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domingo, 30 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12915: Brochura, "Deveres Militares", SPEME, 2ª ed, 1969 (Fernando Hipólito): Parte V: Plantão à caserna e faxinas regimentais... ("Consciente de que entre os soldados se verificava ainda a existência de um grande número de elementos com iliteracia e baixa escolaridade, o Exército, entre 1961 e 1974, utilizou o humor dos cartunistas, de forma pedagógica, para alertar e instruir sobre questões de segurança e sobrevivência ou sobre a regulamentação da disciplina militar.")
























Continuação da reprodução da brochura "Deveres Militares", uma edção do SPEME - Serviço de Publicações do Estado Maior do Exército, 2ª edição, 1969...

A lista dos deveres de um militar é (ou era) longa...Publicamos hoje os deveres de:

(i) Plantão à caserna (nº 4 do art. 81º do antigo RDM - Regulamento de Disciplina Militar, que esteve em vigor até 1977!)... às cavalariças (artº 96º do RDM que estava em vigor do nosso tempo);

(ii) Faxinas regimentais (art. 90º do RDM).

O RDM do nosso tempo, de saudosa memória (!),  foi substituído pelo atual RDM - Regulamento de Disciplina Militar, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 142/77, de 09ABR, com diversas alterações. (Entrou em vigor em 10 de abril de 1977, e foi promulgado pelo então Presidente da República António Ramnalho Eanes),

1. O documento chegou-nos, digitalizado, por intermédio do Fernando Hipólito e César Dias. O Fernando Hipólito [, foto atual à direita, ] é o nosso novo grã-tabanqueiro, com o nº 650...

Recorde-se que ele passou pelo CISMI, Quartel da Atalaia, Tavira, 3º turno, 1968. Foi fur mil, CCAÇ 2544, Angola, 1969/71. Esteve a maior parte do tempo no leste, em Lumege.

Há um blogue sobre Lumege e a malta que por lá passou. E onde o Fernando Hipólitio colabora.  

O nosso novo grã-tabanqueiro mandou-nos, entretanto, e a nosso pedido, a sua foto atual. Auqi temos o Hipólito "de fato e gravata, porque foi a minha farda durante anos, como técnico de vendas de um empresa de tintas de imopressão",

2. O nosso camarada, António J. Pereira da Costa (Tó Zé para os amigos) j´«a nos camou "a atenção para o humor e qualidade dos desenhos. Creio que era de um desenhador que também aparecia no "Século Ilustrado"....Há também uns desenhos destes relacionados com os crimes militares previstos no CJM...

"Creio que [o ilustrador] tinha o apelido ou assinava Benamor. [Sim, Tó Zé, parece-me o traço do cartunista João Benamor].

E havia também um conjunto de quadros murais onde se davam conselhos à malta do tipo:
"Uma palavra a mais, um amigo a menos" e "Ela é toda ouvidos - e tinha umas orelhas enormes - come e cala-te",

(... ) "Pode ser que a Biblioteca do Exército tenha alguns exemplares que, se passados a pente fino, nos deem qualquer indicação. (comentário ao poste anterior, de 26/3/2014).


É possível que a esta brochura, que temos vindo  a pubicar,  faltem folhas.... O César Dias já nos
explicou que este e outros documentos "são fruto duma 'limpeza' que ele [, Fernando Hipolito,] fez na secretaria da 3ª companhia do CISMI, em Tavira... Vê que até as folhas das notas do nosso pelotão nas várias disciplinas ele conseguiu apanhar do cesto dos papeis." (comentário ao poste anterior, de 26/3/2014).

Ao Francisco Baptista, por sua vez, estas  imagens que publicámos no poste anterior, mexeram com as suas recordações de infância:

 "Tu fazes me regressar ao tempo da tropa do meu pai que, soldado em Mafra e por ter batido num cavalo mais bravio, foi punido, penso que com uma repreensão. Há uma foto dele com essa farda antiga do tempo da 2ª Guerra ou anterior na casa da aldeia. Penso que seria de cavalaria. Agradeço-te também por me ilustrares esse passado." (comentário ao poste anterior, 26/3/2014).


3.  O nome de João Benamor é referido aqui,  neste excerto que publicamos, retirado com a devida vénia, da página na Net do Exército:

(.,..) “O HUMOR NO JORNAL DO EXÉRCITO 1961- 1974” resultou de um desafio lançado a dois jovens soldados com o objectivo de pesquisarem, seleccionarem e exporem caricaturas e cartoons que ao longo do período em apreço pudessem caracterizar a expressão desta arte gráfica no âmbito da sátira, da ironia, da irreverência, ou da crítica social que, entre outros aspectos, reflectissem o dia-a-dia de um meio profissional que, particularmente no período em causa, atravessava e participava na designada Guerra Colonial/Guerra do Ultramar.

"Tratando-se o “JORNAL DO EXÉRCITO” de uma publicação periódica direccionada para a instituição militar a sua difusão era significativa nas Unidades, Órgãos e Estabelecimentos militares, sendo lida por oficiais, sargentos e praças. Apesar da abordagem se debruçar no referido período de guerra, ao contrário do que acontecia nos “jornais de quartel” editados nas antigas colónias, a menção a este conflito é subtil, apenas se inferindo o contexto geográfico apresentado nas imagens. De igual modo, não se vislumbra uma clara critica à situação politico-militar. A temática advertia o leitor sobretudo para aspectos do meio que o militar viria a encontrar nas terras de África.

"Conscientes de que entre os soldados se verificava ainda a existência de um grande número de elementos com iliteracia e baixa escolaridade, o humor destes Cartoons era utilizado de forma pedagógica para alertar e instruir, em particular este grupo profissional, sobre questões de segurança, sobrevivência ou sobre a regulamentação da disciplina militar.   

"A organização militar, a hierarquia ou as condições de vida nos quartéis são alguns dos temas abordados com ironia, deixando ler nas entrelinhas a critica mordaz ou a irreverência com que são caricaturadas as situações. Embora o J.E. publicasse alguns trabalhos de origem estrangeira o grosso dos seus colaboradores, militares ou civis, eram nacionais. Com o traço mais ou menos elaborado, com maior ou menor qualidade, com desenhos que só por si diziam tudo, ou mais dependentes do texto, foi vasto o leque de autores como:

Vicente da Silva,
João Benamor
Zé Manel,
José Antunes, 
Higino, 
Cid, 
Baptista Mendes, 
Al-Cid, 
Majcid, 
Samuel 

e tantos outros que ao longo desse período conseguiram, com o seu humor, instruir e arrancar, no mínimo, sorrisos a quantos folhearam as suas páginas." (...)


[Realce a amarelo e negritos, nossos,  editor L.G.]
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Nota do editor:

Postes anteriores da série:



quinta-feira, 22 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13177: Efemérides (157): Como é que a revista Plateia e o seu correspondente local, João Benamor, 1º sargento e cartunista, "viram" o baile dos finalistas da Escola Técnica de Bissau em 5/6/1965... e as perturbações da "ordem pública", provocadas por uma "bando de energúmenos", possivelmente influenciados pelos relatos das tropelias dos "teddy boys" de Liverpool... (Virgnio Briote)







Recorte(s) da página da revista "Plateia", numa das suas edições semanais (c. julho de 1965), onde na crónica de João Benamor, 1º sargento do exército, e conhecido cartunista, se dá um inusitado destaque ao "baile dos finalistas", na Associação Comercial  (*)... Os desacatos que ocorreram são vistos como um "caso de polícia". Não há nenhuma referência a "militares", muito menos a "tropas de elite"... Mas, lembra o cronista, os desacatos continuaram na via pública e, o que era mais grave, "a uma dezena sde metros da entrada principal do palácio do governador provincial", gen Arnaldo  Schulz (1910-1983), o primeiro a acumular os cargos de governador e comandante chefe (1964-1968)...

Presumimos que não tenha havido qualquer intervenção da censura, já que a revista "Plateia" deveria ser considerada "inócua"... Era, todavia, uma das revistas da metrópole mais lidas pelos nossos militares no Ultramar.


Imagem digitalizada e gentilmente disponibilizada pelo Virgínio Briote, um histórico do  nosso blogue (um dos primeiros comandos do CTIG, Brá, 1965/66), nosso editor jubilado, e que participou nestes acontecimentos... Titulo da responsabilidade do editor. Edição de L.G.

[Foto à esquerda: fur mil  João Parreira, cap milç  Maurício Saraiva, alf mil Virgínio Briote e fur mil Fernando Marques de Matos... Em BRá, setembro de 1965...Foto de V.B. O Matos, comandante de secção do Gr Cmds Diabólicos é, nem mais nem menos, um conterrâneo meu, lourinhanense, grande amigo do meu pai e meu amigo recente, que me fala sempre com grande apreço e admiração do nosso VB, seu antigo comandante].


PS - A referência do correspondente da "Plateia", em Bissau,  aos "teddies", "teddy-boys", britânicos, não deixa de ser hilariante!... Sobre a Plateia, "revista semanal de espectáculos" ver aqui:  publicou-se desde 1951 até 1986:

(...) Revista semanal (no início com periodicidade quinzenal), com um formato generoso, com muitas fotografias, a preto-branco, e diversos artigos relacionados com o mundo do espectáculo nacional e estangeiro. Na sua fase inicial tinha normalmente 32 páginas e mais tarde passou para as 70. Na época e durante muito tempo, era uma das janelas onde era permitido contemplar, subtraídas das suas roupinhas exteriores, as mais belas mulheres do mundo do entretenimento, da música, cinema e televisão. Eram frequentes as capas ou posters centrais (separatas) com estrelas de Hollywood.

A “Plateia” teve um percurso de grande sucesso, sobretudo nas primeiras duas décadas da sua publicação, mas terminou oficialmente em 1986, já com mais de um milhar de edições, certamente pelos problemas decorrentes das grandes alterações do mercado editorial do género. (...)

Embora semelhante em muitos aspectos na matriz editorial, a “Plateia”, mais elitista, até porque mais cara, fez um percurso de sucesso lado a lado com outra estrela da companhia, a revista “Crónica Feminina”, lançada uns anitos mais tarde (1956). Todavia, também esta acabou por morrer pelos anos 80. (...)


___________________

Nota do editor:

Último poste da série > 22 de maio de 2014  > Guiné 63/74 - P13176: Efemérides (153): Ainda a propósito do baile dos alunos finalistas da Escola Técnica de Bissau na Associação Comercial, Industrial e Agrícola, em 5 de junho de 1965: Apanhei 3 dias de prisão simples, dados pelo comandante militar, brig Gaspar de Sá Carneiro (Virgínio Briote, ex-alf mil cav, cmd, cmdt Gr Cmds "Os Diabólicos", CCmds / CTIG, Brá, 1965/66)

terça-feira, 27 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13199: Manuscrito(s) (Luís Graça) (29): "A boda e a baile mandado... não vás sem ser convidado"... E os bailes que organizávamos, na tabanca do Bataclã, nos intervalos da guerra ?

1. Há um provérbio nortenho que diz: "A boda e a baile mandado... não vás sem ser convidado"...

No norte, e em especial na região de Entre Douro e Minho, faziam-se bailes "particulares" na casa de um homem de "respeito", com "filha casadoira", que contratava um tuna rural (viola, violão, rabeca...) e um "mandador"...

E claro, convidava os seus amigos e vizinhos e mais aqueles das suas relações que na próxima também o haveriam de convidar,  a ele e á sua filha...

A figura do "mandador" tinha duas funções: (i) por um lado, era um homem que sabia da "poda", isto é, tinha voz, sabia mandar, e sobretudo sabia das coreografias, das voltinhas que os pares tinham que dar (e daí a expressão "baile mandado", que é de influência francesa); (ii) por outro era um "homem respeitado, respeitador, e que sabia impor o respeito" (às vezes,  tinha que ser à chapada e a varapau)...

Porque,  no baile com mandador no Norte, os homens estão de um lado e as mulheres do outro. E o "mandador" no meio da sala... Os "homes" (sic) só dançam por indicação do mandador; as raparigas não podem dar o nega, recusar um convite para dançar,  a menos que já estejam "comprometidas"... (Nesse caso, só dançam com o namorado ou o noivo; e ai dela se se "astreve" a violar a regra!)...

A primeira vez que fui a um baile destes, com "mandador", tive que esperar a minha vez para dançar... E quando a vez chegou, a tuna tocava "a dança do fado"... Eu, que vinha de Lisboa, terra do fado, nunca tinha dançado o fado e fiquei meio enrascado, tendo que disfarçar a minha santa ignorância no que dizia respeito à coreografia...

Sim, senhor, eu sabia (iu melhor, soube mais tarde, por ter estudado o assunto) que o fado em tempos (séc. XIX) era (i) batido, (ii) dansado e (iii) cantado... Agora é só cantado!... E muitas vezes tristemente maltratado...

Está visto que, no antigamente, neste bailes, havia muitas vezes porrada... Eram sempre mais os machos que as fêmeas "descomprometidas", isto é, elegíveis para dançar...

Em Bissau, no final dos finalistas, a lógica era a mesma (*)...

Camaradas, levem isto para a brincadeira (**)...

Marco de Canaveses > Uma tuna rural dos anos 40 do séc. XX... 


(Fonte: AGUIAR, P. M. Vieira de - Descrição Histórica, Corográfica e Folclórica de Marco de Canaveses. Porto: Esc Tip Oficina de S. José. 1947). (Reproduzido com a devida vénia...)


2. Comentário de Rui Silva ao poste P13177 (*)
.
Se é para falar de bailes na Guiné, oh carago!,  há muito que contar ai há, há.

Começaram logo em casa do Sr. Rui libanês em Bissorã após um mês de chegarmos à Guiné, passando pelas verbenas do Sporting em Bissau, na sede do Benfica ali na estrada que ligava a praça do Império ao aeroporto, acabando na Associação Comercial aonde entrei porque houve engano.

Com "molho" ou sem "molho". Havia por ali muito menino que,  se não houvesse porrada nem parecia dia...
Hoje lemos o jornal a uma sombra e de óculos já com algumas dioptrias, mas naquele tempo o que a gente queria era dar à perna (ou às pernas). (...)

3. Comentário de L.G.:

Rui, quem é que não gostava da "bailação" ? Em Bambadinca, em Bafatá, em Bissorã, em Bissau... Toca a falar desses bailes, que fazíamos no intervalo da guerra... Até Monte Real, dia 14 de junho, ainda há tempo para escreveres uma crónica... Ab. Luis

PS - Também eu tenho um caso de um baile para contar; na  extensão de Bambadinca do Bataclã de Bafatá, e que acabou  dramaticamente, às tantas da manhã,  com a tentativa de reanimar, no posto médico, uma criança, filha de uma das nossas amigas, acometida de um grave (e fatal) problema de insuficiência cardiorrespiratória...Possivelmente, seria um caso de morte súbita durante o sono...

Um dia vou arranjar tempo e coragem para reconstituir este trágico episódio... se os meus camaradas, presentes nessa noite, me ajudarem a refrescar a memória... Há pormenores a rever. O médico de serviço, esse, lembro-me bem dele, também estava presente, tentando divertir-se: era o Alf Mil Méd Joaquim Vidal Saraiva, da CCS/BART 2917 (, o tal que ficou retido um dia no mato, connosco, CCAÇ 12 e Pel Caç Nat 52, na Op Tigre Vadio, uma operação a uma base do PAIGC em Madina / Belel, em Março de 1970; nunca tinha visto um médico a "alinhar" numa operação, no mato, e a sofrer connosco)...

Apesar de todos os esforços (e sobretudo do nosso Pastilhas e do dr. Vidal Saraiva), a criança morreu nas nossas mãos, já no posto médico de Bambadinca...  Ou já vinha morta, da morança onde a malta dançava...Sei que o baile acabou, com grande consternação... Fizemos, logo de manhã cedo,  uma coleta para pagar o funeral, em Bafatá...Já não me recordo bem do nome da jovem mãe, uma das nossas companheiras de noitadas, mas penso que era a Ana Maria...

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Notas do editor:

(*)  Vd. poste de 22 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13177: Efemérides (157): Como é que a revista Plateia e o seu correspondente local, João Benamor, 1º sargento e cartunista, "viram" o baile dos finalistas da Escola Técnica de Bissau em 5/6/1965... e as perturbações da "ordem pública", provocadas por uma "bando de energúmenos", possivelmente influenciados pelos relatos das tropelias dos "teddy boys" de Liverpool... (Virgnio Briote)

E ainda: 

22 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13176: Efemérides (153): Ainda a propósito do baile dos alunos finalistas da Escola Técnica de Bissau na Associação Comercial, Industrial e Agrícola, em 5 de junho de 1965: Apanhei 3 dias de prisão simples, dados pelo comandante militar, brig Gaspar de Sá Carneiro (Virgínio Briote, ex-alf mil cav, cmd, cmdt Gr Cmds "Os Diabólicos", CCmds / CTIG, Brá, 1965/66)

(**) Último poste da série > 22 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13176: Efemérides (153): Ainda a propósito do baile dos alunos finalistas da Escola Técnica de Bissau na Associação Comercial, Industrial e Agrícola, em 5 de junho de 1965: Apanhei 3 dias de prisão simples, dados pelo comandante militar, brig Gaspar de Sá Carneiro (Virgínio Briote, ex-alf mil cav, cmd, cmdt Gr Cmds "Os Diabólicos", CCmds / CTIG, Brá, 1965/66)

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13179: Efemérides (158):Inauguração de um Monumento aos Combatentes do Ultramar do Concelho de Portimão, levado a efeito no passado dia 9 de Abril de 2014 (Arménio Estorninho)

1. Em mensagem do dia 12 de Maio de 2014, o nosso camarada Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, IngoréAldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), enviou-nos a sua reportagem da inauguração de um bonito Memorial aos Combatentes do Concelho de Portimão.

O Núcleo de Lagoa/Portimão da Liga dos Combatentes, comemorou várias efemérides e uma inauguração, muito importantes na vida dos Portugueses e dos Combatentes Lagoenses e Portimonenses.

Assim, no passado dia 9 de Abril, cerca das 10 horas, em Lagoa no Jardim do Combatentes da Grande Guerra, onde se situa o Monumento aos Combatentes do Ultramar, foi levado a efeito uma comemoração preleminar do Dia do Combatente “Batalha de La Lys.”

Foto 1 – Lagoa – Jardim dos Combatentes da Grande Guerra – Parada junto ao Monumento aos Combatentes do Concelho de Lagoa. 

Foto 2 – Lagoa – Jardim dos Combatentes da Grande Guerra – Major Oliveira do RI 1 - Tavira; Dr. Águas da Cruz, Presidente da Assembleia Municipal de Lagoa e Sr. Jaime Marreiros, Presidente do Núcleo de Lagoa-Portimão. 

Foto 3 – Lagoa – Cemitério Municipal – Sarg. Chefe Ref. Fernando Rodrigues depositando flores na Campa de Família do Domingos Ramos, Capitão da FA POOC.


Nesta mesma data, pelas 15 horas, aconteceu um dos mais importantes acontecimentos da vida do Núcleo de Lagoa/Portimão da Liga dos Combatentes. Um sonho concretizado, ou seja, o da inauguração do Monumento ao Combatente, o qual é um marco decisivo de demonstração de vivacidade e de presença deste Núcleo na Cidade de Portimão. O local de implantação do Monumento é a Rotunda do Sapal, em frente ao edifício da Câmara Municipal de Portimão.
Também marcaram a sua presença: Associação de Paraquedistas do Algarve – Albufeira; Delegação de Fuzileiros do Algarve; Núcleo de Faro; Núcleo Lagos e Núcleo de Olhão da Liga dos Combatentes. 

Foto 4 – Portimão – O Presidente da Comissão de Honra ao Monumento, Coronel Ref. Jaime Marques, dando início à Inauguração e Homenagem ao Combatente Portimonense.

Foto 5 – Portimão – Implantação do Monumento aos Combatentes do Concelho de Portimão. Na cerimónia de inauguração do Monumento, o Presidente do Núcleo Lagoa/Portimão da LC, Sr Jaime Marreiros, discursou e começou por agradecer e mencionar a presença de todos. 

Foto 6 – Portimão – Inauguração do Monumento ao Combatente – O Presidente do Núcleo de Lagoa-Portimão, Sr. Jaime Marreiros, tecendo considerações. 

Srª Presidente da Câmara Municipal de Portimão, Drª Isilda Gomes; 
Sr. Presidente da Assembleia Municipal de Portimão, Dr. Francisco Florêncio; 
Sr. Presidente da Direcção Central da Liga dos Combatentes, Gen. Chito Rodrigues; 
Srs. Presidentes de Câmaras; 
Srs. Autarcas; 
Entidades Civis Militares e Religiosas; Srs. 
Convidados; 
Combatentes…! 

Foto 7 – Portimão – Panorâmico da assistência na inauguração do Monumento ao Combatente. 

Hoje é um dia histórico para os combatentes do Ultramar, suas famílias, e para a Cidade de Portimão. 
Estamos aqui a comemorar duas efemérides e uma inauguração, muito importante na vida dos Portugueses e dos Combatentes Portimonenses: 
Em 28 de Julho de 1914 inicia-se a Primeira Grande Guerra Mundial, comemorando-se este ano o centésimo aniversário desse acontecimento; 
Comemora-se o 40º Aniversário da Revolução do 25 de Abril; 
Hoje, aqui e agora, comemora-se a inauguração deste Monumento aos Combatentes Portimonenses na Guerra do Ultramar. 

… Para os Portimonenses passará também a ser um dia de comemoração pela construção do Monumento que recorda os seus heróis desconhecidos, caídos em defesa da Pátria, honrando as Forças Armadas de Portugal e a Cidade que os viu nascer. 

Foto 8 – Portimão – Memorial dos Combatentes naturais do Concelho de Portimão, falecidos na Guiné. 

Foto 9 – Portimão – Memorial dos Combatentes naturais do Concelho de Portimão, falecidos em Angola. 

Foto 10 – Portimão – Memorial dos Combatentes naturais do Concelho de Portimão, falecidos em Moçambique. 

…Seguindo-se uma dissertação sobre agradecimentos a Sócios do Núcleo e a várias Individualidades, sem os quais este Monumento não seria possível:
- Sócio José Rosa Sampaio, na pesquisa de nomes; 
- Sócio José Alberto Lélis Cruz, na construção da obra; 
- Sócio Francisco Vieira da Silva, na disponibilidade de colaboração; 
- Coronel Jaime Sequeira Marques, por presidir à construção da obra; 
- Presidente da Câmara M. de Portimão Drª Isilda Gomes, colocou ao dispor do núcleo toda a parte logística que foi possível; 
- Ao ex-Presidente da C.M. de Portimão Dr. Manuel da Luz, por abrir as portas para um processo de instalação; 
- (Dirigindo-se aos familiares presentes, (em momento de comoção disse) sei quão difícil e doloroso é perder aqueles que nos são tão queridos e que partiram na flor da vida em defesa da Pátria. Estejam eles onde estiverem estarão sempre nos nossos corações e nas nossas memórias. 
… Não posso terminar sem recordar com saudade um homem grande portimonense que foi Presidente deste Núcleo, que foi um militar íntegro, humanista, reconquistador de Nambuangongo, Héroi Nacional e que hoje estará satisfeito por saber que foi feita justiça nesta Cidade. 
Bem haja Sr. Coronel Armando da Silva Maçanita. 

Viva o Núcleo Lagoa/Portimão…! 
Viva a Liga dos Combatentes…! 
Viva Portimão…! 
Viva Portugal…!

Foto 11 – Portimão – O Presidente de Honra do Núcleo Lagoa/Portimão, Sr. Paulo Neto, tecendo o historial da vida do Núcleo de Portimão. 

O Presidente de Honra do Núcleo de Lagoa/Portimão da LC, Sr. Paulo Júdice Neto, tomou a palavra para tecer o historial da vida do Núcleo de Portimão, desde a data de 1987/88 em que um grupo de Combatentes o decidiu criar.
… O primeiro requisito para qualquer organização é o Presidente. Assim, quando a grande figura de Militar e Portimonense, Cor. Armando Maçanita nos disse sim, tivemos resolvida a questão.
… A Liga de seguida criou o Núcleo de Portimão que começou a funcionar predominantemente, em mesa do estabelecimento “Casa Inglesa.”
… Entretanto funda-se uma Sede provisória, cedida gratuitamente em prédio cheio de irregularidades e dívidas às Finanças. 
… Mas não se pode forçar a natureza das coisas, nem a qualidade das pessoas. Fomos chamados à realidade do encerramento da Sede, selada a porta por decisão Judicial ou Fiscal. 
… Por respeito ao Coronel Maçanita, que quis persistir, e também por nosso brio pessoal, transferimo-nos para Lagoa, onde tínhamos a nossa mais firme base de apoio. Estava encerrado o primeiro ciclo da vida deste Núcleo. Muito obrigado por me terem escutado…! 

Foto 12 – Portimão – General Chito Rodrigues Presidente da DC da Liga dos Combatentes, discursando. 

O General Chito Rodrigues Presidente da DC da Liga dos Combatentes, teceu algumas considerações sobre as dificuldades exístentes em muitos ex-Combatentes, na falta de apoio na saúde, na comida, no lazer dos sem abrigo e os que se batem pela sua perene…
… Têm aumentado os combatentes e as famílias carenciadas e vulneráveis e, consequentemente, tem aumentado o esforço de apoio indespensável;
Hoje é um dia de festa, de luta, de coragem e de determinação da honra da defesa do País… 
… A 1ª Grande Guerra era por seis dias e levou cinco anos. Hoje Militares Portugueses batem-se no Afeganistão, na Bósnia e outros teatros de operações; 
Deve dar-se um momento de tolerância àquele Militar que foi fuzilado porque passou para o inímigo… 
… Cristo do capim são todos aqueles Militares que viram os Camaradas morrerem. 

Foto 13 – Portimão – Em Parada um Pelotão do Regimento de Infantaria de Tavira (RI 1). 

O Poeta Popular Nautílio Martins, em lembrança do seu irmão, o 1.º Cabo José Manuel Lopes Martins, falecido em combate na Guiné, em 1966, fez a leitura de uma quadra, sendo extraída uma estrofe:

Foto 14 – Portimão – O Poeta Popular Nautílio Martins, lendo a quadra com o titulo “Lembrança de Um Irmão.” 

Foste um dos milhares 
Perdidos pelos familiares 
Numa guerra incompreendida 
Cumprindo aquilo que lhes ordenaram 
Com heroicidade lutaram 
E deram a própria vida.

Que a paz e a compreensão 
Sejam valores da Nação 
E na Pátria nossa terra 
Nunca em algum momento 
Se erga um monumento 
A lembrar uma nova guerra.

Foto 15 – Portimão – Monsenhor Dr. Coronel Luís Cupertino, no uso da palavra.

Coronel na Ref. Capelão Luís Cupertino teve a sua intervenção tecendo várias lembranças sobre os acontecimentos havidos aquando como Alferes destacado no Batalhão 1858, Guiné 1965/67;
Como Tenente no Batalhão 12 no Comando de Sector de Carmona, Angola 1969/72;
No Posto de Capitão Capelão exerceu funções de Professor da Academia.

Foto 16 – Portimão – A Presidente da Câmara Municipal de Portimão, Drª Isilda Gomes, na sua intervenção.

 A Presidente da Câmara Municipal de Portimão, Drª Isilda Gomes, tendo tomado a palavra, começou por agradecer a presença de todos na Cidade de Portimão, para assistirem à inauguração do Monumento ao Combatente;
... Dissecando sobre os Militares que estiveram nas várias frentes de guerra, evocando os jovens que deram a sua vida e que ainda é do antes do 25 de Abril, tendo perdido muitos amigos;
…. Seu avô combateu na Batalha de La Lys, tendo escrito em verso o seu passado;
…. Não vamos apelar às guerras, agora são novas as dificuldades e vamos vencê-las.

Viva Portimão…!
No fim da cerimónia cantou-se o Hino Nacional.

Com um abraço
Arménio Estorninho
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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13177: Efemérides (157): Como é que a revista Plateia e o seu correspondente local, João Benamor, 1º sargento e cartunista, "viram" o baile dos finalistas da Escola Técnica de Bissau em 5/6/1965... e as perturbações da "ordem pública", provocadas por uma "bando de energúmenos", possivelmente influenciados pelos relatos das tropelias dos "teddy boys" de Liverpool... (Virgnio Briote)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15463: Notas de leitura (785): “O Fedelho Exuberante”, por Mário Beja Santos, Âncora Editora, 2015 (2) (Mário Vitorino Gaspar)

1. Relembrando a mensagem do nosso camarada Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), com data de 27 de Novembro de 2015:

Caros Camaradas
Como fui ao Lançamento do Livro do Camarada Mário Beja Santos resolvi fazer um rascunho sobre o livro.
Não é uma crítica. Faço um passeio pelo livro. Zonas e casos que conheço, até por ter a minha mulher e filhos terem frequentado a Escola Primária, uma excelente Escola. Depois é o percurso pelo Campo Grande, muito embora o Camarada diga Alvalade – Campo Grande pertence agora à Freguesia de Alvalade.
Nota-se a afeição que o Camarada tem pelo “Bairro das Caixas”. E é este passeio que faço com o Camarada.
Obrigado Mário, tens um bom livro, muito embora seja suspeito por habitar e ter frequentado todo este percurso, e continuar a habitar.

Abraço
Mário


“O Fedelho Exuberante” – Mário Beja Santos -2

Mário Vitorino Gaspar

Em 1967 estava em Ganturé, chegara a 19 de Janeiro a Gadamael Porto (…). “… Em Março de 1967 chegou a convocatória, no mês seguinte teria que me apresentar na Escola Prática de Infantaria” e… “aquela guerra não me pertencia, já que a ela era obrigado faria o possível por me preparar bem, queria regressar inteiro”. “… Falei com a Mãezinha… chorou amargamente… “... Depois resignou-se, olhou-me com ternura, um olhar intenso e disse-me: “Faça-se a vontade do Senhor”.

O Camarada Beja Santos resolve não narrar a sua participação na Guerra: Um semestre em Mafra e outro na Ilha de S. Miguel. Fez a Guerra. Dois anos depois voltei… Cedo tomei a decisão de guardar aquele tormento para mim. Quando cheguei da Guiné pensei: é um problema que tenho de resolver. Não resultou… Acresce a sua participação na defesa do consumidor. E o Camarada Mário merece este prémio, o resumo da sua história… A importância da mãezinha.

“Dois anos depois, voltei … “cedo, tomei a decisão de guardar aquele tormento para mim. A guerra levara-me amigos, o meu querido Carlos Sampaio morreu no norte de Moçambique no início de Fevereiro de 1970… (…). “…era a defesa do consumidor; acresce que, em 1978, aceitei o convite para colaborar regularmente com o Fernando Balsinha no telejornal e o João Soares Louro convidou-me a fazer programas televisivos, a partir do outono desse ano, fui afastado da televisão em 1981, e havia duas filhas pequenas para zelar e acarinhar. (…). Aquela África marcara-as indelevelmente. “O leitor que me desculpe, mas só a título excepcional vou até à guerra da Guiné, onde combati de 1968 a 1970, no Leste. A exuberância, então, era outra. Durante os primeiros dezasseis meses, de Agosto de 1968 a Novembro de 1969, comandei dois destacamentos no regulado do Cuor, no chamado sector de Bambadinca. Eu vivia a maior parte do tempo com sede em Missirá, aqui tinha as transmissões, os morteiros e as viaturas, aqui assentava a logística, incluindo a secretaria. Mal chegado, apercebi-me que era extremamente difícil ir conhecendo os soldados um-a-um, falavam regra geral crioulo, grande parte das palavras eram, então, ininteligíveis. (…). “…

No fim do jardim erguem-se azinhagas, casebres e algumas casas de veraneio. Manadas correm pelo Campo Grande fora, vão em direcção ao Mercado Geral de Gados. O Campo Grande está rodeado, do lado direito, de habitação muito antiga, começa-se pela vivenda da esquadra, na confluência com a Rua Aboim Ascensão, um das saídas do Bairro Social de Alvalade para o Campo Grande, segue-se uma enfiada de moradias, entra-se por degraus de pedra, assim se chega à Avenida da Igreja, do outro lado há uma correnteza de casas operárias, terão vivido aqui os trabalhadores e famílias da fábrica de têxteis, mais tarde quartel e hoje Universidade Lusófona, até à Igreja dos Reis Magos há construções com alguma solenidade, nos sobrados existem serviços de carvoaria, barbearia, consertos de bicicleta, coisas assim; temos a Igreja e chegamos à Avenida Alferes Malheiro, deambulamos raramente por aí, é enorme, não temos malta com quem jogar à bola, só mais tarde iremos jogar ao Pote d’Água. Desce-se o Campo Grande, há para ali uma casa apalaçada, com gradeamento, depois o Retiro do Quebra Bilhas, já ao tempo se diz tratar-se do último retiro de Lisboa, depois alguns prédios, por detrás expande-se um bairro da lata, a seguir ao quartel, que é daquele tempo, há o asilo D. Pedro V, hoje remodelado e com outros objectivos, a seguir o Museu Rafael Bordalo Pinheiro, mais alguma construção simplória e estamos no Campo Grande.

Do outro lado, há um palácio fechado, hoje o Museu da Cidade, seguem-se hortas até chegar a uma vivenda num descampado, é o edifício da Junta de Freguesia do Campo Grande, com mais hortas em frente mas também construções dentro de azinhagas, o lajedo de todas estas acessibilidades é em paralelepípedos, as linhas do elétrico estão também em paralelepípedos, há para ali umas fábricas, lembro-me que um ano, estávamos no Colégio Moderno, ouvimos a estridência das sirenes dos bombeiros, tinham ido apagar um fogo na fábrica Nally, tinham o creme Benamor que a Mãezinha partilhava com os cremes da Madame Campos; junto à linha do eléctrico há vivendas, umas com traça e conservação, outras com qualidade, as lojas são livrarias frequentadas pelos estudantes de Letras sinais de que se caminha para a derrocada. (…). “… Também a roupa é cara, viram-se os casacos, remenda-se, pesponta-se, andamos todos com cotoveleiras nas camisolas, levamos ao sapateiro o calçado para cardar, dura mais”. “Amolam-se tesouras, pode consertar-se um chapéu-de-chuva e um desses amola-tesouras até deita pingos de solda em fervedores e tachos. Há alguma venda ambulante, a leiteira vem a casa e é escusado voltar a referir os vendedores de fascículos e as suas intermináveis versões da freira do subterrâneo.

E assiste-se à alvorada da sociedade de consumo. Há um tanque em cimento na varanda anexa à cozinha. Ao princípio, faz-se a saponária, um trabalho muito ingrato no inverno. O pessoal feminino queixa-se das mãos ásperas. Depois surgiu a Lever Portuguesa, trouxe uns flocos para a roupa mais delicada, e depois de uma guerra entre o Tide e o Omo, este último triunfou, faz parte das minhas obrigações trazer um pacote de Omo quando vou à mercearia da Rua de Entrecampos. É verdade que o granel pontifica, os vendedores ambulantes vêm em triciclos, trazem frutas e legumes, as suas balanças rudimentares e regressamos com cartuchos a casa. Mas mesmo antes de chegarmos a 1960 o produto empacotado é indicativo que as indústrias alimentares ganharam peso: bolachas, açúcar, lacticínios; e depois os enlatados, até aí só conhecíamos praticamente as conservas de peixe. Alguém que tenha hoje 20 ou 30 anos não faz a menor ideia do que é o significado da limpeza doméstica naquele tempo: remover e pôr cera, usar enceradora ou dar brilho com panos, desliza-se com um pano em cada pé o tempo que for necessário para que aquele chão de madeira fique a brilhar; se está bom tempo, a roupa da cama fica a arejar à janela, sacodem-se as mantas, há mesmo espanadores para bater o colchão, ainda de barbas de milho, os de algodão virão mais tarde e é necessário virá-los de dois em dois dias para não dormirem num colchão com covas; é do senso comum que não há máquinas de lavar roupa nem louça, esta requer esfregão ou palha-de-aço, felizmente que em meados da década de 1950 começam também a surgir detergentes, bem-vindos, lavar a bateria de cozinha não tem graça nenhuma. E há as operações semanais de remoção de poeiras por cima dos móveis, a lavagem dos ladrilhos nas casas de banho e cozinha. São tempos da lixívia, da soda cáustica, da solarina, da terbentina, é a caça ao micróbio, aos maus cheiros, há que pôr os metais a brilhar, tirar nódoas, passa-se imenso a ferro, apanho a transição do ferro de crítica praticada com discrição, é certo, embora constasse que aquele ou aqueloutro vizinho pertenciam à PIDE ou à Legião. (…). “… João Crisóstomo proclamou: “Que ninguém tema a morte”. (…). “… ente, como se formou a geração que foi à guerra e daqui partiu para os anos de paz e os sonhos que teimamos em conservar. Ámen.

Assim termina Mário Beja Santos. A parte final. Vi livros terminarem com o Ámen.
A sua visão do Bairro de Alvalade. Anteriormente todo este espaço pertencia à Freguesia de Campo Grande.
Narrada muita história. A Guerra… Entra… Sai. A riqueza das palavras, o Amor pela “mãezinha”.
Faltou descrever a liberdade em que viviam os perus e galinhas no período do Natal, e Circos e a venda de pinheiros.
Faço a pergunta: – Quem orientou todo o trabalho no Jardim do Campo Grande, e o abatimento de árvores? E por que razão ficaram eucaliptos?
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Nota do editor

Poste anterior de 8 de Dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15460: Notas de leitura (784): “O Fedelho Exuberante”, por Mário Beja Santos, Âncora Editora, 2015 (1) (Mário Vitorino Gaspar)

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13171: Efemérides (155): O baile dos alunos finalistas da Escola Técnica de Bissau na Associação Comercial, Industrial e Agrícola, em 5 de junho de 1965: "Alto lá e pára o baile!" (depoimentos de Virgínio Briote, João Parreira e Luís Rainha)



Guiné > Bissalanca > 1966 > Comandos a caminho de Bafatá, junto ao Dakota para operações na região do Xitole.


Marcelino da Matam, então 1º cabo,  é o primeiro da esquerda, na segunda fila, de pe.  O alf mil Briote é o segundo, a contar da esquerda, da primeira fila. O Capitão Rubim (hoje cor art na reserva) é o 6º da primeira fila, também a contar da esquerda.

Guiné > Bissalanca > 1966 > Comandos a caminho de Bafatá, junto ao Dakota para operações na região do Xitole. São essencialmente elementos do Gr Cmds Diabólicos, de que era comandante o nosso querido amigo, camarada, grã-tabanqueiro e editor (jubilado) Virgínio Briote, para quem mandamos um xicoração fraterno e que esperemos reencontrar em Monte Real, no dia 14 de junho próximo.


Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitios reservados [Edução: LG]


1. Vai fazer 50 anos, para o ano, o célebre baile dos finalista da Escola Técnica de Bissau (e não propriamente do Liceu  Honório Barreto), que ficou bem gravado na memória de alguns dos camaradas que pertenceram aos comandos do CTIG (Brá, 1965/66) como foi o caso dos nosso grã-tabanqueiros Virgínio Briote (, um histórico do nosso blogue, como autor e coeditor), João Parreira e Luís Raínha...

O Virgínio e o João já publicarm, na I Série, em 2005, a sua versão dos acontecimentos dessa noite, em que um grupo de militares, comandos e outros, forçaram a entrada no baile, por vol,ta das 2 h da manhã, e travaram-se de razões com os organizadores.  Os desacatos que se seguiram obrigaram à intervenção da Polícia Militar e da PSP. No final, acabou tudo à boa maneira portugesa, com umas porradas para uns bodes expiatórios e pedidos de desculpa do governador Schulz à Associação.

Não nos compete julgar o comportamento de nenhuma camarada nosso, de acordo com o espírito e a letra das nossas  normas editoriais.  Cenas destas passaram-se na metrópole, envolvendo civis e militares. Mas. neste caso, estamos num território em guerra, e numa cidade, Bissau, ainda em pleno desenvolvimento, mas com sinais de crispação entre os militares, metropolitanos, e a elite crioula...

Juntamos aqui 3 depoimentos, de camaradas nossos que estavam lá nessa noite: além do Virgínio e do João, o Luís Rainha (que é também o fundador., administrador e editor principal do blogue Comandos da Guiné- 1964 a 1966, co-editores: Júlio Abreu e João Parreira, os três também membros da nossa Tabanca Grande).

Os acontecimentos tiveram lugar na Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau, mesmo nas barbas do Governador Arnaldo Schulz.

Não encontrámos até à data nenhuma versão da parte dos civis,  organizadores do baile ou da direção da associação, muito menos do PAIGC (que ocupa hoje este edifício, de resto o melhor edifício da Bissau colonial, segundo a conceituada especialista em arquitetura colonial  estadonovista, a Ana Vaz Milheiro, já aqui vátias vezes falada).

Não sabemos de eventuais ligações, nesta época, ao PAIGC; por parte da direção ou de alguns membros dos corpos sociais da Associação Comercial e Industrial de Bissau, como parece insinuar o Luís Rainha no seu depoimento. O EliséeTurpin foi secretário-geral desta  Associação, de 1973 a 1976,  e não em 1965 (como já escreveu algures o Virgínio Briote), O que é mais espantoso é como é que o homem conseguiu escapar às malhas da PIDE/DGS, vivendo à luz do dia em Bissau... Nunca foi preso... Afinal tratava-se, nada mais nada menos, de um dos fundadores do PAIGC, em 1956!... Só há uma explicação, quanto a mim: a escola de resistência do PCP-Partido Comunista Português, de que o Elisée Turpin também era (ou tinha sido) militante...

Esta junção dos três textos, para além de uma homenagem aos seus autores (e muito em particular ao nosso editor jubilado Virgínio Briote que superou um grave 'roblema de saúde, do foro oftalmológico, ainda não há muito tempo) , é também uma forma de dar a conhecer melhor, aos nossos leitores mais recentes (ou "piras"),  o ambiente que se vivia em Bissau, em meados de 1965,  no tempo do Arnaldo Schulz, o general que antecedeu o António Spínola.



Guiné > Bissau > s/d > Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 144". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal). O melhor edifício da cidade, segundo Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura colonial estadonovista. É hoje sede... do PAIGC!

Foto: © Agostinho Gaspar / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine   (20q0). Todos os direitios reservados [Edução: LG]



Guiné > Brá (?) > Setembro de 1965 >  Virgínio Briote, ao centro, tendo à sua esquerda o Marcelino da Mata e o Azecedo e *a sua direita o Black e o Valente

Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitios reservados [Edução: LG]


(i) A versão (ligeiramente ficcionada) do Virgínio Briote
ex-alf mil, comando, cmdt do Gr Cmds
Diabólicos (CTIG, Brá, 1965/66)

[Os parênteses retos, em itálico,  são da responsabilidade do editor,  LG]

Morreu um tipo de um país qualquer, o Salazar decretou 3 dias de luto e lá estamos nós a ouvir música de mortos com a nossa bandeira a meia haste. Custa-me engolir estas histórias quando os nossos mortos estão a ser ignorados.

Fala-se no próximo baile de finalistas, que vai ser uma festa de arromba! Alguns dos nossos vão roncar com as namoradas ou com os arranjinhos. O Uva   [, João Parreira,] anda todo satisfeito, até o Quintanilha, aquele alferes dos páras, mandou vir da metrópole um fato de cerimónia.

Quando estive de férias na metrópole logo a seguir à formação dos grupos, os Fantasmas accionaram uma mina e foi o que se sabe, 9 dos nossos já lá estão. Entre eles,  o meu grande amigo Artur. Morrem-nos 9 homens e a Emissora Nacional continua a twist e ié-ié. É isto que me custa engolir, estão a ouvir? E ainda por cima, cabo-verdianos e alguns sectores guineenses não vêem com bons olhos a nossa presença nas festas deles!

Mas que raio estava aqui a fazer? A Guiné não lhe estava a dizer nada, não a sentia como sua, até se sentia um intruso. Até com os civis brancos, poucos, duas dúzias se tanto, sentia-se sem convite.

Na esplanada do Bento, a 5ª Rep, como também era conhecida , bebia cerveja com mancarra, num grupo de 5 ou 6 comandos e páras. Um terá dito que naquela noite, na Associação Comercial de Bissau, havia o baile dos finalistas do Liceu [,  ou melhor, Escola Técnica de Bissau]. Outro lembrou-se de perguntar se alguém recebera convite. Eu não, tu não, aquele também não…Ninguém se lembrou de nós, como pode ser? Queres ir?

Dentro da Associação, no enorme salão de baile, finalistas e familiares todos animados a dançarem, com o Toni ao piano. Quando os viram entrar em fila, alto lá e pára o baile!... Depois, ninguém soube bem como tudo começou…

A princípio, as frentes pareciam bem delimitadas, os participantes em festa de um lado e a meia dúzia de intrusos do outro. Com o decorrer das hostilidades, as duas partes em confronto clarificaram-se ainda mais. Entre vivas ao camarada Presidente Amílcar, um pelotão da PM  entrou por ali dentro, despachou tudo o que lhe apareceu pela frente, trinta e tal tipos com escoriações para o hospital, a polícia civil e a pide também metidas. Vidros e loiças em cacos, cadeiras e mesas partidas, uma noite que nunca mais acabava.

Mesmo em frente ao Palácio do Governo, onde, soube-se depois, da janela, o Governador [, gen Arnaldo Schulz,] via aqueles gajos darem-lhe cabo da psico. Uma vergonha!

Os acontecimentos na Associação Comercial alteraram o ambiente na cidade. A desconfiança entre a população negra, cabo-verdiana e a tropa, os nervos crispados, a porcaria mais ou menos submersa, subiu tudo. Tentava-se levar a vida normal, mas via-se pouca gente nas ruas, sobretudo à noite. A PM aumentara os patrulhamentos. O PAIGC, como lhe competia, aproveitava e tirava dividendos.

Nos dias a seguir ao sucedido choveram exposições no Palácio, sete, dissera todo cheio de importância o ajudante de campo do Governador. O General Shulz recebera numerosas individualidades civis, apresentara desculpas formais à Associação Comercial e aos finalistas, prometera pagar os prejuízos, tomar providências enérgicas, o habitual nestes casos.

Em Brá, o capitão [, da CCmds / CTIG, Nuno Rubim,]  interrompeu os desenhos que estava a fazer quando o viu entrar. Começou por lhe dizer que as saídas para a cidade estavam proibidas. Depois, pediu-lhe explicações. Que se tudo tinha acontecido como se contava, que não tivesse dúvidas que haveria consequências. O Governo da Província estava a ver o programa de pacificação a andar para trás, que aguardasse o auto de averiguações, que era tudo, chutara o capitão, cada vez mais longe dele e dos outros. Logo a seguir deu-lhe ordem para ir para o Xitole, o grupo deveria manter-se lá até nova ordem, sem mais detalhes. Bater a zona, procurar o IN, dar-lhe caça, para que é que havia de ser?

Embarcaram num Dakota até Bafatá, depois apanharam boleia numa coluna auto que os levou para Fá, rumo ao Xitole, numa coluna a abarrotar de abastecimentos.

Até Fá Mandinga o percurso foi-se fazendo. Depois, até ao Xitole, foram sempre debaixo de chuva, os quilóemtros nunca mais acabavam, as viaturas civis que aproveitaram a boleia não estavam preparadas, metiam-se na lama até à carroçaria. O Corubal parecia o Atlântico quando o atravessaram. Chegaram no outro dia à noite, com os reabastecimentos reduzidos a metade, alguns destruídos pelas águas, outros desapareceram, ninguém soube dizer como.

Mantiveram-se lá quase 3 semanas, contactaram com o IN nas proximidades do Galo Corubal, em Satecuta [, subsetor do Xitole, na maregm direita do Rio Corubal]  , sem consequências para além de trocas de tiros à distância.

Da estadia no Xitole o que os marcou mais foi a chuva. E o toque a silêncio, tocado à noite por um profissional da corneta. Um solo de requinta, de arrepiar!

Percurso inverso, quase a mesma história, com a diferença de ter sido feito a pé até Bambadinca.

Dias depois em Brá, um capitão procurou-o, queria ouvi-lo para o tal processo que estava a decorrer, já tinha ouvido os outros, só faltava ele. O que tinha acontecido, como, quando, porque é que, quem fora o cabecilha, leia, assine aí em baixo, alferes Gil Duarte [, alter ego do autor.,]se estiver de acordo.

À noite fora até Bissau, encontrar-se com os companheiros do costume. Passaram-lhe para as mãos a Plateia, uma revista de cinema que saía em Lisboa. Folheou-a, os olhos na Brigitte Bardot a fazer festas no focinho de um burro, um pé da Sofia Loren num banco a tirar a meia preta com um tipo qualquer deitado numa cama, à espera. Parou numa página. Crónica da Guiné na Plateia, ora deixa ver! Uns arruaceiros tinham invadido as instalações da Associação, interromperam a festa dos finalistas e partiram tudo, à boa maneira dos teddy-boys de Liverpool e Manchester, escrevia escandalizado o correspondente [, que assinava Joaão Benamor]. Olharam uns para os outros, calados.

Fica assim, perguntou alguém? Que não, que era melhor falar com o correspondente, esclarecê-lo, tirar-lhe as dúvidas. Bissau era pequeno, foram até à esplanada do [Café] Bento [, a 5ª Rep], disseram que ele devia estar lá para cima, no café Império.

Encontraram-no, estiveram com ele, explicaram-se uns aos outros. Não foi logo na Plateia seguinte, mas a rectificação leram-na dois meses mais tarde, acompanhada de um cartão com os melhores cumprimentos.

Entraram no gabinete, fizeram-lhe a continência e puseram-se os 5 em linha, aprumados [, 2 alferes e 3 furrieis, todos dos Cmds / CTIG]. O Brigadeiro Sá Carneiro, Comandante Militar, mexia nuns papéis em cima da secretária, não encontrava, abriu gavetas, ah, estão aqui, satisfeito. Quando levantou os olhos para eles, mudou de cara.

Ora bem, meus senhores, antes de mais, devo manifestar-lhes a pena que tenho de os ter aqui nestas circunstâncias. Já tive convosco manifestações de apreço, quando o mereceram, o que não é o caso desta vez, infelizmente. Relatar aquilo que ficou apurado, é desnecessário…

Puno o alferes comando…., olhava primeiro para o citado, escrevia depois, três, cinco dias de prisão simples, o critério nunca se soube, porque no dia tal, às tantas horas,…grave prejuízo para a tranquilidade e bem-estar públicos…contrariando os esforços que o governo da Província…a lenga-lenga igual para todos.

Não sabia porquê, tinha apanhado três dias de prisão, a pena mínima, sabia lá, cara fechada para o Justo [1º cabo, guineense, do Gr Cmds Diabólicos, mais tarde, oficial graduado da 1º CCmds Africanos] que lhe perguntava porquê uma pena tão reduzida.

Desciam a escadaria quando o ouviu chamar outra vez, ó Gil, então, quando vais de férias?


(ii)   Depoimento do João Parreira  (ex-fur mil comando, Gr Cmds Fantasmas, CTIG, Brá, 1965/66)


[Foto à esquerda: O Joâo Parreira e o Vassalo Miranda, Bél+e, mo dia 10 de junho de 2010. Fotp de L,.G..]

[Os parênteses retos, em itálico,  são da responsabilidade do editor,  LG]



Conforme o prometido, passo a descrever a minha participação e os acontecimentos que deram origem à narração do V. Briote em 13/11/05 (*) sobre o baile dos Finalistas da Escola Secundária [, Escola Técnica, e não Lice«u],  realizado em Bissau, no Sábado, em 5 de Junho de 1965.

Na manhã daquele dia para me descontrair tinha ido com alguns camaradas para Quinhamel, uma vez que estava com grandes projectos para aquela noite. Semanas antes tinha conhecido a Helena,  uma moça cabo-verdeana, que era o que se costuma dizer uma “brasa” e andava todo entusiasmado.

Na véspera do baile, a Helena que era finalista, disse-me que me ia arranjar um convite para assim poder ir com ela . No próprio dia encontrei-me com ela da parte da tarde e ela disse-me que não tinha conseguido obter um convite, mas que me tinha comprado um bilhete. Assim dei-lhe os 100 pesos correspondentes ao preço do bilhete.

Estava a dançar com ela, já devia ser madrugada quando ouvi um grande borburinho, virei-me e reparei que o motivo era a entrada sem bilhete de vários militares desconhecidos e logo a seguir uma cara conhecida.

A música não parava de tocar e os pares continuavam a dançar. Várias finalistas e familiares encontravam-se sentadas em cadeiras que tinham sido colocadas junto às paredes. Alguns dos recém-chegados dirigiram-se de imediato a estas finalistas a pedir para dançar, mas não tiveram sorte.

No salão enorme, junto a uma das janelas encontrava-se uma mesa rectangular bastante comprida que dominava todo o salão e que estava totalmente ocupada com africanos e cabo-verdeanos que presumi serem os professores e o Principal [ , diretor] da Escola [Técnica].

Guiné > Bissau > Fevereiro de 1965 > O Furriel Miliciano Comando João Parreira, já depois de ter saído da CART 730... "Esta foto foi tirada numa esplanada em frente ao Hotel Portugal, creio que se chamava Café Universal".

Foto: © João Parreira (2005).Todos os direitos reservados


Notava-se que os ocupantes desta mesa ficaram furibundos com a intrusão. O alf Godinho, um dos “velhinhos”, foi um dos últimos a entrar, pelo que dirigiu-se logo para essa mesa e foi falar calmamente com um dos que se encontravam sentados no centro da mesa.

Desconheço o teor da conversa, mas o certo, pois eu estava a dançar perto, é que um deles lhe atirou com uma garrafa à cabeça. De imediato,  vindo da mesma mesa,  ouviu-se um deles gritar e logo a seguir outros a fazerem coro: "Se o nosso chefe estivesse aqui, e não em Conacri, nada disto acontecia”.

Com esta agressão e com as palavras insultuosas o ambiente ficou desde logo muito tenso.

Com todo este reboliço entraram de rompante 2 ou 3 camaradas que tinham ficado à porta do edifício, já que o porteiro não os tinha deixado entrar.

O Furriel V[assalo] Miranda alheio à situação e que na altura andava a passear o seu inseparável whisky, deixou-o ficar no hall de entrada à guarda de um porteiro, e também entrou.

O contacto físico em vários pontos do salão, não muito distante da pista de dança, começou já passava das 03h00 e prolongou-se por bastante tempo.

Apesar do que se estava a passar, a música não parava de tocar e parecia que todos os pares queriam estar alheios à situação. Como não podia deixar de ser, parei de dançar e pedi à Helena para não sair da pista pois ia ajudar os meus camaradas, e depois voltava.

Ela, que foi fantástica, disse-me para não ir pois podia ficar magoado, mas eu tranquilizei-a dizendo-lhe que em Lisboa tinha praticado boxe em clubes e tinha entrado em vários combates públicos.

Assim , por 3 ou 4 vezes, dava um pezinho de dança, atravessava a pista por entre os pares, ia a uma das zonas da pancadaria, envolvia-me como podia no meio de um dos grupos em contenda dava uns bons pares de murros e, quando me sentia satisfeito lá voltava novamente para junto da moça para continuar a dançar.

Dado o reboliço que se gerou também entraram no salão vários paraquedistas para darem uma ajuda aos que se encontravam em minoria. Entretanto alguém deve ter chamado a PM que entrou mais tarde e começou logo a tirar os nomes à rapaziada.

Tive mais sorte que o VB [, Virgínio Briote,]
e os outros camaradas pois logo que vi a PM entrar na nossa direcção apressei-me, sorrateiramente, a atravessar o salão pelo meio dos pares, a fim de ir ter com a Helena (a minha tábua de salvação) que estava a dançar sòzinha e agarrei-me logo a ela, pelo que a PM não deve ter percebido que eu também tinha andado no barulho.

Acabado o baile fui levar a Helena a casa, mas depois destes acontecimentos o ambiente não era propício pelo que vi gorados os projectos que tinha idealizado em Quinhamel.

Ao fim e ao cabo, feitas as contas tive sorte a dobrar pois livrei-me de ser punido e como tal de ter que ir passar uns tempos ao mato.

Domingo, 6 de Junho de 1965, às 19h00 dirigi-me com o V [assalo] Miranda e alguns fuzileiros para a Praça do Império onde se encontravam vários grupos de africanos em atitudes provocadoras e hostis, para tentarem tirar, talvez, ainda mais dividendos dos acontecimentos daquela madrugada.

Não sei bem como tudo começou, mas um deles apanhou o Miranda distraído e aplicou-lhe um tremendo murro que fez com que ele vacilasse, e depois fugiu. Corremos atrás dele mas não o apanhámos na rua pois foi refugiar-se no cinema UDIB. O porteiro, cabo-verdeano, que estava já a correr a porta de lagartas para o proteger não o conseguiu fazer, já que, com a ajuda do meu cinturão foi persuadido a não a fechar, e assim o Miranda entrou e ficou a sós com o seu agressor.

Voltámos para a Praça do Império onde o número de africanos tinha aumentado de uma forma incrível e notavam-se as mesmas atitudes agressivas. Como estávamos, mais uma vez, em grande desvantagem numérica, e com o intuito de os intimidar e evitar o confronto, mandei pedir a Brá para quem nessa altura estivesse disponível viesse ao nosso encontro.

Passada meia-hora chegou um jeep com o condutor e um Alferes (o único que vinha armado para o que desse e viesse) e logo atrás uma Mercedes com mais pessoal.

Infelizmente a intenção não deu resultado pois, ao aperceberem-se da chegada,  os africanos atiraram-se a nós à tareia usando os punhos e os pés.

Assim cada um de nós estava a ser agredido por 3 ou 4 pelo que, para evitar o pior, decidimos resolver o assunto com a máxima rapidez, e para esse fim usámos os nossos cinturões a torto e a direito, o que teve o condão de os obrigar a fugir. 

Com a Praça vazia usámos os mesmos veículos e regressámos a Brá.


(iii) Depoimento do Luís Raínha, ex-alf mil, comando, 
cmdt do  Gr Comandos Centuriões, CTIG,
Brá, 1965/66  (***)

A minha narrativa vai ser um pouco diferente, pois, eu fui ao baile convidado por uma Família de um dos finalistas, ou seja, todo o mundo sabia, sabe e sempre soube que eu tive uma grande paixão e amor por uma moça da família Barbosa. Uma das famílias mais importantes da Guinè, a Lu, como carinhosamente a tratava e ainda hoje a lembro com saudade.

Muitas coisas se fizeram contra este amor, a tudo ele foi resistindo, mas houve uma altura que caíu.
Bem, vamos ao que interessa, que é o Baile de Finalisatas do Liceu Honório Barreto de Bissau. Já lá vão cerca de quarenta e cinco anos e ainda me parece que foi ontem.

Pelas 19H00 do dia 05Jun65, o condutor do meu Grupo foi-me levar a Bissau e perguntou-me se era necessário ir-me buscar. Respondi que não, pois eu me arranjaria. Deixou-me junto à porta de casa de minha namorada e foi-se embora, dizendo um breve , até amanhã.

Fui buscar a Lu e fomos jantar ao Grande Hotel e de lá fomos para o baile. Não há que  contar novamente tudo, pois os meus camaradas já o fizeram e como tal interessa só o que se passou connosco, o que vi e ouvi. 

Já durante a jantar fui ouvindo que se estava preparar algo contra os brancos, informo que a minha Companheira era morena - muito bonita, pois não os iam deixar entrar no referido baile, como mais tarde aconteceu.

Depois do jantar, como era cedo ainda passámos por casa e os rumores continuavam; chegando ao ponto da própria me alertar de que podia ir descansado pois estava convidado. Chegados ao baile fomos à mesa que nos estava reservada e a seguir fomos dançar, mas o ambiente era tenso e ainda nem sequer se via nada de anormal. Cerca das duas horas da manhã é que as coisas começaram a azedar com a entrada em cena da tropa branca, que logo foi rodeada pelos cabo-verdianos aos gritos e insultos.

Estava declarada a guerra há tanto tempo esperada pelos cabo-verdianos. O pior de tudo é que os nossos Chefes não viram ou não quiseram ver as coisas como elas eram e estavam a acontecer. Enviaram as PM e a Policia civil para dar em tudo que fosse branco.

Eu, a única coisa que fiz foi proteger a senhora que estava comigo, por consequência à minha guarda. Colocando um dos meus braços por cima dos seus ombros e com o cartão de oficial do exército lá fui abrindo caminho pelo meio da multidão e dos Policias, estes distribuindo cacetada por tudo quanto era sítio, não poupando ninguém, tentavam aclamar os ânimos.

Quando íamos a caminho de casa vimos o General Shulz à varanda em pijama a ver o espectáculo.
Claro, que quando os cabo-verdianos quiseram a coisa acabou.

De tudo isto, podem-se tirar várias conclusões, mas duas  há que saltam logo aos olhos de qualquer pessoa medianamente inteligente. Toda a barraca foi muito bem preparada pelo PAIGC e os nossos Chefes da altura caíram que nem uns patinhos. E porquê? Por causa da ''psico-social', uma palermice em que os nossos governantes acreditavam ou queriam acreditar.

[Luis Rainha, foto atual à esquerda] 

Assim, acabou um episódio (****)que podia ter facturado para o nosso lado, mas pela incompreensão dos Chefes Militares foi o adversários que ficou com os louros.

Mas, sempre foi assim, nós havemos de ser os eternos coitadinhos.

(iv) Punições a que  foram sujeitos 4 dos 5 comandos alegadamente envolvidos nos incidentes do "baile dos alunos finalistas da Escola Técnica de Bissau" (*****)  

(Felizmente,  estes incidentes entre nuilitares e civis não pocdem ser comparados com os que tiveram lugar, em Bissau, precisamente dois anos depois, envolvendo paraquedistas e fuzileiros, e de que resultaram 2 mortos) (******).





Cópias da Ordem de Serviço nº 70, de 27 de agosto de 1965, do CTIG em que são punidos com prisão disciplinar 3 furrieis milicianos e um alferes miliciano da CCmds / CTIG, Brá, 1965/66. Rasurados os seus nomes. (Cortesia do blogue Comandos da Guiné- 1964 a 1966).

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Notas do editor:

(*) Vd. I Série  do nosso blogue > 13 de novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXVII: O 'baile dos comandos' na Associação Comercial [Virgínio Briote]

(**) Vd. I Série do nosso blogue > 13 de dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXIII: O baile dos finalistas do Liceu de Bissau de 1965 (João Parreira)

(***) Vd. blogue Comandos Guiné - 1964 a 1966 > 24 de abril de 2010 >  G.C.G. - A0032: Uma histórica verídca de vez em quando- 2ª Parte > O Celebérrimo "Baile na Associação Comercail de Bissau"

(****) Último poste da série > 4 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P12094: Efemérides (151): Dia da Mãe... Para celebrar, hoje como ontem, com poesia (Joaquim Luís Fernandes)

(*****) Recorde.se aqui a criação e a extinção da CCmds / CTIG, Brá, 1965/66

 Para dar continuidade à formação de Grupos de Comandos é criada a Companhia de Comandos do CTIG (CCmds / CTIG) sendo nomeado seu comandante o Cap Art "Cmd"  Nuno Varela Rubim. Em 20 de Fevereiro de 1966 é nomeado comandante da CCmds / CTIG o Cap Art.«Cmd» José Eduardo Garcia Leandro.

O 2º.Curso de Comandos tem início em 7 de Julho de 1965, terminando em 4 de Setembro do mesmo ano, com a formação de 4 Grupos de Comandos designados por:

«Diabólicos» Alf. Mil. «Cmd» Virgínio Silva Briote
«Centuriões» Alf. Mil. «Cmd» Luís Almeida Rainha
«Apaches» Alf. Mil. «Cmd»  Neves da Silva
«Vampiros» Alf. Mil. «Cmd» Pereira Vilaça

O 3º. Curso de Comandos, realizado pela CCmds / CTIG aquartela da em Brá, tem início em 9 de Março de 1966 terminando a 28 de Abril de 1966, constituído por militares voluntários pertencentes a Unidades sediadas na Guiné e que se destinavam a recompletamento de Grupos de Comandos.

(...) Com a chegada a Bissau da 3ª.Companhia de Comandos, vindos do CIOE - Lamego, é extinta em 30 de Junho de 1966, a CCmds / CTIG, ficando, somente em actividade, até finais de Setembro de 1966 o Grupo de Comandos «Diabólicos»,  data em que a maioria dos militares que o integravam terminava a sua comissão de serviço.

Fonte:  Regimento de Comandos > História dos Comandos > CCmds / CTIG,  Brá, Guiné

(******) Vd. poste de 2 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5580: FAP (44): A verdade sobre os incidentes, em Bissau, em 3 de Junho de 1967, entre páras e fuzos... (Nuno Vaz Mira, BCP 12)

(...) Na noite de 3 de Junho de 1967, no final dum jogo que parecia ter decorrido de forma idêntica a tantos outros, entre o ASA – acrónimo de Atlético Sport Aviação, o clube dos militares da Força Aérea – e a equipa onde alinhavam os marinheiros, sucedeu o inesperado: estes, depois de trocarem insultos e provocações com os pára-quedistas, como era hábito, abandonaram o recinto desportivo, numa atitude pouco consentânea com os seus comportamentos recentes.

Os páras correram atrás deles pelas ruas da cidade, não imaginando que, algumas centenas de metros à frente, emboscado num prédio em construção, um grupo de fuzileiros armados com G-3 se preparava para os atacar a tiro. Custa a entender onde aqueles homens foram buscar ânimo para levar a cabo semelhante acto, mas a verdade é que foram capazes de abrir fogo à queima-roupa sobre camaradas de armas desarmados, matando de imediato o 1.º cabo Ismael Santos e o sold. Fernando Marques, para além de terem provocado ferimentos noutros soldados. (...)