CART 1613 (1967/68), entretanto  renascida das cinzas, graças ao empenho da população local, da AD, do Pepito e do Domingos Fonseca, e da boa vontade de alguns velhos tugas, o "grupo de amigos da capela de Guileje", com o apoio do Blogue Luís Graça & Canmaradas da Guiné. A data da sua inauguração oficial foi 20 de janeiro de 2010 (com a presença de nossa amiga Júlia Neta, viúva do Zé Neto, entre outra gente ilustre)... Guileje voltou a ser um local de paz, de fé, de solidariedade, de (re)encontro, de ecumenismo, de esperança.  Não sabemos se tem sido utilizado mais vezes em atividades de culto. Em 2010 foi consagrada pelo bispo de Bafatá.

A imagem de Nossa Sra de Fátima foi oferecida e trazida, em março de 2010,  pelos nossos camaradas e grã-tabanqueiros António Camilo e Luís Branquinho Crespo,


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região de  Tombali > Guileje > Núcleo Museológcio Memória de Guiledje > A placa original, restaurada, que estava afixada na parede da capelinha, ao tempo da CART 1613 (1967/68), "Os Lenços Verdes", comandada pelo cap art Eurico Corvacho (falecido em 2011).

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 7 de fevereiro de 2018 > Núcleo Museológico Memória de Guiledje

Fotos: © Anabela Pires (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


1, Mensagem de Anabela Pires, com data de ontem, às 19:00:

[Anabela Pires, janeiro de 2012, em Catesse, no sul da Guiné-Bissau, foto acima,  de Pepito... Nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), e do nosso saudoso Pepito, cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; está lá de novo, desde 18 do corrente; tem 25 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande]

Caro Luís,

Só hoje [, dia 12,]  ao chegar li o teu email em que me pedias para saber notícias do pai da Alicinha e do seu avô (*). Foi uma pena mas na noite anterior à partida deitei-me bem cedo e nem computador levei para Iemberém. 

Consegui lá chegar [, a Iemberém,] e regressar sã e salva! Fiz parte da viagem de autocarro e para cá de 7place (tipo táxis coletivos) e o resto num jipe que está em Iemberém - fizeram o favor de me ir buscar e levar a Quebo pagando eu somente o gasóleo. 

Foi um regresso muito emotivo mas que eu precisava de fazer para encerrar o capítulo que tinha sido suspenso pelo Golpe de Estado de 12 de Abril de 2012 e depois com o desaparecimento do nosso tão estimado Pepito deste mundo.

Penso que para as pessoas de lá também foi reconfortante saberem que, apesar de eu só lá ter estado 3 meses,  regressei para as visitar. Como podes imaginar,  o Pepito esteve sempre presente nas nossas conversas. É daquelas pessoas que,  mesmo não estando fisicamente,  estão sempre nas nossas memórias e nos nossos corações e, quando digo "nossos",  refiro-me também a muitas, muitas pessoas de Cantanhez. 

Hoje estou muito cansada (saí de Iemberém às 3 horas da manhã e cheguei a Bissau às 10 - a estrada de Quebo até Guileje está muito pior do que há 6 anos!) mas quero dizer, a todos aqueles que aqui muito sofreram na guerra colonial, que faço sempre uma paragem em Guileje, em vossa homenagem.

Vou sempre à capelinha que,  embora tenha agora por fora um ar muito abandonado, mantém a imagem de Nossa Senhora intacta. Quero dizer-vos que fico sempre encantada com o "passeio" feito de garrafas de cervejas enterradas e que ainda se mantém em muito bom estado (bem hajam por não terem partido e espalhado todo aquele vidro!). É sempre com grande emoção que ali paro. 

Aqui há uns meses li, por acaso, um livro chamado "Deixei o meu coração em África", de Manuel Arouca (só o consegui comprar na Internet) cujo cenário principal é exatamente Guileje na época da guerra. Esta leitura só aumentou o meu desejo de regressar. Tenho a certeza de que muitos de vós gostarão de o ler. 

Por hoje só vos envio 5 fotos que tirei agora em Guileje. (**)

Um enorme abraço para tod@s,
Anabela Pires
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Notas do editor:

sexta-feira, 7 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12804: Manuscrito(s) (Luís Graça) (25): O Pepito que eu conheci... em 16/2/2006 e que, no fim da conversa de 1 hora, me fez um pedido algo insólito: um obus 14 para o Núcleo Museológico Memória de Guiledje...


Joana Graça (2014): Africa > Homenagem ao Pepito 1 > Acrílico com digital,  40 x 30 cm.



Joana Graça (2014): Tabanca Grande: caixa de histórias > Homenagem ao Pepito 2 > Técnica mista, colagens e digital,  30 x 20 x 15.

Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.



1. Conheci, pessoalmente, o Carlos Schwarz da Silva, Pepito (1949-20014),  em 16/2/2006...

Ele costumava, por essa altura do ano, vir a Lisboa, para passar os anos da sua mãe, Clara Schwarz, hoje uma veneranda senhora, de 99 anos, de origem judia, de pai polaco e mãe russa, mas portuguesa de gema, nascida em Lisboa, a 14 de fevereiro de 1915, casada com o caboverdiano Artur Augusto Silva (1912-1983).

Já nos conhecíamos do blogue, por intermédio do saudoso Zé Neto (1929-2007). Foi ele que me falou do Pepito e do seu projeto museológico de Guileje.

Como prometido, o Pepito esteve  connosco, nesse dia já longínquo de 16/2/2006:  com o Zé Neto (de manhã, na Fundação Marquês de Valle For) e comigo (à tarde, no meu local de trabalho, na Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de  Lisboa).

Foi muita gentileza, da parte dele, ter-se deslocado só para me conhecer pessoalmente, dar-me notícias da sua terra (que ele amava com um coração muito grande), e falar-me, com entusiasmo contagiante, da menina dos seus olhos - que era então o Projecto Guiledje (com dj, como ele gostava de grafar Guileje).

Capa do livro de contos de Artur
Augusto Silva (1912-1983)
 (Bissau, edção de autor, 2006)
Na altura fez questão de presentear-me com o livro de contos do seu pai, Artur Augusto Silva (Ilha Brava, Cabo Verde, 1912- Bissau, 1983), um homem de leis e de cultura, amante da justiça e da liberdade: O Cativeiro dos Bichos era o título de uma colectânea de 25 contos, selecionados pelos seus filhos, Henrique, João e Carlos Schwarz, alguns dos quais tinha sido escritos na prisão de Caxias, em 1966. O  livro tinha acabado de ser editado em Bissau (Fevereiro de 2006, edição de autor).

A conversa, de cerca de 1 hora, que tive com o Pepito (ninguém o conhecia, em Lisboa ou em Bissau, por Carlos Schwarz da Silva, nem quando fora ministro dos transportes num governo de transição antes do golpe de Estado de 1998) só pecou por ser curta... Mas deu para, de imediato, eu fazer mais um amigo guineense...

Bem razão tinha o capitão Zé Neto quando um mês antes tinha escrito sobre o Pepito o seguinte:

" (...) Eu conheço pessoalmente o engº Carlos Schwarz da Silva, o nosso Pepito. Passei uma tarde a conversar com ele em casa do nosso amigo comum, engº António Estácio. Eles foram colegas de infância e condiscípulos, pois o Estácio também é guineense.

"Tenho a pretensão de conhecer o carácter dos homens ao fim de dois dedos de conversa. Não tão cientificamente como tu, profissional do ramo, mas, como dizia o outro, raramente me engano.

"E asseguro-te que o Pepito é do melhor que há. Talvez um pouco sonhador, porque abdica duma vida confortável que poderia gozar cá em Portugal, em troca das mil e uma tarefas que desenvolve na sua querida Guiné em prol do seu povo. É fácil entender que o seu espírito superior choca com certo primitivismo que grassa naquela região, mas não desiste e essa é a qualidade que faz dele um amigo que muito admiro e a quem dispenso a minha modestíssima colaboração sem reticências.

"Quando ele vier, para o mês que vem, vais confirmar o quer te digo" (...).

De imediato comfirmei a opinião do Zé Neto, que era de facto um grande conhecedor da natureza humana. Para mim,foi um privilégio conhecer, ao vivo, uma pessoa com a qualidade humana do Pepito.




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 2005 > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > 

Antigos combatentes do Exército Português em Guileje, e que viviam no quartel.  O seu conhecimento do terreno permitiu mais facilmente a localização de cada um dos edifícios do quartel.

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento  (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


2. No seguimento da nossa conversa, no meu gabinete, na Escola Nacional de Saúde Pública, o Pepito, jà quase à despedida, veio-me fazer um pedido algo insólito: ele precisava de um obus 14...

Para quê ? Para pôr no seu Núcleo Museológico Memória de Guileje, a criar a partir da reconstrução do nosso antigo aquartelamento, abandonado em 22/5/1973... E eu repliquei, no blogue, esse pedido:
- Camaradas, algum de vocês sabe de um velho obus 14, para aí abandonado num qualquer ferro-velho da tropa ? Se souberem, digam-nos... Levá-lo até Guileje será outra carga de trabalhos, mas até lá folgam as costas...



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > Agosto de 1972 > O temível obus 14 [140 mm] em ação... à noite.

(...) "O Obus 14 cm (...), de origem inglesa, foi  recebido em Portugal, em 1943, para equipar as Unidades de Artilharia pesada, substituindo os  Obuses 15 cm T.R. m/918 e 15 cm / 30 m/41. O Obus foi concebido para tracção auto exercida  pelo camião tractor de 8 ton A.E.C. (Matador)  4x4 MA/46 e pelo camião tractor de 8 ton Magirus  – Deutz 4x4 MA78. Serviu operacionalmente nos teatros de guerra da Guiné, Angola e Moçambique,  entre 1961 e 1974, tendo sido substituído, em 1987, pelo Obus M114 155mm/23"... O obus 14 pesava mais de 6 toneladas... Cada granada pesava c. 45 kg...  Tunha um alcance de c. 15 km... e uma cadência de tiro de 2 granadas por minuto... Tinha uma guarnição de 10 militares... (Fonte: sítio do  Exercito Português).

Foto: © Vasco Santos (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



Ele falou-me com entusiasmo do progresso das escavações efetuadas pelo pessoal da AD e população local no antigo aquarteklamento de Guileje. Nas limpezas e escavações até então feitas feitas,tinham já sido encontros e recuoperados objectos do quotidiano dos militares portugueses,  alguns curiosos como garrafas de cerveja com o rótulo de papel intacto ou garrafas de sumo de laranja - de um conhecido fabricante de refrigerantes de então, com sede em Venda do Pinheiro, Mafra...

Divertidas, para o Pepito, eram as manifestações de humor (e de carinho) dos fulas para com os seus antigos camaradas de guerra, metropolitanos: ele  referiu-se às gravações audio que estavam a fazer e em que os antigas combatentes fulas, que estiveram do lado das NT, imitavam descaradamente os tugas, quando estes estavam debaixo de pressão (na época ainda não se usava o termo stresse...):
- Seus c...lhos...! Seus ca...ões! Seus s... nas! Seus filhos... da p...!

O Pepito prometeu-me depois mandar alguns excertos dessas gravações áudio, reveladoras do superior sentido de humor fula... E comentei-lhe:
- Ora quem diria! ... Eu, pessoalmente, sempre os achei inteligentes e com grande capacidade para negociar e estabelecer alianças estratégicas.

O Pepito também corroborou este ponto de vista: os fulas eram um povo  orientado para o poder, aliaram-se ao Spínola contra o Amílcar Cabral; e depois ao Luís Cabral, a seguir à independência, contra os balantas...

Lisboa, ENSP/UNL, 13 de julho de 2007 >
 Pepito no meu gabinete. Foto  de L.G.
Como diria o Príncipe de Salinas, protagonista do filme O Leopardo (Visconti, 1963), eles eram os leopardos, os leões, enquanto os novos vencedores - que se aliaram ao PAIGC - não passavam de chacais e de hienas... Mesmo assim, eles tinham a consciência de que, presas e predadoras, têm de coexistir (mais ou menos pacificamente) naquela terra, que é a sua terra...

O Pepito mostrou-se, por outro lado, deveras impressionado com o que estava a acontecer com o nosso blogue e o ritmo de produção das nossas memórias... E eu, na altura, avancei com uma explicação de vulgata sociológica:

 (i) a nossa geração, os machos, tinham  mais ou menos à sua frente quinze anos a vinte de 
esperança média de vida;

(ii) para muitos de nós, a experiência da guerra colonial terá sido porventura o acontecimento maior, talvez o mais  emociante, das nossas vidas cinzentas;

(iii) tivemos a sorte de sobreviver e, ao fim de cinco anos, retomar a marcha do comboio, não contando com os que ficaram precocemente pelo caminho: os mortos, os traumatizados, os inadaptados, os desadaptados, os cacimbados;

(iv) muitos de nós já tinham deicado (ou estavam em vias de deixar) a vida activa e sentiam o vazio do presente: os filhos que partiram, os netos que só se veem nos dias festivos, as companheiras que sempre se recusaram a partilhar essa experiência, a guerra, que é uma actividade de machos;

(v) enfim, a memória seletiva do passado, a disponibilidade de tempo, a redescoberta da camaradagem, o apelo dos verdes anos..



Lisboa > Universidade Nova de Lisboa > Escola Nacional de Saúde Pública > 13 de Julho de 2006 > Três homens de Guileje!... Visita de cortesia e reunião de trabalho do Pepito (AD - Acção para o Desenvolvimento) - na foto, ao centro - e dois dos amigos que o apoiam no seu Projecto Guiledje: O capitão Zé Neto (à esquerda) e o coronel Nuno Rubim, especialista em história da artilharia (à direita). Os membros eram então membros, da primeira hora, da  nossa Tabanca Grande. O anfitrião fui eu.

Almoçámos juntos (tivémos a agradável surpresa da visita, embora rápida, do José Martins, que trabalhava, na épcoa, no MARN e que passou pela Av Padre Cruz a caminho do médico para uma consulta de rotina). Fizemos o ponto da situação do Projecto Guiledje, contámos histórias, conhecemo-nos pessoalmente (do grupo, eu só conhecia o Pepito, embora já tivesse falado ao telefone com o Zé Neto e o Nuno Rubim).

Tal como Pepito, o Zé Neto, infelizmente, já não está entre nós. O nosso querido Zé Neto (ex-2º sargento da CART 1613, Guileje, 1967/68, e na altura capitão reformado, com 10 anos de Macau), era o veterano da nossa tertúlia, na altura. Era um pessoa dotada  de uma invejável energia e de uma memória fabulosa.  Foi o primeiro "tertuliano" a falecer, em 2007.

 Quanto ao Nuno Rubim, ex-capitão da CCAÇ 726, Guileje, 1964/74, é bom que se recorde que foi um dos oficiais mais condecorados da Guiné (onde fez duas comissões). É hoje coronel na reforma e historiador militar. Teve a gentileza de me oferecer um das suas publicações, além de um CD-ROm com os seus trabalhos.... Por razões de saúde, também está retirado doas nossas lides bloguísticas. Falei-lhe, ainda há relativamente pouco tempo, pelo telefone.

Foto: © Luís Graça (2006). Todo os direitos reservados.


3. Sabendo das suas suas obrigações como diretor executuivo da AD e das dificuldades de comunicações da Guiné-Bissau com o mundo exterior, o Pepito surpreendeu-me, na altura,  ao dizer-me que não dispensava a visualização diária do nosso blogue. Achava que este fenómeno (a vontade de abrir o livro, o baú da memória...) também estava a acontecer na Guiné: os antigos combatentes, de um lado e do outro,  sentiam necessidade de falar do passado e passar a escrito (ou ao videogravador) as suas memórias... A necessidade de falar da luta, na cidade ou nas matas, com alguém...

Grande parte da memória (escrita) de guerra de libertação, na posse do PAIGC, dos seus militantes e ex-militantes, desapareceu, foi destruída, extraviou-se ou ficou reduzida ao Arquivo Amílcar Cabral, em boa hora tratado e preservado pela Fundação Mário Soares.

Há um sério risco da geração pós-independência ver amputada uma grande parte da memória do seu povo, a luta pela independência, a difícil construção da Guiné-Bissau, a revolução que devorou os seus filhos, a fabricação dos novos mitos, os ajustes de contas, o cinismo pós-revolucionário, a subversão de valores...

Daí que o Pepito e os seus colaboradores da AD - Acção para o Desenvolvimento estivessem  afanosamente a gravar depoimentos dos antigos combatentes e habitantes de Guileje... Começaram pelas bases, mais acessíveis e espontâneas... Numa segunda fase, esperavam poder entrevistar os dirigentes, os comandantes operacionais, os comissários políticos, quando as defesas psicológicas e as pressões dos pares se começassem a quebrar ou a esbater...

Respondi-lhe que nós também cá tínhamos esse problema: como dissera uma vez  o Jorge Cabral, ainda havia, na época, muito boa gente (militar) com culpa e vergonha de ter feito a guerra da Guiné, a começar pelos nossos oficiais superiores... A hierarquia militar não nos  parecia ainda disposta a dar a senha e a contra-senha de acesso aos arquivos militares da guerra colonial...

O que o Pepito e a sua ONG estavam então  a fazer era, na  minha opinião,  um trabalho meritório e sobretudo patriótico, com dividendos para o futuro... Foi o que transmiti ao Pepito; não há futuro para um povo que tenha perdido a memória, a historicidade e a identidade.  E o tempo urgia, porquanto a geração que fez a guerra colonial (ou a guerra de libertação, conforme os lados da barricada), estava a desaparecer... Mais rapidamente na Guiné, devido à menor esperança média de vida à nascença dos homens guineenses da geração da guerra...

Também falámos da  situação económica, social e política da Guiné-Bissau, nessa épcoca (2006).  Dos medos e das esperanças que os guineenses sentiam em relação ao futuro. Do retorno à pertença e à identidade étnicas, na ausência de um Estado de direito que garantisse a proteção e o respeito do indivíduo e da sua família... Dos terríveis acontecimentos de 1998, que levaram o Pepito e a família a refugiar-se em Cabo Verde, terra de seu pai... E do doloroso regresso a Bissau, um ano e tal depois, o retorno à casa, no bairro do Quelelé,  completamente pilhada, violada, destruída... Os livros, as fotografias, as memórias de uma vida...

O que foi espantoso, para mim,  foi  ouvir este homem, que era um profissional do optimismo, contar isto sem ódio, sem ressentimento, sem rancor, qause sem mágoa... Tinha vindo a recuperar algumas coisas, com emoção: uns negativos, umas cartas, uns livros... E isso era suficiente para lhe dar alento e força para retormar a picada de uma vida, fértil de acontecimentos, sonhos, emoções, projetos, realizações...



Seta de sinalização de um dos antigos espaldões da artilharia.
Foto: © Carlos Afeitos (2013).  Todo os direitos reservados.

Para além das suas obrigações como deputado (por Contuboel, e independente, se bem recordo), o que mais lhe dava gozo era viajar de jipe - apesar dos problemas de coluna de que já sofria, em consequência dos milhares de quilómetros feitos através das picadas da Guiné... E estar no sul, em Iemberém ou em Guileje, com os seus amigos e vizinhos... A Mata do Cantanhez, o futuro Parque Transfronteiriço do Cantanhez, era um espanto, com riquíssima fora e fauna - onde se incluíam elefantes e chimpanzés ! - e, felizmente, ainda então ao abrigo, devido ao seu isolamento, dos apetites vorazes da clique político-militar no poder em Bissau e em Conacri...

Last but not the least, o Pepito também gostaria de ter contactos com todas as companhias que passaram por Guileje e, se possível, ter acesso a uma resumo da sua actividade operacional na região. Disse-lhe que esse pedido não seria  difícil de conseguir... Mais difícil seria desencantar, adquirir, encaixotar e transportar o raio do obus 14!... E a verdade é que o tempo passou e a gente esqueceu-se mesmo do obus!... Mas seguramente não vamos esquecer-nos do nosso querido amigo Pepito!...Dele e do Zé Neto, o primeiro a falar-me do Pepito.

Até sempre, amigos Pepito e Zé Neto! Um alfabravo para o Nuno Rubim a quem desejo saúde e longa vida.
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terça-feira, 8 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12127: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (23): A placa toponímica "Parada Alf Tavares Machado" estava afixada na parede da messe de sargentos (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá, ex-fur mil, CART 2410, 1968/70)




Guiné > Região de Tombali > Guileje > s/d [ c. 1968] > Foto de Luís Guerreiro.

O Luís Guerreiro  foi fur mil da CART 2410, Os Dráculas (Guileje, Gadamael e Ganturé), e do Pel Caç Nat 65 (Piche, Buruntuma e Bajocunda), nos anos de  1968/70. Vive  em Monterreal, Canadá.  Outro camarada nosso que pertenceu à CART 2410 é o José Barros Rocha, de Penafiel. 

Foto: © Luís Guerreiro (2013).. Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Com data de ontem, e em resposta ao poste P12124, recebemos a seguinte mensagem do nosso camarada Luís Guerreira:


Assunto: Memória de Guileje

Amigo Luis

Em resposta ao P12124 (*) sobre Memória de Guileje, do amigo Pepito,  sobre a placa da Parada Alf. Tavares Machado:

Envio uma foto aonde se vê a dita placa que estava instalada no edifício da messe de sargentos.

Espero que esta informação seja útil.

Um abraço, Luis Guerreiro

2. Comentário de L. G.:

Obrigado, Luís Guerreiro, camarada da diáspora, pela tua rápida e valiosíssima resposta. O Domingos Fonseca,  que dirige os trabalhos de reconstrução de Guileje, e que é um colaborador direto do Pepito, diretor executivo da ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento,  vai ficar felicíssimo pela preciosa informação que nos acaba de dar. 

Eu sei que nada disto é relevante para a Grande História... Ou talvez não: a História com H grande é como um rio, que é alimentado por milhares de pequenos rios e ribeiras. 

Neste caso, a pequena história (a "petite histoire", como dizem os franceses) ajudou-nos a recuperar a memória de mais um bravo de Guileje, esquecido há muito, o alf mil Tavares Machado. Honremos a sua memória, para que o seu sacrifício não tenha sido inútil. 

E aos meus amigos (sim, meu amigos da AD - Bissau!!!) Pepito e Domingos Fonseca [, foto à esquerda,]  eu mando um grande abraço com o meu apreço e a minha admiração pelo trabalho que estão a fazer, em Guileje e em Gadamael,  ajudando a reconstituir o "puzzle" da(s) nossa(s) memória(s) comum(uns)... 


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12124: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (22): Onde e como estava afixada, na parada, a placa toponímica com o nome do Alf Tavares Machado [, da CART 1613, morto em combate, em 28/12/1967] ? (Pepito)




Foto: © AD - Acção para ao Desenvolvimento (2013). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do Pepito, diretor executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, com data de 25 de setembro último

Amigo Luís

O nosso "arqueólogo" de serviço, Domingos Fonseca, acaba de descobrir em Guiledje, nas suas prospeções, mais um achado.

Trata-se de uma tabuleta que diz "PRACETA ALFERES TAVARES MACHADO".

Para a colocarmos de pé, gostaríamos de saber qual era a sua localização, se estava fixada a alguma parede ou se tinha um pedestal. (*)

Abraço
pepito


2. Comentário de L.G.:

Segundo o poste P3182 (**), assinado pelo nosso colaborador José Martins, e com data de 7/9/2008, trata-se do nosso camarada...

(i) NUNO DA COSTA TAVARES MACHADO, Alf Mil Art, com o Nº Mecanográfico  07349365, pertencente à CART 1613  /BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia. [Guileje, 1967/68];

(ii) O Machado era solteiro, filho de Deolindo de Sousa Machado e Alzira Assis Teixeira da Costa Tavares Machado, sendo natural da freguesia de Sé Nova, concelho de Coimbra;

(iii) Foi vítima de ferimentos em combate,  ocorrido em Guileje na lala do rio Tenheje; faleceu em 28 de Dezembro de 1967; foi inumado no Cemitério de Agramonte,  no Porto.

Se algum camarada tiver mais dados sobre  o malogrado  alf mil Machado e a localização da placa toponímica (, na parada, afixada a alguma parede ou colocada em pedestal), acima publicada, que nos contacte, por favor, por mail ou através da caixa de comentários deste poste.

A CART 1613 era a companhia do Zé Neto (1929-2007) e do Eurico Corvacho (, ex-cap., falecido em 2011).

O Alf Tavares Macahdo é um dos 75 alferes mortos no TO da Guiné (por todas as causas) (***).

______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 19 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11425: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (21): Vamos reconstruir o edifício mais representativo do antigo aquartelamento de Gadamael Porto (Pepito)

Vd. também: 


(***) Vd. poste de 29 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6658: Lista alfabética dos 75 alferes mortos no CTIG, 54 (72%) dos quais em combate (Artur Conceição)

Nome (de A a Z ) / Data / Causa (C=Combate; D=Doença;  A=Acidente)

1. Abílio Rodrigues Ferreira > 22/11/70 C

2. Adelino Costa Duarte > 23/11/65 C

3. Alberto Araújo Mota > 27/11/72 D

4. Álvaro Ferreira V. Leitão > 5/6/68 C

5. Álvaro Francisco M. Fernandes > 2/9/72 A

6. Américo Luís S. Henriques > 21/2/67 C

7. António Angelino T. Xavier > 30/1/65 C

8. António Aníbal M. C. Maldonado > 4/3/66 C

9. António Emílio P. S. Meneses > 17/6/65 A

10. António Fonseca Ambrósio > 21/12/70 C

11. António João C. Neves > 30/8/72 C

12. António Joaquim Alves Moura > 4/9/66 C

13. António Jorge C. Abrantes > 18/9/72 A

14. António José C. L. Barbosa > 30/1/68 C

15. António L. Freitas Brandão > 18/9/69 A

16. António Sérgio Preto > 29/6/72 C

17. Armandino Silva Ribeiro > 17/4/72 C

18. Armando Bastos Mendes > 4/7/63 C

19. Armindo Pereira Calado > 22/6/69 C

20. Artur José Sousa Branco > 4/6/73 C

21. Augusto Manuel C. Gamboa > 14/12/67 C

22. Bubacar Jaló > 16/2/73 C

23. Carlos Alberto T. Peixoto > 8/9/68 C

24. Carlos Augusto S. Pacheco > 19/2/68 C

25. Carlos M. A. Figueiredo > 10/7/72 A

26. Carlos Manuel S. L. Almeida > 1/4/67 C

27. Carlos Santos Dias > 6/10/66  C

28. Delfim Anjos Borges > 17/7/67 C

29. Domingos Joaquim C. Sá > 20/7/68 C

30. Duarte Francisco S. S. Lacerda > 2/7/73 A

31. Eduardo Guilherme T. Monteiro > 15/5/68 C

32. Feliciano Santos Paiva > 29/4/70 A

33. Fernando Pereira L. Raposo > 10/11/64 A

34. Francisco Lopes G. Barbosa > 25/11/71 C

35. Guido Ponte Brasão D. Silva > 22/10/70 A

36. Henrique Ferreira Almeida > 14/7/68 C

37. João Afonso Abreu (FAP) > 5/3/72 C

38. João Francisco S. S. Soares > 28/5/71 A

39. João Manuel C. Silva > 6/4/73 C

40. João Manuel Mendes Ribeiro > 4/10/71 C

41. Joaquim J. Palmeira Mosca > 20/4/70 C

42. José Alberto C. Pereira > 12/3/66 C

43. José Antunes Carvalho > 4/9/68 A

44. José Armando Santos Couto > 6/1070 C

45. José Carlos E. Rodrigues > 12/12/66 A

46. José Fernando R. Félix > 2/4/72 A

47. José Joaquim Couto Sousa > 14/6/74 A

48. José Juvenal Ávila F. Araújo > 15/7/68 C

49. José Manuel Araújo Gonçalves > 14/2/69 C

50. José Manuel Brandão Queirós > 2/3/70 C

51. José Manuel Godinho Pinto > 16/5/70 C

52. José Maria R. Vasques Flores > 23/5/71 C

53. José Pedro S. M. Sousa > 20/7/70 C

54. José Silva Oliveira > 30/10/68 C

55. Lino Sousa Leite > 7/7/66 C

56. Luís Gabriel Rego Aguiar > 20/5/74 C

57. Luís Mário Silva Sá > 24/9/70 C

58. Mama Samba Baldé > 19/5/73 C

59. Manuel Costa Bandeira > 29/4/70 A

60. Manuel Francisco A. Sampaio > 10/1/66 C

61. Manuel Jesus R. Sobreiro > 24/2/68 A

62. Manuel Maria Pires > 18/4/69 C

63. Manuel Tavares Costa > 27/1/64 C

64. Mário Henriques S. Sasso > 5/12/65 C

65. Mário Juvencio V. Camacho > 25/10/68 C

66. Mário Manuel L. Simões > 17/4/73 A

67. Martinho Gramunha Marques (**) > 30/1/65 C

68. Miguel J. S. Moreno (FAP) > 24/9/72 C

69. Nelson Joaquim A. P. Soares > 26/10/71 C

70. Nuno da Costa Tavares  Machado > 28/12/67 C

71. Nuno Gonçalves Costa > 16/7/73 A

72. Paraíso Manuel Almeida M. Gomes > 2/11/71 A

73. Pedro Melna >19/5/73 C

74. Rogério Nunes Carvalho > 17/4/68 C

75. Vitor Paulo Vasconcelos Lourenço > 5/3/73 A


Observações: Todos os alferes aqui listados pertenciam ao Exéricto, com excepção de dois (que eram da FAP=Força Aérea). Causas de morte: A=Acidente (incluindo acidentes com viaturas automóveis e armas de fogo, suicídio, homicídio); C=Combate; D=Doença. Do total de 75 alferes mortos, 54 (72%) foram-no combate. Os restantes morreram devido a acidente (n=20) (26,7%). Há apenas 1 morto, entre os alferes, no CTIG, por doença (1,3%).

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11908: Memória dos lugares (243): Núcleo Museológico Memória de Guileje - Parte II (Carlos Afeitos, ex-cooperante, 2008/2012)


Foto nº 11


Foto nº 12


Foto nº 13


Foto nº 14


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > c. 2011 > Memorial à CCAV 8350 (1972/1974) e ao alf mil Lourenço, morto por acidente em 5/3/1973. De seu nome completo Victor Paulo Vasconcelos Lourenço, era natural de Torre de Moncorvo, está sepultado na Caparica. Foi uma das 9 baixas mortais da companhia também por "Piratas de Guileje" e um dos 75 alferes que perdeu a vida no CTIG.



Fotos; © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico 
do Carlos Afeitos, professor de matemática, cooperante na Guiné-Bissau, durante 4 anos (2008-2012), e nosso grã-tabanqueiro, com o nº 606 [, foto à à direita ], que nos mandou mais de uma meia centenas de fotos recentes de Guilejem, em finais de maio passado.

Nos seus tempos livres, ele foi, por volta de 2011, duas vezes a Guileje. Foi depois do golpe de Estado de 12 de abril de 2012 viver para  Londres. Um abraço para ele, se nos estiver a  ler.

sábado, 3 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11900: Memória dos lugares (242): Núcleo Museológico Memória de Guileje - Parte I (Carlos Afeitos, ex-cooperante, 2008/2012)



Foto nº 1 > Placa indciativa do antigo heliporto


Fotio nº 2 > O trajeto do quartel para o heliporto, feito com garrafas de cerveja


Foto nº 3 > Uma garrafa de cerveja



Foto nº 4 > O antigo heliporto


Foto nº 5 > Placa indicativa do local onde existiu um dos espaldões de artilharia


Foto nº 6 >  Resto de caixa de munições, com orifícios de estilhaços



 Foto nº 7 >  Caixas, metálicas, de munições de artiharia


Foto nº 8 > Granadas de obus 14 ou peça de artilharia 11.4



Foto nº 9 > "Posto de socorros"


Foto nº 10 > Brasão dos "Cobras", CCAÇ 3325 (1971/72)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico memória de Guiledje > c. 2011



Fotos (e legendas);  © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados


1. Mensagem de 30 de maio último, do Carlos Afeitos, professor de matemática, cooperante na Guiné-Bissau, durante 4 anos (2008-2012), e nosso grã-tabanqueiro, com o nº 606 [, foto à esquerda], que nos mandou mais de uma meia centenas de fotos recentes de Guileje. Vamos fazer uma seleção desse material.

Bom dia,  caro Luís,

Nos meus devaneios encontrei estas fotos de Guilege, já vi muitas postadas no blog e não sei se já tem algumas parecidas a estas ou não. Durante o tempo que estive na Guiné passei por Guilege duas vezes. A primeira vez foi a caminho de Cantanhez, região lindíssima e que vale a pena visitar. A segunda vez foi quando convidei a minha irmã para ir conhecer a Guiné em 2 semanas. Fiz questão de levá-la um bocado ao sul e ficar a conhecer um bocado mais da história que une os dois países.

Pelas conversas que tive com um homem a viver e a recuperar o antigo aquartelamento, está previsto edificar um complexo que irá servir de escola profissional no sítio da pista de aterragem de helicópteros, relembro que isto segundo as informações.

O senhor serviu de guia e explicou-nos como estava ordenado o quartel e como viviam os militares que estavam destacados para lá. O museu relembra muito bem da vida e da luta de ambas as partes envolvidas no conflito. À entrada podemos ver uma anti-aérea e um Unimog, lado a lado. Fizemos uma visita à pista de aterragem exactamente pelo caminho feito de garrafas e depois mais umas voltas pelos pontos assinalados. 

Na minha segunda visita também tive uma conversa muito amigável com uma pessoa que estava a viver na tabanca no interior do quartel aquando da retirada. Ele contou-me alguns dos momentos complicados que passou e recordou com alguma angústia e nostalgia. As memórias ainda fazem chorar...

Uma das coisas curiosas que eu reparei é do carinho que a população tinha por alguns militares portugueses, pois é uma das coisas que todos falam é nos nomes deles. Depois de tantos anos ainda os recordam e sabem exactamente quem são, a graduação que tinham e de onde eram.

Como as fotos são algumas, vou enviar em 3 mails diferentes, pode fazer o que quiser com elas. Algumas não estão legendadas pois não me lembro muito bem.

Com os melhores cumprimentos,


Carlos Afeitos

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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de julho de 2013 >  Guiné 63/74 - P11894: Memória dos lugares (241): Surpresas que só a Feira da Ladra oferece (Mário Beja Santos)

sábado, 22 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11745: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (6):De Iemberém a Guileje, a caminho de um casamento no Xitole




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > 5 de maio de 2013 > Os bangalôs do ecoturismo.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > 5 de maio de 2013 > A Aiassatu ou Satu, esposa do Abubakar (eng agron da AD) e nossa anfitriã.




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje  > 5 de maio de 2013 > A capela restaurada  de Guiledje



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje  > 5 de maio de 2013 >  Aspeto exterior do Núcleo Museológico Memória de Guiledje



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > 5 de maio de 2013 > Recordações: objetos do quotidiano recuperados, provenientes das escavações do antigo quartel das NT




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > 5 de maio de 2013 >  Armamento do PAIGC: as armas da nossa dor e sofrimento.



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > 5 de maio de 2013 > Cópia (digitalizada) de carta de um soldado portuguesa: a famosa carta que o nosso camarada J. Casimiro Carvalho mandou a seus pais, datada de Cacine, 22/5/1973, a anunciar a retirada de Guileje.

Cacine, 22/5/73: Queridos pais: Vou-lhes contar uma coisa difícil de acreditar como vão ter oportunidade de ler: Guileje foi abandonada [a bold, no original], ainda não sei se foram os soldados que se juntaram todos e abandonaram o quartel, ou se foi ordem dada pelo Comandante-Chefe, mas uma coisa é certa: GUILEJE ESTÁ À MERCÊ ‘DELES’ [, em maíusculas, no original].

Não sei se as minhas coisas todas estão lá, ou se os meus colegas as trouxeram. Tinha lá tudo, mas paciência.


Se foi com ordem de Bissau que se abandonou a nossa posição, posso dar graças a Deus e dizer que foi um milagre, mas se foi uma insubordinação, nem quero pensar…

Mas… já não volto para lá!!! Não tinha dito ainda que Guileje era bombardeada pelos turras há vários dias e diversas vezes por dia. Os soldados e outros não tinham pão, nem água. Comida era ração de combate e não se lavavam. Sempre metidos nos abrigos e nas valas. A situação era impossível de sustentar. Vosso para sempre (…).


Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]


1. Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (30 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte VI

por José Teixeira

O José Teixeira é membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013; companheiros de viagem: a esposa Armanda; o Francisco Silva, e esposa, Elisabete; no dia seguinte, 1 de maio, o grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira; na 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo; no dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez; no dia 4, sábado, estão em Cabedú, Cauntchinqué e Catesse; hoje, 5, domingo, vão de Iemberém, onde estavama hospedados, visitar o Núcleo Museológico de Guileje, e partem depois para o Xitole, convidados para um casamento ] (*) [LG]


O dia nasceu suavemente, com um mango a acordar-me ao cair encima do telhado de capim e rolar até ao chão. Talvez um dos macaquitos que estava a tomar o seu matabicho se tenha descuidado. Estes macacos, de pelo cinzento, não armam aquela gritaria a que nos habituamos em tempos idos com o macaco cão. Habituaram-se a viver com o homem e passeiam-se nas árvores por cima de nós, pacifica e calmamente. Certo é que neste dia 5 de Maio, o sol já ia alto quando me sentei para tomar o pequeno-almoço, que começou por um mango madurinho e saboroso.

A hora da despedida tem encanto e dor. É agradável sentir mais uma vez a amizade que nos devotam aqueles com quem convivemos e se juntam para se despedirem de quem parte, com a promessa de voltar. Faz doer o coração, no abraço que damos, sabendo que talvez seja o último, mas faz parte da vida e a esperança é sempre a última a morrer.

Partimos com destino a Bissau. Duas horas depois estávamos a admirar o Museu Memórias de Guiledje, inaugurado em 2008 e pretende documentar todo um passado de luta pela independência da Guiné-Bissau. À nossa espera estava o diretor Domingos Gomes, como tinha prometido,  para uma visita guiada. Foi um regresso ao passado para mim e para o Francisco no reencontro com as armas e canhões, com as viaturas, com as imagens da guerra que ambos vivemos em locais e tempos diferentes.

Em cada visita que faço, noto com alegria que o museu vai crescendo. Há outras partes do antigo quartel levantadas. No pavilhão principal estão os instrumentos de guerra portugueses, bem como as armas que o PAIGC usava, as fotografias da guerra e outros memoriais. Livros, poucos, sobre a guerra, são o princípio de uma biblioteca que se pretende seja enriquecida com todos os livros e documentos possíveis para enriquecer a história do conflito que existiu para separar e afastar os portugueses da Guiné e de facto separou-nos com muito sangue derramado, dor e pranto, mas creio que estranhamente nunca os guineenses estimaram tanto os portugueses como agora que estão livres da sua tutela política.

Um Unimog bem conservado transportou-nos ao tempo das colunas por aquelas picadas inóspitas atapetadas de perigosas minas. Transportou-nos até ao grupo de picadores que,  à sua frente e com todo o cuidado, picavam a terra, centímetro a centímetro, na esperança de as detetar e assim salvar possivelmente algumas vidas. Transportou-nos a um tempo que já passou, mas as suas marcas continuam bem presas na nossa mente e só desaparecerão com o pó da terra que nos há-de tragar.

A capela com a imagem de Nª Senhora de Fátima no seu altar, tal como no tempo da guerra, e a capelinha do Santo Cristo dos Milagres construída pelos devotos Gringos açorianos. Locais, onde os mais devotos se ajoelhavam a pedir por seu intermédio a bênção de Deus para os momentos difíceis que a guerra e agradecer os perigos passados dos quais se livraram com vida.

O Museu foi enriquecido com um novo auditório onde está patente, onde foi instalado o Museu de Cultura e Ambiente onde se pretende espelhar o ecossistema da mata do Cantanhez e as culturas dos diferentes grupos étnicos que habitam a região.

O tempo não tem paciência para esperar e os ponteiros do relógio vão marcando as horas. Tínhamos encontro marcado na tabanca do Xitole para participarmos na festa do casamento da filha do nosso amigo Mamadu Aliu que há três dias atrás atuou de cicerone na visita/peregrinação que o Francisco Silva ali fez em busca do seu passado.

Com pesar para o Domingos Gomes, que bem insistiu para ficarmos mais um pouco e havia muito para ver e refletir, mas não queríamos ficar mal com a família da noiva que tão amavelmente nos tinha convidado.

Ao passar pelo Saltinho, ainda houve tempo para dar um abraço de despedida ao Suleimane e à Dáda sua esposa, que ofertou à Armanda um lindo vestido típico das mulheres fulas. Uma surpresa linda que nos emocionou profundamente.

E lá seguimos para o Xitole.

(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11699: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (5): Visitando Cabedu, Cautchinké e Catesse... A alegria com que somos recebidos, a par da tristeza com que vemos a floresta ser destruída no Cantanhez...

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11673: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (9): 3 vistas aéreas de Guileje


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Foto nº 1 > Foto aérea, tirada no sentido sul-norte. A leste de Guileje ficava a estrada Aldeia Formosa - Gandembel - Cacine e a fronteira (em linha recta, cerca de  8 km, ao alcance portanto da nossa artilharia: peça 11.4 e depois, no final, em maio de 1973, o obus 14)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > Foto 1 A > Pormenor da foto aérea, tirada no sentido sul-norte, mostrando o essencila da área ocupada pelo quartel e tabanca. A vermelho, a fiada de arame farpado. À direita, ficavam os 3 espaldões de artilharia (peças 11.4, apontadas para a fronteira).


Guiné > Região de Tombali > Guileje > Foto nº 2 > Foto aérea tirada no sentido norte -sul. Do lado esquerdo, é visível o começo da pista de aviação e uma aeronave.  Também é bem nítida a  a rede de arame farpado, os abrigos subterrâneos,  as principais instalações das NT, e as viaturas. O aquartelamento era atravessado pela estrada (, ao conto superior direito,) que levava à fonte, no rio Afiá,   e a Mejo).


Guiné > Região de Tombali > Guileje >Foto 2 A > Pormenor do aquartelamento ( com as suas  instalações mais importantes).


Guiné > Região de Tombali > Guileje >Foto 3  >  Outra vista aérea, a preto e branco,  tirada no sentido sul-norte.




Guiné > Região de Tombali > Guileje > Fotop nº 3A > A preto, assinalada a rede de arame farpado; e a vermelho os três espaldões da artilharia (apontedaos para a fronteira, a leste)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > Foto 3B > A preto,  a rede de arame farpado...m A vermelho, a capelinha, erigida no tempo do Zé Neto (CART 1613, 1967/68) e reedificada pela Ad - Acção para o Desenvolvimento, no âmbito do Núcleo Museológico Memória de Guiledje.

Fotos: © Carlos Fraga (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: L.G.]




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Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1966: Planta do aquartelamento. Orientação Norte-Sul. Guileje ficava entre Mejo, a noroeste, na estrada que dava a Bedanda, e a estrada do sul, Quebo-Gandembel-Gadamel-Cacine, paralela à fronteira com a Guiné-Conacri. Mapa desenhado por Nuno Rubim (1998).

Infografia: © Nuno Rubim (2005). Todos os direitos reservados. 






Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1973 > Croquis do aquartelamento e tabanca, desenhado à mão pelo fur mil op esp José Casimiro Carvalho (CCAÇ 8350, 1972/73), e enviado pelo correio a seu pai.

Legenda:

(i) Pelo que se consegue perceber nes infografia, o aquartelamento e a tabanca de Guileje formavam um rectângulo (ou mesmo um quadrado, em 1967, segundo o Zé Neto, com 250 m x 250 m]. todo minado à volta, na parte desmatada, com minas, armadilhas e fornilhos;

(ii) A orientação parece ser leste-oeste, estando  as peças de artilharia de 11.4, em número de três, apontadas para a fronteira com a República da Guiné-Conacri;

(iii) Podem ver-se ainda as posições dos morteiros, a verde: dois 81 (incluindo o 'meu', o que era operado pela secção do Furriel Carvalho, do lado oeste, junto a um dos abrigos) e dois 10,7;

(iv) No lado esquerdo (, neste caso, a norte do aquartelamento), há um campo de futebol, uma pista de aterragem de aeronaves e um heliporto;

(v) Ao longo do perímetro do aquartelamento, há arame farpado, postos de iluminação, postos de sentinela (cinco), abrigos e valas, todos devidamente assinalados;

(vi) As palhotas da tabanca situam-se dentro do perímetro do aquartelamento;

(vii) O trilho que corre a noroeste da pista de aviação era o trilho da água, o que significava que as NT e a população precisavam de sair do perímetro defensivo para se abastecer do precioso líquido;

(viii) A esttrada que atravessava o aquartelamento e a tabanca, no sentido leste-oeste,  era a que seguia para Mejo e Bedanda (a noroeste) e ligava a sul à estrada de Quebo- Gadamael - Gadamael Cacine, ao longo da fronteira.

Infografia: © José Casimiro Carvalho (2005)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



Guiné < Região de Tombali > mapa de Guileje (1956) > Escala 1/50 mil > Pormenor: posição relativa da povoação de Guileje, situada a cerca de 8 km da fronteira com a Guiné-Cronaki (a leste).

Infografia: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013). Todos os direitos reservados.

1. Comtinuação da publicação do álbum de Carlos Fraga, que alf mil,  na 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, na segunda metade do ano de 1973, indo depois comandar, como capitão,  uma companhia em Moçambique, a seguir ao 25 de abril de 1974).

Quando o alf mil Carlos Fraga chegou ao TO da Guiné, por volta de meados de 1973, já Guileje tinha sido retirada pelas NT (em 22 de maio de 1973). O acontecimento deve ter tido algum impacto  no moral das NT, a ponto de se venderem, em Bissau e noutros sítios (como Mansoa),  fotos como estas.

São três fotos (a um preto e branco) que fazem parte do álbum do Carlos Fraga e que, naturalmente, não foram tiradas por ele que nunca esteve em Guileje. Ele disse-nos explicitamente que as comprou. E é difícil, se não mesmo impossível, identificar a autoria das fotos.

Guileje fazia parte dos 3 G: Guidaje, Guileje e Gadamael... Estes três topónimos eram pronunciados,  em Bissau e noutros sítios do território,  em meados de 1973, com respeito. Tal como Madina do Boé e o Rio Corubal,  quando eu cheguei a Bissau, em finais de maio de 1969... (LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11609: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (8): Mansoa, espaldão do morteiro 81, e pessoal na caserna matando o tempo a jogar cartas...