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segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23896: E as nossas palmas vão para... (21): o Humberto Reis, que hoje faz anos e é um dos nossos grandes fotógrafos, para além de colaborador permanente e "cartógrafo-mor" do nosso blogue



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Subsector do Xitole > 2/3 janeiro de 1970 > Forças da CCAÇ 12 (na foto, o 2.º Grupo de Combate, dos furriéis milicianos Humberto Reis e Tony Levezinho) atravessando uma bolanha, a caminho da península de Galo Corubal -Satecuta, na margem direita do Rio Corubal. O Humberto vem atrás dos homens da bazuca e do lança-rockets, 3.7 mm (igual à dos páras). E, mais atrás, os 1ºs cabos (metropolitanos) Alves e Branco.

Não aparecço na foto mas participei na Op Navalha Polida, em 2 e 3 de janeiro de 1970, integrado desta vez no 4.º Gr Combate. Como me dizia amavelmente o meu capitão Brito - era um gentleman! - , eu era o peão de nicas, o tapa-buracas, o suplente, o que substituía os camaradas furriéis doentes, convalescentes, desenfiados ou em férias... Não sei por que carga de água é que os psicotécnicos me disseram que eu era bom para apontador de armas pesadas de infantaria. Como a CCAÇ 12 era uma companhia de intervenção, não tendo armas pesadas, eu tornei-me um polivalente, um pau para toda a obra ...

Foto da autoria de Humberto Reis (ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). Tem sido imensa e despudoradamente "pirateada" por aí, nas redes sociais, em livros, etc., sem referência ao autor e ao nosso blogue.


Guiné > Zona leste > Rwgião de Bafatá > Setor L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Ponte do Rio Udunduma > Destacamento da CCAÇ 12 > 2º Grupo de Combate > 1970 > O fur mil op esp Humberto Reis, à entrada do abrigo (?)...

(...) "Com este destacamento passou-se um episódio que diz bem do carácter que presidia à união de todos os operacionais (operacionais eram aqueles que iam para o mato e as sentiram assobiar e não os que viviam no bem bom dentro dos arames farpados e que nunca sentiram o medo de levar um tiro).

"Um domingo à noite estávamos a jantar na messe [, em Bambadinca], nesse dia calhou-me estar dentro do arame, e de repente começámos a ouvir rebentamentos para os lados da ponte. Pensámos que era o destacamento que estava a embrulhar e automaticamente nos levantámos (eu e mais alguns até estávamos vestidos à civil), fomos a correr aos respectivos quartos buscar as armas e quando chegámos à parada já lá estavam alguns Unimog com os respectivos condutores à espera (ninguém lhes tinha dito nada mas a ideia foi a mesma - é a malta da ponte a embrulhar, temos de os ir socorrer ). Até um dos morteiros 81 levámos e aí vai o fur mil do Pel Mort com uma esquadra, o Lopes que era natural de Angola (tão bem organizada que era a nossa administração militar, que o colocaram na Guiné!).

"Felizmente, quando chegámos à ponte, verificámos que não era aí, mas sim 2 km mais à frente, na tabanca de Amedalai, pelo que seguimos até lá. Escusado será dizer que quando o IN notou que chegaram reforços fechou a mala e foi embora" (...)



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > CCAÇ 12 (1969/71> c. 1970 > 2º Grupo de Combate > Estrada Bambadinca-Xime > Destacamento da Ponte do Rio UdundumaO Tony (Levezinho) e o Humberto (Reis) sentados na "manjedoura"... Era ali, protegidos da canícula, por uma chapa de zinco, à volta de uma tosca mesa de madeira, entre duas árvores, com vista sobre o espelho de água do rio Udunduma, afluente do Geba..., era ali que tomavámos em conjunto as nossas refeições, escrevíamos as nossas cartas e aerogramas, jogávamos à lerpa, bebíamos um copo, matávamos o tédio e os mosquitos...

Na imagem, o Tony (Levezinho), à esquerda, segurando uma granada de LGFog de 3.7. À direita, o Humberto Reis, o nosso "ranger"... e fotógrafo. O 2º Gr Comb ficou, cedo, entregue aos dois furriéis, Levezinho e Reis... O alf mil António Carlão foi destacado... para a equipa de reordenamento de Nhabijões ( a gigantesca tabanca, ou aglomerado de tabancas, de maioria balanta, onde a rapaziada do PAIGC se dava ao luxo de entrar e sair quando muito bem lhe apetecia...).


Guiné > Zona leste > REgião de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Estrada Xime-Bambadinca > 23 de novembro de 1969 > A famosa autogrua Galion, desembarcada no Xime, em LDG, e fornecida pela Engenharia Militar para operar no porto fluvial de Bambadinca... Atascada, no final da época das chuvas... junto à bolanha de Samba Silate, antes de Nhabijões, dois topónimos de má memória para muitos de nós que andámos por aquelas paragens...

Na foto, temos em grande plano uma das rodas da Galion atascada,,, E, em segundo plano, aparece o Humberto Reis, de cigarro na boca, óculos de sol, lenço ao pescoço, impecavelmente fardado, como mandava... a puta da sapatilha!.

A Galion veio para substituir as pequenas autogruas de marca Fuchs (segundo oportuno comentário do nosso camarada Vasco Ferreira, e que eu creio que eram duas, pintadas de azul), existentes até então no cais de Bambadinca , por ocasião do início do ambicioso projecto de reordenamento de Nhabijões, um dos maiores da Guiné naquele tempo (cerca de 300 casas).


Guiné > Zona Leste > Região Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Pessoal do 2º Grupo de Combate, atravessando em coluna apeada a bolanha de Finete na margem direita do Rio Geba, no regulado do Cuor, em frente a Bambadinca (que pertencia ai regulado de Badora). O destacamento que havia mais a norte, era o de Missirá (guarnecido pelo Pel Caç Nat 52, no tempo do alf mil Beja Santos, 1968/70, e depois pelo Pel Caç Nat 63, do alf mil Jorge Cabral).

A tabanca de Finete, em autodefesa, guarnecida pelo Pelotão de Milicia nº 102, é visível ao fundo. No primeiro plano, para além de municiador da Metralhadora Ligeira HK 21, Mamadú Uri Colubali (se não erro), vê-se o fur mil op esp Humberto Reis e o saudoso 1º cabo José Marques Alves, de alcunha "Alfredo" (1947-2013) (natural de Campanhã, Porto, vivia em Fânzeres, Gondomar).


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > Tasca do Zé Maria > Um dos nossos poucos luxos no mato... Os famosos lagostins do Rio Geba Estreito... Da direita para a esquerda, três camaradas da CCAÇ 12 (1969/71) os furriéis mil Humberto Reis e Tony Levezinho e alf mil o José António G. Rodrigues (já falecido já muito).. Penso que fui eu quem tirou esta foto com a máquina do Humberto Reis...


Guiné >  >Zona leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Estrada Bambadinca - Mansambo - Xitole > Coluna logística: uma viatura civil, transportando cunhetes de granadas e, em cima, pessoal civil. Dizia-se que as nossas GMC, "do tempo da guerra da Coreia", gastavam "100 aos 100"... Não admira, por isso, que o consumo "per capita" mensal, de combustível, fosse de 50 kg numa companhia normal de 160 homens... Em contrapartida, o consumo diário de frescos não ia além dos 500 gramas (15 kg por mês e por homem)...


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento da Ponte do Rio Udunduma > Uma manada de vacas, cambando o Rio Udunduma... Possivelmente pertencentes a um notável fula da região (Amedalai, por exemplo, que era a tabanca mais perto)... Só com muita relutância os fulas vendiam cabeças de gado à tropa... O gado era, tradicionalmente, um "sinal exterior de riqueza", um símbolo de "status" social, dizia a ideologia da "psico"...



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá >  Sector L1 > 1969 > O sortilégio e a beleza do Rio Geba, entre o Xime e e Bambadinca, o chamado Geba Estreito, numa das fotos aéreas magníficas do Humberto Reis.

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > 1969 > Espectacular vista aérea do Geba Estreito entre o Xime e Bafatá > Na época, havia um serviço de cabotagem entre Bissau e Bafatá, embora precisasse de segurança militar próxima, no troço Xime-Bambadinca, e nomeadamente na zona do Mato Cão. Este troço era um pesadelo para as embarcações civis. Durante largos meses, o Pel Caç Nat 52 assegurava o patrulhamento, quase diário, desta zona. Será depois substituído pela CCAÇ 2590/CCAÇ 12, colocada em Bambadinca nos finais de julho de 1969.


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bafatá > Vista aérea > Em primeiro plano, o rio Geba, à esquerda, e a piscina de Bafatá (que tinha o nome do administrador Guerra Ribeiro e foi inaugurada em 1962, tendo sido construído - segundo a informação que temos - por militares de uma unidade aqui estacionada ainda antes do início da guerra).

Ainda do lado esquerdo, o cais fluvial, uma zona ajardinada, a estátua do governador Oliveira Muzanty (1906-1909)... Ao centro, a rua principal da cidade. Ao fundo, ao alto da avenida principal, já não se chega a ver o troço da estrada que conduzia à saída para Nova Lamego (, que ficava a nordeste de Bafatá); havia um a outra, alcatroada, para Bambadinca, mas também com acesso à estrada (não alcatroada) de Galomaro-Dulombi, povoações do regulado do Cosse, que ficava a sul. À entrada de Bafatá, havia uma rotunda. ao alto. Para quem entrava, o café do Teófilo, o "desterrado", era à esquerda..

Do lado direito pode observar-se as traseiras do mercado. Do lado esquerdo, no início da rua, um belo edifício, de arquitetura tipicamente colonial, pertencente à famosa Casa Gouveia, que representava os interesses da CUF, e que, no nosso tempo, era o principal bazar da cidade, tendo florescido com o patacão (dinheiro) da tropa. Por aqui passaram milhares e milhares de homens ao longo da guerra,. que aqui faziam as suas compras, iam aos restaurantes e se divertiam... com as meninas do Bataclã.
 

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca)> c.1969/70 > Belíssimma vista aérea da tabanca de Samba Juli, sendo visível o perimetro de arame farpado, as valas e os abrigos individuais > Em Fevereiro de 1969, aquando o desastre do Cheche, a CCAÇ 2405 estava sediada em Galomaro, com um pelotão em Samba Juli, outro em Dulombi e um terceiro em Samba Cumbera. 

Samba Juli fazia parte de um conjunto de tabancas fulas, em autodefesa no regulado do Corubal, ao longo da estrada Bambadinca-Xitole, onde se incluía Dembataco e , Moricanhe (a oeste da estrada), Samba Culi, Sinchã Mamajã, Sare Adé, Afiá, Candamã, entre outras (a leste)... Tudo nomes que ainda ressoam estranhamente nas nossas cabeças: em muitas delas contávamos as estrelas à noite e esperávamos o alvorecer não sem alguma ansiedade... Nós e os nossos soldados guineenses da CCAÇ 12...


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1969/70 >  Vista aérea da Ponte Salazar sobre o Rio Geba, na estrada entre Bafatá e Geba. A Ponte ficava a oeste da vila (mais tarde cidade, em 1970),

Fotos (e legendas): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 1996 > Ponte sobre o rio Geba na estrada Bafatá-Geba. O Humberto Reis voltou lá, vinte e sete anos depois.

Foto (e legenda): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


1. O Humberto Reis, engenheiro técnico reformado, meu camarada da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 
1969/71), meu companheiro de quarto em Bambadica, meu vizinho de Alfragide, meu velho amigo (de há mais de meio século), faz hoje anos  (*) e merece ser aqui recordado sobretudo como grande fotógrafo da nossa companhia e do nosso tempo (ele e o Arlindo T.Roda). As melhores fotos aéreas que temos aqui publicado são dele (Bambadinca, Bafatá, Xime, Mansambo, Xitole, rio Geba, etc.). E são conhecidas dos nossos leitores.

O Reis tinha vários amigos na FAP e, de vez em quando, apanhava uma boleia de h
elicóptero ou de DO 27. As fotos de Bafatá, pro exemplo, foram tiradas de heli. Ele fazia "diapositivos", revelados na Suécia (se não erro). Ao fim destes anos estão em excelente estado, conforme as imagens que nos mandou em 2006, digitalizadas. E, para mais, tinha uma excelente resolução (mais de 2 MG), perrmitindo o seu recorte em várias imagens parciais.

O Humberto é também nosso colaborador permanente, e o nosso "cartógrafo-mor". A ele,  nosso mecenas, nunca nunca é de demais mostrar aqui nossa gratidão pela sua generosidade (foi ele que comprou e mandou digitalizar as cartas ou mapas da antiga província portuguesa da Guiné).

Por outro lado, também nunca é demais lembrar que as cartas ou mapas da Guiné (na escla de 1/50 mil), que desde o início do blogue disponibilizámos para consulta "on line" dos nossos leitores, são pequenas obras-primas, resultantes do minucioso e aturado levantamento efectuado aos longo dos anos 50 pela missão geo-hidrográfica da Guiné – Comandante e oficiais do N.H. Mandovi e do N.H. Pedro Nunes.

A fotografia aérea foi da responsabilidade da Aviação Naval. O trabalho de restituição, por seu turno, foi feita pelos Serviços Cartográficos do Exército. As fotolitografias e a impressão foram feitas em várias casas, de Lisboa, Porto, V.N. Gaia: Litografia de Portugal, Papelaria Fernandes, Arnaldo F. Silva... A imagem em geral é de boa qualidade, graças também à fotolitografia de casas como a Papelaria Fernandes e a António F. Silva (em geral, são os melhores trabalhos, os destas casas)… e à posterior digitalização.  A edição é da antiga Junta das Missões Geográficas e Investigações do Ultramar, do antigo Ministério do Ultramar.

Convirá recordar que a sua paciente digitalização foi efectuada pelo Humberto Reis na Rank Xerox, em 2006. (Ele não nos disse quanto pagou, mas não deve ter sido barato...). Eu passei cada um destes pesadíssimos ficheiros (10 ou mais Mb) para outros mais leves (da ordem dos 2 Mb), procurando manter a qualidade da imagem (que tem alta resolução)
.

 Fica aqui uma pequena homenagem ao nosso querido Humberto, juntando algumas das suas fotos (**). Para ele os nossos votos de um Bom Natal e de um Melhor Ano Novo de 2023. (LG)
___________


Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23893: Parabéns a você (2126): Humberto Reis, ex-Alf Mil Op Esp da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)

segunda-feira, 21 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23098: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (22): Lugares da Guiné

Carta Geral da Província da Guiné
© Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Em mensagem do dia 18 de Março de 2022, o nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71), lembra os locais da Guiné por onde peregrinou.


RECORDAÇÕES DA CART 2520

22 - LUGARES DA GUINÉ

A CART 2520 enquanto sediada no Xime exerceu uma grande actividade fora do arame farpado, tanto a nível de Companhia ou de pelotão e conjuntamente com a CCAÇ 12 e os Pelotões de Caçadores Nativos 52 e 54, originando para os operacionais um enorme trabalho e também um grande desgaste físico e psicológico. O 3.º pelotão a que pertenci, percorreu praticamente todos os cantos, trilhos e picadas da zona operacional. Por mero acaso fui tomando alguns apontamentos numa pequena pasta onde guardava a minha correspondência e que actualmente a conservo quase religiosamente.

A partir destes curiosos apontamentos, da minha memória e com recurso à carta do Xime e de outros locais, elaborei uma lista que vou partilhar com os camaradas da nossa Grande Tabanca, ou melhor, da Tabanca Grande, dos lugares da Guiné por onde andei, incluindo também os lugares da segunda fase da nossa passagem pelo Ultramar quando a nossa Companhia assentou arraiais em Quinhamel:

Bissau - Início da comissão em 30 de Maio de 1969, alguns dias. Em Junho e Julho de 1970 várias vezes e em Março de 1971
Brá - Primeiras dormidas na Guiné antes da partida para o Xime
Xime - Base da CART 2520 durante o 1.º ano, Junho de 1969 a Junho de 1970
Bambadinca - Um sem número de deslocações com a finalidade de alguns reabastecimentos, ir buscar e levar correio e outros serviços
Mansambo - Primeiras 3 semanas para o treino operacional com o 3.º pelotão
Bafatá - Várias idas com a finalidade do Vaguemestre comprar vacas para nossa alimentação
Ponte Rio Udunduma - Por inúmeras vezes como mini destacamento e de passagem para Bambadinca
Enxalé - Mais de dois meses como destacamento e para segurança da população
Finete - Patrulhamento até ao Enxalé
Mato de Cão - Patrulhamento a partir de Finete até ao Enxalé
Mato Madeira - No percurso entre Finete e Enxalé
Malandim - Zona do Enxalé, patrulhamento
Gambana - Nas proximidades do Enxalé, patrulhamento
Madina Colhido - Inúmeros patrulhamentos e montagem de emboscadas e de seguranças aos barcos que passavam no rio Geba
Ponta Varela - Em operações
Ponta do Inglês - Três passagens em Operações
Foz do Corubal - Uma passagem em Operação
Ponta Coli - Dezenas de seguranças para a passagem de colunas da nossa Companhia e de outros militares
Ponta Luís Dias - Passagem durante Operação
Mouricanhe - Em Operação
Chacali - Em patrulhamento
Chicamiel - Em Operação
Poidon - Em patrulhamentos
Háfio - Em operações
Darsalame/Baio - Em Operações
Buruntoni - Em Operações
Colicumbel - Em patrulhamentos
Lantar - Proximidades do Xime em patrulhamentos
S. Belchior - Em operações
Malafo - Patrulhamento
Bissilão - Em Operações
Gundagué Beafada -Em operações
Amedalai - Ponto de passagem obrigatório para colunas a Bambadinca
Samba Silate - Em patrulhamento, passando por Amedalai
Taibatá - Colunas de apoio à população
Demba Taco - Colunas de apoio à população
Quinhamel - Base da CART 2520, tendo divergido para Safim, João Landim e posteriormente para o Biombo
Safim - Base do 3.º pelotão - Junho, Julho e parte de Agosto de 1970
João Landim - Permanência de dois meses com uma secção
Nhacra - Breve passagem
Biombo/Ondame - Entre Setembro de 1970 e Março de 1971 como destacamento
Blom - Tabanca nas proximidades do Biombo
Blimblim - Tabanca nas proximidades do Biombo
Dorce - Tabanca nas proximidades do Biombo
Ponta Biombo - Patrulhamentos e momentos de descontração
Ilondé - De passagem
São Vicente da Mata - De passagem
Cais de Pigiguidi - Chegada a Bissau e "Adeus Guiné"

José Nascimento

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22311: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (21): Martins, o caçador de rolas

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19937: 15 anos a blogar desde 23/4/2004 (10): o misterioso homem da piroga, afinal um rapaz do nosso tempo, o Renato Monteiro, que fez a "fotobiografia" da nossa guerra... Foi "lacrau", da CART 2479 / CART 11, andou por Contuboel e Piche, levou uma porrada, foi parar à CART 2520, ao Xime, ao Udunduma e ao Enxalé...



Guiné > Região de Bafatá  > Contuboel > Centro de Instrução Militar de Contuboel > Junho de 1969 >  A dolce vita dos dois primeiros meses de comissão...  Em primeiro plano, Luís Graça (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12) e Renato Monteiro (CART 2479 / CART 11), em passeio pelo Rio Geba. Ao fundo, a velha ponte e açude, de madeira, sobre o rio Geba Estreito, onde o Renato Monteiro, um dia, esteve prestes a morrer afogado, à minha frente!...

Como legenda a esta foto, do meu álbum, eu escrevi o seguinte em 2005:

"Nunca mais encontrei o meu amigo Monteiro que, segundo creio, é o coautor de um livro que li e apreciei muito sobre a guerra colonial (Renato Monteiro e Luís Farinha - Guerra colonial: fotobiografia. Lisboa: D. Quixote, 1990, 307 pp)"... 

Acabei pro receber, passados uns tempos, em 4 de julho de 2005, a seguinte mensagem, assinada pelo Renato Monteiro:

 "Amigo Luís: Muito surpreendido por me rever numa piroga no rio Geba. Na verdade, não me lembrava desse episódio. Não menos espantado por rever a picada do Xime e outros locais que, passado tanto tempo, ainda se encontram bem presentes na minha memória... Lamento, ao contrário, não ter reconhecido ninguém nas fotos nem, sequer, te referenciar. Não sei a explicação. Sou, na realidade, coautor do livro que referes. Fico ao teu dispor para o caso de quereres comunicar, e feliz pela Internet ter possibilitado este reencontro. Um abraço, Renato Monteiro".

Foto (e legenda): © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Este texto esteve guardado, durante quase um ano, até ser publicado em 23 de junho de 2006 (*)... Não o fiz por respeito à vontade (tácita) do seu autor, que eu conheço de Contuboel, do Centro de Instrução Militar de Contuboel, dos brevíssimos meses de junho e julho de 1969, e de quem perdi depois, completamente, o rasto (mas não o rosto)... O rosto vim a reconhecê-lo na contracapa de um livro (Renato Monteiro e Luís Farinha - Guerra colonial: fotobiografia. Lisboa: D. Quixote, 1990, 307 pp)... Enfim, uma estória singela de encontros e desencontros já aqui evocada no nosso blogue, em 23 de junho de 2006 (**)...

"O misterioso homem da piroga", que me conduzia, rio Geba Estreito abaixo, havia embarcado para a Guiné em 18 de fevereiro de 1969, três meses antes de mim. Fazia parte da CART 2479 / BART 2866 (***)... Passou por Contuboel (Junho/Julho de 1969) e depois por Piche, acabando por mudar de companhia, por motivos disciplinares...

A porrada (, dez dias de detenção,) valeu ao Renato a mudança de companhia: foi colocado no Xime e depois no Enxalé, na CART 2520 (1968/70)... Por pouco tempo, já que o paludismo apressou-lhe o fim da comissão: evacuado do Hospital 241 foi transferido para o HMP, em Lisboa, em 4 de Setembro de 1969.

Tudo para justificar a quebra de um compromisso e dar a conhecer, aos restantes camaradas e amigos da Guiné, uma camarada da Guiné, com uma história de vida e uma sensibilidade singulares, um homem "desalinhado" como alguns de nós, e sobretudo que sabe pôr em palavras muito daquilo que sentimos e vivenciámos na tropa e na guerra, ou não fosse ele um poeta, um artista, um fotógrafo.

O Renato há  muito que me perdoou eu ter-lhe retirado um pouco do seu mistério... (LG)


2. Diga se me ouve, escuto!

por Renato Monteiro

[ex-fur mil,  CART 2439 /, CART 11, Contuboel e Piche, 1969/ CART 2520, Xime e Enxalé, 1969/70);  licenciado em história pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi professor do ensino secundário; tornou-se um notável fotógrafo do quotidiano, com obra feita (vários álbuns publicados desde 1998; e tem pelo menos 20  blogues de fotografia). Nasceu em 1946, no Porto, vive em Lisboa]


Amigo Luís:

Apesar dos inúmeros apagões (alguns intencionais) sobre o capítulo da minha história (desde o embarque ao regresso), tenho a ideia de, nesse tempo, ser sempre dos últimos a chegar à formatura. A falta de pontualidade acabava sempre por constituir motivo sério de repreensão (inúmeras vezes repetida) pelo Comandante da Companhia [, cap mil art Analido Aniceto Pinto (1934- 2014), foi funcionário da Galp Energia):
- Ó Monteiro, um dia destes, dou-lhe uma porrada!

É bem provável que te recordes do sujeito: um tipo excessivamente baixinho, que nunca foi capaz de fazer uma meia volta - volver sem criar a impressão de mover-se numa matéria adesiva, impedindo a rotatividade livre dos calcanhares. Era também conhecido  por filtrar as sílabas e as vogais através do cornetim nasal, em vez do uso comum das cordas vocais quando comunicava com o pessoal...
comandante:

Não vale a pena adicionar, a estas, outras características inerentes ao sujeito para perceber como, a partir de certa altura, o regime, com um número cada vez mais insuficiente de quadros permanentes, não teve outro remédio senão mandar para as urtigas os manuais de selecção de pessoal para as três frentes... Em determinada fase do campeonato, os recursos humanos deixaram de se preocupar com a questão dos perfis: servia qualquer um.

Como não alterei, em nada, esta inclinação espontânea para o desalinho, acabei por propiciar o cumprimento da promessa nasalada do capitão, cedo demais, em Piche, para onde fôramos transferidos.

Após 10 diz de detenção domiciliária, em situação de incomunicável, acabei por ser recambiado para o Xime, com um grande sentimento de luto, sobretudo em relação aos africanos do meu pelotão (com quem trocava imensas estórias) para além de me ver afastado do companheirismo de um ou outro camarada, especialmente do furriel Cunha (mais conhecido por Canininhas) que, tendo sensivelmente a mesma estatura da do capitão, não era tão baixinho quanto aquele!

Natural do Barreiro e filho de um palhaço, herdara do pai um grande humor (que muito ajudou a contrariar a propensão para uma revolta amarga que me deixava a falar sozinho), sendo, ainda, dotado de uma aptidão fora de série para tocar qualquer instrumento. (Hoje não faz outra coisa do que andar pelo país fora, a concertar órgãos e pianos gripados...).

Desde a aterragem no Aeroporto da Portela (1969),  vi-o apenas três vezes: uma com o propósito de me facultar o diário da companhia [, a história da unidade,]  (a CART 2479); outra para me ceder algumas fotos tiradas por si na Guiné (algumas das quais figuram no livro Guerra Colonial: Fotobiografia, 1990); e uma outra a pretexto de beber um copo...

Seguramente que a personalidade do Canininhas, vertida para a literatura, não careceria de muita elaboração ficcional, bastando quase só transcrevê-lo... E, pergunto-me se não terá sido ele o autor da foto da Piroga do Geba, já que uma das suas fixações era, para além de perfilhar uma gazela (!), adquirir uma câmara fotográfica...

Como tu, é difícil recordar o terceiro camarada que se encontrava connosco e a quem , afinal, se fica a dever este inesperado reencontro entre nós e, com uma certa memória de mim próprio...

Ao contrário da maior parte das pessoas que conheço (e crê, não me vanglorio desta particularidade) nunca mais cuidei em revisitar os antigos companheiros... Sequer os que integravam a Companhia sediada no Xime que incorporei [, a CART 2520].

Salvo os graduados, a maior parte [da CART 2520] era constituída por malta recrutada no Alentejo, tendo como comandante [, o cap mil António dos Santos Maltez,]  um homem com quem apenas troquei duas ou três brevíssimas conversas, uma das quais em torno de livros que líamos e autores que apreciávamos.... Igualmente miliciano, de formação católica, de quando em quando, procedia a uma breve cerimónia no centro da parada, junto a um padrão ou coisa do género, onde lia umas passagens da Bíblia a muito poucos (meia dúzia ?) de soldados que, voluntariamente, o acompanhavam...

Ao que julgo, era professor de Química e, apesar de não recordar o seu nome (imagina, como trabalhei para a evaporação destas memórias),  conservo dele a melhor das lembranças... Aceitava pacificamente a minha tendência para o desalinho (se é que dava por isso) e eu respeitava-o.

A partir do Xime, como sabes, a par das incursões que se faziam em direcção (por vezes mais aparentes do que efectivas) às bases ou acampamentos dos Turras (devidamente assinalados no mapa da tua página), mantínhamos um contacto regular com Bambadinca para o reabastecimento logístico.


Guiné > Região de Bafatá  > Setor L1 (Bambadinca) > Estrada Xime - Bambadinca >  CART 2530 (1969/70) > Destacamento da Ponte do Rio Udunduma >1969 > "Lembro-me de poucos momentos, desse tempo, a cores… Ponte do Rio Udunduma onde nos banhávamos e, à falta de um aparelho de pesca capaz, houvesse quem apanhasse peixe à granada… Vê-me, Luís, esse par de bidões, e diz-me se não são uma ternura!"...

Ponte do Rio Udunduma. A segurança desta ponte era vital para as NT. Ficava a 4 km de Bambadinca e a 7 do Xime. No célebre ataque a Bambadinca, em 28 de maio de 1969, a guerrilha tentara dinamitá-la. Desde junho de 1969 a ponte era defendida por 2 secções da CART 2520 (Xime) e, mais tarde, por um Gr Comb da CCAÇ 12 (a partir do final do ano de 1969), alterando com o Pel Caç Nat 52, comandado pelo alf mil  Beja Santos (transferido de Missirá para Bambadinca em Novembro de 1969, sendo substituído em Missirá pelo Pel Caç Nat 54, do alf mil  Correia). Havia apenas abrigos individuais, extremamente precários: bidões de areia com cobertura de chapa de zinco, e valas comunicando entre os abrigos individuais.

Foto (e legenda): © Renato Monteiro (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]-

A Ponte de Rundunduma, próximo daquela aldeia (e que se encontra igualmente ilustrada na tua página), foi ocupada inicialmente pela secção de que fazia parte. [Trata-se de Amedalai, LG...]

No dia em que lá chegamos, a preocupação prioritária foi a de cavar uma vala, vertiginosamente, operação deveras penosa mercê da dureza do terreno, e de no dia seguinte tratarmos de construir uns frágeis abrigos, com os usuais bidões, enchidos com pedra e areia cobertos por folhas de zinco.

Imaginarás como nos sentíamos tão vulneráveis, sobretudo à noite, face a uma hipotética investida do IN. A expectativa de sermos atacados, com os parcos dispositivos de defesa e o reduzido número de homens que dispúnhamos, causava-nos uma grande intranquilidade... Alturas houve em que apenas dormitava durante o dia, por temer a probabilidade de virem a incomodar-nos de noite, estando ainda por perceber a que razão de não nos terem visitado... Ora, para serem bem sucedidos, nem precisariam de grande ousadia!

À volta do rio, nos charcos, o insistente coaxar das rãs era-me tão insuportável que a custo simulava junto da Guida a irritação que me provocava o pitoresco e pacífico som daquelas sujeitas quando, mais tarde, as surpreendíamos nos lagos do nosso namoro!

Apesar de partilhar com os demais aquele sentimento permanente face à iminência das emboscadas e flagelações aos aquartelamentos (que acabaram episodicamente por suceder) onde me senti, apesar de tudo, menos desconfortável (se assim posso dizer) foi no Enxalé, para onde fui destacado.

Aí, tive a oportunidade de retomar o contacto com as comunidades africanas, balantas e mandingas, que coabitavam, paredes meias, com o destacamento. Através da leitura recente que fiz a registos dessa altura, soube (para minha surpresa) que cheguei a ter perto de cem alunos aos quais procurava ensinar a falar e a escrever a língua portuguesa,  utilizando como espaço lectivo um antigo armazém de um colono, que se pôs em fuga no início da Guerra... [Trata-se do Pereira do Enxalé, pai da nossa grã-tabanqueira Maria Helena Carvalho. ]

Mas o pior de tudo foi ter sido incumbido de gerir a logística e de me ver obrigado a aplicar as formas de camuflar o saldo negativo que ingenuamente (?) herdara do camarada anterior, enquanto aguardava, ansiosamente, pela nossa transferência para a ilha de Bissau, onde viria a ser internado no Hospital com uma infecção que me proporcionou o regresso, dois meses antes do previsto, a Lisboa.

Logo no início desta longa resenha falava-te da falta de pontualidade em chegar às formaturas. Amigo Luís, essa lacuna mantém-se até hoje. Não apenas em relação às coisas que se comparam com a seca das formaturas, mas também com as que envolvem prazer, como o simples acto de responder-te...

Em parte, este deixar para amanhã o que deve ser feito logo, prende-se com a falta de tempo ou, melhor dito, com a forma como o ocupo...

Disso te darei notícia, tão breve quanto possível, aproveitando para responder às tuas últimas palavras.

Um grande abraço,
Renato
Lumiar, 28 - 7- 05 (****)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 23 de junho de 2006 > Guiné 63/74 - P899: Diga se me ouve, escuto! (Renato Monteiro)

(**) Vd. poste de 23 de junho de 2006 > Guiné 63/74 - P898: Saudades do meu amigo Renato Monteiro (CART 2479/CART 11, Contuboel, Maio/Junho de 1969)

(****) Sobre a CART 2479 / CART 11, sabemos o seguinte:

(i) a CART 2479 [tem mais de meia centena de referências no nosso blogue) constituiu-se no RAL 5 em Penafiel, no ano de 1968, como subunidade do BART 2866, desmembrando-se desta unidade em fevereiro de 1969, e embarcando com destino à Guiné no dia 18, aonde chegou a 25 do mesmo mês;

(ii) o percurso operacional da CART 2479 na zona leste, foi longo, fixando a sua sede em Nova Lamego, no Quartel de Baixo em setembro de 1969;

(iii) passou por Bissau, Contuboel (Centro de Instrução Militar), Nova Lamego, Piche;

(iv) comandante: cap mil art Analido Aniceto Pinto (1/6/1934- 27/2/2014) (trabalhou na Galp Energia);

(v) foi extinta em 18 de janeiro de 1970, passando a companhia a designar-se CART 11 [, tem cerca mais de 90 referências no nosso blogue];

(vi) em maio de 1972 a CART 11 passou a designar-se CCAÇ 11 [tem cerca de 4 dezenas de referências].

(****) Último poste da série > 18 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19899: 15 anos a blogar desde 23/4/204 (9): o ataque a Sare Banda, destacamento da CART 1690 (Geba, 1967/69), em 8 de setembro de 1968: o alf mil Carlos Alberto Trindade Peixoto e o fur mil Raul Canadas Ferreira jogavam às cartas, à luz de petromax, foram mortos por uma roquetada (A. Marques Lopes)

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19664: Memória dos lugares (391): a velha ponte do rio Udunduma, na estrada Xime-Bambadinca, e os seus ninhos de andorinha (Jorge Araújo)


Foto 1 > Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Estrada Bambadinca- Xime > A Ponte Nova (1.ª linha), depois a Ponte Velha e o Rio Udunduma. À direita estava instalada uma secção (+)  (12 elementos) da minha CART 3494 (, sediada no Xime, entre 1972 e 1973), naquele que se chamava, à época, "Destacamento da Ponte do Rio Udunduma".


Foto 2 >  Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Estrada Bambadinca- Xime > Ponte velha do Rio Udunduma > Julho de 1973 > Imagem de como ficou a ponte na sequência da explosão levada a cabo pelos guerrilheiros do PAIGC em 28Mai1969, obtida a nível do solo.



Fotos 3 e 4  > Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Estrada Bambadinca- Xime > Interior da Ponte velha do Rio Udunduma - 1973. Imagens de um dos lados onde se encontravam os ninhos de andorinhas construídos no tecto da ponte.


Foto 5 > Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Estrada Bambadinca- Xime > Ponte Velha do Rio Udunduma > 1973. A seta indica o local onde se observam os ninhos das fotos anteriores.

Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemenetar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018




O DESTACAMENTO DA PONTE DO RIO UDUNDUMA
(ENTRE O XIME E BAMBADINCA): OS NINHOS DE ANDORINHAS 


1. INTRODUÇÃO

Com o objectivo de informar os mais distraídos ou satisfazer a curiosidade de quantos passaram na estrada Xime-Bambadinca, nos dois sentidos, e foram milhares, uns em trânsito para o Leste do território, outros com destino a Bissau, quiçá de regresso à Metrópole por terem terminado a comissão, venho pelo presente dar conta ao Fórum da existência de centenas de ninhos construídos sob a Ponte velha do Rio Udunduma, afluente do Rio Geba. (Ia desaguar, ma margem esquerda, frente a Mato Catão, entre Samba Silate e Nhabijões.(

Para além desta partilha colectiva, ela é também a resposta ao pedido formulado pelo camarada Valdemar Queiroz, na sequência do seu comentário ao P19662.(*)

Assim, no âmbito das "Memórias de um Lacrau - P12736" (**) - acrescento:

Para que não se perca nenhum detalhe da nossa história colectiva, enquanto comunidade de ex-combatentes no CTIGuiné, independentemente da época, local ou missão, e partindo da descrição feita pelo camarada Valdemar Queiroz, a propósito da sua viagem entre Bissau e Contuboel [e da sua CArt 2479 - 1969] recupero a seguinte passagem: "… atravessamos a bolanha passando, ao longe, por Amedalai, tabanca em autodefesa, cercada por arame farpado e, depois, atravessamos por uma ponte cheia de ninhos de andorinhas, chegando a Bambadinca".

– Que ponte era essa?

Como uma forte possibilidade/probabilidade, apresento acima  uma sequência de cinco fotos recolhidas quatro anos depois de aí ter passado o camarada Valdemar, de modo a poder compará-las com a memória visual que tem desse dia… e dos locais por onde foi passando até Contuboel, ainda que estejam a uma distância de cinquenta anos.

Vd. fotos acima, nºs 1, 2, 3, 4 e 5.

Obrigado.
Um abraço.
Jorge Araújo.
09Abr2019.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 9 de abril de  2019 > Guiné 61/74 - P19662: Memória dos lugares (390): As três pontes de Bafatá, sobre os rios Geba e Colufe (ou Campossa): contributos de Fernando Gouveia, Humberto Reis, Manuel Mata, Luís Graça, Ricardo Lemos e Virgílio Teixeira

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19301: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (3): Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 (Xime, Pte R Udunduma e Mansambo, 1972/74)



Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > CART 3494 (1972/74) > Dezembro  de 1973 > Destacamento da Ponte do Rio Udunduma > "Rotunda da ponte", com o único monumento erigido à companhia, em todo o CTIG.

Foto (e legenda): © Jorge Araújo (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil Op Esp /RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do nosso blogue.

- BOM NATAL E UM ANO DE 2019 PLENO DE FELICIDADE -
Na presente quadra festiva, onde se inclui o NATAL e a entrada no NOVO ANO, aproveito para enviar a todos os camaradas da tertúlia, e suas famílias, uma MENSAGEM DE BOAS FESTAS, bem como a todos os leitores do nosso blogue, de todas as gerações.
- CURIOSIDADE
Para memória futura, aqui vos deixo mais uma pequena história da História colectiva da CART 3494.

A imagem do postal de "BOAS FESTAS" corresponde ao Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, situado a quatro kms de Bambadinca (para leste), na estrada que ligava esta localidade (sede do BART 3873) e o cais do Xime, a sete kms (para oeste). Foi aí que, durante nove meses, esteve instalada a CART 3494, com metade de um GrComb, no período entre Junho'1973 e Fevereiro'1974.

No interior do círculo a vermelho da foto acima foi erigido o único monumento (símbolo) que a CART 3494 deixou no CTIG, durante a sua comissão de serviço ultramarina. Foi inaugurado durante o mês de Dezembro de 1973, fez quarenta e cinco anos, tendo sido baptizado como "ROTUNDA DA PONTE", uma vez que à sua volta o terreno foi preparado - capinado e alisado - para funcionar como rotunda onde se deveria observar as regras de trânsito, com circulação obrigatória em seu redor.
QUE TENHAM UM BOM NATAL
E UM ANO DE 2019 COM MUITA SAÚDE
Com um forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.
17DEZ2018

___________

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17736: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (12): O enfermeiro (Costa), o atirador (Nascimento) e o armas pesadas (Soares): uma partida... de Carnaval



Guiné > Região de Bafatá > Setor L12 (Bambadinca) > Xime > CART 2520 (1969/70) >  José do Nascimento em Madina Colhido (à esquerda) e o fur mil enf Costa (à direita) [Augusto Tavares Ribeiro Costa]



Guiné > Região de Bafatá > Setor L12 (Bambadinca) > Xime > CART 2520 (1969/70) > Saída  para o mato, o fur mil at José Nascimento (à esquerda) e o fur mil enf Costa (à direita) [Augusto Tavares Ribeiro Costa, de seu nome completo, já falecido].



Guiné > Região de Biombo > Quinhamel  > CART 2520 >   José do Nascimento como Costa à direita


Guiné > Região de Bafatá > Setor L12 (Bambadinca) > Xime > CART 2520 (1969/70) > Hora do jantar


Guiné > Região de Bafatá > Setor L12 (Bambadinca) > Xime > CART 2520 (1969/70) > No cais em construção, o José Nascimento (à direita) e o Costa (à esquerda)



Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > CART 2520 (1969/70) > 1º srgt Vaz à direita, furriéis Soares e Nascimento à esquerda. [O Manuel Soares era fur mil armas pesadas.]



Fotos (e legendas): © José Nascimento (2017). Todos os direitos resevados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Nascimento (ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data 17 de junho último:


Aos camaradas da Tabanca Grande, ao Carlos Vinhal e em especial ao Luis Graça.

Muitos dos combatentes esquecem ou ignoram os especialistas que também estiveram no Ultramar Português, como é o caso dos mecânicos, condutores, transmissões e enfermeiros. Alguns foram autênticos heróis no desempenho das sua missão, como é o caso do furriel enfermeiro Costa, de seu nome completo Augusto Tavares Ribeiro Costa, infelizmente já não pertencendo ao mundo dos vivos, a quem dedico esta pequena história, embora noutro contexto. Estávamos com três ou quatro meses de comissão e os intervenientes são: O Costa. o Nascimento e o Soares.


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > Uma agradável surpresa:  Manuel Viçoso Soares (hoje empresário, no Porto), ex-fur mil armas pesadas, ma mesa com o  Fernando Sousa (exº cabo aux enf, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) (e que vive  na Trofa)... O Manuel Soares ia ter o encontro da sua companhia, CART 2520 (Xime e Quinhamel, 1969/71) em 20 de maio, em Almeirim. Na mesma mesa, ficou o nosso editor, Luís Graça.  O Manuel Soares ficou convidado para integrar formalmente a nossa Tabanca Grande.

Foto: © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



2.  Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (12) >O Costa, o Nascimento e o Soares.




À memória de Augusto Tavares Ribeiro Costa, ex-fur mil enf


Augusto Costa era o furriel responsável pela equipa de enfermeiros da CART 2520. Além de cuidarem do estado de saúde do pessoal da Companhia, também faziam tratamentos à população do Xime, tais como pensos e injecções. Um médico não faria melhor.

Quando chegou à Guiné este especialista já tinha mais de dois anos de experiência como enfermeiro em Hospital Militar.

Uma divisão de uma antiga quinta de um ex-fazendeiro alemão acolhia a enfermaria de que era responsável, sempre apetrechada com os equipamentos possíveis e os armários com os medicamentos necessários, por isso clientela não lhe faltava, a seringa manejava com perícia, com as agulhas suturava as feridas. Todos foram tratados com grande desvelo e cuidado.

Numa outra divisão mesmo em frente à enfermaria habitava o José Nascimento, furriel. A sua especialidade era de atirador, pertencia ao 3º. pelotão da CART 2520, quando chegou à Guiné já tinha quase ano e meio de serviço militar. Preferia ter que correr para um abrigo em caso de ataque inimigo e residir com mais algum conforto e privacidade neste compartimento.

No abrigo virado para a bolanha do Xime e para a estrada de acesso ao rio Geba, morava o Manuel Soares, furriel e operacional de armas pesadas. Pertencia ao 3º. pelotão da CART 2520, também com vários meses de serviço militar cumprido antes de chegar à Guiné e desde sempre granjeando da amizade dos outros camaradas. Jogava à defesa e, como o seguro morreu de velho e cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, dava preferência a um abrigo em caso do inimigo resolver atirar com algumas ameixas.

Com alguma frequência o Nascimento enfiava-se na enfermaria, conversava e assistia a alguns tratamentos. Outras vezes era o Costa que procurava dialogar e deixar correr o tempo. Devido a esta proximidade não foi difícil estabelecer uma grande amizade e também alguma cumplicidade.

Uma noite, já tinha escurecido havia algumas horas, o silêncio do quartel era apenas cortado pelo roncar do gerador eléctrico, quando em serviços diferentes e por mero acaso os dois se encontram. Depois de uma troca de palavras lembraram-se de fazer uma "partida" a um camarada, apesar do Carnaval ainda demorar a chegar.

A "vítima" foi escolhida. Dirigidos à enfermaria foram preparados os adereços, seguiram depois para o objectivo. Sob a luz ténue do abrigo e resguardado pelo mosquiteiro o sacrificado dormitava a ganhar forças para combater as agruras do dia e da semana seguintes.

Quando é levantado o mosquiteiro, o Soares vê na sua frente o seu camarada de pelotão, de braço ao peito e a cabeça envolta em ligaduras tintas de sangue, (na realidade não passava de mercurocromo). De olhos escancarados, completamente surpreendido pergunta:
- O que aconteceu?
- Fui passar ronda e caí numa vala, amanhã vais sozinho com o pelotão para a ponte -foi a resposta, (o pelotão iria sem alferes e sem o outro furriel para o rio Udunduma no dia seguinte.)

À entrada do abrigo ficou um expectador atento ao desenrolar dos acontecimentos. A cena saíra perfeita, o Costa mijava-se a rir.

Na manhã do dia seguinte o Soares dá de caras com o Nascimento completamente são que nem um pero e pronto para seguir viagem, mas quem pagou pela brincadeira foi a sua mãe, que a milhas na Metrópole pedia a Deus a protecção para o seu filho ausente na Guiné. Ao percebar que tinha caído que nem um passarinho, em tom áspero o Soares, furriel, solta um impropério:
- Ah filho da puta e eu que não dormi nada a noite inteira!

Para todos os camaradas da Tabanca Grande, um grande abraço

José Nascimento

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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17111: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (11): Enxalé, a outra margem do Geba

Postes anteriores:

19 de novembro de 2016 >  Guiné 63/74 - P16737: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (10): A música das nossas vidas: "Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle, mon amour"... ou o braço de ferro entre o fur mil Renato Monteiro e o nosso primeiro Vaz, cuja amada esposa se chamava Isabel e vivia a 5 mil km de distância, em Vila Real, Portugal...

23 de setembro de 2016 >  Guiné 63/74 - P16518: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (9): "Rã Teimosa", a última Operação da CART 2520

17 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15870: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (8): Quem não se lembra do antigo ditado que diz: "em tempo de guerra não se limpam armas"

13 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15742: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (7): O Soldado João Parrinha, natural de Cabeça Gorda, Beja

14 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15490: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (6): A Bandeira

27 de julho de 2015 Guiné 63/74 - P14936: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (5): Idas a Bafatá para comprar vacas

24 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14517: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (4): Primeiro dia no Xime

31 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14422: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (3): Eu e o malogrado fur mil mec auto Joaquim Araújo Cunha, da CART 2715, em Amedalai, em junho de 1970, de bicicleta a pedal

14 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14362: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (2): Viagem até Mansambo

10 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14341: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (1): Os Cabos também faziam Planos de Operações

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17620: Fotos à procura de... uma legenda (87): o luxo de um "petromax" da Casa Hipólito nas noites escuras como breu...



Guiné > Região leste > Bambadinca > Setor L1 > Destacamento da Ponte do Rio Udunduma > Setembro de 1973 > CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74) > "A mesa polivalente, onde se comia, escrevia, li, jogava e conversava. Em suma: o espaço de socialização e de partilha. Da esquerda para a direita: Gregório Santos, José Sebastião, Ricardo Teixeira e eu [, Jorge Araújo,] participando no 'matabicho' das tardes, preparando-nos para mais uma noite de muitas estrelas."

[Assinalado a amarelo está um candeeiro a petróleo de camisa ou "petromax", cuja marca se desconhece. Seria da Casa Hipólito, de Torres Vedras, do modelo 350? "Petromax" era uma marca registada, de origem alemã, que  entrou no nosso vocabulário... O vocábulo foi grafado e é usado em diversos postes publicados no nosso blogue.]

Foto (e legenda): © Jorge Araújo  (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do nosso editor LG ao poste P17616  (*):

"Candeeiro antigo a petróleo Hipólito 350'"
(Com a devida vénua, OLX)
ID do anúncio: 514081809

Jorge:

Em relação ao 'resort' da ponte do Rio Udunduma, onde também passei algumas belas noites de céu estrelado, com miríades de insetos, deixa-me dar-te conta da minha inveja e admiração: quatro anos depois, já havia, em meados de 1973,  "minibar" e, de vez em quando, "arroz de pato da bolanha"... além de jipe às ordens e petromax!...

Melhor que nada, a verdade se vocês tivessem que pagar IMI, já tinham, na avaliação do "prédio urbano" mais uns pontozinhos a melhorar o coeficiente de qualidade e conforto...

Parabéns pela vossa imaginação e vontade de dar a volta às contrariedades: não me lembro de, na minha companhia, haver um raio de um petromax, da Casa Hipólito (que se exportava para Cuba!)... Ou então alguém se abotoava com os petromaxes que, em África, eram um tesouro!...


Petromax (marca registada) era um candeeiro a petróleo de camisa. Era usado na iluminação pública, doméstica e na pesca ao candeio.

Segundo a descrição da Wikipédia, "consta de um depósito, onde está introduzida uma bomba de pressão, do qual sai um tubo tendo na extremidade um vaporizador e fixa a este uma camisa em seda em forma de lâmpada, protegida por um cilindro em vidro. No cimo tem uma chaminé por onde saem os gases."

[Imagem à esquerda: 

"Autocolante s/ data. As lanternas de incandescência começaram a ser fabricadas pela Casa Hipólito em 1949. Em 1950 iniciou-se a sua comercialização." Foto de perfil da página do Facebook Memórias da Casa Hipólito de Torres Vedras. Com a devida vénia ao autor da página Joaquim Moedas Duarte, criada no âmbito do Mestrado em Estudos do Património, da Universidade Aberta de Lisboa.]


2. Tudo indica que nos primeiros anos da guerra na Guiné o uso do "petromax" (ou lanterna de incandescência...)  fosse mais generalizado, servindo inclusive para iluminar o perímetro de defesa dos aquartelamentos, como no caso de Bedanda, por exemplo, ao tempo do nosso camarada Rui Santos, em 1963.

Em Binta, em 1964, no tempo do JERO, jogava-se o "King" à luz do "petromax"... Em muitos abrigos, deveria haver "petromaxes"... Em Beli, o Armindo Alves, 1.º cabo enf da CCAÇ 1589 (1966/68), prestava primeiros socorros, à noite, à luz do "petromax"... Depois vieram os geradores e passou a haver luz elétrica, pelo menos à noite... Mas, nos destacamentos, como o Biombo, em 1970, ou Banjara, em 1967, continuava a recorrer-se ao "petromax"...

Em sítios isolados (destacamentos, tabancas em autodefesa, etc.), o uso do "petromax" levantava questões de segurança... De qualquer modo, as companhias deviam ter, em "stock", este precioso utensílio... mas era preciso garantir a disponibilidade de petróleo e de "camisas"...

Não me lembro no meu tempo (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71),  de alguma vez ter levado  um "petromax" para o destacamento da ponte do Rio Udunduma ou para tabancas fulas (onde íamos, por vezes, reforçar o sistema de autodefesa).

Será que alguém ainda se lembra do velho "petromax" a iluminar as noites escuras como breu da Guiné? (**)


Guiné > Zona leste > Geba > Banjara > CART 1690 (1967/69) > Excerto de uma requisição de material, com data de 9/6/67, feita pelo alf mil Afredo Reis, da CART 1690 (Geba, 1967/69), na altura a comandar o destacamento de Banjara.

Alguns dos artigos requisitados: fósforos, palha de aço, camisas para petromax de 150 velas, torcida e vidro (?) para o frigorífico,  pregos (...), aerogramas,  selos, 12 esferográficas (uma vermelha e as outras azuis),  bloco de cartas, Omo e sabão, uma garrafa de whisky, Sumol ou outros sumos [...]

Foto: © Alfredo Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. O Jorge Araújo, em férias, já respondeu nestes termos (*):

(...) No 'resort' da Ponte do Rio Udunduma não havia "jipe às ordens". Ele era utilizado, sempre que possível, apenas para o transporte dos alimentos confeccionados na CCS, entre Bambadinca e o Destacamento.

(...) O reforço de "pato da bolanha" não tinha arroz. Ele era cozido durante mais ou menos 3 horas, pois a carne era muito dura devido às suas características morfológicas, utilizando-se a chama de uma palmeira seca que se regava previamente com petróleo numa extremidade.

O tacho tinha de recuar à medida que a dita cuja (palmeira) se ia transformando em cinza. Depois de cozido e cortado em pedaços, o pato era frito adicionando-se depois um pouco de malagueta, como único condimento. (...)

(...) Quanto à pergunta sobre o "petromax", não faço a mínima ideia da sua marca ou origem. O importante para nós era, naturalmente, a sua função... a de nos dar alguma claridade em especial nas noites de lua nova. Obrigado... foi quanto nos custou o objecto, depois de termos feito um "choradinho" no comando do BART 3873, no sentido de nos cederem um exemplar. (...)
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