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sexta-feira, 22 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18765: Álbum fotográfico de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71) - Parte IV: Bissum, missão cumprida


Foto nº 22


Foto nº 23


Foto nº 24


Foto nº 25

Foto nº 25 A


Foto nº 25B


Foto nº 26


Foto nº 26 A

Foto nº 26 B


Foto nº 27


Foto nº 28


Foto nº 29



Guiné > Região Cacheu > Bula > CCAV 2639 (1969/71) >  c. abril / julho de 1971 > Destacamento em Bissum, setor de Bissorã.


Fotos (e legendas): © António Ramalho (2018) . Todos os direitos reservados (Edição e legendag complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


1. Continuação da publicação do álbum de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), membro da Tabanca Grande, nº 757, natural de Vila Fernando, Elvas (*):



CCav 2639 > Guiné 1969/1971 > Listagem de fotos (de 22 a 30/55)


22. Mini Cruzeiro até Bissum [, que pertencia ao setor de Bissorã e não de Bula]
23. Mini Cruzeiro até Bissum.
24. Amigos de Bissum
25. Bissum - Equipa futebol de Oficiais e Sargentos
26. Bissum - Equipas de futebol de Oficiais, Sargentos e Praças.
27. Bissum -Mina anticarro (desactivada) encontrada no porto. [Junto ao monumento erigido pelas "Águias Negras" (CCAV 1747), cujo lema era "Unos e Firmes"]
28. Bissum - Com o Fur Mil Ângelo Silva.
29. Missão cumprida - Regresso de Bissum. [, O autora aparece aqui, de bigode e de óculos de sol]
30. No rio Cacheu a aguardar transporte de regresso.

(Continua)
______________

Nota do editor:


(*) Vd. últimos postes da série >  

8 de junho de  2018 > Guiné 61/74 - P18723: Álbum fotográfico de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71) - Parte III: Reordenamentos & Casamentos... Ou quem casa, quer casa...

23 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18667: Álbum fotográfico de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71) - Parte I: o parto de Helga Reis, em Ponta Consolação, em 6 de janeiro de 1971

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17577: Em busca de... (276): Fotografia da entrega de uma arma "turra", em Bissum, em finais de 1967 ou princípios de 1968, ao tempo da CCAV 1747...Eu era criança (8/10 anos)... O meu pai, que era civil, pagou com a vida, mais tarde, pela entrega dessa arma à tropa... Preciso de encontrar essa foto (Martinho Arroz, Sesimbra, Cotovia)


Guiné > Bissum Naga > CCAÇ 1497 > Março/abril de 1967 > Início da construção do aquartelamento... Como se pode ver, estas construções davam-nos cá uma qualidade de vida... Foto do álbum de Carlos Gomes Ricardo, cor inf DFA (ex-alferes da CCAÇ 1496 / BCAÇ 1876, Bula e Bissum Naga, 1967/68; ex-capitão, CCS/QG/Bissau e cmdt  da CCAÇ 3, Guidaje, 1970/72) (*)

Foto e legenda: © Carlos Ricardo (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Do nosso leitor, de origem guineense, Martinho Arroz:

De: Mart Arroz <m2arroz@yahoo.com>

Data: 10 de julho de 2017 às 00:25

Assunto: Procuro foto

Antecipadamente endereço os meus agradecimentos. Sou de Bissum-Naga, era eu criança, mais ou menos tinha aproximadamente 8-10 anos de idade, quando foi instalado o  aquartelamento de Bissum (Naga).

Eu era uma das tantas crianças que trabalhava no quartel. Eu concretamente estava no posto de rádio. Lá estava o cabo Pinheiro, era delgadinho e estava um gordo cujo nome não me lembro. O Pinheiro deu-me nome de Fula-Fula e Martinho.

O caso é seguinte: Meu pai entregou arma de IN (turras). A partir dessa entrega, eles,  turras, começaram à procura do meu pai para o matar. Foi assim que ele foi morto pelo IN (turras). Meu pai não era milícia, era civil.

Tenho certeza que, quando ele fez a entrega da arma, foi fotografado. Penso que o acto da entrega da arma foi nos anos...  fins de 1967 ou princípios de 1968.

Nesse quadro peço o favor de ajudarem-me a encontrar essa fotografia,  ficaria  muito grato pela vossa ajuda. (*)

Vivo em Portugal,  concretamente em Sesimbra, Cotovia.


2. Comentário do nosso editor Carlos Vinhal, ao encaminhar o assunto para mim e para o nosso colaborador permanente  José Martins:

Caros amigos:

Esta é que é mesmo difícil. Que fazemos?

Ab, Carlos


3. Resposta do "consultório militar" do Zé  Martins:

Bom dia,  Carlos

Há situações que mais vale serem mortas à nascença, do que alimentar esperanças.

O blogue não é uma "agência estatal" e, portanto, não se move nos meios militares à vontade.

A foto, a existir, não está "ali a olhar para nós". Estará dentro de um dossiê ou até digitalizada, se é que chegou às mãos do arquivo, e não se sabe qual.

Se o blogue quiser ser "politicamente correcto", em minha opinião, poderá facultar a informação de que o Arquivo Histórico Militar está localizado nas instalações do Museu Militar, Largo Caminhos de Ferro 2, 1100-105 LISBOA, telefone 800 205 938.

Há ainda o Arquivo Histórico Ultramarino, Calçada da Boa-Hora, nº 30, 1300-095 LISBOA, Tel 210 30 91 00, E-mail Geral:ahu@ahu.dglab.gov.pt

Com toda a estima e consideração, vai um quebra-ossos.

Zé Martins


4. Comentário de LG:

Sobre Bissum Naga temos cerca de 4 dezenas de referências no nosso blogue. Sabemos que foi a CCAÇ 1497 quem, entre 17 de março de 1967 e 14 de setembro de 1967,  construiu (ou iniciou a construção de) o aquartelamento e assumiu a responsabilidade do subsetor então criado.  O nosso camarada Carlos [Gomes] Ricardo foi alf inf [QP] desta companhia (**),  e pode por certa ajudar-nos a responder ao pedido do Martinho Arroz.

No fim desse período,em 14 de setembro de 1967, a CCAÇ 1497 foi rendida pela CCAV 1747 (Bissum, 1967/69).

Os factos referidos pelo Martinho, a terem  ocorrido em finais de 1967, princípios de 1968, seriem então do tempo da CCAV 1747 (1967/69).

Sobre a CCAÇ 1497 /BCAÇ 1876 (Fajonquito, Binar, Bissum e Bissau, 20/1/1966 - 4/11/1967), há três referências no blogue. Teve 2 comandantes: cap inf Carlos Alberto Coelho de Sousa, e cap mil art Carlos Manuel Morais Sarmento Ferreira.

Quanto à CCAV 1747 (Farim e Bissum, 20/7/1967.- 7/6/1969) teve como comandante o cap mil inf Manuel Carlos Dias. Desse tempo e lugar  temos no nosso blogue pelo menos dois testemunhos: o do José Saúde, contando as desventuras do seu amigo Toy Sardinha, ferido em combate na véspera do natal de 1967 (***) e do João Martins. alf mil do pelotão de artilharia, que chegou a Bissum a 21/12/1967, ali teve o seu batismo de fogo. e ali permanceu até junho de 1968 (****).

A CCAV 1747  deve ter sido substituída pela CCAÇ 2465 (Có e Bissum, 1969/70), comandada pelo nosso grã.-tabanqueiro António Melo de Carvalho, ex-cap inf, hoje cor ifn ref..

Em resumo, quem pode ter uma cópia da fotografia pedido pelo Martinho é a rapaziada da CCAV 1747 [, guião, à direita, gentileza do Carlos Coutinho]. Vamos contactar o José Saúde e o João Martins, já que não temos ninguém, registado na Tabanca Grande, pertencente a essa subunidade  que esteve em Bissum, quase toda a comissão, desde setembro de 1967 a junho de 1969. Os coronéis Carlos Gomes Ricardo e António Melo de Carvalho também nos podem dar alguma pista,

Bem hajam a todos!
_______________

Notas de leitura:

(*) Último poste da série > 25 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17282: Em busca de... (275): duas crianças do Oio, levadas durante a guerra, uma para Mansabá, Saliu Seidi, e outra para o Olossato, Malam Cissé, e depois para Portugal... Parece que os dois rapazes se encontraram uma vez com [o sueco] Lars Rudebeck em Portugal... Pede-se encarecidamente notícias do seu paradeiro (Manuel Bivar / Sadjo Turé, INEP, Bissau)

(**) Vde. poste 13 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12712: Tabanca Grande (426): Carlos Gomes Ricardo Cor Inf DFA (ex-Alferes da CCAÇ 1496/BCAÇ 1876, Bula e Bissum Naga, 1967/68; ex-Capitão, CCS/QG/Bissau e CMDT da CCAÇ 3, Guidaje, 1970/72)

(***) Vd. poste de 7 de outubro de  2013 > Guiné 63/74 – P12125: Estórias avulsas (70): Balas de raiva: o meu amigo Toy Sardinha, da CCAV 1747 (Bissum, 1967/69), gravemente ferido em 24/12/1967, é evacuado para o HMP... Os médicos não lhe encontram a bala... que virá a sair, anos mais tarde, da perna... contrária! (José Saúde)


(...) Bissum-Naga

Chegámos a Bissum a 21 de Dezembro [de 1967], portanto, na semana que precede o Natal, pelo que, como de costume, e talvez para esquecer as saudades das famílias que nessa quadra ainda são mais intensas, iniciámos a operação “Bolo Rei”, a que se seguiu a operação “Cavalo Orgulhoso”.

Tive uma adaptação particularmente difícil, porquanto logo nos meus primeiros dias tivemos feridos e mortos, e, na véspera de Natal, de forma imprópria de gente civilizada, houve um elemento considerado afecto ao inimigo que foi muito, mas muito maltratado, pelo que fiquei a saber da selvajaria de que também éramos capazes. Foi um dos piores locais da Guiné por onde passei.

Terra de balantas, etnia altiva e independente, nunca me senti muito bem visitando as palhotas e interagindo com a população, dir-se-ia que, ao longo de cerca de 500 anos de convivência os nossos povos tiveram muito poucos contactos.

A tabanca localizava-se entre o aquartelamento e o rio Cacheu, ao longo da estrada, de modo que eramos atacados apenas dos quadrantes Sul e Este. Nós e a população éramos frequentemente sujeitos a flagelações por parte do IN que nos atacava tanto de dia como de noite, pelo que, durante os meses que estive lá, dormi sempre sem saber o que eram uns lençóis e um pijama. (...)

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12526: Fichas de unidade (9): Companhia de Caçadores N.º 2724 (Guiné, 1970/1972)





1. Em mensagem do dia 17 de Dezembro de 2013, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), a pedido do nosso editor Luís Graça, enviou-nos a Ficha da CCAÇ 2724.




COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 2724

Brazão ou Crachá da Companhia de Caçadores nº 2724
© Foto de José Casimiro Carvalho (2010) ¹

Mobilizada pelo Regimento de Infantaria nº 15, de Tomar e, sob o comando do Capitão de Infantaria José Pinto Correia de Azevedo, adoptou como Divisa Non Nobis

Embarca em 04 de Abril de 1970, desembarcando em Bissau em 11 de Abril de 1970.


Síntese da Actividade Operacional:

Realizam o treino de aperfeiçoamento operacional, entre 16 e 22 de Abril de 1970, em sobreposição com a Companhia de Caçadores n.º 2401. Após o treino de aperfeiçoamento, assume a responsabilidade do Sector de Buruntuma, com um grupo de combate instalado em Camajabá. Fica integrado no dispositivo do Batalhão de Artilharia n.º 2857 e, mais tarde, do Batalhão de Cavalaria n.º 2922.

É durante este período que, ARNALDO ANTÓNIO MORAIS, Soldado Condutor Auto Rodas NM 10105369, casado com Maria Ernestina Alves Morais, filho de João António Morais e Cremilde da Conceição Cepeda, natural de Nuzedo de Cima, freguesia de Tuízelo e concelho de Vinhais, tombou vítima de ferimentos em combate num ataque inimigo ao aquartelamento de Buruntuma, em 5 de Setembro de 1970, sendo inumado no Cemitério Paroquial de Salgueiros e Tuízelo.

É rendida, em 17 de Fevereiro de 1971 em Buruntuma, pela Companhia de Cavalaria n.º 1747, sendo transferida para Nova Lamego, para dar protecção aos trabalhos da asfaltagem da estrada que ligava esta localidade a Piche.

Brazão ou Crachá da Companhia de Caçadores n.º 2724 
© Foto da colecção de Carlos Coutinho

Porém, a 24 de Fevereiro de 1971, inicia a deslocação para Bissau, tendo os grupos de combate ficado adidos à Companhia de Caçadores n.º 2571, até à chegada de todos os efectivos, que se verificou a 12 de Março de 1971.

A Unidade é integrada no Comando de Bissau e, em 13 de Março de 1971 assume a responsabilidade do subsector de Brá, substituindo a Companhia de Caçadores n.º 3327. Destacou forças para Safim e João Landim.

De 24 de Março a 6 de Abril de 1971, destacou um pelotão para reforço da guarnição de Nhacra, e de 14 de Abril a 7 de Junho, destacou dois pelotões para os reordenamentos de Jugudul Com e Changue Bedeta.

É substituído em Brá pela Companhia de Caçadores n.º 2658, seguindo para Quinhamel, para render a Companhia de Caçadores n.º 2617, onde assume a responsabilidade do subsector, com destacamentos em Ponta Vicente da Mata e Ondame.

A 23 de Fevereiro de 1972 é rendida em Quinhamel pela Companhia de Caçadores n.º 2796, recolhendo a Bissau. Iniciou a viagem de regresso a 13 de Março de 1972

(História da Unidade - Caixa nº 85 – 2.ª Div/4.ª Secção, do AHM)


Brazão ou Crachá da Companhia de Caçadores nº 2724 
© Foto de José Casimiro Carvalho (2010) ¹


(1) - Fotos de José Casimiro de Carvalho publicadas no P6708 de 10 de Julho de 2010 que teve o seguinte comentário:

Galileu disse...
Camarada José Carvalho
Fiquei bastante satisfeito em ver que o emblema da CCac. N.º 2724 que ficou em Buruntuma, ainda se encontra em perfeitas condições, embora já não esteja no mesmo lugar em que o deixámos. O molde do emblema foi feito por mim, e construído por um camarada do meu abrigo.
Aproveito esta oportunidade para cumprimentar a população de Buruntuma e agradecer a boa forma como sempre me trataram.
Obrigado e felicidades para todos.
O ex-furriel Acácio Lobo
acacio.lobo@sapo.pt
Sábado, Janeiro 15, 2011 11:34:00 PM

18 de Dezembro de 2013
José Marcelino Martins
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE OUTUBRO DE 2010 > Guiné 63/74 – P7169: Fichas de Unidades (8): Batalhão de Caçadores N.º 4514/72 (Guiné, 1973/74) (José Martins)

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Guiné 63/74 – P12125: Estórias avulsas (70): Balas de raiva: o meu amigo Toy Sardinha, da CCAV 1747 (Bissum, 1967/69), gravemente ferido em 24/12/1967, é evacuado para o HMP... Os médicos não lhe encontram a bala... que virá a sair, anos mais tarde, da perna... contrária! (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos uma mensagem.



Relatos, na primeira pessoa, da Operação “Bolo Rei”

Toy Sardinha esteve num desses combates e foi um dos feridos graves

Balas de raiva

Debitei, recentemente, um texto no nosso blogue onde trouxe à luz o nosso camarada, e meu particular amigo, Toy Sardinha, um soldado que fez parte da CCAV 1747, sendo o seu destino o destacamento em Bissum. Tive o cuidado de refazer, superficialmente, o seu trajeto militar pelos trilhos da Guiné até ao momento da trágica emboscada sofrida, resvalando o conteúdo do meu tema para os momentos dolorosos pelos quais passou.

Frisei o contacto com IN num dia em que o entoar dos sinos já tocavam os celestes sons natalícios. Estava-se precisamente do dia 24 de dezembro de 1967. Recordo que o balanço final dessa inesperada emboscada montada pelo IN, resultou num morto e quatro feridos.

Perante a realidade contada pelo antigo combatente, insisto no título balas de raiva uma vez que, em meu entender, o rótulo desmitifica a raiva sentida por cada um de nós quando as balas dispersas pelo infinito horizonte, penetravam em corpos de companheiros inocentes que caminhavam ao nosso lado.

Refleti, confesso, sobre o teor do seu ferimento grave e literalmente tracei o seu longo processo de recuperação. Debrucei-me, também, sobre a sua luta titânica que apontava para uma melhoria substancial no seu quotidiano. Objetivo conseguido, não obstante a sua visível deficiência física. Hoje o Toy é, tal como sempre o foi, um homem feliz. 

Aceitando o repto lançado pelo Luís Graça, caminhei no trilho da esperança que visava esmiuçar uma profícua certeza sobre a razão do “embrulhar” numa altura de festa que se previa solene e próspera: o Natal. Tanto mais que o nosso camarada Luís Martins, ex-alferes miliciano, e que conheceu esses combates, já tinha lançado dicas factuais sobre as operações “Bolo Rei” e “Cavalo Orgulhoso” que tiveram lugar nesse período natalício de 1967 na zona de Bula.

Num encontro, mais um, em Beja, com o nosso antigo combatente da CCAV 1747, propôs-lhe um desafio memorial que visou, logicamente, trazer à tona da reminiscência razões óbvias que resvalasse para os conteúdos da emboscada e as suas consequências.

O Toy, com as suas faculdades mentais em plena perfeição e com o sorriso nos lábios, como é hábito, começou por nos dizer: “Lembro-me que dormimos no mato na noite de 23 para 24 de dezembro. Essa operação envolveu toda a minha companhia e muitas outras. Foi um ronco enorme. Era gente por todo o lado”.

Reata a conversa e afirma: “Tratou-se efetivamente da Operação Bolo Rei, uma vez que estávamos precisamente na época do Natal. Foi um pandemónio. Não sei se se terá efetuado uma outra em simultâneo. Não me recordo. Esta operação, Bolo Rei, começou no dia 22 de dezembro de 1967 e só terminou a 3 de janeiro de 1968. Eu fui ferido a 24 de dezembro às 11 horas da manhã. Foram combates intensos. Soube mais tarde que no fim da operação se registaram 7 mortos e 32 feridos”.

O Toy, com ar brincalhão, recorda esse malfadado dia: “Estávamos emboscados e demos conta de dois homens e uma mulher no trilho. Eram turras. Houve um grande alvoroço, não conseguimos apanhar os homens, fugiram, mas conseguimos apanhar a mulher. Estava grávida. Depois ouviram-se gritos para deixarmos a mulher em paz. Levantou-se um burburinho de tal ordem que tivemos que abandonar o local que, entretanto, se tornara perigoso e passado pouco tempo estávamos a embrulhar na emboscada. Lembro-me que era para atravessarmos uma ponte, o que não aconteceu, resolvemos ir por um outro lado, só que a emboscada já estava montada e nós caímos nela. Se temos atravessado a ponte teria sido uma grande razia. Tivemos um morto e quatro feridos”.

Memórias de um combatente que foi, no fundo, um dos muitos militares que se depararam com as consequências das balas de raiva num conflito armado que marcou, inquestionavelmente, gerações de jovens enviados para as frentes de combate.

Guiné um território onde António Manuel Moisão Sardinha se deparou com o encurtar da sua comissão. Chegou em julho e foi ferido em dezembro.

Registemos pois o seu depoimento. Que surjam outras opiniões de camaradas que estiveram envolvidos nas Operações “Bolo Rei” e “Cavalo Orgulhoso”. 

Proposta deste vosso camarada: Comandante Chefe do nosso blogue, Luís Graça, sugiro que António Manuel Moisão Sardinha, vulgo Toy, se torne membro da nossa Tabanca Grande. Lancei-lhe o desafio, ele aceitou, ficando a minha proposta de uma ida do camarada ao próximo encontro (almoço) dos velhos tabanqueiros. Prontifiquei-me em levá-lo comigo. 

Um abraço camaradas deste alentejano de gema, 
José Saúde 
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 
____________

Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 


sábado, 5 de outubro de 2013

Guiné 63/74 – P12118: Estórias avulsas (69): Balas de raiva: o meu amigo Toy Sardinha, da CCAV 1747 (Bissum, 1967/69), gravemente ferido em 24/12/1967, é evacuado para o HMP... Os médicos não lhe encontram a bala... que virá a sair, anos mais tarde, da perna... contrária! (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.



Homenagem a um velho amigo, e camarada, que muito estimo



António Sardinha, ferido numa emboscada na região de Bula no dia 24 de dezembro de 1967



Balas de raiva



Não quero, tão-pouco pretendo, lançar achas para a fogueira cujas labaredas se predispõem a mal entendidos quando em causa residem opiniões egocêntricas que cruzam um espaço onde se debitam ideias variadas e que ostensivamente merecem o nosso devido respeito.



Sublinho que a minha já longa experiência de vida, na escrita sobretudo, não me permite dirimir convicções, ou certezas absolutas, mas um alinhamento de conjugações factuais que literalmente elevam o teor da discussão. É credível a opinião de todos os camaradas, pese embora a precisão faturada de quem emite pareceres de um determinado acontecimento vivido em grupo. 

A pluralidade de um destinado confronto com a guerrilha é por vezes digerido, e comentado, de formas diferentes. Porém, existe na narração verdades pelas quais passámos, sendo que a maneira de explanar o chamado “embrulhar” tem perniciosos tentáculos amplamente complicados.

As emoções sentidas por cada um de nós na guerra da Guiné, levam-nos a extravasar díspares sensações vividas no meio do conflito onde eramos, apenas, pedras de um puzzle colocados em espaços anárquicos e ao serviço de interesses alheios.

A temática por ora exposta tem como título balas de raiva numa Guiné deveras surpreendente. Creio que era peculiar conviver de perto com o aforismo popular sangue, suor e lágrimas.

Todos, ou quase todos, conhecemos os amargos de uma guerra que não deu descanso. A luta trivial nas frentes de combate foi extremamente dura. Duríssima, acrescento. Perdas de vidas, estropiados e feridos com gravidade foram mato.

Desse imenso rol de camaradas que ainda hoje se deparam com problemas herdados da guerra na Guiné, trago à estampa o meu velho amigo António Manuel Moisão Sardinha, natural de Beja, que embarcou para aquele território em julho de 1967, sendo que seis meses depois, numa emboscada sofrida na zona de Bula, colocou fim à sua comissão.

O meu amigo e camarada Toy Sardinha, como é habitualmente conhecido em Beja, pertencia à CCAV 1747, independente, e que ficou instalada no aquartelamento de Bissum.

No dia 24 de dezembro de 1967, vésperas de Natal, o pelotão onde seguia caiu numa emboscada, sendo que o saldo final se cifrou num morto e quatro feridos. O morto, segundo o Toy, tinha como sobrenome de Silva.

Sendo o seu estado preocupante, o nosso antigo camarada foi evacuado para o Hospital de Bissau, onde se manteve dois meses, e transferido para o Hospital Militar de Lisboa. Foi operado naquela unidade hospitalar e a sua recuperação estendeu-se até ao mês de dezembro de 1969.

O nosso camarada é um homem que jamais escondeu a sua postura física. Ela é visível. A perna esquerda ficou mais curta. Ainda assim fez, e faz, uma vida absolutamente normal. Vive no seu recanto familiar com a sua eterna companheira Fernanda. Trabalhou na antiga Administração Regional de Saúde em Beja. Está aposentado. Mantém uma disposição ótima. É alegre. Os seus apartes desabam, normalmente, para descomunais sorrisos. Tem sempre uma anedota na ponta da língua. 

O Toy é e será um dos muitos milhares de deficientes das Forças Armadas Portuguesas. Assume. Um selo herdado de uma emboscada sofrida no malfadado dia 24/12/1967, lá para as bandas de Bula

Hoje, o nosso camarada não se refugia na herança que a vida, enquanto jovem, o carimbou. Ironizando, como é seu hábito, assegura: “Na altura da operação a equipa médica não conseguiu encontrar a bala alojada na perna, mas passados muitos anos a magana acabaria por sair pela perna contrária sem que nada o fizesse prever. Coisas do destino”, diz com um sorriso nos lábios.

Expressa o povo, e com razão, que o nosso corpo tem por hábito expulsar matérias estranhas e a bala de raiva que dilacerou as entranhas do nosso camarada, finalmente apareceu. 

Força, Toy! 




Junto ao rio


Com outros camaradas em Bissum


O segundo da fila


No Hospital Militar, em Lisboa

Com Rosa Santos, antigo árbitro de futebol internacional, amigo de infância e que foi ferido em Angola 
Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 


Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.

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Nota de M.R.:



Vd. último poste desta série em:


2 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12105: Estórias avulsas (68): Do meu Álbum de Fotos sobre Galomaro 3 (José Ribeiro)

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9844: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte II_ Batismo de fogo em Bissum-Naga até às férias...





Guiné > Bissau > BAC 1 > Dezeembro de 1967 > Peça de museu, de arilharia, possivelmente do tempo da(s) "guerra(s) de pacificação", à entrada da messe de oficias > Foto nº 23/199 do álbum do João Martins (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69) .





Guiné > Bissau > BAC 1 > Dezeembro de 1967 >  Obuses 10.5 > Foto nº 31/199
 



Guiné > Bissau > Bissau > c. meados de 1968, tempo das chuvas > Avenida marginal, dando ao acesso ao porto de embarque >  Foto nº 56/199.






Guiné > Bissau > Bissau > c. meados de 1968 >  Instalações da marinha, junto ao porto >  Foto nº 57/199.






Guiné > Bissau > Bissau > c. meados de 1968 > LDM no Rio Geba, ao fundo  do  lhéu do Rei, frente ao porto de Bissau. (Distância aproximada: 1,5 km) [... e não "Ilha do Príncipe"] > Foto nº 62/199.





Guiné > Região do Cacheu > Bissum-Naga > 1968 > "Eu em Bissum - à esquerda ainda se vê o 'canhão' de um obus 8,8cm e a entrada do aquartelamento virada a Nordeste; ao fundo, um abrigo onde dormia, com um posto de vigia em cima, e à direita e em primeiro plano, no meio da parada, e danificado pelas granadas de morteiro do IN que caíam com muita frequência, estava o paiol das munições". 



Fotos (e legendas): © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da  Guiné. Todos os direitos reservados. (Fotos editadas e parcialmente legendadas por L.G.)



Memórias da minha comissão na Província Ultramarina da Guiné - Parte II (*)




Por João Martins  (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69) . 


(Continuação)

4 – Chegada à Guiné e partida para Bissum-Naga

Na manhã do dia 19 de Dezembro de 1967 (*), chegámos e atracámos ao cais de Bissau. Vieram-nos buscar e conduziram-nos à nossa nova unidade, a BAC 1 (Bateria de Artilharia de Campanha nº1). 


Apresentámo-nos ao Capitão Abreu Faro, comandante da unidade, que nos deu as boas-vindas e teve uma breve conversa connosco. Perguntou-nos quais as nossas perspectivas, comecei por ouvir os meus dois camaradas. Um, disse que sofria do estômago e que agradecia um lugar em que se comesse bem, o outro, que tinha mulher e um filho de modo que lhe dava jeito um local onde não houvesse muita “porrada”.

Depois de ter pensado duas vezes, e já que não fazia sentido pedir o mesmo que os meus camaradas, se bem que fosse essa a minha vontade, resolvi pedir as férias em Agosto [, de 1968], na Metrópole, para as poder gozar em S. Martinho do Porto, porque, sem praia e sem mar, as férias para mim não são férias. E assim aconteceu tanto em 1968 como em 1969.

A seguir, o capitão mandou-me vestir o camuflado e mandou-me para a Lancha de Desembarque Média (LDM) que já se encontrava no cais,  com um pelotão de 3 obuses 8,8 cm.

Não me lembrei da ração de combate, pelo que, na ida para Bissum-Naga pelo rio Cacheu, passando por Joanlandim [o João Landim, na travessia do Rio Mansoa], durante dois dias praticamente não soube o que era comer nem beber, nem mesmo os da lancha me deram o que quer que fosse.

Era esta a falta de solidariedade que se vivia entre militares de ramos diferentes, o que mostra a falta de espírito de “unidade nacional” sem a qual não se vencem guerras, e, quanto ao dormir, faz-se ideia do que é dormir ao ar livre, numa noite bem escura para não sermos vistos pelo IN, em cima de um colchão de espuma.







Guiné > Região do Cacheu > Carta de Bula (1953) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Bissum-Naga e de Biambe.



5 – Bissum-Naga

Chegámos a Bissum a 21 de Dezembro [de 1967], portanto, na semana que precede o Natal, pelo que, como de costume, e talvez para esquecer as saudades das famílias que nessa quadra ainda são mais intensas, iniciámos a operação “Bolo Rei”, a que se seguiu a operação “Cavalo Orgulhoso”.

Tive uma adaptação particularmente difícil, porquanto logo nos meus primeiros dias tivemos feridos e mortos, e, na véspera de Natal, de forma imprópria de gente civilizada, houve um elemento considerado afecto ao inimigo que foi muito, mas muito maltratado, pelo que fiquei a saber da selvajaria de que também éramos capazes. Foi um dos piores locais da Guiné por onde passei.

Terra de balantas, etnia altiva e independente, nunca me senti muito bem visitando as palhotas e interagindo com a população, dir-se-ia que, ao longo de cerca de 500 anos de convivência os nossos povos tiveram muito poucos contactos.

A tabanca localizava-se entre o aquartelamento e o rio Cacheu, ao longo da estrada, de modo que eramos atacados apenas dos quadrantes Sul e Este. Nós e a população éramos frequentemente sujeitos a flagelações por parte do IN que nos atacava tanto de dia como de noite, pelo que, durante os meses que estive lá, dormi sempre sem saber o que eram uns lençóis e um pijama.

Recordo vários episódios:

Uma vez, numa operação, um dos nossos soldados tropeçou num ninho de abelhas. Ficou com a cara de tal maneira picada e inchada que estava completamente irreconhecível, é claro que teve que ser imediatamente evacuado para Bissau.

Todos os dias era necessário ir buscar água à bolanha que não ficava longe, cerca de 800 metros a Nordeste, e estava rodeada de palmeiras que tapavam a visibilidade. Era uma rotina normalmente sem incidentes, pelo que os nossos soldados iam com sapatilhas, descontraídos, sem qualquer preocupação em montar segurança, e iam mais preocupados em apanhar algum pássaro que pudessem comer ao almoço já que a comida escasseava.

Aconteceu que, certa vez, depararam-se com uma emboscada; o IN estava à espera deles e apanhou-os completamente desprevenidos. Quando começou o tiroteio corri para o obus que estava voltado para Este e dei ordem de fogo na direcção da orla da bolanha calculando que não atingiria nenhum dos nossos. Creio que o disparo e o barulho do rebentamento das granadas pô-los em fuga, mas não evitou algumas baixas.

Noutra altura, na sequência de uma operação, trouxeram para o aquartelamento uma rapariga muito “bonita e jeitosa”, uns tantos abusaram dela, dei-lhe todo o apoio que me foi possível e lamentei o sucedido.

Mais tarde, vi um dos principais responsáveis com a cabeça muito inchada, porque, a jogar futebol, tinha batido com ela, tinha perdido os sentidos e a memória, e não se lembrava de nada. Não sei se foi castigo de Deus… Mas não descarto essa hipótese…

Uma vez, num ataque que fizeram ao quartel, entrámos em tiro direto, estávamos a ver se descortinávamos onde se encontrava o IN pela observação dos disparos das espingardas quando ouvimos um tilintar no canhão; aberta a culatra, encontrámos uma bala que tinha entrado pelo cano, o alvo eramos nós mas não tiveram essa sorte.

Outra vez, estava a tomar banho de chuveiro à hora do almoço dos soldados, porque era a melhor hora para estar completamente nu e mais à vontade. Quando começou o ataque ao aquartelamento pensei que não iria durar muito, estando completamente nu, não estava em condições de ir para onde quer que fosse.

Decidi esperar pacientemente pelo final da flagelação. Esta porém estava a prolongar-se mais do que poderia esperar e as balas e as granadas de morteiro passavam cada vez mais próximo pelo que já me estava a aborrecer… Estava eu nesta conjectura quando ouço um som sibilino que, pela minha já longa experiência de flagelações ao aquartelamento,  me levou a concluir que se tratava de uma granada que se aproximava perigosamente. Só tinha uma decisão a tomar, atirar-me para o chão, a granada caiu a menos de dois metros e felizmente do outro lado de um tronco de palmeira que delimitava a zona do duche. Depois, já recomposto do susto, e constatando que tinham parado de disparar, resolvi fugir para dentro de um abrigo como Deus me deitou ao Mundo. Foi então que alguém reparou que eu estava a deitar sangue de uma perna, felizmente que estava apenas ligeiramente ferido.

Dias mais tarde, vieram-me dizer que o PAIGC tinha dado a informação na rádio de que me tinham abatido. Eles bem fizeram por isso em tiro direto, estilo tiro ao alvo e o alvo era eu, percebi então porque é que as tinha sentido a passar tão perto de mim, mas não tinha chegado a minha hora…

Era raro sair do aquartelamento, aquela gente não me inspirava grande confiança, talvez porque ainda era “periquito”, mas uma vez vieram-me dizer que havia “ronco” na aldeia. Decidi ir ver como era. Compreendi que era dia de festa estilo S. João e com a particularidade dos habitantes das redondezas (“turras”) também virem participar na festa. Não fiquei nem muito à-vontade nem muito descansado, e menos fiquei quando em plena “sala do baile” me vieram avisar que “eles” andavam à minha procura. Resolvi não armar em herói e regressar rapidamente ao quartel. No caminho, ainda houve quem me apontasse um arco com uma flecha, mas não teve coragem para me atingir.

Recordo que para melhor ocupar o tempo decidi ensinar os soldados [, guineenses,] do meu pelotão que eram iletrados, a ler e a escrever. Contrariamente ao que eu poderia supor, alguns opuseram-se radicalmente, parecia que atentávamos contra a sua liberdade de optarem pela ignorância e que muito mal lhes queríamos.

Expliquei que o nosso único desejo quando largávamos os nossos familiares na Metrópole era irmos defendê-los dos terroristas ficando sujeitos a sermos feridos ou mesmo a morrermos e o facto de nos dispormos a ensiná-los a ler e a escrever era o de pretendermos para eles uma vida melhor. Também argumentei que teriam a possibilidade de escrever aerogramas às suas famílias.

Não ficaram convencidos, o que muito me entristeceu na medida em que revelava pouca confiança relativamente aos nossos verdadeiros propósitos e também uma certa dose de estupidez, porque, no fundo, era um esforço adicional a que nos dispúnhamos tendo em vista a melhoria das suas condições de vida. Só depois de falarem uns com os outros é que alguns aceitaram fazer o esforço de aprendizagem, dir-se-ia que estavam satisfeitos com o que tinham, um vencimento ao fim do mês com pouco trabalho e que lhes dava para viver.

Não mostravam estar muito preocupados com o seu futuro nem como iriam sustentar as suas famílias, talvez contassem que fossem as mulheres a trabalhar para os sustentar… ou então, seriam os europeus.

A certa altura, o capitão da companhia de cavalaria que defendia Bissum e que era miliciano (**), resolveu construir uma pista para avionetas, e como não tinha os meios adequados, resolveu pôr a viatura do pelotão de Artilharia a puxar um tronco de árvore. A pista, vista do ar podia ser muito bonita, mas em terra era notória a existência de lombas acentuadas, o que não podia ser do agrado dos pilotos.



João Martins


(Continua)
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Notas do editor:


(*) Vd. primeiro poste da série > 30 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9834: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte I: De Mafra (EPI) a Bissau (BAC1)

(**) Provavelmente, o Cap Mil Inf Manuel Carlos Dias, comandante da CCAV 1747: mobilizada pelo RC 7, partiu partiu para o TO da Guiné em 20/7/1967 e regressou à metrópole em 7/6/1969. Esteve apenas em dois sítios, segundo a respetiva ficha de unidade: Farim e Bissum. 


A CCAV 1747 é contemporânea da CCAV 1748 (Bissau, Bula, Contuboel, Bissau, Farim; Comandante: Cap Mil  Inf Emílio  Augusto Pires); e da CCAV 1749 (Mansoa, Mansabá, Quinhamel; Comandante: Cap Mil Inf  Germano da Silva Domingos). 


Nenhuma destas três companhias - que se presume fossem independentes - está devidamente representada da nossa Tabanca Grande. O nosso camarada José Nunes, do BENG 447 (15jan68 / 15jan70), confirma - através de uma foto aqui publicada - que a CCAV 1747 - "Unos e Firmes" - esteve em Bissum-Naga (em 1968). Também sabemos, por outras fotos do José Nunes, que em 1966/67, esteve aqui a CCAÇ 1497, pelo menos com três grupos de combate (o 1º,  o 2º e o 3º).