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sábado, 2 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21727: In Memoriam (380): Domingos Fernandes (1946-2020), ex-fur mil at art, CART 2520 (Xime e Quinhamel, 1969/70): membro, nº 825, da Tabanca Grande, a título póstumo



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > CART 2520 (Xime e Quinhamel, 1969/71) > c. 1970 >  Furríéis milicianos.  Da esquerda para a direita: Domingos Fernandes (1946-2020), José Nascimento, Oliveira e Renato Monteiro.

Foto (e legenda): © José Nascimento (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Xime) > Madina Colhido >  Op Boga Destemida  >   9 de Fevereiro de 1970, "segunda feira de Carnaval" > Helievacuação de feridos graves, na sequência da violenta emboscasda de que foram vítimas as NT (CART 2520, Pel CAç Nat 63 e CCAÇ 12), em Gundagé Beafada.  (*)

Foto (e legenda): © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo e camarada algarvio José Nascimento (ex-fur mil art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71), membro da nossa Tabanca Grande, com 43 referências no nosso blogue, sendo o elemento mais ativo da CART 2520, a par do Renato Monteiro (que antes pertencia à CART 11);


Data: quarta, 30/12/2020 à(s) 18:36
Assunto: Falecimento do camarada Domingos Fernandes

Camaradas:

Faleceu no dia 28/12/2020 o nosso amigo e camarada de armas da CART 2520, o Domingos Fernandes.

Furriel do 4º. Grupo de Combate, foi um elemento de grande valor, pois este grupo dispunha apenas de dois furriéis, o que sobrecarregava os outros elementos.

Quando da chegada da CART 2520 ao Xime, foi destacado para Galomaro por vários meses, local do seu treino operacional.

Creio ter participado na Operação Boga Destemida no dia 9 de Fevereiro de 1970, quando a nossa Companhia sofreu uma emboscada, tendo falecido um dos elementos do seu pelotão. (*)

Muito estimado por todos os elementos do seu pelotão, atribuíram-lhe a alcunha do "Furriel Pistolas".

Afável, discreto, brincalhão, sempre bem disposto, este grande camarada, mereceu por todos nós uma grande consideração. (**)

Descansa em paz, grande camarada,  Domingos Fernandes. 

Um grande abraço a todos os camaradas da Tabanca Grande 

José Nascimento

PS - Junto foto: O Fernandes é o  1º. à esquerda. 

2. Comentário do nosso editor LG:

Zé,  é mais dos nossos bravos da zona leste que nos deixa.  É mais uma notícia triste ao findar do "annus horribilis" de 2020. Não sabia da alcunha dele, "furriel pistolas", mas lembrava-me da cara. De resto, partimos juntos no T/T Niassa, em 24/5/1969, a vossa CART 2520 e a nossa CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12). E regressámos juntos, no T/T Uíge, em 17/3/1971. E estivemos um ano juntos no Sector L1, para o melhor e para o pior. 

De ti e do Monteiro, vou tendo notícias, felizmente... Do Oliveira, o que é feito dele ? E do vosso capitão Maltez ? Vê se confirmas o ano de nascimento do Domingos Fernandes, ele era de 1946, como tu e o Monteiro, não ?! 

Gostei da maneira simples mas afectuosa como o descreveste. Convivi pouco com ele, uma vez que ele esteve algum tempo  destacado em Galomaro. Mas faço questão de o integrar na nossa Tabanca Grande, a título póstumo. Bastava o facto de termos feito essa dura operação em conjunta, a Op Boga Destemida. Quem é que a vai esquecer ? Essa e outras que fizemos em conjunto. 

Peço-te que transmitas à família, se puderes, a nossa solidariedade na dor. O Domingos Fernandes não ficará na vala comum do esquecimento: será lembrado pelos seus camaradas da Guiné, passando a estar, em espírito,  connosco, à sombra do nosso simbólico poilão, no lugar nº 825.

3. Ficha da unidade > CART 2520

Companhia de Artilharia n.º 2520
Identificação: CArt 2520
Unidade:  Mob: GACA 2 - Torres Novas
Crndt: Cap Mil Art António dos Santos Maltez
Divisa: "O Céu, a Terra e as Ondas Atroando"
Partida: Embarque em 24Mai69; desembarque em 29Mai69
Regresso: Embarque em 17Mar71

Síntese da Actividade Operacional

Em 2Jun69, seguiu para Xime, a fim de render a CArt 1746 no referido subsector, sendo integrada no dispositivo e manobra do BCaç 2852 e guarnecendo, por períodos variáveis sucessivos destacamentos na zona de acção, em Mansambo, Ponte do rio Udunduma, Cansamba, Galomaro e outros e, a partir
de 290ut69, com um pelotão destacado em Enxalé, após transferência desta área para o subsector.

Em 1 e 7Jun70, foi substituída, por escalões, no subsector de Xime pela CArt 2715 e seguiu para o subsector de Quinhámel, com destacamentos em Ome, Ondame, Ponta Vicente da Mata e Ilondé e ainda um pelotão no subsector de Nhacra (este até 7Set70 e instalado em Safim e João Landim e entretanto
transferido para o subsector de Brá, por reajustamento dos subsectores), onde rendeu a CCaç 2572, ficando integrada no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área, sob responsabilidade do COMBIS.

Em 1Mar71, foi rendida no subsector de Quinhámel pela CCaç 2617 e recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações
Tem História da Unidade (Caixa n." 121 - 2.a Div/4ª. Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pág. 470.

___________________

(**) 19 de novembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16737: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (10): A música das nossas vidas: "Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle, mon amour"... ou o braço de ferro entre o fur mil Renato Monteiro e o nosso primeiro Vaz, cuja amada esposa se chamava Isabel e vivia a 5 mil km de distância, em Vila Real, Portugal...

(***) Último poste da série > 1 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21723: In Memoriam (379): as minhas manas freiras, franciscanas hospitaleiras, Maria Augusta Crisóstomo e Emília de Jesus Bárbara Crisóstomo, que acabam de morrer em Portugal, vítimas de Covid-19, e cujas vidas foram uma grande história de amor a Deus, aos pais e ao próximo (João Crisóstomo, Nova Iorque)

domingo, 24 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17792: Fotos à procura de... uma legenda (90): uma vida precária de equilibrista na cambança de pequenos cursos de água ... (Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil inf, CCAÇ 4740, Cufar, 1.º semestre de 1973)


Foto nº 1 


Foto nº 1A


Foto nº 1B - Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 > 3.º pelotão... Atravessia de... uma "ponte improvisada".

Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mais uma foto  álbum do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil inf, de rendição individual,  na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar,  1.º semestre 1973) e  comandante do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). 

A foto merece uma melhor legenda por parte dos nossos leitores. Quem andou no mato, facilmente se reconhece nesta foto... Havia muitas pontes destas que atravessavam pequenos cursos de água. E eram utilizadas tanto por nós como pelo IN... E, em geral, não se pagava "portagem"... (*)

Eram pequenas obras de arte de engenharia... hidráulica. Feitas de estacaria, bambu (?) e lianas... A guerra também nos obrigava ao difícil exercício de equilibrista... De vez em quando, lá ia um de nós ao charco... com armas e bagagens.

2. Recordo-me que, apesar de tudo, houve camaradas... com sorte. E deviam entrar no livro do Guinness dos recordes... O meu camarada, ex-1º cabo Carlos Galvão, da Covilhã,  que já não vejo desde 1994, é um deles...  Foi ferido duas vezes na mesma operação, coisa que deve ter sido rara naquela maldita guerra (**)... 

Era segunda feira de Carnaval, em 9 de bril de 1970, e na cambança do Rio Buruntoni (através de uma ponte de estacaria improvisada, como aquela que a foto nº 1 mostra), por volta das 5 e tal da manhã,  o 1º cabo Carlos Alves Galvão, cmtd da 1ª secção do 3º Gr Comb da CCAÇ 12, sofre um traumatismo num pé, tendo que ser transportado em padiola improvisada pelos seus soldados africanos... (O que seríamos nós sem os nossos bravos e leais soldados fulas que abandonámos em agosto de 1974?!)...

Às 13h, em Gundagé Beafada, já no regresso ao Xime, sofremos um violenta emboscada  de que resultariam uma série de baixas entre as NT (CART 2520, Pel Caç Nat 63 e CCAÇ 12), incluindo o 1º Cabo Galvão que ia nesse momento na "horizontal", de papo para o ar, à altura do capim,  o que o tornava um "fácil tiro ao alvo"...

Teve sorte, apesar de tudo, o Carlos Galvão... Sobreviveu a esta "brincadeira de morte", em dia de carnaval... e ainda lá anda pela Covilhã, deficiente das FA e reformado da AT (Autoridade Tributária)...

Eu fui dos que o ajudou a chegar a bom (heli)porto, em Madina Colhido... Mas nunca consegui, enquanto fundador, administrador e editor deste blogue,  que ele se dignasse descer ao povoado da Tabanca Grande... Lá terá as suas razões pessoais... Como eu costumo dizer, não temos o Panteão Nacional, mas temos melhor, a Tabanca Grande... que não é para todos, é só para quem quer e puder... LG

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terça-feira, 7 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17111: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (11): Enxalé, a outra margem do Geba


José Nascimento, um olhar sobre o Geba


1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 27 de Fevereiro de 2017:


ENXALÉ, A OUTRA MARGEM DO GEBA


O Enxalé começou a fazer parte da zona operacional do Xime e da CART 2520 em outubro de 1969. O rio Geba separava estes dois aquartelamentos, assim como uma bolanha intransponível na época das chuvas, portanto com um elevado grau de dificuldade para se estabelecer a ligação entre as duas unidades.

A travessia do Geba era uma completa aventura e dependia sempre da maré cheia, podia-se fazer esta cambança a bordo do  Sintex ou pelas pirogas manobradas por um indígena, cujo remo situado na sua popa servia de força propulsora e simultaneamente de leme.

Ao 3.º pelotão da CART 2520 também  coube a missão de permanência no Enxalé. No segundo dia após a nossa chegada, o alferes Lapa que foi em substituição do comandante de pelotão, o alferes Marques, regressou ao Xime, ficando o pelotão apenas com dois graduados, os furriéis Nascimento e  [Rentao] Monteiro, passando o comando para o mais "velho" destes elementos, que era eu.

Este destacamento era constituído por um aglomerado de antigas casas, pertença de um fazendeiro que se refugiou em Bissau com o eclodir da guerra. Este fazendeiro era possuidor de uma destilaria de cana de açúcar, que foi totalmente destruída, restando apenas alguma sucata [, o Pereira do Enxalé, pai da nossa amiga, grã-tabanqueira Maria Helena Carvalho]. Havia uma tabanca com seis centenas de moradores, composto maioritariamente por balantas e mandingas, cabendo a nós,   militares,  fazer a sua protecção de possíveis ataques do PAIGC, o que chegou a acontecer no dia 10 de Fevereiro de 1970, dia de Carnaval.

Quando se ouviram os primeiros disparos, já a noite havia caído, também eu disparo numa corrida a sete pés para o abrigo mais próximo, só que assim que saio dos meus aposentos ouço o rebentamento de uma granada de RPG7, num mergulho à peixe atiro-me ao chão entre uns bidões cheios de terra, que eventualmente nos protegiam dos projécteis do IN. Um dos estilhaços ainda em brasa, caprichosamente veio estacionar a um palmo do meu nariz. Enceto nova corrida até ao abrigo da Breda, penso ter batido o recorde mundial dos 30 metros. Já agarrado à Breda, chega o "Espanhol" e berra:
- Deixe isso comigo,  meu furriel, fazendo de seguida umas rajadas que ajudaram o IN a ir jogar ao Carnaval para um outro lado.

Resultou deste ataque: ferimentos com alguma gravidade na perna de uma habitante, outro elemento da população perdeu uma mão e um rapaz sofreu ferimentos ligeiros. Todos foram evacuados de héli para Bissau no dia seguinte. Arderam também várias tabancas.



Enxalé após o ataque


No dia anterior a este ataque, decorreu na outra margem do Geba, a operação Boga Destemida [, em 9 de fevereiro de 1970,] na qual as nossas tropas sofreram uma brutal emboscada na zona de Gandagué Beafada por parte do inimigo, sendo perfeitamente audível à distância em que nos encontrávamos, o matraquear das armas de fogo e o rebentamento de granadas.

Sabendo via rádio da gravidade da situação, solicito para ser transportado para a margem esquerda do rio, a fim de poder dar a minha ajuda no que fosse possível. Na enfermaria presto a minha colaboração ao furriel enfermeiro Augusto Costa, o ferido que mais me impressionou e que seria evacuado para Bissau, juntamente com outros elementos, foi o furriel Pestana, as suas costas estavam rasgadas por estilhaços de granada, numa das feridas cabia perfeitamente um dos meus punhos fechados. Este camarada jamais regressaria para a CART 2520, recuperou, mas as mazelas ficaram para sempre a marcar o seu corpo e o seu espírito.

Quando passava uma guia de livre trânsito para um dos habitantes da tabanca se deslocar a Bissau, o chefe de tabanca dos mandingas falou em francês, fiquei surpreendido e perante a minha pergunta porque falava naquela língua respondeu-me que tinha estudado no Senegal antes da guerra começar, mais perplexo ainda fiquei.

Com uma frequência quase diária, um puto da tabanca com cerca de 10 anos, de uma tez muito clara, vinha conversar connosco e fazer-nos alguma companhia, nós em troca demos-lhe a nossa amizade. Para ti,   Dingue, se ainda pertenceres ao número dos vivos, aqui vai um fraterno abraço.


Com o amigo Dingue


Era normal os nossos militares darem uns tirinhos à caça das rolas, quando o faziam na zona frontal ao destacamento virada para bolanha, não havia qualquer problema,  mas nas traseiras da tabanca isso representava algum perigo e foi o que aconteceu com o nosso apontador de metralhadora, de caçador ia sendo caçado. Valeu-lhe o seu sangue frio e coragem, que ao aperceber-se de que alguns guerrilheiros se preparavam para lhe deitar a luva, sacou de uma granada de mão e lá vai disto, escapando-se de imediato para o quartel e desta maneira o Martins deixou de ser um possível prisioneiro de guerra nas mãos do PAIGC e de fazer um passeio turístico até Conakri.

De vez em quando chegavam mensagens codificadas vindas do Xime, que eu decifrava através do Codoper, com ordens para montar uma emboscada ou fazer um patrulhamento a determinado local. Eu falava baixinho com os meus botões, capitão Maltez cá tem cabeça. Temos que assegurar a protecção do destacamento e da população, como é que vamos montar uma emboscada com meia dúzia de gatos pingados? Na volta do correio eu respondia: "montada" emboscada ou  patrulhamento "efectuado".

E assim se passaram dois meses com relativa tranquilidade, mas com muitas dificuldades. Matar a fome às nossas barriguinhas não foi tarefa fácil. Receber e enviar correspondência por vezes demorava mais de uma semana. O isolamento era enorme, os nossos contactos com o mundo exterior só eram possíveis através do Xime e com o Xime foi muito difícil e arriscado devido à travessia do rio. Cada vez que passava de uma margem para outra, pensava sempre que algum dia poderia servir de pequeno almoço a um qualquer jacaré se na eventualidade acontecesse algum incidente e a nossa embarcação nos mandasse a banhos.  Neste espaço de tempo só eu e mais dois ou três elementos do pelotão é que saímos do Enxalé até à sede da Companhia.



Enxalé

Fotos: © José Nascimento (2017). Todos os direitos reservados

Para todos os nossos camaradas de armas um grande abraço.
José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16737: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (10): A música das nossas vidas: "Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle, mon amour"... ou o braço de ferro entre o fur mil Renato Monteiro e o nosso primeiro Vaz, cuja amada esposa se chamava Isabel e vivia a 5 mil km de distância, em Vila Real, Portugal...

sábado, 9 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8071: A minha CCAÇ 12 (16): O 1º Cabo Galvão, ferido duas vezes em 9 de Fevereiro de 1970, segunda feira de Carnaval...Uma violenta emboscada em L em Gundagué Beafada, Xime (Op Boga Destemida)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > A solidariedade dos combatentes... Dois soldados, guineenses, do 3º Grupo de Combate, do Alf Mil At Inf Abel Rodrigues, aparam o 1º Cabo Carlos Alberto Alves Galvão, metropolitano (vive hoje na Covilhã, estando reformado da Direcção Geral dos Impostos, se não me engano), comandante da 1ª secção, o homem que cometeu a proeza de ter sido ferido duas vezes no decurso da mesma operação (Op Boga Destemida, 9 de Fevereiro de 1970), aqui relatada.~

Estes dois camaradas guineenses podem ser alguns dos seguintes que compunham a 1ª secção do 3º Gr Comb: Soldado Arvorado 82108769 Totala Baldé (Fula); Sold 82108569 Sambel Baldé (Fula); Sold 82108969 Mauro Baldé (Ap LGFog 8,9) (Fula); Sold 82110369 Jamalu Baldé (Mun LGFog 8,9) (Fula); Sold 82109169 Malan Baldé (Fula); Sold 82109569 Iéro Jau (Ap Dilagrama) (Fula); Sold 82110969 Samba Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (Fula); Sold 82109969 Malan Nanqui (Mandinga).

Slide do Fur Mil at Inf Arlindo T. Roda, comandante da 2ª secção, que nesses dias (8 e 9 de Fevereiro de 1970) levou a sua máquina fotográfica... (Não era vulgar levar-se uma máquina de fotografia, para o mato, em operações, numa região como esta em que a probabilidade de contacto com o IN era muito alta. Estou muito grato ao Roda, que já não vejo desde 1994, por generosamente nos disponibilizar a sua fabulosa colecção de slides, convertidos para o digital...)

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados













Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Sequência dramática dos acontecimentos do dia 9 de Fevereiro de 1970, desde o ferimento do 1º Cabo Galvão, na travessia da cambança do Rio Buruntoni, por volta das 5 e tal da manhã, até à violenta emboscada em Gundagé Beafada, às 13h, de que resultariam uma série de baixas entre as NT (CART 2520, Pel CAç Nat 63 e CCAÇ 12), incluindo o 1º Cabo que ia nesse momento em padiola improvisada e foi alvejado a tiro... A helievacuação dos feridos deu-se já em Madina Colhido...

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados


A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (**), por Luís Graça



(8) Fevereiro de 1970:

(8.1) Uma emboscada em L às NT (Op Boga Destemida)


As declarações dos prisioneiros Jomel Nanquitande (capturado em Satecuta, durante a Op Navalha Polida) (*) e Festa Na Lona (capturado em Ponta do Inglês durante a Op Safira Única) trouxeram os seguintes elementos sobre o acampamento IN do Baio/Buruntoni:

(i) Localização: Xime 2D-81;

(ii) A vegetação à volta do acampamento e nas imediações do Rio Buruntoni é do tipo floresta tropical (ou floresta galeria), composta por árvores de grande porte;

(iii) Efectivos: 30 elementos;

(iv) A população sob o controlo IN é numerosa na área, havendo uma tabanca a cerca de 150 metros, a SE do acampamento;

(v) Armamento: 1 morteiro 60, 5 bazucas (RPG), 4 metralhadoras ligeiras e armas automáticas;

(vi) Chefes: Ponhe, Xito Mané, Tchuda Ada;

(vii) Segurança: 1 sentinela para norte, a cerca de 100 metros do acampamento;

(viii) Diariamente, pela madrugada, sai uma patrulha de 15 elementos fortemente armados que reconhece a área para norte até ao Rio Buruntoni. Há aqui uma cambança sobre troncos de árvore;

(ix) Devido à intensa actividade das NT que levou à captura do vários elementos conhecedores da região, é de admitir que o IN se encontre alertado e até mesmo reforçado.

A fim de bater a área do Baio/Buruntoni foi planeada a Op Boga Destemida em que tomaram parte 6 grupos de combate: Destacamento A, constituído por 3 Gr Comb da CCAÇ 12 (Dest A); Destacamento B, formado por forças da CART 2520 (unidade de quadrícula do Xime), reforçadas com o Pel Caç Nat 63, aquartelada em Fá Mandinga (sob o comando do Alf Mil Art Jorge Cabral).


Desenrolar da acção:

Em 8 de Fevereiro de 1970, pelas 9.00h, os 2 Dest saíram do Xime, seguindo por Madina Colhido e Gundagué Beafada até próximo de Darsalame Baio onde se emboscaram, repousaram e almoçaram.

Da parte da tarde, dois Gr Comb da CCAÇ 12 reconheceram com os prisioneiros o local de cambança do Rio Buruntoni, tendo encontrado,e m Xime 2g3-78, uma ponte de rachas de cibe, soltas, com uma extensão de 20 metros, que oferecia pouca segurança, obrigando a travessia a efectuar-se somente de dia e muito lentamente, contrariamente ao que estava previsto.

Os 2 Gr Comb regressaram ao local da emboscada tendo depois os 2 Dest seguido para perto do rio onde pernoitaram. O PCV, em face do reconhecimento da cambança, ordenou que a travessia se fizesse ao amanhecer.

Em 9 de Fevereiro [, segunda feira de Carnaval em Lisboa, e nesse dia embarcava para a Guiné o nosso camarigo Cap Mil Jorge Picado...], pelas 5.30h, iniciou-se a cambança que demorou cerca de uma hora.

Durante a travessia, o 1º Cabo Galvão ( 3º Gr Comb da CCAÇ 12) caiu, ficando lesionado na coxa direita, o que impossibilitava de prosseguir. De forma que teve de ficar o 3º Gr Comb do Dest A emboscado junto ao ponto de cambança.

Como fossem encontrados trilhos e o prisioneiro Festa informasse que o acampamento distava cerca de meia hora, os 2 Dest separam-se, tendo o Dest B seguindo ao longo do Rio Buruntoni e montado uma linha de emboscada a oeste da região indicada como sendo a do acampamento IN.

O Dest A progrediu com o prisioneiro Festa em direcção ao objectivo, tendo passado por um acampamento com vestígios de abandono recente. Depois de progredir mais de 2 horas na direcção sul, e como o prisioneiro continuasse a dizer que era longe, contradizendo-se, o Dest A que só dispunha de 2 Gr Comb, entrou em ligação com o Dest B a fim de tomar uma decisão face à situação.

É de referir que o PCV ainda não aparecera visto que a respectiva DO-27 tivera de ir cumprir uma missão de evacuação outro sector. De modo que foi decidido pelos comandantes dos Dest regressar ao Xime.

Quando ia ao encontro do Dest B, o 1º e 2º Gr Comb do Dest A foram flagelados à distância com metralhadora e lança-rockets. Era evidente que o IN tentava localizar as NT através do reconhecimento pelo fogo.

Cerca das 11.30h, o PCV sobrevoou a zona, quando o Dest B, já feita a cambança, armadilhava o local onde havia vestígios recentes do IN.

Em marcha lenta, devido ao transporte do ferido em maca, os 2 Dest seguiram o trilho de Darsalame/Baio-Gundagué Beafada, através do capim alto.

Próximo da antiga tabanca beafada (Xime 3F7-11), cerca das 13h, as NT sofreriam uma violenta emboscada montada em L e com grande poder de fogo, especialmente de lança-rockets e mort 60. A secção que ia na vanguarda do Dest B [CART 2520] ficou praticamente fora de combate, tendo sido gravemente feridos, entre outros, o respectivo comandante e a praça encarregada da segurança do prisioneiro Jomel Nanquitande que, aproveitando a confusão, conseguiu fugir, embora algemado e muito provavelmente ferido. (O 1º Cabo José António Oliveira Bagio era o encarregado da segurança do prisioneiro, ficou gravemente ferido, vindo a morrer no HM 241 em 20/3/1970).

Devido ao dispositivo da emboscada, quase todos os Gr Com foram atingidos pelo fogo de armas automáticas e lança-rockets (testa e meio da coluna) e mort 60 (retaguarda).

Devido à reacção das NT, o IN retirou na direcção de Poindon e Ponta Varela, tendo ateado o fogo ao capim para evitar a sua perseguição. O incêndio lançaria sobre as NT um enxame de abelhas, obrigando-as a fugir para uma mata próxima onde se trataram os feridos.

Em resultado da acção fulminante do IN, as NT sofreriam 1 morto (Sold Manuel Maria do Rosário) e 7 feridos entre graves e ligeiros, sendo 2 da CCAÇ 12 (1º Cabo Galvão, do 3º Gr Comb, e Soldado Samba Camará, nº 8211816, do 2º Gr Comb, evacuados para o HM 241). Ficaram também feridos os Fur Pestana e os Sold Frade e Pinheiro [, pertencentes à CART 2520]. Ferido ligeiro da CCAÇ 12: Sold Arv At Inf Totala Baldé, nº 82108769. Não sei se o Pel Caç Nat 63 teve alguma baixa nesta operação (O Jorge Cabral pode confirmar).

Houve uma tentativa por parte do IN de capturar o 1º Cab Bagio. Devido á atenção do Sold Costa, que abriu fogo sobre eles, esse intento foi gorado. O Costa virá a ser ferido por estilhaços de LGFog.

Feito o reconhecimento, não foi encontrado o prisioneiro. Apesar do incêndio provocado pelo fogo pegado ao capim, ainda se conseguiu recuperar parte do material abandonado, na sequência da emboscada e do ataque de abelhas.

Levados os feridos para Gundagué Beafada (ou talvez Madina Colhido, já não posso precisar, por ser mais seguro...), donde foram heli-evacuados, as NT retiraram para o Xime, protegidas por heli-canhão e T-6, e ainda pela artilharia do Xime (que a pedido fez fogo para região a oeste do local da emboscada), tendo chegado ao aquartelamento por volta das 17h, desse dia, 4 horas depois da emboscada.

Após esta operação o IN manifestar-se-ia de novo em 12 de Fevereiro (atacando uma embarcação em Ponta Varela, do que resultaram baixas civis) e flagelando também, na região de Ponta Varela, forças da CART 2520 durante a Op Tango Variado). (LG)

Fontes consultadas:

História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Cap. II.

História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)

Diário de um Tuga




Esposende > Fão > 1994 > A primeira vez que me reencontrei com a malta de Bambadinca (1968/71), incluindo os meus camaradas da CCAÇ 12 (1969/71), e outras subunidades adidas ao comando do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70).

Na foto (parcial) do grupo, estão alguns dos meus camaradas da CCAÇ 12... Na primeira fila, da esquerda para a direita, (i) eu, Fur Mil At Armas Pesadas Inf Luís Manuel da Graça Henriques; (ii) Arménio Monteiro Fonseca (taxista, no Porto, da empresa Invictuas, táxi nº 69, mais conhecido no nosso tempo como o "vermelhinha"; era soldado com funções de cabo, tinha lebvado uma porrada antes do embarque); (iii) Fur Mil José Luís Vieira de Sousa [, natural do Funchal, onde vive, agente de seguros]...

Na segunda fila de pé, da esquerda para a direita: (iv) Abel Rodrigues (hoje bancário reformado, ex-Alf Mil, 3º Gr Comb, CCAÇ 12, membro da nossa Tabanca Grande); (v) Alf Mil Op Esp Francisco Magalhães Moreira [, vive em Fafe]; (vi) Fur Mil Joaquim Augusto Matos Fernandes [, de óculos escuros, engenheiro técnico, vive no Barreiro, e é membrto da nossa Tabanca Grande]; (vii) 1º Cabo Carlos Alberto Alves Galvão [, o homem que foi ferido duas vezes na Op Boga Destemida, vive na Covilhã]; Fernando Sousa (ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 12, vive na Trofa, e anda há um ano para entrar na nossa Tabanca Grande, já mandou as fotos da praxe...); e, por fim, (viii) 2º Sarg Inf Alberto Martins Videira [, vive ou vivia em Vila Real].

Na Op Boga Destemida, eu (que não tinha Gr Comb atribuído, mas alinhava em todas...) ia, mais uma vez, integrado no 3º Gr Comb da CCAÇ 12, comandado pelo Alf Mil Abel Rodrigues. (Na 5ª foto a contar de cima, apareço em segundo plano, de óculos, de pé, de perfil, virado para a mata, numa das paragens que fizemos, julgo que antes da emboscada, ainda no 1º dia...).

Fotos : © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7888: A minha CCAÇ 12 (13): Janeiro de 1970 (13): assalto ao acampamento IN de Seco Braima e captura de Jomel Nanquitande (Luís Graça)

(...) Na perseguição as NT fizeram um prisioneiro, de nome Jomel Nanquitande, ferido, deixado para trás pelos seus companheiros, que no entanto recuperaram a sua arma. O seu ferimento não era grave, aos olhos de um tuga. Após uma semana de recuperação e de interrogatórios, o Jomel seria obrigado pelas NT a participar como guia para um assalto de mão ao acampamento IN de Ponta Varela que conhecia bem [, a sudoeste do Xime, na direcção de Madina Colhido]: Op Borboleta Destemida (CCAÇ 12, a 4 GR Comb + CART 2520, a 2 Gr Comb, operação realizada a 13 de Janeiro de 1970, e que descreveremos no próximo poste desta série). (...)


(**) 30 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8014: A minha CCAÇ 12 (15): Op Safira Única, 21 de Janeiro de 1970: Ir à Ponta do Inglês e, sem dar um tiro, recuperar 15 elementos da população, destruir dois acampamentos e aprisionar um guerrilheiro "em férias" (Luís Graça)

(...) (iv) Seguindo um dos trilhos, avistou-se um homem desarmado que seguia em direcção contrárias às NT. Capturado, informou: (a) que ia recolher vinho de palma, (b) que a tabanca ficava próxima, (c) que não havia elementos armados e (d) que a maior parte da população estava àquela hora a trabalhar na bolanha do Poindom.

(v) Feita a aproximação com envolvimento, capturaram-se mais 2 homens, 5 mulheres e 6 crianças, andrajosos e aterrorizados. Um dos homens capturados disse chamar-se Festa Na Lona, de etnia balanta, estar alí a passar férias (sic) e pertencer a uma unidade combatente do Gabu (Nova Lamego). Foi-lhe apreendido uma pistola Tokarev (7,62, m/ 1933) e vários documentos. (...)

Estes dois camaradas guineenses podem ser alguns dos seguintes que compunham a 1ª secção: Soldado Arvorado 82108769 Totala Baldé (Fula); Sold 82108569 Sambel Baldé (Fula); Sold 82108969 Mauro Baldé (Ap LGFog 8,9) (Fula); Sold 82110369 Jamalu Baldé (Mun LGFog 8,9) (Fula); Sold 82109169 Malan Baldé (Fula); Sold 82109569 Iéro Jau (Ap Dilagrama) (Fula); Sold 82110969 Samba Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (Fula); Sold 82109969 Malan Nanqui (Mandinga).

domingo, 9 de abril de 2006

Guiné 63/74 - P677: Violenta emboscada em L (Op Boga Destemida, CCAÇ 12, CART 2520 e Pel Caç Nat 63, em Gundagué Beafada, Fevereiro de 1970) (Luís Graça)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Fporças da CCAÇ 12, mais concretamente o 2º Gr Comb da CCAÇ 12, na estrada para Mansambo.

Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

© Humberto Reis (2006).


Extractos de:

História da CCAÇ. 12: Guiné 1969/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores 12. 1971. Capítulo II. 26-28.

(Documento policopiado, elaborado pelo ex-furriel miliciano Henriques, com a colaboração e a cumplicidade de muita gente, a começar pelo sargento Piça, mandado classificar como reservado pelo comandante da unidade, Capitão Brito, e distribuído, à sua revelia, aos quadros metropolitanos, na véspera da sua rendição individual, em finais de Fevereiro e princípios de Março de 1971... Não creio que tenha sido nenhum crime de alta traição ou de lesa-pátria... A sua divulgação é, pelo contrário, uma homenagem a todos os combatentes, de um lado e de outro) (LG).


(8) Fevereiro de 1970:

(8.1) Uma emboscada em L as HT (Op Boga Destemida)


As declarações dos prisioneiros Jomel Nanquitande (capturado em Satecuta durante a Op Navalha Polida) (1) e Festa Na Lona (capturado em Ponta do Inglês durante a Op Safira Única)(2) trouxeram os seguintes elementos sobre o acampamento IN do Baio/Buruntoni:

(i) Localização: Xime 2D-81;

(ii) A vegetação à volta do acampamento e nas imediações do Rio Buruntoni é do tipo floresta tropical, composta por árvores de grande porte;

(iii) Efectivos: 30 elementos;

(iv) A população sob o controle IN é numerosa na área, havendo uma tabanca cerca de 150 metros a SE do acampamento;

(v) Armamento: 1 morteiro 60, 5 bazucas (RPG), 4 metralhadoras ligeiras e armas automáticas;

(vi) Chefes: Ponhe, Xito Mané, Tchuda Ada;

(vii) Segurança: 1 sentinela para norte, a cerca de 100 metros do acampamento;

(viii) Diariamente, pelas 0h [ilegível], sai uma patrulha de 15 elementos fortemente armados que reconhece a área para norte até ao Rio Buruntoni. Há aqui uma cambança sobre troncos de árvore;

(ix) Devido à intensa actividade das NT que levou à captura do vários elementos conhecedores da região, é de admitir que o IN se encontre alertado e até mesmo reforçado;

A fim de bater a área do Baio/Buruntoni foi planeada a Op Boga Destemida em que tomaram parte 3 Gr Comb da CCAÇ 12 (Dest A) e forças da CART 2520, reforçadas com o Pel Caç Nat 63 (Dest B) (3).

Desenrolar da acção:

Em 8 de Fevereiro de 1970, pelas 9.00h, os 2 Dest saíram do Xime, seguindo por Madina Colhido e Gundagué Beafada até próximo de Darsalame Baio onde se emboscaram.

Da parte da tarde, 2 Gr Comb reconheceram com os prisioneiros o local de cambança do Rio Buruntoni, tendo encontrado uma ponte de rachas de cibe, soltas, com uma extensão de 20 metros, que oferecia pouca segurança, obrigando a travessia a efectuar-se somente de dia e muito lentamente, contrariamente ao que estava previsto.
Os 2 Gr Comb regressaram ao local da emboscada tendo depois os 2 Dest seguido para perto do rio onde pernoitaram. O PCV, em face do reconhecimento da cambança, ordenou que a travessia se fizesse ao amanhecer.

Em 9 de Fevereiro, pelas 5.30h, iniciou-se a cambança que demorou cerca de uma hora.
Durante a travessia, o 1s Cabo Galvão ( 3º Gr Comb da CCAÇ 12) caiu, ficando lesionado na coxa direita, o que impossibilitava de prosseguir. De forma que teve de ficar o 3º Gr Comb do Dest A emboscado junto a cambança.

Como fossem encontrados trilhos e o prisioneiro Festa informasse que o acampamento distava cerca de meia hora, os 2 Dest separam-se, tendo o Dest B seguindo ao longo do Rio Buruntoni e montado urna linha de emboscada a oeste da região indicada como sendo a do acampamento IN.

O Dest A progrediu com o prisioneiro Festa em direcção ao objectivo, tendo passado por um acampamento com vestígios de abandono recente. Depois de progredir mais de 2 horas na direcção sul, e como o prisioneiro continuasse a dizer que era longe, contradizendo-se, o Dest A que só dispunha de 2 Gr Comb, entrou em ligação com o Dest B a fim de tomar uma decisão face à situação.

E de referir que o PCV ainda não aparecera visto que a respectiva DO-27 tivera de ir cumprir uma missão de evacuação outro sector. De modo que foi decidido pelos CMDT dos Dest regressar ao Xime.

Quando ia ao encontro do Dest B, o 1º e 2º Gr Comb do Dest A foram flagelados à distância com metralhadora e lança-rockets. Era evidente que o IN tentava localizar as NT através do reconhecimento pelo fogo.

Cerca das 11.30h, o PCV sobrevoou a zona, quando o Dest B, já feita a cambança, armadilhava o local onde havia vestígios recentes do IN.

Em marcha lenta, devido ao transporte do ferido em maca, os 2 Dest seguiram o trilho de Darsalame Baio-Gundagué Beafada, através do capim alto.
Próximo da antiga tabanca beafada, cerca das 13h, as NT sofreriam uma violenta emboscada montada em L e com grande poder de fogo, especialmente de lança-rockets. A secção que ia na vanguarda do Dest B ficou praticamente fora de combate, tendo sido gravemente feridos, entre outros, o respectivo comandante e a praça encarregada da segurança do prisioneiro Jomel Nanquitande que, aproveitando a confusão, conseguiu fugir, embora algemado e muito provavelmente ferido.

Devido ao dispositivo da emboscada, quase todos os Gr Com foram atingidos pelo fogo de armas automáticas e lança-rockets (testa e meio da co¬luna) e mort 60 (retaguarda).

Devido à reacção das NT, o IN retirou na direcção de Poindon e Ponta Varela, tendo ateado o fogo ao capim para evitar a sua perseguição. O incêndio lançaria sobre as NT um enxame de abelhas, obrigando-as a fugir para uma mata próxima onde se trataram os feridos.

Em resultado da acção fulminante do IN, as NT sofreriam 1 morto e 7 feridos entre graves e ligeiros (urn dos quais viria a falecer mais tarde), sendo 2 da CCAÇ 12 (1º Cabo Galvão, do 3º Gr Comb, e Soldado Samba Camará, do 29 Gr Comb).

Feito o reconhecimento, não foi encontrado o prisioneiro. Apesar do incêndio provocado pelo fogo pegado ao capim, ainda se conseguiu recuperar parte do material abandonado. Levados os feridos para Gundagué Beafada, donde foram heli-evacuados, as NT retiraram para o Xime, protegidas por heli-canhão e T-6, tendo chegado ao aquartelamento por volta das 17h.

Após esta operação o IN manifestar-se-ia de novo em 12 de Fevereiro (atacando uma embarcação em Ponta Varela, do que resultaram baixas civis) e flagelando também na região de Ponta Varela forças da CART 2520 durante a Op Tango Variado).

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Notas de L.G.

(1) Vd. post de 7 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXII: Assalto ao destacamento IN de Seco Braima, na margem direita do Rio Corubal (Janeiro de 1970, CCAÇ 12, CAÇ 2404, CART 2413)

(...) "O prisioneiro, de nome Jomel Nanquitande, foi deixado para trás pelos seus companheiros, que no entanto recuperaram a sua arma. O seu ferimento não era grave, aos olhos de um tuga. Após uma semana de recuperação e de interrogatórios, o Jomel seria obrigado pelas NT a participar como guia para um assalto de mão ao acampamento IN de Ponta Varela que conhecia bem [, a sudoeste do Xime, na direcção de Madina Colhido]: Op Borboleta Destemida (...)".

(2) Vd. pots de 19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLI: Ponta do Inglês, Janeiro de 1970 (CCAÇ 12 e CART 2520): capturados 15 elementos da população e um guerrilheiro armado

(...) "Seguindo um dos trilhos, avistou-se um homem desarmado que seguia em direcção contrárias às NT. Capturado, informou que ia recolher vinho de palma, que a tabanca ficava próxima, que não havia elementos armados e que a maior parte da população estava àquela hora a trabalhar na bolanha.

"Feita a aproximação com envolvimento, capturaram-se mais 2 homens, 5 mulheres e 6 crianças. Um dos homens capturados disse chamar-se Festa Na Lona, de etnia Balanta, estar alí a passar férias e pertencer a uma unidade combatente do Gabu. Foi-lhe apreendido uma pistola Tokarev (7,62, m/ 1933) e vários documentos" (...).

(3) O comandante do Pel Caç Nat 63 era, nesta época, o Alf Mil Art Jorge Cabral: vd. post 17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXXII: Vocês não tenham medo, não fujam, sou o Cabral (Fá, 1969/71)